quinta-feira, 22 de maio de 2014

Difusão intelectual

Eu tenho escrito bastante neste blog. Já são mais de 500 postagens em 10 anos de permanência no ar, online. Mas, quer saber, isso não significa muita coisa em termos de popularidade.

Vou ser honesto: creio que menos de 15 mil pessoas chegaram a acessá-lo neste tempo todo. É importante entender que quando digo "este blog" refiro-me ao seu conteúdo como um todo. Na verdade, o conteúdo todo não está disponível somente no Blogger. Eu faço uma cópia do blog em formato PDF e posto no Scribd e no Bookess. E tem uma parte mais antiga deste blog, escrita antes de 2010, que ficou no UOL Blog, e eu não dou mais manutenção, embora as pessoas ainda possam acessar o material, que ainda está lá. Há ainda uma pequena parte dele que eu traduzi para o inglês, embora não possa garantir que tenha mantido o mesmo sentido, o mesmo espírito dos textos originais. De qualquer maneira, são cinco endereços diferentes por meio dos quais as pessoas podem acessar o conteúdo desse blog, ao todo ou em parte. Como podemos acompanhar o tráfego de pessoas em nossos endereços virtuais hoje em dia, então eu posso dizer sem medo que não chegou ainda a 15 mil o número de pessoas que tiveram acesso ao conteúdo deste meu blog.

Agora, vai aqui uma tentativa de entender o que esse número significa, e a quais conclusões podemos tirar a respeito dos blogs, da internet e da comunicação humana em geral.

Primeiro, garanto que nem todas as visitas registradas são realmente de seres humanos. Há um sem-número de sites maliciosos que usam robots para fazer visitas que não leem nada, apenas acrescentam um algarismo a mais nos contadores de visitas dos nossos blogs, e isso infla a percepção de que estamos sendo lidos, entendidos e lembrados. Então, acho que posso reduzir o número de visitantes a algo em torno de 10 mil pessoas, sendo o resto apenas meras visitas de mentirinha.

Então, 10 mil visitas em 10 anos corresponde a algo em torno de 3 visitas diárias.

Em um mundo com 7 bilhões de pessoas, é muito pouco. Está certo, apenas uns 250 milhões compreendem o português dos textos, mas ainda assim, é pouco. Acho que desses 250 milhões de pessoas que sabem ler na língua portuguesa, apenas uns 20% possuem acesso à internet, o que daria algo em torno de uns 50 milhões de leitores potenciais. Mas, ainda assim, é muita gente, muita gente que não está nem aí para o meu blog.

Mas, indo além, afirmo que dessas 10 mil visitas registradas, pelo menos 15% o fizeram apenas para ler um único texto, uma única postagem, a que se chama "tag violado", e que se refere a um assunto que apenas tangencialmente tem relação com coisas que me interessam e que eu gostaria de escrever neste blog. Definitivamente, não gosto de carros e só falei sobre o assunto dos problemas com nossos carros nos pedágios por mera curiosidade. 

Sim, eu poderia dizer "eureka!" diante do fato de saber que há bastante gente interessada em problemas com pedágios, e a partir desse fato, passar a captar mais audiência escrevendo mais sobre outros problemas correlatos, isto é, escrevendo sobre carros. Mas eu me recuso a pensar que eu deva escrever sobre um assunto que não me interessa apenas porque há demanda para esse tipo de assunto. Se eu fosse me guiar por essa linha de pensamento, eu poderia tornar este um blog pornô. Mas não me curvo a este tipo de apelo, o apelo da audiência sem levar em conta o apelo de meus próprios interesses, que considero mais dignos do que pornografia ou carros.

Eu entendo o interesse do mundo pelos carros. E eu entendo a razão do sucesso desta postagem que tem feito algum sucesso neste blog. Simplesmente dei sorte de tratar de um assunto que a empresa que administra as rodovias e seus pedágios não dá a devida atenção. E tenho certeza de que no dia em que essa empresa resolver fazer um trabalho decente e prestar um serviço de suporte ao usuário com um F.A.Q. (frequently asked questions), um tira-dúvidas bem elaborado, o número de pessoas interessadas em meu texto sobre pedágios irá desabar. Isso ocorrerá mais dia, menos dia.

Há uma quantidade de postagens que nunca foram lidas! Nunca ninguém sequer viu o que há nelas. Em outras palavras, eu estou escrevendo para ninguém!

Uma outra conclusão a que posso então chegar é que as pessoas não se interessam tanto assim por blogs. Quer dizer, um blog não fica popular apenas por existir durante anos a fio na internet. E um blog não ganha popularidade por ter um número grande de postagens. É possível, e eu já vi, blogs com meia dúzia de postagens com um número absurdo de visitantes. Então, idade e tamanho não são documentos quando o assunto é blogs.

Mas, meu objetivo não é popularidade. Claro, eu gostaria de ter muita gente lendo meus textos, mas eu admito, lendo-os, que eles não contribuem para se popularizarem.

Vou explicar isso melhor.

Eu disse a muito tempo atrás que escrevia por mero prazer de escrever. Mas as pessoas também têm suas próprias razões para lerem o que quer que seja. Eu, no momento em que torno público um texto meu qualquer em um blog na internet, tenho que ter a plena consciência de que estou tornando-o público. Se espero ou não que as pessoas leiam é outra coisa.

Se quiser que elas não leiam, então bastaria não torná-los públicos. Eu escreveria em um arquivo que não estaria disponível ao mundo via internet, e ainda assim poderia dar vazão ao meu desejo de escrever por mero prazer.

Mas, já que resolvi publicar o que escrevo em um blog, não posso jamais perder de vista que há duas possibilidades pelas quais as pessoas poderiam ser levadas a ler alguma coisa na internet: primeiro, para aprender, tirar alguma dúvida, obter algum conhecimento, alguma informação útil, alguma notícia em um formato diferente do das mídias habituais, alguma ajuda para algum problema em particular. Segundo, para passar o tempo, para se divertir, para se entreter, para se emocionar, para apreciar o estilo do autor, a estética literária, apreciar a criatividade, a ousadia, o humor, a fantasia de um enredo, um enredo surpreendente, ou ainda ter acesso a uma ideia fora do comum, ou dentro do comum, mas dita de maneira incomum, sobre um assunto que desperte algum interesse, ainda que remoto e tangencial. 

Ninguém tem interesse em ler sobre a minha vida pessoal. Ninguém tem interesse em saber que filme assisti, o que comi ou que roupa uso, assim como eu tenho pouquíssimo interesse em saber o que assiste, o que come e o que veste um estranho qualquer que posta sobre suas preferências na internet em blog anônimos mundo afora.

Mas eu tenho interesse em certos assuntos que certamente também são alvo da atenção de muita gente mundo afora.

Ora, uma das razões pelas quais as pessoas não chegam a visitar este blog é porque eu não escrevo nem pensando em ser útil a meus leitores, e nem pensando em entretê-los. Por que haveriam de ter algum interesse outro que não esses dois?

O título deste post é "difusão intelectual" porque esta é uma das razões pelas quais um blog pode ser escrito.

É certo que nem todo mundo na internet tem interesse em aprender sobre temas elevados, complexos, profundos ou simplesmente repensar coisas comuns sobre um ponto de vista personalizado e diferente. Mesmo que eu escrevesse sobre um determinado assunto com o objetivo de divulgar um ponto de vista pessoal sobre ele, ainda assim não teria grande popularidade. Uma ideia, um conceito, um tema qualquer que pode ser objeto de discussão em um texto de um blog não tem o mesmo apelo popular que tem uma foto pornô, um novo modelo de carro ou um jogador de futebol. E eu particularmente não tenho mérito pessoal algum que torne meus textos mais dignos de serem lidos do que o de, digamos, uma apresentadora de um programa de televisão que entende tudo de culinária, mas, por livre escolha, resolva falar de um assunto outro qualquer, como eleições ou a descoberta de um novo planeta. Mesmo uma bobagem dita por uma celebridade tem seu apelo e sua atratividade. Os James Francos e suas fotos idiotas prevalecem, apesar de tudo.

Assim, peco por ignorar as necessidades e desejos de meus potenciais leitores. Peco por não usar daquilo que sei sobre como administrar as coisas, esquecendo-me que sou um curioso profissional da administração. E peco por ainda assim, esperar que, corrigindo todos os demais pecados, ainda poderia ter um público razoável e sensato. Não, a difusão intelectual, a troca de ideias é assunto de pouco apelo, e jamais serei um sucesso, escreva eu sobre o que bem entender, com as melhores das intenções, sobre os mais nobres e profundos assuntos. A massa, esta preferirá o sexo, o novelesco, o ídolo oco, o herói pré-fabricado, o último bochicho sobre uma celebridade qualquer.

Difusão intelectual. Fixe esta palavra.

É sobre ela que falarei no próximo post.

Este blog e seu manual de uso

Apenas para ficar registrado: acabei de colocar um manual de uso deste blog para eventuais leitores entenderem por que ele foi criado, como está estruturado, como ele funciona e como tirar o melhor proveito dele.

Por favor, leia-o aqui.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Museu do 11 de Setembro de 2001

Eu disse nesta postagem de 8 de junho de 2004 e nesta postagem de 17 de novembro de 2012 que achava surpreendente que ainda não houvesse um parque temático explorando a tragédia de 11 de Setembro de 2001. Um visitante do blog comentou que um parque temático não, mas já um museu seria bastante provável.

Hoje, leio a notícia de que, sim, de fato os americanos irão ter seu museu do 11 de setembro de 2001.

Evidentemente, há razões a favor e contra esse tipo de exposição, e não vou entrar no mérito da questão, mas de qualquer forma, fica aqui o registro de que às vezes podemos ter insights bastante interessantes em nossos sonhos e pensamentos, mas como o mundo é vasto e repleto de gente pensando todo tipo de coisa, não importa o que você sonhe ou pense, provavelmente mais alguém, em algum lugar qualquer do planeta, terá a mesma ideia ou o mesmo sonho que você, e acabará ficando rico ou famoso com essa ideia ou sonho, e você, nós, ficaremos com aquela sensação de que perdemos mais uma rara oportunidade na vida.

Eu sei muito bem que uma simples postagem em um blog não poderia de forma alguma influenciar na criação de um museu sobre a tragédia de 11 de Setembro de 2001 do outro lado do mundo. Alguém na América teve a ideia de maneira independente da minha, e foi mera coincidência eu ter relatado esse meu sonho no blog e depois ver os fatos confirmando o sonho.

Mas, essas  coincidências não deixam de ser curiosas. Um memorial era obviamente previsível. Um museu, nem tanto. Sim, essas coincidências ou previsões acertadas me deixam muito curioso. É o fenômeno da serendipidade, e falarei mais sobre isso no momento adequado.

Por fim, relembro que o capitalismo tem esse interessante poder de fazer as pessoas ficarem pensando, pensando, pensando, procurando soluções para problemas que às vezes sequer sabemos que temos, ou nem temos de fato.

Agora, para concluir: vi algumas fotos do museu e, apesar dos comentários acima, ele não deixa de ser impressionante.

Como foi possível que um evento como o 11 de Setembro pudesse acontecer?

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A pirâmide do fracasso

Depois de um longo período de experiências com livros de autoajuda, quando tive a oportunidade e a motivação para colocar em prática de maneira disciplinada e metódica uma ampla variedade de conselhos, dicas, ensinamentos e modos de pensar sugeridos por pelo menos meia dúzia de renomados escritores do tema, acabei sendo envolto por uma nuvem de ceticismo e crítica.

Sempre supus que o problema com os livros de autoajuda se devia ao fato de que as pessoas simplesmente os leem como quem lê um romance, quando, na verdade, eles, os livros de autoajuda, deveriam ser estudados tal como o são os livros técnicos, e ter seus métodos aplicados na vida real, no dia a dia de quem se propõe  a estudá-los e deles pretendem tirarem algum proveito verdadeiro.

Eu lera livros de autoajuda entre 1990 e 1992, e depois os deixara de lado. Ora, eu era apenas mais um dos que simplesmente os lera como meros romances estimulantes, mas não práticos. Então, diante de um momento crítico de problemas pessoais, pareceu-me que a solução da situação crítica dependesse de um esforço pessoal mais sério, e assim, em 2001, resolvi que os livros de autoajuda até então lidos como romances deveriam ser lidos como livros de estudo, como manuais práticos a serem seguidos metódica e disciplinadamente.

Tomei de "A universidade do sucesso", de Og Mandino, e de "Como evitar preocupações e começar a viver", de Dale Carnegie, além de alguns outros livros de autores menos conhecidos, mas igualmente cheios de sugestões práticas e supostamente eficazes, e me dispus ao estudo.

Pois bem, o tempo foi passando, eu me mantive atento à disciplina recomendada por eles, os autores dos livros, mas, apesar da passagem do tempo e de todos os meus esforços disciplinados, nada aconteceu. Nada em minha vida mudou realmente.

Quanto tempo eu perseverei em minha disciplina de aprendiz?

Um ano?

Sim, no mínimo.

Um ano é um bom tempo. Não acho que se deva persistir em algo que não está dando certo por muito mais tempo que isso. Experiências precisam ser avaliadas em seus resultados ao longo do tempo e, neste caso, pareceu-me que um ano de experiência, ou um tempo próximo disto, já deveria ser suficiente.

Algo não estava saindo como os livros diziam que sairia.

Comecei a perceber certas coisas que os livros não ensinavam. Algo estava errado, mas mais especificamente, havia uma frase que eu tomara como verdadeira, e que agora, depois de constantemente pensar e trabalhar sobre ela, parecia-me não ser confirmada pelos fatos. Daí então, fui forçado a me dobrar aos fatos e passei a questioná-la. 

Em um processo de ensino, é de bom tom imaginar que o aluno sabe menos que o professor, e que se algo sai errado, em geral a culpa é do aluno, que não foi atencioso o suficiente, não foi dedicado o suficiente, não possui a inteligência suficiente para compreender as lições ensinadas pelo professor. Evidentemente, o professor pode ter parte na culpa, já que pode não ter sido suficientemente didático. Mas, em se tratando de livros de autoajuda, eu, o aluno, não poderia colocar a culpa no professor, no livro em si, já que poderia retornar às lições a serem aprendidas o número de vezes que fosse necessário para que pudesse assimilar o que estava sendo ensinado. E eu retornei às lições não uma, nem duas vezes, mas várias, tantas quantas julguei necessárias, de modo tal que praticamente decorei certos preceitos tidos como fundamentais para a efetividade de cada lição em si.

Quanto à lição básica, tirada da frase que tomei como verdadeira, ao menos por algum tempo, era a que atribui a nós mesmos a culpa pelas nossas dificuldades em alcançarmos aquilo que desejamos.

Eu teci alguns comentários aqui sobre essa frase. De qualquer forma, reproduzo-a novamente, para que melhor possamos apreciá-la:

“Tome cuidado apenas consigo mesmo e mais ninguém; trazemos nossos piores inimigos dentro de nós.”
Charles Spurgeon

A frase encontra-se no livro de Mandino.

Tomei-a por verdadeira por um longo tempo, mas, na medida em que não obtinha resultados palpáveis com a disciplina na aplicação dos ensinamentos dos livros de autoajuda, comecei a pensar que, bem, sendo eu disciplinado, e estando eu aplicando metodicamente as lições aprendidas, e nada obtendo em troca, abria-se a possibilidade de que o problema poderia estar na lição em si, que poderia, ao menos hipoteticamente, estar errada.

Lendo a frase em um primeiro relance, sentimos que somos chamados a assumir a responsabilidade por nós mesmos, para pararmos de procurar culpados pelos nossos problemas, para deixarmos de nos fazer de vítimas. Essa visão responsável da vida é correta, não há dúvida. Mas, diante de meus péssimos resultados, senti-me frustrado.

Fiquei com uma forte sensação de estar sendo enganado pelos livros de autoajuda, porque, afinal, onde estavam os resultados?

Influenciado por uma outra frase, de um outro livro, um livro de filosofia de Alfred J. Ayer, "As questões centrais da Filosofia", dos quais tratarei adequadamente em um post oportuno em breve, pensei bem sobre o conteúdo da frase, e observei que ela nos alerta para o fato de que podemos ser nossos piores inimigos, mas também observei que ela não limita nossos inimigos a nós mesmos. Quer dizer, podemos ser nossos piores inimigos, mas nem por isso somos nossos únicos inimigos. Se não bastasse termos de nos vigiar e policiar contra nossas falhas, fraquezas e deslizes, temos ainda que saber que temos outros inimigos que não nós mesmos. 

A frase ainda não diz que nossos inimigos são pouco dignos de atenção apenas porque nós somos piores do que eles. Podemos ter inimigos externos a nós que sejam bastante duros e perigosos. Então, a frase em si era uma meia verdade. 

Repetindo: é verdade que trazemos nosso pior inimigo dentro de nós mesmos, mas não é verdade que, em decorrência disso, devemos tomar cuidado apenas conosco mesmos. O fato de eu cuidar de mim mesmo não faz de meus inimigos externos menos ameaçadores do que já são. Logo, se os negligencio, então não os combato, e portanto, não consigo aquilo que desejo, porque eles são um obstáculo oculto que se opõe a meus intentos. 

Pior: ao focar apenas em mim mesmo, meus inimigos externos desaparecem, como se não existissem. E esse é um erro o qual não podemos cometer.

Então, ao cuidar de mim mesmo, e ainda assim enfrentar obstáculos, observei e vi que há, sim, inimigos externos poderosos, e eles não estão nem um pouco dispostos a nos ajudar em nossa luta diária que travamos de encontro aos nossos desejos, anseios e objetivos.

Que inimigos são esses?

Eu pensei bastante, e teorizei que o mundo, tal como está estruturado, é um dos maiores obstáculos que enfrentamos na nossa luta por objetivos.

Mas, como o mundo está estruturado? Que estrutura é esta que nos impede de ir em frente de maneira fácil e rápida rumo aos nossos tão sonhados desejos, como propõem os livros de autoajuda?

A barreira que vislumbrei na estrutura do mundo é que esta é formada de alguns megasistemas sociais que são desenhados sobre a forma de pirâmides hierárquicas. Costumamos chamar essas pirâmides hierárquicas com o nosso aparentemente neutro e científico nome de "organograma".

Basicamente, percebi que quase todos os sistemas sociais humanos são estruturados em forma de organogramas que reproduzem a forma de uma pirâmide hierárquica. Ora, uma pirâmide hierárquica moldando um  sistema social significa que há muitos espaços na base da pirâmide, mas poucas oportunidades no topo, tal como toda pirâmide. Em termos de busca por objetivos, isso significa dizer que muitos tentarão o sucesso, mas poucos conseguirão.

Muitos tentarão, insuflados por suas necessidades e seus desejos de melhoria, e apoiados em livros de autoajuda e suas técnicas motivacionais. Mas poucos conseguirão, filtrados por mecanismos de seleção subjetivos, parciais e tendenciosos, comandados por pessoas cujos objetivos não tem relação alguma com os nossos, e que se regem por sua próprias lógicas particulares.

Eu escrevi assim em minha Agenda 99:

"Tese geral: a frustração e insatisfação geral da sociedade moderna são frutos de sistemas educacionais, empresariais, governamentais, legais e econômicos baseados em premissas falsas."

A pirâmide social que limita o número de pessoas que chegarão ao topo é o que podemos chamar de pirâmide do fracasso, porque muitos fracassarão, enquanto apenas alguns poucos triunfarão, não importa o quão meritosos sejam os que virão a fracassar.

A tese geral acima constata as consequências óbvias de um sistema social assim concebido: bilhões de pessoas lutando, fracassando e se frustrando sistematicamente. E a tese geral constata que os sistemas educacional, empresarial, governamental, legal e econômico, pelo menos, são estruturados em pirâmides hierárquicas que barram quase toda tentativa honesta de melhoria pessoal.

A tese geral, por fim, assume que essas pirâmides sociais são desenhadas de maneira disfuncional não intencionalmente, isto é, elas são concebidas com um objetivo honesto e claro, mas acabam gerando efeitos colaterais indesejáveis, que não são premeditados, nem desejados, e talvez nem mesmo percebidos por aqueles que a desenham e por aqueles que as preenchem e nelas lutam para subir ou nelas permanecer.

Eu, generosamente, não atribui as disfunções dessas pirâmides sociais a um desejo racional de filtrar, obstruir, selecionar e punir quem quer que seja.

Eu tomei meus inimigos externos como seres benevolentes, que apenas fazem o mal por mera incapacidade de perceber que fazem o mal.

Enfim, igualei homens a vírus, a bactérias, a terremotos.

Eu não quis, ao menos por enquanto, imputar o mal do sistema social como decorrente da própria maldade intrínseca do ser humano que o concebe. Poupei-os, os homens.

Afinal, também eu sou um homem, e não me vejo como mau.

A tese geral acima foi apenas um primeiro esboço de um conjunto de outras constatações igualmente significativas e inter-relacionadas, que desenvolverei neste blog, nos próximos posts.

Além do mais, eu observei que livros de autoajuda podem trazer contradições. Além da frase sobre cuidar de nós mesmos como nossos piores inimigos, havia uma outra frase sobre hierarquias, que foi a inspiração para a tese geral da pirâmide do fracasso.

Confrontar frases verdadeiras, mas contraditórias, é uma experiência intelectual fascinante. Eu sabia da existência teórica delas, mas nunca havia me dado ao trabalho de encontrá-las. Eis, no entanto, que a disciplina em aprender sobre autoajuda me levou de encontro ao meu primeiro paradoxo.

Eu falarei mais sobre esse paradoxo. Continue lendo os próximos posts. Eles detalharão o desenvolvimento de todos os meus raciocínios que decorreram deste curioso achado.