segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os lugares onde moramos

Tenho uma memória relativamente boa para algumas coisas, mas falha para outras.

Por exemplo: tenho mais facilidade para memorizar números do que nomes de pessoas. Se precisar, memorizo uma sequência numérica relativamente longa, com até uns doze dígitos, mas uma pessoa precisa falar seu nome para mim pelo menos umas três vezes até eu memorizá-lo razoavelmente bem. E, após alguns anos, esqueço o nome até mesmo de pessoas com quem convivi muito proximamente, como colegas de serviço e amigos próximos.

Mas essas são falhas de memória consideradas banais. Nossas memórias possuem muitas outras surpresas escondidas, além desta que citei, a de predileção por isso em vez daquilo.

Um caso interessante de surpresa é a rememoração. Quer dizer, é recordar algo que havíamos a muito esquecido.

O que isso tem a ver com o título do tópico, que fala sobre os lugares que moramos?

Tem a ver, como veremos, e muito.

Nós podemos nos esquecer de detalhes, mas certas memórias são tão amplas e consolidadas que dificilmente nos esquecemos delas. Um exemplo de acontecimento, ou período de tempo, ou lugar, do qual quase nunca nos esquecemos é dos lugares onde já moramos um dia.

Há pessoas que nunca se mudam de casa. Outras mudam de casa, mas não de cidade. Outras mudam de cidades, mas não de estado. Outras mudam de estado para estado, mas nunca deixam o país. E outras ainda que chegam a morar em dois, três ou mais países. Por fim, há os que são quase nômades e nunca fixam-se muito em um único lugar por muito tempo.

As razões que levam as pessoas a mudarem são variadas e não falaremos delas aqui e agora, embora sejam assunto muito interessante, como veremos.

O que importa é que nós nos lembramos muito bem dos lugares onde moramos.

Obviamente, nos lembramos porque estivemos nesses lugares tempo suficiente para que nossas memórias se consolidassem. Não esquecemos porque o lugar onde moramos está armazenado em nossas mentes por meio de milhares de outras pequenas memórias, em um complexo que não se apaga tão facilmente quanto, por exemplo, um número telefônico, que guardamos por alguns minutos e depois esquecemos completamente.

Mas, eis a curiosidade: apesar de ser uma memória complexa, a lembrança que temos dos lugares que moramos é ainda assim sujeita a uma lenta e seletiva degradação ao longo do tempo. E, com o passar dos anos, vamos esquecendo coisas menos importantes sobre o lugar onde moramos, embora não nos damos conta dessa erosão silenciosa e contínua.

Mas então, um dia, sem querer, topamos com um pedaço de papel qualquer no meio de nossas coisas e lá está nosso endereço completo, de um lugar onde moramos a quinze, vinte anos atrás.

Claro, nós nos lembramos perfeitamente dessa época. Afinal, o que são quinze anos em uma vida? Parece que foi ontem que mudamos de lá.

Mas, eu não me recordava mais do nome da rua. Sei como chegar ao endereço em que morava, mas não me recordava mais nem do nome da rua, nem do número, nem do nome do prédio, nem do andar, nem do número do apartamento onde morei. Mas há mais coisas anotadas no velho pedaço de papel: há um CEP, um número de telefone, o número de telefone do local de trabalho, que deixei também a longos anos atrás, e há o nome do porteiro, do proprietário do imóvel que alugamos, e todo um emaranhado de coisas que surgem de repente com aquele pedaço de papel, e que sem ele, jamais nos lembraríamos por nós mesmos.

Mas, eis que fica a dúvida: o que foi feito dessas lembranças?

Elas sumiram ou apenas estavam perdidas em algum lugar de nossas mentes?

Elas parecem sumidas, porque jamais nos lembraríamos delas por esforço próprio. Se alguém chegasse e pedisse que eu me lembrasse do número de telefone que tive a quinze anos atrás, eu não seria capaz de fazê-lo.

Mas, quando leio em um pedaço de papel o mesmo número, junto com o endereço e as demais informações que formam em seu conjunto todo um contexto que de fato existiu, estranhamente eu percebo que aquele número não é de forma alguma estranho. Eu o recito como um trecho de uma frase, como um trecho de uma música, e ele me parece bem familiar. A sequência de números não me parece de forma alguma uma sequência aleatória e desconhecida. Ela é familiar. Daí que parece que ela, a memória do número, não estava definitivamente perdida em minha mente, mas apenas desconectada do contexto maior, e assim estaria para todo o sempre, caso não tivesse a ajuda do pequeno pedaço de papel para fazer o trabalho de resgate desse fragmento desgarrado.

Que poder têm esses pedaços de papel de juntar como imãs as centenas, milhares de partes que formam a memória de nossos passados? Como se dá esse estranho fenômeno?

Não sei, mas aposto que isso também intriga os neurologistas, e certamente há mais gente interessada nisto do que apenas eu e minha curiosidade inesgotável.

Por onde andei?

Em que lugares morei?

Eu sei.

Morei apenas em um país: no Brasil.

Morei em três Estados: São Paulo, Goiás e no Distrito Federal.

Morei em oito cidades: Conchal, Araras, Guaratinguetá, Anápolis, Goiânia, Ribeirão Preto, Brasília e São Paulo.

Morei em vinte casas diferentes.

Vinte moradias em quarenta e quatro anos.

São vinte endereços diferentes para serem lembrados. Isso dá em média dois anos em cada lugar.

De repente, fica óbvio que não é fácil se lembrar de lugares onde vivemos por tão pouco tempo.

De repente, fica óbvio que é pedir demais de nossas memórias que permaneçam, apesar da pouca importância de certas informações.

De repente, fica óbvio que a surpresa do fenômeno da rememoração é uma coisa interessante, mas que ainda mais interessante é tentar saber porque mudamos tanto ao longo da vida.

Quer dizer: por que eu mudei tanto de lugar a longo da vida.

Cada casa tem um endereço. Mas cada casa tem um porquê de nela termos ido morar, e um porquê de termos de deixá-la.

A história de nossas mudanças envolve e engloba a história de nossos CEPs e telefones esquecidos.

Esquecer o passado é, mais que um fenômeno neurológico, um fenômeno sociológico: mudamos por questões que vão além de nossas forças, e nossos cérebros precisam ocupar-se com o viver do dia-a-dia, e simplesmente não podem dar-se ao luxo de guardarem coisas que não são mais importantes.

Fascina-me as causas de nosso esquecimento, mas fascina-me também o zigue-zague que empreendemos nos mapas, um zigue-zague errático e aparentemente sem sentido.

Atrás do que estamos quando partimos de um ponto a outro e comandamos a nossos próprios cérebros que deletem aquilo que não se faz mais necessário?

Não sei. Cada qual com sua própria história de vida, e com seus próprios motivos.

Quanto a mim, gosto de recordar velhos endereços. Eles fazem parte de minha história pessoal, e como disse por aqui neste blog várias vezes, o universo não é feito de átomos, mas de histórias.

Vinte lares ao longo de um vida.

Quantos mais experimentarei viver?

O que nos dará de diferente a vida que ainda deveremos viver?

Não sei.

Mas, certamente vinte lares significam vinte boas histórias.

O que sei ainda sobre meu passado e meus muitos lares?

O que sabe você sobre os seus?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O surgimento dos links

As pessoas que usam a internet hoje em dia podem achar que ela surgiu pronta, tal como está agora. Esta percepção deve ser muito forte entre as pessoas mais jovens, já que a internet pública, tal como a conhecemos, surgiu nos Estados Unidos em 1995, sendo popularizada de fato por aqui, no Brasil, entre 1996 e 1997.

Mas as coisas não surgiram prontas. Elas foram sendo aprimoradas ao longo dos anos.

Hoje, quase tudo está vinculado à internet, mas nos primeiros anos, não estava. Muita gente achava, por volta do ano de 1996, que tudo não deixaria de ser um modismo passageiro, embora muita gente via já a revolução que de fato foi seu surgimento e sua abertura ao público. Então, a tecnologia dos computadores, que já existia bem antes da internet, foi se adaptando aos poucos à rede, e vice-versa. Muita coisa da internet foi decorrência do que já havia nos computadores.

A coisa mais interessante na internet foi o surgimento das páginas www, com fotos, cores, browsers e o link.

Muita gente acha que o link foi uma invenção da internet, mas não foi.

Em 2012, na abertura das Olimpíadas de Londres, houve um momento épico em que uma casa se erguia do meio de um palco e dentro dela estava um senhor, um cientista, o pai da internet, Tim Berners-Lee, obviamente um cidadão inglês, recebendo as honras da casa e sendo mundialmente agraciado com a chance de ser consolidado como o verdadeiro pai da internet, quando sabemos que hoje em dia é tão difícil ser pai de qualquer grande invenção que mude o rumo da humanidade, como a teoria da relatividade, de Einstein, ou a descoberta da penicilina, como Alexander Fleming.

Tim Berners-Lee merece o honroso crédito de ter sido o pai das páginas www, mas não da internet em si. Mas como a internet só se popularizou devido às páginas www, as world-wide-web, então, sim, ele merece muito respeito pelo seu feito, mas o que quero abordar aqui não são necessariamente as www, mas especificamente um importante componente da maioria delas: o link.

Tim Berners-Lee não inventou o link. Ao menos não que eu saiba.

As www são feitas em linguagem html, ou linguagem de marcação de hipertexto. O que é um hipertexto? É exatamente um texto com hiperlinks, ou ligações entre diferentes textos, ou melhor ainda, são ligações entre diferente documentos, diferentes arquivos. Ora, já existiam outras formas de linguagem de marcação de hipertexto antes do surgimento da html. Berners-Lee teve sorte de desenvolver uma linguagem específica para a internet, mas não foi o pioneiro na criação da primeira linguagem com hipertextos.

Os links já existiam antes do surgimento da internet.

Um exemplo clássico do uso de linguagens de hipertexto é um arquivo de ajuda de um programa qualquer criado antes do surgimento da internet.

Palavras em um processador de textos qualquer, como o Word, o Wordpad, o Notepad, ou qualquer outro, são editáveis.

Textos editáveis são importantes e úteis, mas não para certos usos.

Por exemplo, não seria interessante que certos documentos pudessem ser editados por seus leitores, e um texto com informação de ajuda, um texto criado para ensinar por meio de exemplos e passo-a-passo é melhor que seja estático, não editável pelo leitor. Hoje em dia temos diferentes tipos de textos não editáveis, tais como as próprias páginas html, os pdf, etc., mas nos anos pré-internet, esses tipos de arquivos não existiam. Então, os desenvolvedores de programas de computador usavam o tipo de arquivo que quisessem. Como a Microsoft usava textos estáticos do tipo .hlp (de help) para seus arquivos de ajuda, esse modelo virou uma espécie de padrão na indústria.

Um arquivo de texto de ajuda do tipo .hlp é um exemplo clássico de hipertexto. Ele tem imagem, tem desenhos, e tem links.

Quem estava acostumado a ler textos de ajuda antes da internet surgir não se surpreendeu muito com os links em si. Eles já existiam.

Então, com o passar dos anos, foram se popularizando.

Hoje, quase todo programa que se preze permite a criação de links. O único que conheço que não permite ainda a criação de links é o Notepad, que trabalha com um arquivo de texto puro, sem hipertextos, padrão .txt (de text).

Pois bem, o pacote Office 2000 surgiu depois da internet. Era, portanto, de se esperar que sendo um produto de ponta da Microsoft, já contivesse programas que permitissem a criação de links facilmente.

Mas, como eu disse, a indústria dos computadores já existia antes da internet, e o pacote Office também. O Office 2000 era um desenvolvimento do Office 97. Quando se fala em anos de produtos, tais como Windows 95 ou Office 2000, tem-se apenas uma data aproximada de quando o produto foi lançado. Seu desenvolvimento deve ter-se dado muitos meses ou mesmo anos antes de seu ano de lançamento. Assim, o Windows 95 deve ter seu processo de desenvolvimento iniciado em 1990, e o Office 2000 em 1997, quando o Office 97 foi lançado. A indústria de desenvolvimento de softwares simplesmente nunca para. Se para, morre.

Em 1997, o Office 2000 estava em gestação. E a internet também. Aposto que a Microsoft se preocupou em aproveitar a onda emergente do surgimento da rede e capitalizar sobre ela. De fato, quase todos os produtos já permitiam criar links com a internet. Havia até mesmo um produto no pacote que criava páginas para a internet, que era o FrontPage.

Quando comecei a usar o Office 2000, interessei-me pelo Outlook, que gerencia e-mails, contatos, calendários e tarefas.

Gostei de criar tarefas, mas havia um problema: sempre que ia anotando alguma coisa no campo de texto que permite que façamos nossas anotações e detalhemos nossas tarefas, quase sempre precisava digitar nomes de sites, e-mails e outros endereços da internet. Ora, se eu digito um endereço qualquer da internet, é melhor que esse endereço seja transformado em um link automaticamente, como uma funcionalidade básica do programa que eu estou usando para editar meu texto.

Hoje, isso é normal. 

Mas não era em 2000, com o campo de anotações de tarefas do Outlook do Office 2000 da Microsoft.

Eu achei que aquilo era um erro, uma falha de aperfeiçoamento do projeto do Office inaceitável. Mas, por outro lado, estamos falando de Microsoft e Office, uma megaempresa e um megapacote de softwares. Não se pode ser perfeito em tudo. Eles simplesmente deixaram para depois um aperfeiçoamento para um problema menor, convenhamos.

Mas eu não pensei assim no momento, na época.

Eu anotei no próprio Outlook uma tarefinha que eu precisaria fazer para que pudesse colocar minha vida em ordem no futuro. Eu anotei assim em meu Outlook:

"Ver maneira de criar link entre tarefas e páginas da web."

Eu precisava descobrir uma maneira de criar links onde não era possível que eles fossem criados.

Isso foi no dia 10 de abril de 2000.

Agora, esse problema é irrelevante.

Até tenho uma cópia do Office 2000 em um notebook velho, mas quase não o uso.

E a criação de links automáticos é uma realidade no campo de anotações de tarefas do Office, e também do Outlook 2010.

Eu não tenho o Office 2010 em casa. Uso-o, no entanto, no trabalho. 

Em casa, uso o Office 2013, ou Office 365, totalmente integrado à internet.

São esses pequenos detalhes que mostram quem somos e como são as empresas líderes em seus negócios.

Certamente não fui o único a ter tido esse pequeno problema. Certamente a Microsoft já sabia dele antes de lançar o produto. Mas o corrigiu. Veja: não estou dizendo que o problema foi corrigido somente na versão 2010 do Outlook. É provável que tenha sido corrigido logo na versão seguinte, no Office 2003, ou mesmo no Office XP, lançado em 2001.

Não importa: links são coisas importantes, úteis e não podemos viver sem eles.

Creio que os ingleses fizeram bem em homenagear Tim Berners-Lee nas Olimpíadas.

Clicar em um link é um evento global.

Clicar em um link tem a força que marca as grandes descobertas e as gerações.

Seremos lembrados nos séculos futuros como a geração que criou os links.

Berners-Lee será ainda mais famoso.

Isso é bom, penso eu, e merece ser registrado.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Coisas perdidas em casa

Eu tenho pensado sobre como as coisas desaparecem dentro de nossas próprias casas.

Isso não deveria ser surpresa para ninguém, nem motivo de muita preocupação séria por parte de gente que não tem muito tempo a perder com as trivialidades da vida, mas mesmo assim, eu tenho pensado no assunto.

Aonde foi parar aquele objeto que você sabe que tem, que até viu um dia desses por acaso procurando uma segunda coisa desaparecida (que por sinal você também não achou) e que não se lembra mais onde foi que o viu?

Você procura A, encontra B, mas não A. Depois de alguns meses, resolve procurar B, não o encontra, nem encontra A, mas encontra C, que não está procurando, mas que irá procurar mais no futuro, e também não achará.

As coisas vão desaparecendo em sucessão misteriosa e agonizante.

Temos muitos milhares de pequenos objetos em casa. Duvida?

Comece a contá-los. Todos.

Sim, eles são milhares.

Um objeto pode parecer banal e sua perda ou ausência pode ter pouco impacto em nossas vidas, mas não podemos ignorar que objetos em geral cumprem certas funções para as quais eles passaram a existir, e suas ausências deixam um pequeno buraco negro em nossas rotinas de vida, queiramos ou não.

Como justificar um pé de meia sem o seu companheiro, desaparecido?

As coisas não vão parar dentro de nossas casas por acaso. Nós a levamos com uma intenção em mente.

Vá a uma loja de R$1,99 e veja como é fácil entulhar a casa de bugigangas, das menores, como pequenos parafusos e clipes, até grandes e incômodas, como bolas de ginástica e até mesmo esteiras de corrida.

Não levamos coisas para casa à toa, pode ter certeza.

E então, as colocamos de lado e esperamos um dia com tempo livre para podermos brincar com esses objetos, um dia que pode ser daqui a um mês, um ano ou uma década.

Mas, então, cadê a bugiganga?

O que afinal acontece com eles, os objetos que nunca mais encontramos? Haverá um duende brincalhão que esconde ou rouba nossos objetos esquecidos e depois buscados somente para rir diante de nossa frustração e de nossas mãos empoeiradas?

Creio que não.

Acho que é uma questão de organização.

Se você mora na mesma casa a décadas, está mais que familiarizado com cada fresta que há nela. Dificilmente um objeto passará desapercebido, exceto...

Exceto se você for desorganizado. Neste caso, quanto mais tempo morando em uma casa, maior tende a ser a bagunça.

No entanto, se se é organizado, cada coisa terá seu lugar, e haverá um lugar para cada coisa, e mesmo que se tenha muitos milhares de coisinhas em cada canto, inevitavelmente logo se terá um mapa mental com a localização de cada uma delas.

Mas, é muito difícil morar décadas na mesma casa.

E é ainda mais difícil montar um mapa mental de milhares de objetos em pouco tempo. Quer dizer, antes morava-se numa casa A e tinha-se uma certa organização, e um mapa mental A foi se formando ao longo do tempo. Mas, muda-se para uma casa B, que tem uma configuração física diferente, e os milhares de objetos são empacotados, desempacotados e armazenados em uma configuração tal que o velho mapa mental A não vale mais nada. Começa-se um mapa mental B, e ele vai sendo construído lentamente ao longo dos meses. Depois de dois ou três anos, ele está quase completo, exceto se você souber que dentro em breve terá de mudar novamente. Ora, por que se dar ao trabalho mental de saber onde se encontra 2.000 objetos que quase nunca usamos se precisamos saber a localização de apenas uns 200 objetos que usamos diariamente? Por que se preocupar com objetos que não iremos usar? Eles irão para um canto da casa assim que saem das caixas de mudanças, e ficam onde foram originalmente desembalados. Se não precisamos deles, e ainda por cima, iremos mudar dentro de mais dois ou três anos, por que se preocupar com eles?

Esses milhares de objetos que quase nunca usamos entram em um limbo mental, uma área cinza sem um mapa. Somente quando precisamos de um deles é que lembramos, primeiro, que o temos, e que não precisamos comprar outro, e segundo, que ele está em algum lugar naquele armário, em uma caixa verde que você usa para guardar botões e lâmpadas queimadas, mas que podem ser úteis para se fazer algum artesanato.

Só que não está. O objeto não está onde deveria estar, na caixa verde empoeirada, cheia de cacos de lâmpadas quebradas, que poderiam servir para se fazer enfeites, mas que agora são apenas pontas de vidros afiadíssimos, com aquele pó branco que, segundo a lenda urbana, caso venha a cair em uma ferida provocada por um caco desses, fará com que esta jamais venha a cicatrizar-se, numa espécie de pesadelo hospitalar inimaginável. A caixa verde não guarda o que você procura, está toda empoeirada, e o que você não procura se transformou de objetos inocentes em armas mortais prontas para lhe pregar em um dos dedos de surpresa.

Quem tirou de dentro da caixa verde o objeto que estava lá?

Ninguém.

Todos negam ter tirado o objeto, embora confirmem que o conhecem e que ele deveria mesmo estar lá.

Foi então obra de um duende?

Certamente não.

Você provavelmente o achará daqui a dez anos, na sua décima oitava mudança, quando resolver que já é hora de jogar fora, antes da mudança, aqueles malditos cacos de lâmpadas mortais.

O objeto estará lá, entremeio aos cacos, zombando de você.

Agora, pergunto a mim mesmo: onde foram parar as minhas chaves de precisão, que sei que tenho, mas que não acho de jeito nenhum? E aquele envelope enorme com a radiografia de meu crânio, que guardei para o caso de vir a ficar louco um dia desses? E mais: cadê o mini-teclado de meu handheld que nunca funcionou, mas que era parte dele e que não era para ser jogado fora de maneira nenhuma, embora que inútil?

Não sei.

Um dia, achá-los-ei.

Na próxima mudança?

Quem sabe?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As histórias de nossas vidas...

Eu disse certa vez aqui neste blog que as histórias de nossas vidas são garantias de nossa eternidade.

Mas elas não são.

Nossas histórias de vida, ou as histórias de nossas vidas, não fazem de nós eternos. Não no sentido como entendemos a eternidade de nossa consciência ou de nossa alma.

Eternidade de nossos corpos físicos é coisa fora de qualquer cogitação.

Mas, nossas almas sem um corpo não é algo que possamos cogitar também.

Então, sem um corpo, sem uma alma imaginável, o que de nós será de fato possível de se eternizar?

Creio que somente nossas histórias podem ser perpetuadas ao longo do tempo por meio de outras pessoas.

Somos rodeados de pessoas. Nós podemos desaparecer, mas continuar existindo nas memórias das pessoas que sobrevivem depois de nosso fim.

Não somos nós de fato que permanecemos. São as lembranças que as pessoas têm de nós que permanecem como se ainda estivéssemos por aqui, neste mundo material.

Somos fragmentados pedaços de lembranças esparramados por diferentes mentes, em diferentes lugares. Um quebra-cabeças que jamais se juntará por inteiro, porque há peças que jamais foram feitas. Há coisas que morrem conosco, que ninguém mais sabe, nem viu, mas que foram coisas importantes para nós, partes de nós significativas, peças deste quebra-cabeças sem os quais a imagem geral jamais é completa, ou sequer mesmo perceptível.

Mas, as pessoas que sobrevivem a nós também passam. E em poucas décadas, pouquíssimas gerações, não há mais peças.

Somos um desenho na areia.

Dói aceitar isso.

Escrever, no entanto, é um espasmo de esperança. Tal como um peixe fora d'água que saltita em um último esforço buscando voltar ao seu meio vital, nos esforçamos por meio de nossas obras, de nossas realizações, de nossas palavras, numa tentativa muito desesperada e irracional de permanecermos, apesar de nossa partida.

Nos empenhamos nisso com muita firmeza, com muita convicção, embora que sem muita consciência.

Nossos códigos genéticos podem perdurar em nossos filhos. Nosso senso estético pode perdurar numa sinfonia ou numa pintura, como perdura Mozart, Beethoven e Da Vinci. Mas não somos capazes de tão grandes realizações em uma tão curta vida.

Tenho 44 anos e faço incontáveis balanços em busca de alguma pepita perdurável. Sacolejo nos meus restos. Esmiúço meu lixo, meu legado de anos imprestáveis, anos desmanchados pela rotina, pela pequenez, pela sensatez e pela timidez que corrói as vidas como um ácido corrói uma vela.

As histórias de nossas vidas perder-se-ão no tempo. Nossos descendentes saberão o que foi um arquivo MP3, mas não quem o inventou. Pessoas passarão. Coisas, talvez. Haverá certamente os museus para elas, as coisas que causaram algum impacto em seu devido tempo. Para as pessoas, ficarão as lápides frias, com seus nomes incógnitos ao lado de datas sem sentido.

Aos 44 anos, não tenho forças para nada. Dizem os cientistas que começamos a envelhecer aos 27 anos. Logo, são já 17 anos de velhice em ritmo que se acentua em escala geométrica. Logo, serei senil. Logo, digo, dentro de mais 25 anos.

O que são 25 anos?

São muito, mas não são nada.

Minhas listas de coisas a fazer continuam cheias de coisas a serem feitas. E, aos 44 anos, parece que junto com a velhice é-nos dada uma certa coragem que nos permite, nos força mesmo a fazer o que vínhamos adiando por qualquer motivo que imaginássemos inventar. É preciso atacar a vida com a coragem dos ratos acuados, porque não há mais nada a perder. O conforto da segurança no seio do amontoado de anos de placidez e procrastinação não consola.

Não a mim.

Eu sei. Aos 44 pode-se ainda muito.


Mas não tanto.

Deus, dai-me a coragem para fazer da minha vida o que sonhei que ela fosse, ou para fazer dela o que Queres.

Entrego a um ser maior as minhas fragilidades.

Não, eu não creio por covardia.

Fala-me Ele por música, fala-me Ele por sons, em um código que é ininteligível a outros. Só a mim fala Ele da maneira que ninguém mais entende. E se Ele fala a outros, é-me ininteligível.

Quão misteriosas são as guinadas em nossas vidas.

Ao menos eu vejo guinadas onde outros podem ver um caminho plano ou um ser estacado, sequer se movendo rumo ao que quer que seja. Não importa. Eu s-i-n-t-o as guinadas. Logo, elas existem.

Por vezes é como se eu mesmo me conduzisse. Por vezes, é como se uma mão me conduzisse, e eu suponho seja Dele essa mão que me conduz.

Não, eu não creio por covardia ou preguiça.

As histórias de nossas vidas podem ser as garantias de nossas eternidades. A mão que me guia o faz por sons, e sigo a melodia de um Deus sonoro.

Enquanto percorro a trilha que já dura 44 anos, pergunto-me, confiante, se estaria eu deixando mais que o mero rastilho de lixo e passos obviamente vacilantes e erráticos na praia da existência humana.

Eu confio no que ouço.

Enquanto caminho, polvilho meus passos de letras.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Os manuais dos softwares e a Agência A4

Eu gosto de computadores. Tento usá-los no máximo de suas capacidades. Acho que cada software significa uma funcionalidade potencial para algo útil, e já que estão à mão, tento usá-los.

Softwares não são simples. Eles precisam de manuais. E ler manuais requer tempo. Então, já que temos computadores, temos também os softwares. E já que temos os softwares, temos também os manuais. E já que temos que ler manuais, é melhor que passemos a usar bem os softwares dos quais os manuais tratam, porque ler manuais toma tempo e requer muita paciência e perseverança. Por outro lado, um software sem um manual é quase inútil, e computadores com softwares que não sabemos usar são uma enorme fonte de desperdício de dinheiro e espaço.

Assim, desde que comprei meu primeiro computador, em 1994, tenho lido muitos manuais de softwares.

Quando comprei meu primeiro computador, eu usava um PC com processador Intel 386 com Windows 3.11. Era uma máquina nova, e o Windows vinha com um aplicativo de banco de dados bem simples, o Cardfile, que é o Arquivo de Fichas. Eu achava o máximo ter um ficheiro eletrônico, mas nem tinha o que catalogar nele, e o usei muito pouco. Eu já lera em livros de metodologia científica que eu poderia fazer fichas de livros ou trechos de livros para estudo, mas nunca as fiz. Por fim, devido a um incidente, perdi meu computador com Windows 3.11 e minha próxima aquisição foi um PC com Intel Pentium II e Windows 98.

Evidentemente, eu trabalhei com o Windows 95, mas nunca tive um micro somente meu com ele. De qualquer forma, tanto o Win 95 quanto o 98 vinham com um banco de dados de contatos pessoais chamado Contact, ou Contatos. E o Cardfile até poderia rodar, mas não vinha mais instalado como padrão.

O Contatos tinha e tem uma funcionalidade que é a de adicionar e-mails em sincronia com algum cliente de e-mail, tal como o Outlook Express ou o Windows Mail, programas antigos que usei antes de trabalhar com o pacote Office e o Outlook.

O arquivo que roda o Contatos chama-se wab32.exe e durante um bom tempo eu usei meu programa de e-mail sem me importar muito com a opção de salvar nomes de pessoas e seus e-mails no Wab. Vez ou outra uso e-mails. Não sou assim tão adepto deles. Eles são muito úteis, não há como viver sem eles, mas não tenho que interagir com tantas pessoas ou organizações em minha vida particular de maneira que precise enviar e-mails o tempo todo. No trabalho as coisas são diferentes, e trabalhando recebo e envio e-mails quase que a toda hora. Mas em casa, é diferente. Uma vez por semana dou uma olhada em minhas várias caixas de entrada.

Mas então, em 1999, assim que adquiri meu Pentium II rodando Win 98, percebi que ele não vinha com o pacote Office da Microsoft. Ora, se até meu velho 386 tinha Excel, Word, Access e Power Point, por que não tê-los agora com uma máquina tão mais moderna e potente?

O problema é que softwares são coisas caras, e eu sou uma pessoa honesta. Um pacote de aplicativos como o Office custa caro, e em 1999 eles eram bem mais caros e difíceis de se conseguir. Lojas de informática eram raras, e lojas normais, como cadeias de varejistas e livrarias não vendiam softwares e games como fazem hoje. Era preciso dinheiro e disponibilidade para tê-los em mãos em sua forma legítima, pagos a preço de ouro e com os discos originais do fabricante.

Então, eu adquiri, confesso (com dor no coração), uma cópia pirata do Office no mercado negro. Mas, pensando bem, poucos softwares eram até então originais. O Win 3.11 era pirata, porque quando comprei o meu primeiro micro, não veio nenhum tipo de licença tal como vem hoje quando adquirimos computadores em lojas. Eu não tinha documentação de quase nada. Eu imagino o prejuízo que os desenvolvedores de software levam com a pirataria mundo afora, se considerarmos que muita gente ainda faz cópias piratas de quase todo tipo de software, do Windows ao Office e tudo o mais.

É uma pena. Eu sei que Bill Gates já é rico, mas o que é justo, é justo.

Bem, instalei meu Office e ele era incrível. E já era época da internet. O win 3.11 não foi desenhado para o mundo online, mas os demais, sim. E o Office 2000 vinha com o Outlook, um cliente de e-mail muito bacana.

Eu tratei de estudar seu manual. Os demais membros do pacote, o Excel, Word, Access, Power Point, eu até já conhecia bem, mas não o Outlook.

O Outlook tinha suas próprias funcionalidades de gerenciamento de contatos. Ora, eu tinha já alguns dados em meu Contatos do Windows. O que fazer com ele e com meus e-mails? Continuar usando o Windows Mail e o Contatos ou migrar tudo para o Outlook?

Na dúvida, usei uma outra funcionalidade do Outlook que para mim, na época, me pareceu a mais fascinante: as tarefas.

Veja, um administrador de empresa adora gerenciar o tempo. E eu sou um administrador de empresas. Quando vi que poderia gerenciar tarefas no Outlook, tratei logo de aprender a lidar com essa funcionalidade e deixei contatos e e-mails de lado e fui criando minha lista de coisas a fazer.

A primeira tarefa que criei foi em 10 de abril do ano 2000. Está lá anotada: "transferir lista de contatos do Wab para o Outlook."

Eu anotei essa tarefa e muitas outras mais, e até hoje não utilizo em casa o Outlook para gerenciar e-mails. Uso o Windows Live Mail, que é o sucessor do Windows Outlook Express, que é o sucessor do Windows Mail, se não estou enganado em alguma coisa.

Quanto aos contatos, eu tive de importá-los em algum momento para o Excel, porque tive problemas com o Pentium II com Win 98 e passei a usar um micro marca Megaware com Windows Vista, e os dados do Win 98 ficaram perdidos, exceto que eu tinha backup deles em formato padrão Win 98, cuja extensão era .qic.

Então tive que rodar o Win 98 em uma máquina virtual da Sun para poder rodar o Windows Backup do Win 98 e extrair o arquivo de dados do wab32.exe e salvar em um formato mais fácil de trabalhar, em Excel.

Salvei os dados em .xls e pronto. Migraria os dados de contato do Wab para o Outlook manualmente.

Quais dados eu tinha nessa lista? 

Eram somente oito e-mails que eu salvara em algum momento no tempo, entre 1999 e 2007, ano em que comprei meu Megaware, que também veio sem Office original e que teve nele instalada a versão pirata Office 2000 de que já falei. Pelo menos eu não dei mais prejuízo a Bill Gates, me consolo.

Qual era o meu primeiro contato da lista?

Era o e-mail agenciaa4@bol.com.br.

O que isso significa?

Agência A4 é o nome de uma agência de publicidade supostamente aberta pelo meu irmão mais velho Ronaldo por volta do ano 2000.

Digo supostamente porque nunca a vi funcionando, e Ronaldo vive criando nomes para seus trabalhos. Ele é o que podemos chamar hoje de designer gráfico, o que antes era chamado de desenhista.

Em algum momento em 2000, ele resolveu abrir alguma porta comercial em Conchal, cidade onde nascemos e onde ele ainda vive, e resolveu batizar o lugar de Agência A4. 

O que é uma agência? Creio que era uma agência de publicidade, embora ele não seja publicitário. Não no sentido de que tenha feito uma faculdade de publicidade. E A4 é uma referência ao tamanho padrão de papel usado comumente no mercado. Papéis usados para todos os fins são padronizados de acordo com certos parâmetros, e levam as letras A e um número, que os distinguem em seus tamanhos. O A4 é o comum, usado nas impressoras laser e jato de tinta, mas pode ser usado para desenho artístico também. O A3 é um pouco maior que o A4 e o A5 são um pouco menores.

A Agência A4 existe ainda? Creio que não. Nenhuma porta que tenha sido aberta pelo meu irmão ao longo dos anos ficou mais do que um ano aberta funcionando normalmente, e a Agência A4 não foi exceção. Certamente fechou ainda no ano 2000.

E o e-mail no Bol?

Bem, mandei uma mensagem tendo agenciaa4@bol.com.br como destinatário e a resposta foi de que este não existe.

Não sei qual a política de exclusão de e-mails inativos do Bol ou outros provedores gratuitos, mas é certo que mais dia, menos dia, e-mails inativos acabam sendo fechados, e este não fugiu à regra.

Assim, não houve o que migrar do Wab para o Outlook quanto à Agência A4.

As coisas vão morrendo ao longo do tempo. Nossos projetos morrem, nossos e-mails morrem, nossas tarefas morrem, nossos computadores morrem, nossos softwares morrem. Com muito custo, mantenho dados antigos ainda legíveis em versões modernas.

Que nome podemos dar para essa tralha toda? Sucata digital? Trashware?

É o que veremos a seguir.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O que é exatamente o sucesso? - parte 2

Se você está lendo este texto, pode já ter conhecimento de quais sejam os cinco ingredientes do sucesso, segundo Og Mandino. Se você já leu a primeira parte deste texto, ótimo. Se você não leu e não sabe, eis os mesmos aqui:

1 - Propósito.
2 - Média de aproveitamento.
3 - Esforço.
4 - Satisfação.
5 - Espiritualidade.

Na verdade, quem primeiro elencou esses cinco ingredientes não foi o escritor Og Mandino, mas o também escritor Howard Whitman, em seu livro "O sucesso está em você".

Whitman pensou bastante sobre o assunto do que seja o sucesso, e ele chegou à conclusão que há basicamente dois tipos de sucesso. Primeiro, há o sucesso socialmente reconhecido, aquele no qual as pessoas reconhecem fama, fortuna, celebridade, poder e glamour, popularidade ou qualquer outro atributo que elas julgam merecedor de elogios, e que as pessoas que o tem destaquem-se dentre seus vizinhos em razão dele.

Segundo, há o sucesso pessoal, particular, íntimo, aquele no qual as pessoas nem sempre reconhecem algum mérito, e que aos olhos da sociedade, pode muito bem passar desapercebido, mas ainda assim, ser um tipo legítimo de sucesso.

Whitman afirma que o sucesso íntimo é tão legítimo quanto o sucesso social. Ele vai mais longe e afirma que os dois tipos de sucesso são autenticamente sucesso, mas que o sucesso íntimo é mais importante que o sucesso social. Ambos podem coexistir, mas podem aparecer na vida das pessoas isoladamente. Por fim, se é que seja possível apenas que apareçam isoladamente, é preferível que se tenha apenas o sucesso pessoal, porque o sucesso social isolado implica em fracasso íntimo, ou frustração, ou indiferença íntima, e isso não é nada bom.

Se parece difícil entender esses conceitos, Whitman nos faz uma comparação, e nos remete a uma garrafa de refrigerante e seu canudinho. Ele equipara o líquido refrigerante ao sucesso íntimo, e o canudinho ao sucesso social. Ambos formam um par que combina bem, mas se fosse para escolher entre o refrigerante e o canudinho, com qual dos dois você ficaria?

Obviamente, essa é uma opinião pessoal de um autor apenas, mas deve ser seriamente levada em consideração. 

Mas qual a diferença entre sucesso íntimo e sucesso social?

É que o sucesso social é apenas uma opinião de pessoas que normalmente não se importam se o dono do sucesso está intimamente bem ou feliz com aquilo que lhe dá o sucesso. Já o sucesso íntimo é a percepção que uma pessoa tem de si mesma. Uma pessoa considera-se um sucesso para si mesma em virtude de ter um atributo que considera uma fonte de felicidade, realização, orgulho, ainda que ninguém mais se dê conta disto.

De que adianta o mundo todo o considerar uma pessoa de sucesso se em seu íntimo você não se considera tanto assim?

Por outro lado, que importa se o mundo não reconhece seus méritos, desde que você, sinceramente, em seu íntimo, saiba que é um sucesso a seus próprios olhos e dentro de seus próprios critérios?

Seria bom que o mundo reconhecesse também esses seus méritos, mas se não o faz, que mal há nisso?

Com base nesses dois tipos de sucesso, parece que é mais útil ter sucesso íntimo que sucesso social, correto?

Na verdade, o sucesso íntimo, porque definido por apenas nós mesmos, é muito mais fácil de ser alcançado. Convenhamos: é muito mais fácil agradar a nós mesmos que agradar a dezenas, centenas, milhares ou milhões de pessoas ao mesmo tempo.

Mas, se o sucesso íntimo é tão mais útil e tão mais fácil de ser alcançado que o sucesso social, por que as pessoas hoje em dia se apegam tanto à busca do sucesso social e esquecem ou sequer sabem que o sucesso íntimo existe e é muito mais importante?

É o que veremos na continuação desta lição.