As pessoas que usam a internet hoje em dia podem achar que ela surgiu pronta, tal como está agora. Esta percepção deve ser muito forte entre as pessoas mais jovens, já que a internet pública, tal como a conhecemos, surgiu nos Estados Unidos em 1995, sendo popularizada de fato por aqui, no Brasil, entre 1996 e 1997.
Mas as coisas não surgiram prontas. Elas foram sendo aprimoradas ao longo dos anos.
Hoje, quase tudo está vinculado à internet, mas nos primeiros anos, não estava. Muita gente achava, por volta do ano de 1996, que tudo não deixaria de ser um modismo passageiro, embora muita gente via já a revolução que de fato foi seu surgimento e sua abertura ao público. Então, a tecnologia dos computadores, que já existia bem antes da internet, foi se adaptando aos poucos à rede, e vice-versa. Muita coisa da internet foi decorrência do que já havia nos computadores.
A coisa mais interessante na internet foi o surgimento das páginas www, com fotos, cores, browsers e o link.
Muita gente acha que o link foi uma invenção da internet, mas não foi.
Em 2012, na abertura das Olimpíadas de Londres, houve um momento épico em que uma casa se erguia do meio de um palco e dentro dela estava um senhor, um cientista, o pai da internet, Tim Berners-Lee, obviamente um cidadão inglês, recebendo as honras da casa e sendo mundialmente agraciado com a chance de ser consolidado como o verdadeiro pai da internet, quando sabemos que hoje em dia é tão difícil ser pai de qualquer grande invenção que mude o rumo da humanidade, como a teoria da relatividade, de Einstein, ou a descoberta da penicilina, como Alexander Fleming.
Tim Berners-Lee merece o honroso crédito de ter sido o pai das páginas www, mas não da internet em si. Mas como a internet só se popularizou devido às páginas www, as world-wide-web, então, sim, ele merece muito respeito pelo seu feito, mas o que quero abordar aqui não são necessariamente as www, mas especificamente um importante componente da maioria delas: o link.
Tim Berners-Lee não inventou o link. Ao menos não que eu saiba.
As www são feitas em linguagem html, ou linguagem de marcação de hipertexto. O que é um hipertexto? É exatamente um texto com hiperlinks, ou ligações entre diferentes textos, ou melhor ainda, são ligações entre diferente documentos, diferentes arquivos. Ora, já existiam outras formas de linguagem de marcação de hipertexto antes do surgimento da html. Berners-Lee teve sorte de desenvolver uma linguagem específica para a internet, mas não foi o pioneiro na criação da primeira linguagem com hipertextos.
Os links já existiam antes do surgimento da internet.
Um exemplo clássico do uso de linguagens de hipertexto é um arquivo de ajuda de um programa qualquer criado antes do surgimento da internet.
Palavras em um processador de textos qualquer, como o Word, o Wordpad, o Notepad, ou qualquer outro, são editáveis.
Textos editáveis são importantes e úteis, mas não para certos usos.
Por exemplo, não seria interessante que certos documentos pudessem ser editados por seus leitores, e um texto com informação de ajuda, um texto criado para ensinar por meio de exemplos e passo-a-passo é melhor que seja estático, não editável pelo leitor. Hoje em dia temos diferentes tipos de textos não editáveis, tais como as próprias páginas html, os pdf, etc., mas nos anos pré-internet, esses tipos de arquivos não existiam. Então, os desenvolvedores de programas de computador usavam o tipo de arquivo que quisessem. Como a Microsoft usava textos estáticos do tipo .hlp (de help) para seus arquivos de ajuda, esse modelo virou uma espécie de padrão na indústria.
Um arquivo de texto de ajuda do tipo .hlp é um exemplo clássico de hipertexto. Ele tem imagem, tem desenhos, e tem links.
Quem estava acostumado a ler textos de ajuda antes da internet surgir não se surpreendeu muito com os links em si. Eles já existiam.
Então, com o passar dos anos, foram se popularizando.
Hoje, quase todo programa que se preze permite a criação de links. O único que conheço que não permite ainda a criação de links é o Notepad, que trabalha com um arquivo de texto puro, sem hipertextos, padrão .txt (de text).
Pois bem, o pacote Office 2000 surgiu depois da internet. Era, portanto, de se esperar que sendo um produto de ponta da Microsoft, já contivesse programas que permitissem a criação de links facilmente.
Mas, como eu disse, a indústria dos computadores já existia antes da internet, e o pacote Office também. O Office 2000 era um desenvolvimento do Office 97. Quando se fala em anos de produtos, tais como Windows 95 ou Office 2000, tem-se apenas uma data aproximada de quando o produto foi lançado. Seu desenvolvimento deve ter-se dado muitos meses ou mesmo anos antes de seu ano de lançamento. Assim, o Windows 95 deve ter seu processo de desenvolvimento iniciado em 1990, e o Office 2000 em 1997, quando o Office 97 foi lançado. A indústria de desenvolvimento de softwares simplesmente nunca para. Se para, morre.
Em 1997, o Office 2000 estava em gestação. E a internet também. Aposto que a Microsoft se preocupou em aproveitar a onda emergente do surgimento da rede e capitalizar sobre ela. De fato, quase todos os produtos já permitiam criar links com a internet. Havia até mesmo um produto no pacote que criava páginas para a internet, que era o FrontPage.
Quando comecei a usar o Office 2000, interessei-me pelo Outlook, que gerencia e-mails, contatos, calendários e tarefas.
Gostei de criar tarefas, mas havia um problema: sempre que ia anotando alguma coisa no campo de texto que permite que façamos nossas anotações e detalhemos nossas tarefas, quase sempre precisava digitar nomes de sites, e-mails e outros endereços da internet. Ora, se eu digito um endereço qualquer da internet, é melhor que esse endereço seja transformado em um link automaticamente, como uma funcionalidade básica do programa que eu estou usando para editar meu texto.
Hoje, isso é normal.
Mas não era em 2000, com o campo de anotações de tarefas do Outlook do Office 2000 da Microsoft.
Eu achei que aquilo era um erro, uma falha de aperfeiçoamento do projeto do Office inaceitável. Mas, por outro lado, estamos falando de Microsoft e Office, uma megaempresa e um megapacote de softwares. Não se pode ser perfeito em tudo. Eles simplesmente deixaram para depois um aperfeiçoamento para um problema menor, convenhamos.
Mas eu não pensei assim no momento, na época.
Eu anotei no próprio Outlook uma tarefinha que eu precisaria fazer para que pudesse colocar minha vida em ordem no futuro. Eu anotei assim em meu Outlook:
"Ver maneira de criar link entre tarefas e páginas da web."
Eu precisava descobrir uma maneira de criar links onde não era possível que eles fossem criados.
Isso foi no dia 10 de abril de 2000.
Agora, esse problema é irrelevante.
Até tenho uma cópia do Office 2000 em um notebook velho, mas quase não o uso.
E a criação de links automáticos é uma realidade no campo de anotações de tarefas do Office, e também do Outlook 2010.
Eu não tenho o Office 2010 em casa. Uso-o, no entanto, no trabalho.
Em casa, uso o Office 2013, ou Office 365, totalmente integrado à internet.
São esses pequenos detalhes que mostram quem somos e como são as empresas líderes em seus negócios.
Certamente não fui o único a ter tido esse pequeno problema. Certamente a Microsoft já sabia dele antes de lançar o produto. Mas o corrigiu. Veja: não estou dizendo que o problema foi corrigido somente na versão 2010 do Outlook. É provável que tenha sido corrigido logo na versão seguinte, no Office 2003, ou mesmo no Office XP, lançado em 2001.
Não importa: links são coisas importantes, úteis e não podemos viver sem eles.
Creio que os ingleses fizeram bem em homenagear Tim Berners-Lee nas Olimpíadas.
Clicar em um link é um evento global.
Clicar em um link tem a força que marca as grandes descobertas e as gerações.
Seremos lembrados nos séculos futuros como a geração que criou os links.
Berners-Lee será ainda mais famoso.
Isso é bom, penso eu, e merece ser registrado.
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