domingo, 29 de agosto de 2004

Ambições olímpicas

Em época de Olimpíadas, ao vermos as constantes imagens de atletas recebendo coroas de louros e medalhas por suas vitórias incríveis, não é incomum que sintamos em nós mesmos um misto de sensações, começando pelo orgulho nacional, passando pelo respeito individual, empatia, inveja e finalizando com pesar e tristeza por não sermos nós os vencedores. Sentimos que aquele que recebe uma medalha é no fundo um simples ser humano, embora excepcional como atleta, e sentimos também que, assim como eles, nós tivemos nossas janelas de oportunidades, mas as deixamos que se fechassem. Sabemos que agora é tarde, mas depois nos consolamos. Afinal, como poderia ser de outra maneira? Somos pobres mortais e temos nossas vidas para cuidar. Como poderíamos ter sido atletas olímpicos?

Qual o papel da ambição neste contexto?

Talvez a ambição não tenha lugar no espectro de sensações de pobres mortais como nós, mas, por que não, se invejamos os vencedores? Se os invejamos, por que não ser como eles? A resposta mais comum é de que na verdade, nos contentamos com o que temos. Estamos satisfeitos com nossas pequenas conquistas e de certa forma, a ambição é um sentimento perigoso. Ela pode trazer medalhas, mas pode trazer também a guerra, a morte, e ela pode ser a causa de toda a desgraça do mundo. Tome um problema qualquer, pessoal ou global, e a ambição serve perfeitamente como causa para assumir a responsabilidade. Não podemos justificar a miséria da fome mundial como sendo consequência da ambição dos países ricos que não querem abrir mão de um pequeno quinhão de suas riquezas? E nossas dificuldades do dia-a-dia? Claro, sempre podemos atribuir nossas mazelas à ambição do patrão, da esposa, do marido, do governo ou do motorista com um carro mais novo.

Mas, que podemos conseguir na vida sem um pouco de ambição sadia? A humildade pura e simples nos é repugnante e rasteira. Mesmo os animais só são humildes em termos. Nenhum ser vivo tem a pretensão de abrir mão daquilo que a natureza lhes concedeu por direito. Nenhuma gazela se entrega humildemente a um leão para ser devorada. Todos têm o direito a ser ambiciosos. Talvez o mal da ambição seja o de querer atingir aquilo que ambicionamos às custas das ambições dos outros. De um ponto de vista social, é essa a melhor ambição: a que permite que vençamos, mas sem impedir que o próximo vença também.

Feita essa distinção, a ambição não é de todo um sentimento mau. É natural que não seja socialmente incentivada em nosso país. Uma tradição político-religiosa faz de nós, brasileiros, pessoas mais para humildes que para ambiciosas (ao contrário dos nossos queridos irmãos argentinos). De certa forma, a ambição vai contra certos princípios religiosos cristãos. Mas essa leitura cristã da ambição é uma besteira. Se pensarmos que o fundador do cristianismo se diz o próprio deus, então ele é talvez o mais ambicioso dos homens, se não for mesmo um deus. E se ele pede que sejamos como ele, então por que não darmos rédeas as nossas ambições sadias?

A questão principal é: vale a pena? Na maioria das vezes, não receberemos nenhuma coroa de louros pelos nossos esforços, e na maioria esmagadora das nossas investidas, fracassaremos, sem direito a nada, por vezes tendo como prêmio, prejuízos. Mas nas poucas vezes em que formos bem sucedidos, então o esforço será compensado. Nessa hora, seremos invejados, e admirados, e respeitados, e seremos o orgulho da nação. E sentiremos orgulhos de nós mesmos, e seremos explosivamente felizes, que é o que mais importa, no final das contas. Como efeito colateral, a humanidade ganha com isso, porque sempre que realizamos grandes coisas, essas coisas tendem a ser coisas boas, e das quais não só nós, mas todos tiram proveito.

Então, por onde começar? Não temos base alguma para supor que teremos sucesso, mas algumas lições nossos colegas atletas olímpicos nos ensinam.

Primeiro, que mesmo um superatleta pode, quando muito ser um penta-atleta, mas não um atleta polivalente, um superatleta. Quer dizer, ele aumenta suas chances de sucesso quando resolve que será um especialista em corrida, ou em nado, ou em basquete, mas não será tudo ao mesmo tempo. Foco é que eles ensinam.

Segundo, que há atletas amadores e há atletas profissionais. E que se quisermos ser um atleta profissional, o trabalho deve ser em tempo integral, e não só nos fins de semana, e não só quando estamos com vontade. Dedicação é o que eles ensinam.

Pergunto a mim mesmo, porque não tenho nenhuma ambição de moldar ideias ou sugestionar opiniões alheias: qual meu foco? Quando vou começar a me dedicar a ele?

Quanto aos louros, penso neles depois...


quarta-feira, 25 de agosto de 2004

A falta e o excesso de informação

Tenho tentado me concentrar em alguma atividade produtiva, mas tenho sempre comigo uma leve sensação de que não importa o que eu faça, estou no rumo errado e perdendo meu tempo. Quer dizer, não que eu não veja um valor naquilo que eu faço, mas examinando as coisas sob uma ótica existencialista, tudo perde o sentido. Não importa o que eu faça, logo eu me pego fazendo algumas perguntas difíceis: por que estou fazendo isto? Onde isto vai levar? Qual o sentido disso? O que eu ganho com isso? E se for uma ilusão?

No fundo, meu problema é o problema de todos, embora nem todos saibam deste problema: a morte. Não que eu tenha medo de morrer. Eu não quero é exatamente o contrário: desperdiçar a vida em algo que não valha a pena, mas que eu só vá descobrir que não valeu a pena quando estiver no leito de morte. Essa sensação de não saber o que realmente vale a pena na vida tem me perseguido a anos.

Em "Epitáfio", a música dos Titãs, temos um exemplo claro de mensagem que trás embutida essa ideia de urgência e de alerta. A letra da música é parecida com o poema "Instantes", aparentemente de Nadine Stair. Deveríamos fazer certas coisas, e não outras, ou, melhor, deveríamos fazer mais certas coisas e menos outras. Mas que garantia temos no final? Nenhuma. É uma bela letra, mas não serve como alicerce para se guiar uma vida.

Aliás, esse é o tema dessa mensagem: a falta e o excesso de informação. Temos falta de informação que nos oriente, e isso exatamente porque temos uma super-oferta de informação. Temos os livros de autoajuda, e temos as religiões, e a filosofia, e a psicologia, e temos os gurus, e temos ainda um milhão de outras fontes de informação nos bombardeando com mensagens imperativas. Faça isso e será feliz, faça aquilo e enriquecerá. Deixe de fazer A para fazer B. Abandone C. Como separar o joio do trigo? E quem garante que haja trigo no meio de tanto joio?

Poderíamos nos dar ao luxo de testar esses imperativos. A prática é a melhor prova. Mas a vida é curta demais para testes. E se no fim de um teste que pode levar a vida toda, descobrimos que o truque não funciona? Tarde demais, você perdeu...

A dúvida tem me imobilizado. Tenho que começar algo, mas enredo-me em um círculo vicioso lógico que não me permite sair dele. Como sair de uma roda de ratos? Por onde começa uma circunferência? Estou preso à minha própria limitação intelectual. Não sou esperto ou sábio o suficiente para achar uma saída. Enquanto isso, o tempo passa...

Decifras-me ou te devoro!


domingo, 22 de agosto de 2004

Memórias e pipocas

Andei dando uma olhada numa ideias velhas que tenho anotadas em minha também velha agenda. Coisas sobre o excesso de conhecimento, sobre algoritmos e sobre teorias axiomáticas e orientação a objetos. Tudo porque não acho uma maneira de ordenar minhas ideias. Sou perfeccionista. Não gosto de correr riscos. Tenho sede de saber. Enfim, acabei tendo um sonho noite passada que, de tão louco, forçou-me a levantar da cama. Assim que percebi que tinha terminado de sonhar, tomei caneta e papel e anotei tudo aquilo que fui capaz de me lembrar: precisava registrar o sonho maluco para não perdê-lo. Era melhor que os melhores filmes. E assim, passei mais tempo escrevendo sobre o sonho que propriamente sonhando, e como escrevia em minha velha agenda, ela finalmente, depois de cinco e meio longos anos, esgotou-se em sua capacidade de registrar coisas. Está completa do início ao fim. Começa com promessas ecológicas e termina com um sonho alucinante. Muito bem.

Mas minhas memórias não estão somente nessa agenda. Dias atrás, senti curiosidade em reler um monte de cartas que tenho guardadas como recordações, cartas escritas por mim e por meus familiares e amigos, cartas que trocamos entre os anos de 1987 e 1995, e que ficaram esquecidas a um canto. Coloquei-as em ordem cronológica e li uma a uma. Que surpresa! Fiquei impressionado com a quantidade de detalhes que havia esquecido, sobre como minha vida era, e certamente ainda é, rica em vivências, mas que relembrada assim, sem muito esforço, parece apagada e de pouco interesse. Não, eu não tive uma vida tão desinteressante assim, percebo agora, graças a essas velhas cartas.

Feliz por meu passado, percebo agora um bom uso para os blogs. Eles agora parecem tediosos e o meu não recebe muitas visitas, mas daqui a dez anos, serei muito feliz revisitando-o, relendo as coisas que eu mesmo terei escrito dez anos atrás e nem me lembrarei mais, e me sentirei grato por tê-lo feito. O fato de receber ou não visitas é mero ganho colateral.

Claro, nem tudo está definitivamente perdido em nossas memórias fracas. Hoje mesmo tive uma prova disso. Sem a ajuda de uma agenda, de um diário, de cartas ou de um blog, fui capaz de me lembrar de algo que me deixou surpreso: estourei um saco de pipocas no micro-ondas e, depois de colocá-las numa bacia plástica, acrescentei sal, como de costume, mas o saleiro estava junto a um vidro de molho de pimenta vermelha. Bingo! Lembrança resgatada. Sim, lembrei-me de que quando era criança e morava no pacato vilarejo de Tujuguaba, no interior do Estado de São Paulo, nós, cidadãos, costumávamos ir aos sábados e domingos até a igreja de Santo Antônio, a única igreja católica do lugar. Uma igrejinha singela ladeada por uma pracinha simpática com bancos agradáveis, onde as crianças brincavam e os adultos passeavam. Bem junto às escadas que davam acesso ao jardim, costumava aparecer um vendedor de pipocas. Era o Pombo, o pipoqueiro, um senhor magro e calmo que morava logo perto da igreja, e aproveitava a oportunidade para ganhar alguns trocados. Ali, nós comíamos nossas pipocas com sal e molho de pimenta, e, recordo agora, como era bom! Mudei-me de Tujuguaba quanto tinha meus 14 anos. Passei vinte anos sem lembrar em pipocas com pimenta, e menos ainda em Pombo. Qual a vantagem nisso? Não sei, mas fiquei feliz em me lembrar de minha infância, em pipocas com pimenta, e isso basta.

Não podemos menosprezar esses pequenos momentos. Somos o que lembramos que somos.


quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Pensamento Ecológico

No primeiro texto postado neste blog, eu mencionei uma agenda que tenho utilizado desde 1999. É uma agenda de papel, comum, com a foto de peixinhos impressa numa capa dura e folhas comuns presas numa espiral de arame. Comprei-a para anotar bobagens. Chama-se Ecoagenda 1999.

Pois bem, logo no início, nas primeiras páginas, há um espaço para planejarmos ou anotarmos nossas 'atitudes ecológicas em 1999'. Assim que comecei a usar a agenda, anotei cinco itens, cinco futuras atitudes, cinco pequenos projetos pensados assim de imediato. Nada muito elaborado. Apenas coisas simples que qualquer mortal pode realizar sem muito esforço.

Passados quase seis anos, olho a pequena lista e chego a várias conclusões bastante curiosas.

No entanto, a primeira conclusão a que chego lendo a listinha de cinco promessas é a de que das cinco atitudes que planejava adotar em 1999, de fato acabei vindo a adotar ao longo desse tempo praticamente todas elas. Se nem todas estão sendo seguidas em suas formas mais perfeitas, ao menos em parte elas estão. Essas pequenas atitudes adotadas significam que as pessoas mudam, embora que lenta e irregularmente, ao longo dos anos. Eu mudei! Meu primeiro item na lista era 'parar de fumar'. E parei mesmo, faz mais de cinco anos. Sei que não há muita relação entre ecologia e o hábito de fumar, mas o fato é que eu concretizei aquilo que me propus a realizar. Ter mudado provoca uma sensação de esperança no futuro, já que o nosso presente hoje em parte é melhor que o nosso passado, naquilo que tínhamos de indesejável nele. Se no passado mudamos para melhor, podemos continuar mudando e esperar um futuro um pouco melhor que hoje naquilo que hoje não desejamos.

Mas não é só. Cheguei a conclusões interessantes sobre o processo de conscientização ecológica, ou marketing ecológico, assim como, de maneira irreversível, a mentalidade ecológica penetrou na mente de todas as pessoas, e de como essa mentalidade é em parte correta, mas em parte, não. Entretanto, essas conclusões são longas demais para se discorrer num simples blog. Na medida em que as colocar por escrito, e vou colocá-las, estarei divulgando-as em meu site pessoal http://www.rosenvaldo.com .

Por enquanto, ficamos com a conclusão, singela, mas verdadeira, de que podemos mudar, e mudamos. Apenas a escala de tempo de nossas mudanças pessoais é que é lenta demais para que percebamos e possamos nos felicitar por elas.

Viva nossas mudanças para melhor!


domingo, 15 de agosto de 2004

Jim Carrey - Brilho Eterno

Assisti ao novo filme com Jim Carrey. Devo admitir que ele tem um carisma que faz qualquer filme brilhar, mesmo que o tema em si não seja dos mais inspirados. Não sei se é o caso deste.

A ideia gira em torno de uma possível técnica de se apagarem nossas memórias indesejáveis. Pois bem, suponhamos que um dia isso se torne uma realidade e teremos a namorada cansada da cara do namorado procurando uma clínica especializada e pedindo para esquecê-lo, literalmente. As consequências não são tão difíceis de se imaginar. Disso tiro três conclusões:

Primeiro: que os filmes atualmente estão fazendo uma espécie de lavagem cerebral subliminar, algo que, sem paranoia, daria um tema para um bom filme sobre o quarto poder e sobre a mídia em geral. Cada filme que sugira uma realidade futura plausível está, mesmo que não intencionalmente, preparando seu público para caso a ficção um dia venha a tornar-se realidade. Um filme como Sinais faz com que se daqui a alguns anos fizermos contato com alienígenas a coisa não pareça tão absurda. E não é só Sinais. Contato, Aliens, Enigma de Outro Mundo, Independe Day e mesmo Men In Black fazem isso: preparam a humanidade para o dia do verdadeiro contato. E fazem com que descobertas fantásticas, como as que as sondas espaciais fazem quase que diariamente, passem desapercebidas, porque não mirabolantes do ponto de vista dos filmes. Um computador como Hall 2000, de "2001: Uma Odisseia no Espaço", faz nossos modernos Pentium parecerem radios velhos a válvula, embora nem Bruce Willis em Nova York Sitiada tenha sido capaz de nos preparar para um 11 de Setembro. Mas de modo geral, os filmes aplainam o terreno, deixam a coisa mais maleável.

No ramo dos avanços da medicina, um destaque vai para Vanilla Sky, que tenta nos preparar para o dia de nossa imortalidade. E Tom Cruise de novo tenta nos preparar para o dia em que dominarmos os poderes extrassensoriais, em Minority Report. Este, de Jim Carrey, tenta fazer o mesmo, embora muito discretamente, muito subliminarmente.

Minha segunda conclusão: a de que se um dia tivermos a nossa disposição um recurso desses, se teria realmente utilidade maior que um desfibrilador cardíaco ou um monitor de um ultrassom médico. Não sei se pessoas normais iriam querer esquecer algo, mesmo indesejável. Claro, há traumas que devem ser esquecidos, mas qual o sentido de se esquecer um mal relacionamento, um mal patrão, um mal dia? Penso que na verdade, somos aquilo que há em nossas memórias, e não é sem motivo que uma pancada na cabeça que faça alguém esquecer tudo que viveu em uma vida é um acontecimento considerado bizarro do ponto de vista médico, e um cidadão assim não possui uma personalidade, do ponto de vista social. Ele tem um passado, é certo, mas somente nas mentes de outras pessoas. Ele próprio não é ninguém: um simples quadro em branco. Somos o que somos exatamente porque somos a soma de nossas boas e más lembranças. Quem não se espanta quando ouve uma velha música, relê um velho livro, assiste um velho filme, encontra um rosto a muito esquecido, viaja de volta a lugares a muito esquecidos, relê uma carta amarelada e esquecida numa gaveta qualquer? Mesmo uma má lembrança que venha a ser recordada ainda assim nestes casos é bem vinda. Dai...

Tiro minha terceira conclusão: a de que nosso problema não é uma máquina de esquecer. Essa nós já temos: o tempo. Basta esperar, e tudo será esquecido, mais cedo ou mais tarde. Nosso problema é o contrário. Precisamos de uma máquina de recordar. Precisamos escavar fundo em nossa mente e descobrir, colocar a salvo para todo o sempre aquilo que um dia vivemos, mesmo que venhamos a botar a salvo numa folha de papel, num diário, num discurso com nossos netos e mesmo nos nossos blogs, por que não? Imagine o dia em que tivermos a máquina das lembranças. Sente-se, pague sua sessão e tenha boas recordações! E salve-as em vídeo! Mostre ao mundo o que viveu de verdade!

Quando esse dia vai chegar?


sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Perguntas que não querem calar

Fico me perguntando:

Afinal, qual a finalidade de um blog?

Quais são as pessoas que se dispõem a levar um blog a sério?

Qual o tempo necessário por dia para fazer de um blog padrão um blog personalizado, bacana e atraente?

E depois, se ele for bastante visitado, o que fazer com os milhares de e-mails de elogios, congratulações e críticas?

Um blogueiro é um aspirante a quê?

Será que o único objetivo de um blog é a luta por quinze minutos de fama e depois um contador de page views enorme e triste?

O que temos de verdadeiramente importante a acrescentar ao mundo, e em particular, à Internet?

Vale a pena o esforço de se passar horas todos os dias navegando em busca de novas fotos para o blog, novas ideias para o blog, novos contatos para o blog, novas divulgações das novidades do blog, novos gifs animados e novamente mais divulgações?

Alguém em sã consciência acredita mesmo que um blog pode ser uma fonte de fama e dinheiro?

Por que achar que alguém que tem seu próprio blog para administrar, e todos na Internet tem, pode ter interesse em ler o blog de outras pessoas, seus concorrentes diretos e imediatos?

Quem pode ter curiosidade em saber o que se passa na minha vida, a não ser aqueles que me conhecem pessoalmente e já sabem de tudo que está no meu blog, porque estão ao vivo, aqui ao meu lado, vendo as coisas acontecerem em tempo real?

Um blog gera mais perguntas que respostas.

Tudo bem! O importante é a experiência. Penso que daqui a dez anos nos lembraremos dos blogs como coisas que não deram certo, como carros que poderiam voar, ou como pequenos dinossauros, fósseis, que evoluíram para formas melhores e mais eficientes de comunicação virtual. Espero que os blogs evoluam, porque do modo como são hoje em dia, me parecem algo sem identidade, sem objetivo, sem personalidade.

E um fotolog, então? Onde isso vai parar?


segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Eu, robô

Acabei de assistir o filme "Eu, robô".

Filmes de ficção são um caso à parte. Aliás, o cinema é um caso à parte, penso eu. É paradoxal que um filme de ficção científica consiga fazer com que um fato real se pareça ficção, e com isso, faça com que a ficção se pareça com um fato. Vou tentar me explicar.

Sempre que assisto a um filme de ficção, percebo quatro coisas interessantes:

Primeiro: que os criadores dos filmes de ficção realmente conseguem fazer com que o futuro pareça algo incrivelmente diferente e maravilhoso, ao menos no momento em que o filme está em cartaz. Claro, no momento em que é lançado, o filme com cenas futuristas é o que melhor retrata o futuro para o seu exato presente. Depois de alguns anos, se assistirmos ao mesmo filme, provavelmente veremos que o futuro que ele prometia não se concretizou, ou que era uma promessa absurda, ou ridícula, ou avançada demais, mas no momento do lançamento, eles realmente conseguem captar nossas melhores expectativas quanto ao futuro.

Segundo: que embora eles versem sobre o futuro, esse futuro, por mais longínquo que seja, ainda é próximo demais para que venhamos a vê-lo materializado em realidade. Há cenas de filmes que se passam em 2020 e que achamos que se realmente elas se tornarem fatos em 2020, então um futuro maravilhoso nos aguarda, mas as coisas na vida real são muito mais lentas. Filmes que mostram coisas em 2020 tratam, na verdade, de coisas que só virão a ocorrer em 2200. Sempre ficamos com uma leve sensação de que, com o passar dos anos, o filme prometia coisas boas demais, cedo demais, para serem possíveis, e sentimos uma certa frustração. Mas só podemos perceber isso bem depois que o filme foi lançado.

Terceiro: a indústria do cinema, por ela mesma, nunca foi considerada como parte de um possível futuro. Não fazemos ficção sobre a indústria do cinema, e por isso, não alimentamos expectativas sobre seu futuro, mas ele chegou: ninguém a cinquenta anos atrás seria capaz de imaginar os avanços que a computação gráfica e os efeitos especiais iriam alcançar. Assistir um filme de ficção fabuloso é assistir também ao presente. Afinal, o filme foi feito agora a pouco, e ele é real. Foi possível fazê-lo! Eis o futuro tornando-se presente!

E por fim, quarto: nós sequer damos conta disso, de que o futuro chegou, ao menos em determinadas áreas. Não temos homens aos montes no espaço, mas temos a Internet, os computadores, o e-mail, os celulares, os efeitos especiais nos cinemas, e sequer damos conta disso. E temos os carros populares!

E por que não nos damos conta disso?

Acho que é porque estamos atolados até o pescoço nisso tudo que chamamos desenvolvimento tecnológico.

Para sermos sinceros, estamos passando pela maior revolução que a humanidade, o planeta, o cosmo já viu, e sequer temos consciência da dimensão dessa revolução. A dimensão da coisa é fantástica, e Will Smith é apenas parte do processo.

Onde isso vai parar?


sábado, 7 de agosto de 2004

Comunidades

Continuo entretido com o Orkut. Sei que poderia fazer parte de um monte de grupos de amizade e de sites e newsgroups sobre os assuntos que andei procurando, mas no Orkut a coisa é mais fácil. Temos que admitir: é um site bem organizado.

Ando procurando ideias para montar minha nova página pessoal, e ando procurando ideias para desenvolver meu jogo de guerra. E ando quebrando a cabeça para fazer minhas contas baterem no Money, e ando disposto a comprar meu primeiro carro! Ah, agora vai!

Ando também lendo sobre dinheiro. Nada muito aprofundado. E estou dando continuidade ao cadastramento de meus livros. Já são 78 deles cadastrados! Mas tenho uns quatrocentos!

E tenho comido muita verdura e fruta. Tenho que manter o peso. E por falar em ser certinho, cadastrei-me num grupo de amigos nerds. Sei que só posso ser um nerd. Eles falam a minha língua, e eu falo a deles. Claro, sou velho demais para certas atividades que adolescentes nerds praticam, e não tenho mais paixão por colecionar coisas, nem fico vendo fimes e seriados mil vezes seguidas, mas de um modo geral, sou um autêntico nerd. E que bom que tenho estado psicologicamente bem equilibrado desde que resolvi levar a sério minhas coisas que precisam ser levadas a sério. Mas tenho algumas dúvidas.

Primeiro: o que eu faço que tem valor para o mundo?

Segundo: onde eu quero chegar de fato?

Falando desse jeito, pareço o Stephen Covey!

Uma coisa é certa: os nerds ainda vão dominar o mundo!!!


domingo, 1 de agosto de 2004

Invejando Bill Gates e Bertrand Russell

Estou lendo "A Conquista da Felicidade" de Bertrand Russell. Um livro delicioso, escrito na década de 30 do século passado, mas espantosamente atualizado. Estavam configuradas já naquela época, ao menos nos Estados Unidos, as bases para o atual século XXI, de Bill Gates. O que Bill Gates tem a ver com isso?

Bem, há um capítulo no livro de Russell em que ele tece comentários acerca da inveja que sentimos em não podermos ter aquilo que os outros têm. Tenho um par de pés, mas o vizinho tem um par de pés e um par de sapatos. O outro tem ainda os pés, os sapatos e um carro, para não gastar os sapatos e não cansar os pés. E outro tem ainda um jato particular, para não perder tempo viajando de carro. E tem ainda, no final da linha, ele, ele mesmo, Bill Gates, que se não é o homem mais invejado do mundo, é um dos mais. Para sermos exatos, não é o homem que é invejado pelo que é, mas sua fortuna que é cobiçada pelo tamanho que tem, mesmo sabendo que, segundo os próprios bilionários dizem, não há nada que você possa comprar no mundo de hoje com uma fortuna de um bilhão de dólares que não possa ser comprada por uma que seja apenas de dez milhões. Em suma, os próprios ricos admitem que não se precisa de tanto dinheiro para se ter quase tudo que o dinheiro possa comprar, exceto algumas extravagâncias irracionais. Então, por que queremos tanto dinheiro? E por que tanta inveja e cobiça?

Eu, de minha parte, a muito tempo que percebi, e Russel já era da mesma opinião quarenta anos antes de eu ter nascido, de que o melhor que o dinheiro pode comprar é o tempo e a segurança: bastaria que eu tivesse o bastante para não precisar mais trabalhar e viver com relativa segurança, e o daria por suficiente. Por quê?

Segundo meus cálculos, um cidadão com dois ou três milhões de reais pode viver feliz para sempre... se é assim, por que queremos mais?

O problema é que não temos esses dois ou três milhões, nem sombra disso. Se tivéssemos um décimo desse valor, aqui no Brasil, seríamos pessoas afortunadas. Então, o problema não é a inveja, mas a miséria.

Isso me faz recordar uma história que li numa revista Seleções a muitos anos atrás, quando ainda era uma criança, e que marcou profundamente a maneira como encaro o mundo financeiro e a vida. Eu devia ter meus doze anos, treze anos, não mais. E a revista era velha, muito velha, da década de cinquenta. Um primo de minha mãe, bem de vida, tinha no porão de sua casa uma caixa de papelão do tamanho de uma geladeira completamente cheia de revistas Seleções antigas, provavelmente desde a década de quarenta até as mais recentes naquela época, no início da década de oitenta. Ele deixava que eu brincasse a vontade com aquilo tudo, e numa delas eu li um artigo com um estranho nome: "Você já viu um clip enferrujado?".

Era um texto que dizia que provavelmente nós nunca vimos clipes de papel enferrujados, porque eles são de valor tão irrisórios que são descartáveis a ponto de sequer enferrujarem pelo tempo e pelo uso. Esse texto me revelou algo que hoje perdeu a importância, que é o hábito de utilizarmos de fato aquilo que temos. O texto falava de um par de chinelos de couro que o proprietário usou confortavelmente por décadas, embora vez por outra uma tira soltasse e ele tornasse a concertá-la. Nada durante aquele tempo havia feito com que o chinelo de couro perdesse a sua utilidade real, e fora isso, fora a sua utilidade, não havia porque substitui-lo, trocá-lo, jogá-lo fora por outro mais novo. Nada que o novo pudesse oferecer o velho já não oferecia. Enfim, o texto me ensinou que devemos usar as coisas, mais do que simplesmente tê-las pelo desejo de tê-las.

Passados muitos anos, vim a descobrir que assimilara aquele texto de forma profunda. Tenho objetos de uso pessoal que simplesmente estão comigo, em uso, a décadas. Um par de óculos, que comprei a dez anos atrás, só foi aposentado agora, a poucos dias. Minha lente de contato tem quase seis anos! Meu micro é um Pentium II 266! E eu não tenho carro... numa cidade como Goiânia, onde há um carro para cada dois habitantes, eu sou um caso raro. Simplesmente vivo sem os carros.

Depois, vim a confirmar esse modo de vida quando li que "existem dois objetivos para serem atingidos na vida: primeiro, conseguir o que se quer; e depois, desfrutar o que se obteve. Apenas os mais sábios realizam o segundo", um pensamento de Logan Pearshall Smith, que não sei quem é, mas cuja frase se encontra em "A Universidade do Sucesso", dele, dele mesmo, Og Mandino. Sei que citar frases é fácil, mas vejo-a como um desafio bastante difícil de ser alcançado.

Acho que vivemos num mundo de excessos em todos os sentidos. Todas as nossas desculpas para consumir desenfreadamente são apenas isso: desculpas. Não acredito em ascetismo, em desapego, em abandono de nosso estilo de vida, mas acho que é besteira o consumismo impensado. Só deveríamos consumir depois de refletirmos bastante sobre a real necessidade de realizarmos esse consumo. Só deveríamos comprar clipes depois que nossos clipes velhos estivessem enferrujados demais para serem úteis.

Por falar em consumo e mesmo reciclagem, e em coisas antigas e ainda boas, estou ouvindo "Music of the Gothic Era", da coleção Deutsche Gramophon, aquela que saiu em fascículos a alguns anos atrás. Sim, eu comprei os cem fascículos, pacientemente. Sabia que teria algo para ser consumido pelos próximos cem anos. Não me arrependi.

Estudar música erudita envolve estudar sua história real. Pegue um livro comum sobre história da música e verá que antes de Eminem e Skank vieram muitos bons compositores. A maioria melhores que Eminem e Skank.

Neste contexto histórico, a coleção da Deutsche oferece, primeiro, pela ordem cronológica, um CD de cantos gregorianos.

Os cantos gregorianos vieram antes da música gótica. E antes dos cantos gregorianos havia música, mas não há na coleção nada do período anterior aos cantos gregorianos. Talvez um CD com música grega seja uma boa forma de completar esse período pré-gregoriano, mas não há nada de gregos na Deutsche. Aliás, a Deutsche, por questões de mercado, não lançou os fascículos obedecendo uma ordem histórico-cronológica, de modo que se formos ouvindo os CDs na ordem em que foram lançados, ficamos sem uma referência comparativa entre os diversos estilos de época e os diversos compositores, e em obras dos mesmos compositores, não saberemos o que foi composto no início ou no fim da carreira, o que não é muito bom em termos de aprendizado e apreciação de obras de arte. O correto, na minha opinião, é estudar aquilo que se ouve. Então, um livro de história da música e uma pesquisa na Internet sobre as obras de um determinado compositor são coisas fundamentais se quisermos apreciar música erudita.

Sim, a música gótica, com quinhentos anos ou mais, são boas de se ouvir. Muito boas. Duplas e trios de vozes que fazem a mente voar para reinos de Peter Pan, castelos e bosques, inocência e pureza. Arte é isso: um milênio não a faz pior nem melhor que arte moderna, apenas diferente. E se for boa arte, continua digna de ser consumida. Bertrand Russell, um grande filósofo, lógico, matemático e escritor, também continua digno de ser lido. Ele, que, sábio, soube viver até seus 98 anos de idade. Alguém que vive isso e ensina como se faz não pode ser menosprezado. E pensar que um CD de música gótica custa apenas alguns reais e que um livro de Russell, não mais que um CD, e me sinto novamente privilegiado, e duplamente: primeiro, por poder dispor desses trocados necessários para poder ter só para mim essas maravilhas da arte, e segundo, e mais importante, por ser capaz de gozar os prazeres dessa arte, e sentir-me feliz ao fazê-lo, ainda que eu não tenha um bilhão de dólares.

Bertrand Russel

Tenho minhas dúvidas de que alguém com apenas dinheiro e mais nada seja capaz de fazer seu dinheiro render em prazer e satisfação da maneira que faço render o meu.

Agora, invejo menos Bill Gates.