segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nas brumas do passado

O universo surgiu em algum momento, reza a moderna ciência. Logo, ele tem uma história, ainda que feita de estranhas partículas e raios, forças e feixes ininteligíveis para humanos normais.

E depois se fez a Terra, também em algum momento posterior. E eu creio nisso, até prova segura em contrário. E a criação da Terra é uma bela história.

Depois, as forças da Terra geraram a vida. É o que diz as testemunhas químicas e físicas, e isso parece bem, a meu ver. Também a vida tem a sua história, que é própria dela.

Os animais surgiram e evoluíram, desenvolvendo coluna, sangue, ossos, patas, e por fim, após muitas transformações e perigos, caminhou sobre duas patas. Também os animais podem ter seu passado traçado nas pedras, e uma história bela pode ser lida nas frinchas das ossadas petrificadas. Eu creio que é também uma bela história, longa e cheia de rodeios incríveis.

Os homens então surgiram. Fizeram uso de seus cérebros, caminharam sobre as duas pernas, e fizeram o fogo. Caminharam coletando e caçando, procriando e matando, morrendo e resistindo, no calor e no frio. Também os homens possuem uma longa história, e é vasta e rica, e posso crer que ainda não contaram tantas outras melhor.

Os humanos modernos conquistaram o mundo. Caminhando, chegaram a todos os pontos do globo, e se espalharam em todos os rumos, e adquiriram todas as feições e traços, todas as cores e características, e pululam como pulgas em um trapo velho.

Eu sou uma dessas pulgas.

Meus antepassados vieram de lugares diferentes, com interesses diferentes, e seguiram suas vidas movidos pelas pressões de seus tempos.

Eles não contavam comigo, nem me planejaram, nem perderam tempo pensando em se um dia em um futuro remoto alguém como eu poderia existir.

A despeito de tudo, eu existo. E eu tenho também uma história.

Do surgimento do cosmo no Big Bang até os dias de hoje, há a história geral, que relata as coisas do mundo sem minha presença, isto é, essa história me pertence, mas meu nome não está incluso nela.

Eu, a despeito de tudo, faço parte da história. Apenas a história é que não pode se dar ao luxo de me incluir nela, porque, por mais que eu faça parte dela, não sou nada especial a ponto de merecer ser citado. Sou pequeno demais para caber numa história tão grandiosa.

Mas eu estou lá. Faço parte dessa grande sinfonia cósmica.

Cabe a mim contar a minha história.

Minha história, até onde sou capaz de rastrear, começa, sim, no Big Bang, e termina, sim, no momento presente, mas até ai, não posso dizer que com isso me diferencio dos trilhões de outros seres que nasceram e morreram ou ainda vivem nos dias de hoje.

Em que sou diferente?

De que maneira, ou por quais fatos minha história difere da de todos os outros?

Do Big Bang até o surgimento do homem, compartilho com os demais humanos a mesma história. Então, por bilhões de anos nunca tive nada de especial que me diferenciasse do resto do universo. Eu não existia ainda, mas nem por isso eu não estava em condições de existir. Afinal, sou um homem, e um homem sempre descende de outro homem, e em algum momento algum homem passou a existir. Ora, eu poderia ter sido o primeiro dos homens.

Mas não fui, e nem o segundo. E poderia ter sido qualquer um dos seres humanos que já existiram nesse planeta desde que o homem existe como homem.

Mas não.

Eu vim a existir no dia em que nasci.

Isso é um mistério.

E eu vim não como fruto de qualquer par de seres humanos, de qualquer pai e mãe. Eu vim como fruto de um pai e uma mãe bem definidos. Eu nasci em uma época em que podemos registrar a sequência de nascimentos e mortes. Eu não sou o único humano que nasceu do mesmo casal, mas sou decididamente filho de um casal específico.

Mas meus pais também são filhos de pais específicos. E meus avós também.

Então, quando eu perco o fio da linha que me liga ao primeiro dos casais, ao Adão e Eva primordiais?

Eu perco a linha no momento em que não tenho nenhum nome a identificar alguém em especial como um ser humano do qual descendi seguramente.

Eu tenho milhares de ancestrais desconhecidos, isso é certo. Mas nada sei deles. Então, como posso contar suas histórias, se não sei quem foram?

Posso, sim, contar algumas histórias antigas, mas para que?

Para que fique registrado.

É possível e provável que haja algum nome em algum livro, de alguém que já existiu, com uma data de nascimento e de morte. Esse nome nada me diz, e, portanto, não sei sua história. Se foi herói ou bandido, famoso ou desconhecido em sua época, pouco importa. Seus méritos e deméritos são dele. Não significam nada, a menos que eu tenha algum parentesco com ele. Dirá mais se for meu antepassado. Sua vida, se conhecida, ajudará a me fazer entender um pouco desse mistério que me atormenta, e do qual não consigo me despregar.

Quem eu sou se explica pelo modo como vim ao mundo. Meu eu está ramificado nas brumas do passado. Nunca terei as respostas completas que satisfaçam minha curiosidade, mas posso ter algum conforto em saber que sou quem sou em parte por minha culpa e meu mérito, mas também sou quem sou por culpa da cadeia das coisas, das causa infinitas, que se perdem nas brumas do passado, influências de atos e decisões de pessoas que não conheci, e que não me conheceram, e que ainda assim estão ligadas a mim, embora eu não estivesse ligado a elas enquanto ainda eram vivas.

Eu estou enraizado nas brumas do passado e suas lendas.

Isso é história. Isso merece ser registrado.

Rumo às brumas, então. Rumo a algum lugar do tempo, por volta de 1820, que é o momento no qual mais profundamente posso retroceder, sem que passe da lenda à invenção e à ficção desavergonhada e pura.

O universo feito de histórias

Eu também citei aqui uma frase de Muriel Rukeyser, que não sabia quem era, mas que já expliquei quem é nesta outra postagem aqui.

De fato, o universo é feito de átomos, mas que importa? Somos seres de matéria e energia, mas somos também animais sociais. Precisamos conversar e contar histórias.

Adoramos histórias, mesmo que sejam falsas. Mesmo que sejam meras fantasias loucas de escritores malucos e sonhadores. E adoramos histórias verdadeiras.

Eu poderia contar alguma história sobre mim, e eu já até me comprometi a fazer isso neste blog, mas nunca fui além de algumas páginas sobre meus antepassados em um texto chamado Tujuguaba.

Vou ser honesto: eu não posso fazer tudo o que prometo. Não tudo ao mesmo tempo. Eu faço muitas promessas. Eu tento cumprir todas, mas não posso prometer que cumprirei todas as minhas promessas ao mesmo tempo. É preciso priorizá-las. Minhas histórias ainda não formam um livro, e não é agora, neste momento de minha vida, que terei tempo para escrever tudo que tenho vontade. Manter esse blog já é uma grande coisa.

Mas, sim, o universo é feito de histórias, e elas precisam ser contadas. O universo é algo vivo e não um fóssil acabado. Minhas histórias precisam vir ao mundo, para continuar a fazer rolar as esferas deste cosmo infinito.

Vou falar sobre uma lenda, uma lenda familiar.

Vou contar uma história.

As tardes de domingo e a eternidade

Eu coloquei nesta postagem uma frase de abertura de Susan Ertz. Eu disse que não sabia quem era essa pessoa.

Pois bem, ela foi uma escritora que nasceu em 1894 e faleceu em 1985. Era inglesa e escreveu muitos livros. A frase que citei foi tirada de um livro de 1943, chamado Anger in the Sky. E, claro, eu nunca o li.

Por outro lado, não fui também o único a citá-la. A frase sobre a eternidade e as tardes de domingo foi publicada na revista Seleções a mais de dez anos atrás. Mas aparentemente ela já era conhecida, ou passou a ser conhecida de maneira ampla mundo afora depois disso, porque está esparramada por uma infinidade de sites da Internet, como tudo o mais.

Não quero falar sobre a eternidade, nem sobre as tardes de domingo. Esta famosa frase de Susan Ertz fala por si própria, embora muito possa ser dito sobre esse tema tão profundo e interessante.

Mas não agora. Não nesta postagem.

Aqui, quero apenas ser honesto e prestar reconhecimento a essa escritora, que brilhou como um diamante por meio dessas palavras, e que, como um instrumento de Deus, fala-nos como se fosse a voz Dele, e nos cutuca a sair do sonambulismo e da paralisia.

A vida continua... ainda!

domingo, 21 de agosto de 2011

Anotando tudo e aprendendo

Eu disse que gosto de escrever.

Já escrevi em cadernos com canetas comuns, escrevi à máquina, depois passei aos computadores e ao Word, e depois aos blogs. O próximo passo é escrever em um tablet ou em um celular. Mas teve uma época em que os tablets e celulares não eram tão poderosos ou estavam em estágio embrionário. Nesta época, eu vi a possibilidade de usar os handhelds, os dispositivos manuais, como os Palms e similares.

Depois de pesquisar bastante, acabei comprando pela Internet um dispositivo interessante. Era um tipo de handheld chamado Da Vinci. Era um aparelhinho com tela sensível ao toque, armazenava pequenos blocos de texto e tinha um tecladinho que podia ser adaptado com um cabo. Depois, vinha com um outro cabo, que o conectava ao micro. Tinha um CD com um software e eu podia transferir os textos criados nele para o micro. Não era cheio de muitos recursos, como tela colorida, câmeras ou aplicativos variados, não tinha conexão wi-fi nem celular, mas servia para um propósito que eu achava importante: eu poderia andar com ele o tempo todo e ir anotando coisas nele.

Eu poderia anotar pequenos blocos de texto, depois transferir para o micro.

Mas o que eu pretendia anotar de tão importante?

Nesta época, eu era disciplinado com minhas finanças. Eu anotava tudo que gastava, e mantinha um controle no computador com o Microsoft Money. Então, sempre que gastava algum dinheiro com alguma coisa, eu anotava em algum bloquinho de papel ou mesmo guardava na memória. Então, o aparelhinho era ideal para esse tipo de controle.

Depois, eu queria escrever um livro sobre alguma coisa catastrófica. Mas eu não queria escrever somente em casa, num determinado arquivo de computador. Eu queria escrever sempre que tivesse tempo livre, e esse tempo livre nem sempre era em casa, em frente ao micro. Muitas vezes eu tinha tempo, mas longe de casa, e sem um micro para escrever. Se fosse sempre em frente a um micro, eu poderia usar um disquete (porque naquela época não havia pen drives, e os CDs regraváveis eram caros, e não havia gravadores em todas as máquinas disponíveis). Mas nem sempre havia locais com computadores à mão.

Eu poderia escrever em um caderninho, mas depois eu teria que perder um tempo precioso digitando tudo no Word. Então, com o aparelhinho, era só escrever, depois passar para o micro e formatar no Word, sem o trabalho de digitar tudo do zero. Enfim, a ideia era boa. Achei que o tecladinho seria minha nova caneta, e o aparelhinho, meu novo papel.

Tentei habituar-me ao novo dispositivo. Cheguei a anotar algumas coisas. Algumas despesas, alguns parágrafos de um livro. Sempre que penso no meu Da Vinci, me vejo em um ponto de ônibus em frente ao Parque Pecuário de Goiânia, sentado ao sol, com o aparelhinho na mão, procurando as letras no visorzinho preto e branco.

Depois, copiei tudo para o micro. Deve ter dado algumas dezenas de bites. Havia um recurso no software de sincronização que fazia um backup dos dados do Da Vinci no HD do computador. Perfeito. Fiz o backup, para não perder nada. Depois lancei as despesas no Money.

Depois desisti de escrever no Da Vinci.

Hoje ele está guardado num saco plástico em alguma parte de uma estante de livros e bugigangas, num quarto de casa que uso como biblioteca.

Paguei caro pelo Da Vinci: R$ 295,40. Fiquei excitado esperando ele chegar pelo correio. Comprei-o pelo site Submarino. Isso foi no dia 19/08/2003. Curioso: hoje faz quase exatamente oito longos anos que o comprei. Sei disso porque anotei tudo no Money. Na época, foi um investimento bastante bem pensado. Achei que seria uma grande ferramenta para um cara que gosta de escrever como eu.

Está tudo guardado, sem uso.

Falo dele porque fui fazer um backup de dados e tenho muita informação guardada. Os dados do Da Vinci foram gravados em um micro anterior a este que uso hoje. Era um Pentium 266 com 98 megas de RAM, e um HD de 3 gigas. Depois instalei outro de 60 gigas, que foi para o espaço quando mudei-me de Goiânia para Ribeirão Preto. Mas não perdi nada, porque tinha o bendito backup.

Vejam, não sou paranóico com falhas de HD e dados perdidos. Isso ocorre de tempos em tempos, podem ter certeza disso.

Então, no meu micro novo, o que uso ainda hoje, tem uma pasta com o backup do micro velho. Fui dar uma olhada no que havia de importante por ali e sai abrindo pastas na ordem em que foram aparecendo. E lá estava ele, o arquivo do Da Vinci, logo na primeira pasta.

Oh, o que havia de importante nele?

Primeiro, alguns parágrafos de um livro que comecei a escrever. O que esses parágrafos diziam?

Depois falo deles.

E o que mais havia?

Havia as anotações das despesas. O que elas significam hoje?

Não sei, mas quase nada, a não ser que me fazem lembrar de coisas que jamais me lembraria sem a ajuda delas. E por vezes penso que se não são coisas que me lembro normalmente sem a ajuda de anotações, então não deve ser nada de importante ou útil.

De qualquer forma, foi com pesar que me lembrei do meu Da Vinci.

Quanta expectativa! Quanto desinteresse quase que imediato!

Ele era um brinquedo inútil? Não, não era.

Eu é que perdi o interesse nas coisas.

O livro está inacabado.

Não registro nem controlo mais minhas finanças.

O que houve comigo?

Onde foram parar meus planos?

O que se passou nesses oito anos que fizeram com que eu mal me reconheça em minhas lembranças e registros?

Será que mudei tanto assim?

Não sei. Sim, mudei. Mas não perdi a mania de anotar tudo.

Também não adquiri o hábito de usufruir das coisas que desejo e conquisto.

Eu ainda tenho muito que aprender.

Ah! A tela do Da Vinci ficou velha e o cristal não mostra mais quase nada.

Eu não posso mais usá-lo.

Ele está morto.

E eu só o usei uma vez!

Eu ainda tenho muito que aprender nessa vida...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Planos de leitura

Pois bem, minha Agenda Ecológica 1999, para conhecimento de todos, é fabricada pela Tilibra, e, embora não seja uma agenda de papel reciclado, é, segundo a fabricante, produzida com papel vindo de árvores provindas de florestas renováveis. Isto é bom.

Apesar de eu ter listado apenas cinco objetivos ecológicos nas duas páginas com suas 26 linhas, ainda assim meus pequenos passos foram dados. E despertei-me para o tema, e assim, a Tilibra cumpriu seu papel de empresa socialmente responsável.

Falaremos mais da Ecologia em si em breve.

Depois disso, depois que listei meus cinco itens ecológicos, usei o espaço seguinte na agenda para fazer uma outra lista: a de livros que eu deveria ler ao longo do tempo. É uma lista já ultrapassada, porque foi feita em 1999, mas ela foi baseada nas minhas intenções naquele momento e representa minhas pretensões intelectuais muito claramente.

Eu listei, em ordem cronológica, 12 livros que já possuía na época, e que deveria ler. A ordem é cronológica, mas está baseada em dois princípios, que é do mais simples para o mais complexo e do mais importante para o menos importante.

Eram esses meus planos de leitura em 1999 e eles foram seguidos.

Essa é a sequência de livros (com exatamente as mesmas palavras que estão originalmente na agenda):

1 – Como evitar preocupações...

2 – Og Mandino.

3 – Organize-se.

4 – Como fazer amigos e influenciar pessoas.

5 – Como tomar decisões difíceis.

6 – Planejamento estratégico.

7 – Fundamentos da Administração... outros de Administração.

8 – Metodologia científica.

9 – Lógica formal.

10 – Lógica.

11 – Filosofia da Ciência.

12 – Questões centrais de filosofia.

Cada livro merece um comentário e alguma explicação.

Planos de leitura são coisas importantes.

Por falar nisso, nunca mais fiz planos escritos de leitura, mas isso é um outro problema. Vamos ao plano de 1999.

Facilidades que não usamos

O mundo não é um lugar fácil de se viver, mas a sociedade já criou milhões de facilidades para tornar essa tarefa menos cansativa e dolorosa. O telefone é uma delas.

Como uma facilidade, o telefone é fantástico. Mas o curioso é que, por mais que pareça uma coisa ultrapassada, ele não o é.

Espere. Eu estou falando do telefone tradicional, o fixo, e não o celular. Também nem estou pensando em nada de telefonia via Internet, que mal começou a existir. Falo daquilo que já existe a mais de cem anos, uma tecnologia consolidada e segura, ainda que não definitivamente petrificada e condenada à morte. Aliás, quem dera pudéssemos ter a mesma facilidade de uso em tempo real por parte da Internet de hoje como temos com o tradicional telefone fixo. Isso ainda vai demorar anos, décadas, talvez.

É curioso como coisas na Internet que achamos modernas já existiam antes com os telefones fixos. E eu sou um cara suficientemente velho para me lembrar de coisas a muito ultrapassadas, como uma central telefônica onde uma senhora operadora de cabos, a telefonista, fazia a conexão manualmente em um painel cheio de cabos, pinos e plugs. Parece mentira, mas eu me lembro disso, ainda por volta de 1975 ou próximo disso.

Os telefones fixos podem fazer desvios de chamada, bina, secretária eletrônica, siga-me, dupla chamada, ou chamada em espera, conferência entre três ligações e algumas coisinhas mais. Parece bobagem, mas são facilidades que podem resolver problemas.

Mas ninguém usa. Ninguém.

E o multiprocessador de alimentos que comprei pensando em sucos e saladas maravilhosos?

Está lá, escondido no alto do armário da cozinha, intacto.

Nunca fez mais que dois ou três suquinhos de laranja.

Precisamos usar mais das facilidades que temos em mãos.

Isso é um conselho importante, mas não meu.

Ah! Os conselhos!

Gerenciando contatos e fazendo amigos

Eu sempre quis ser uma pessoa organizada, mas não é fácil. Não mesmo.

Um exemplo de organização é manter uma lista decente de contatos. Isso mesmo, contatos. De que tipos? Até quanto tempo? Quer dizer: aquele telefone daquele fulano que te ajudou a fazer um determinado negócio a dez anos atrás quando você morava em outra cidade e que nunca mais irá ver precisa ser mantido na sua lista de contatos? Não sei, mas eu não tenho uma lista muito legal ainda.

As coisas estão esparramadas. Há nomes e endereços e telefones e e-mails de gente que vamos cruzando pelo caminho que estão por toda parte. Desde agendinhas antigas da época de nossa adolescência até os últimos e-mails que recebemos hoje, e nem lemos direito. É muita coisa.

Não é falta de recursos. Hoje temos os computadores que organizam tudo, além das agendas de celulares e tudo o mais. O que na verdade me impede de fazer uma lista organizada é: vale a pena o esforço?

Quantos amigos temos? São muitos? São poucos? Falamos com eles sempre? E nossos contatos profissionais?

Mas eu sou um funcionário público. Praticamente não preciso de contatos comerciais. E tenho poucos amigos. Então, preciso mesmo ser assim tão organizado?

E os velhos amigos? Mas, eles estão sempre por ai, nos MSN e Orkuts da vida. E quase não conversamos mais que bobagens. São nossos amigos e pronto, sempre nos achamos, mesmo que se passe décadas.

Eu sei que preciso ser mais sociável, mas não é fácil.

E depois, quem quer ser amigo de um cara como eu?

Só meus velhos amigos de sempre mesmo.

Não se fazem mais contatos como antigamente.

Amigos são coisas difíceis!

Você já imaginou se...

Eu disse nesta postagem que gosto de ciências, e que cheguei a tentar um blog sobre o assunto, mas não fui adiante. E eu disse na postagem anterior, sobre Roswell, que o assunto de extraterrestres é, a meu ver, muito interessante.

Agora, fica a pergunta: ciência e extraterrestres, ou mais precisamente, a ufologia, tem alguma coisa em comum?

Acho que sim.

Desde quando gosto de ciência?

Desde muito tempo.

Comecei a ler sobre ciência ainda quando tinha meus 12 anos, nos livros recém-chegados à minúscula biblioteca que tínhamos na escola de Tujuguaba. Naquela época, por volta de 1982, as coisas não eram tão fáceis como são hoje em tempos de Internet quando o assunto é informação.

Sabe de uma coisa que eu adorava ler? Astronomia.

Adorava ler sobre planetas, galáxias, etc.

Adorava ler sobre a corrida espacial da época.

Adoro isso tudo, mas isso tudo não é nada. Apenas um hobby.

Ah, velhos tempos de inocência juvenil...

Quanto ao convite do título, você já imaginou se... ele vem de uma época mais recente. Vem da leitura de um livro sobre Teoria do Caos.

Mas essa é outra história.

O caos!

Roswell

Eu disse nesta postagem que me inscrevi numa lista de e-mails chamada ListBot. O que eu queria com uma lista de e-mails?

Não me lembro, mas eles responderam e confirmaram minha senha de acesso a algum grupo de discussão do qual eu fazia parte. Como não me lembro de nada relevante, acho que a minha participação nesta lista de discussão não deu certo.

Minha senha de acesso era roswel. Falo isso abertamente porque nem a lista e nem o ListBot existem mais.

Por que roswel?

É porque eu provavelmente pretendia discutir alguma coisa sobre o caso Roswell.

Por que esse assunto de extraterrestres me interessa?

Ora, porquê!

Porque eu fui um militar da Força Aérea Brasileira. Tenho alguma experiência com o mundo militar e acabei gostando do assunto.

A coisa não se esgotou com o ListBot e a senha roswel.

De qualquer forma, é curioso como não mudamos. É um interesse que já dura décadas.

Por que o assunto dos extraterrestres é tão fascinante?

Não, esse assunto não é uma bobagem. Spielberg que o diga.

Falaremos mais sobre isso ao longo do tempo.

Roswel... ah!, eu sei, é Roswell que se escreve... mas deixa para lá...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Veja cada ideia como uma semente

Eu disse que valorizo minhas ideias. Anoto-as. Disse que cada ideia deveria ser como uma semente que, quando lançada ao solo, poderia ou não crescer.

Mas uma ideia não é uma semente que cresce sem ser regada.

Quem alimenta uma ideia? Quem a teve, quem a captou por meio da leitura de um blog, quem ouviu falar por meio de uma discussão no balcão de um boteco?

Como é cultivada? Como se cultiva uma ideia?

Claro, ideias boas devem ser cultivadas, mas quem decide quando uma ideia é boa ou não?

E o que fazer quando uma ideia não é unânime? Existe luta de ideias, ou luta contra uma ideia?

Existe.

A princípio, tendemos a ser oportunistas e egoístas. Só alimentaríamos uma ideia que fosse nossa ou, não sendo nossa, nos beneficiasse. Por que haveria de alimentar uma ideia que daria os louros a outra pessoa? E por que haveria de alimentar uma ideia que viesse a me prejudicar?

Altruísmo e desprendimento são atitudes não muito humanas.

Mas, há um prêmio para ideias que são boas, mas não são nossas nem necessariamente nos beneficia. O altruísmo e o desprendimento com relação a boas ideias rende frutos. A sociedade paga para que pessoas altruístas e desprendidas alimentem ideias que beneficiam o maior número de pessoas possível. A humanidade é na sua essência cooperativa e o que a beneficia tem a recompensa merecida.

Uma boa ideia deve, além do mais, ser implementada. Enquanto ideia, ela é valiosa, mas inútil.

A implementação de uma ideia não depende daquele que a gerou originalmente, exceto nos casos de patentes e marcas legalmente registradas. Uma ideia genérica como, por exemplo, a reciclagem, não tem dono. Ela, no entanto, não é de implementação simples e ainda não paga grandes dividendos àqueles que a põem em prática, mas não importa. A ideia é valiosa e sua implementação deve ser incentivada.

Quando digo que anoto minhas ideias, digo que elas estão registradas, mas é só. Que valor possuem, se são originais ou não, a quem beneficiam, se são de fácil implementação ou não e o que ganharei defendendo-as ou implementando-as não foi ainda discutido.

Então, quais são as minhas ideias?

Andando e salvando o mundo

Essa foi uma das ideias, a última da cinco que tive para contribuir com o mundo e sua salvação da catástrofe ecológica: andar de ônibus.

Pense nisso. Faz sentido. O mundo civilizado todo adota essa ideia. Por que não eu?

Andei a pé e de ônibus até meus 34 anos.

Andava a pé mesmo podendo ter um carro.

Sofri muito andando no calor da maldita cidade de Goiânia. Que cidade quente! Quanto asfalto! Quanto andar!

Mas um dia eu cansei.

Na verdade, era mais uma questão de medo do que propriamente de falta de dinheiro ou apoio ecológico. Eu não tinha um carro por medo de dirigir. Um dia, perdi o medo e comprei um Ford Ka. Nunca mais pensei no assunto ecológico depois disso.

Não que nunca mais tenha viajado de ônibus. Viajei muito, mas então já por questão de comodidade e segurança. Na verdade, andar de ônibus é mais caro que andar de carro, e bem menos confortável. Na verdade, andar de ônibus é um exercício de tolerância e paciência. Somente uma catástrofe para obrigar a população usuária de carro a deixá-los na garagem em uma grande cidade.

É uma situação difícil. A ideia em si é boa, mas não funciona no Brasil.

E eu e minha esposa comemoramos quando atingimos a marca de 100 mil quilômetros com nosso carro. Isso mesmo: cada quilômetro andado de carro é um quilômetro a menos andado de ônibus ou a pé, e isso merece ser  comemorado.

Eu já fiz a minha parte. Sei que é difícil. As pessoas que usam ônibus somente o fazem por falta de dinheiro. Essa é a verdade.

Claro que teremos que resolver um monte de problemas quando pensamos em transporte, mas eu não vou mais andar a pé enquanto eu puder pagar para andar de carro.

Não mesmo. Não aqui no Brasil.

A fugacidade da memória

Por que anoto tudo?

Porque sei que a memória é fugaz. Ela é como um éter, um líquido volátil. Uma ideia brilha por alguns segundos e se esvai, perdida no turbilhão de pensamentos, preocupações, imagens e atividades gerais que a acompanham e a arrastam como um pequeno diamante numa avalanche de lama.

Eu poderia ter aprendido essa verdade sozinho, mas a prudência e a leitura me ensinaram primeiro. Eu evidentemente que perdi ideias antes de ter aprendido sobre como salvá-las, mas nada que pudesse ditar os rumos de uma vida.

Agora, sou adulto e a vida é diferente. Uma ideia pode mudar uma vida. Uma grande ideia pode mesmo mudar o mundo.

Eu não subestimo o poder de uma ideia. São elas que governam o mundo.

Quem me ensinou?

Og Mandino.

Grato, grande Mandino, ainda que eu não tenha sido capaz de mudar o mundo.

Ao menos a mim mesmo e à minha vida eu tenho podido mudar.

Eu não subestimo o poder de uma ideia, mesmo que ela não seja muito grande.

O livro e o guardanapo de papel

Escrever é uma coisa interessante. Escrevemos com múltiplos objetivos.

Escrevemos com múltiplos horizontes temporais. Nem tudo que é escrito é eterno.

Pense no guardanapo de papel onde rabiscamos um número de telefone. Isso existe ainda, na era dos unipresentes celulares e smartphones? Bem, tenho muitos pequenos pedaços de papel com muitas coisas rabiscadas esparramadas pela casa. Nem sei o que significa, dependendo do quão antigo é o rabisco.

Tenho um livro escrito. Dois. Eles estão disponíveis na web, e um deles foi impresso. Talvez durem por toda a existência humana. Foram escritos como um exercício de criatividade. Foram criados por um processo que não visou nada além da própria alegria de escrever. Não tinham fins culturais maiores que o mero entretenimento.

Tenho agendas, mas elas são apenas rascunhos para coisas que preciso lembrar. São registros de ideias e fatos intelectuais. Agendas de verdade hoje são digitais. Uso o Outlook e as coisas que planejo para o futuro, meus compromissos para os próximos dias estão ali. São uma espécie de diário do futuro. São informações de pouco valor, e não me detenho muito sobre elas. Quase tudo que agendamos passa a ser banal depois de alguns meses ou anos.

E deveria ter meu bloco de notas, aquele onde anotamos nossas ideias e tarefas momentâneas, para depois passarmos a limpo e nos comprometermos a realizar em algum momento no futuro. Eu não uso blocos de notas. Uso as agora inúteis agendas de papel no lugar deles.

E os diários eu prefiro não os usar. Acho muito difícil ter disciplina para manter um que não me trará tanta utilidade assim. De que forma um diário pode ser útil ao próprio dono? A curto prazo, não vejo como. A longo, ele é ainda mais inútil, embora que mais interessante.

Agora, o porquê deste texto: qual dessas diferentes formas de escrita é a mais importante?

Sei que muitos ficarão tentados a eleger os livros como a forma de escrita mais importante, mas eu discordo.

Claro, o acúmulo de livros torna a literatura mais rica como uma fonte cultural, mas do ponto de vista pessoal, raramente um livro beneficia aquele que o escreve.

Meu medo não é que eu não seja capaz de escrever um livro que pode me tornar um imortal da literatura, mesmo porque não tenho interesse nenhum em ser um escritor de literatura. Meu medo é que, tendo uma excelente ideia, eu a perca por esquecimento. E essa ideia pode ser sobre um excelente livro de literatura, que me dará a fama, ou sobre um negócio, que me dará a riqueza, ou sobre um problema filosófico, que me dará o poder da convicção, ou sobre política, que me dará o poder social.

Uma ideia perdida é um plano perdido, e um plano perdido é uma realização perdida.

Jamais subestimo o poder que temos de nos esquecermos de grandes ideias.

Anoto tudo.

Uma boa ideia vale mais que um bom livro.

Nunca perco uma boa ideia.

O foco errado

Quando digo que em algum momento da vida eu quis ficar rico, é porque parece que em um momento posterior eu desisti de querer.

Eu não quero mais ficar rico? Sim, eu quero.

Então, o que me impede ou me impediu de continuar tentando ao longo desses longos anos?

Por que escrever um blog sobre filosofia e não desenvolver um site de buscas como o Google?

Por que um blog e não um site de relacionamentos como o Facebook?

Por que comprar ações de empresas nacionais de tecnologia quando aqui nunca se produziu nada de tecnologia nenhuma?

Onde eu errei? Por que errei? Ou não errei?

Os fatos falam. Não sou rico. Logo, errei.

Filosofia para quê?

Para entender o quê?

Mas ficar rico para quê?

A que custo?

Essas questões me atormentaram por muito tempo, e não possuem resposta ainda. E elas já foram feitas antes, muito tempo antes de serem postadas neste blog.

O blog, senhores, não é a razão de nada.

Como ainda não senti que estou fazendo nada certo até hoje, só posso concluir que mirei minha luz para o caminho errado, ou, em outras palavras, subi corretamente os muitos degraus da escada que me propus a subir, sem saber que ela estava apoiada na parede errada, no muro errado, rumando para o telhado errado.

Afinal qual o maior ganho que uma pessoa pode ter com um maldito blog?

Fama, na melhor da hipóteses.

Fama...

Fama?

Putz!

Perdendo o bonde

Sou um cara de origem humilde. Não posso negar. Por causa disso, ou apesar disso, em um determinado momento de minha vida, ainda jovem, eu resolvi que gostaria de ficar rico, ou pelo menos aprender como os ricos ficam ricos.

Estudei bastante e hoje, passados vinte e tantos anos da época dessa decisão, ainda não sou rico, e provavelmente poderei viver mais mil anos e morrer sem sê-lo. Mas, em algum momento, eu poderia ter ficado rico, penso eu. Ao menos em algum momento houve uma pequena chance, ínfima, é verdade, mas parece-me que houve. E eu a perdi.

Por que digo isso?

Eu disse na segunda postagem desse blog que antes de iniciá-lo, eu havia tentado criar outro no site de blogs do IG, o Blig. Eu disse que era um site no qual nunca postei nada, e que se chamava Filosofia Inútil. Era onde eu pretendia tecer minhas considerações sobre filosofia, mas nunca fui adiante, e exclui o blog sem postagem alguma.

Por que no IG? Porque o IG foi o primeiro site a disponibilizar mecanismos gratuitos para salvarmos nossos textos em blog. Eu já era assinante do UOL, mas o UOL demorou um pouco para entrar na onda dos blogs.

Eu já era assinante do UOL desde 1997. A Internet mal havia se iniciado no Brasil. Eu sabia de sua existência, porque neste época ela já estava funcionando no Canadá, em Winnipeg, onde meu irmão Roni a usava em sua casa e dizia maravilhas, mas eu não podia acessá-la daqui ainda.

Quando o UOL começou a oferecer serviços de conexão, agi rápido.

Mas, não vi a oportunidade de ganhar dinheiro a curto prazo.

Cheguei a aprender a fazer sites, páginas, etc., mas nada foi adiante.

Apliquei dinheiro em empresas de tecnologia, mas perdi grana com o fim da bolha das ponto.com na virada de 1999 para 2000. Desanimei de tentar ganhar dinheiro na Internet.

Agora, vejo que tudo é quase impossível. Mal consigo manter um mero blog no ar com alguma novidade, quanto mais ganhar grana com algo sério e profissional.

Não gosto de entregar os pontos, mas acho que pelo menos até agora, perdi o bonde da história.

Eu sei que sozinho não tenho base para fazer nada realmente útil, mas ainda resta alguma esperança. A vida digital é definitiva e mal começamos a vivê-la. Como viverão as pessoas em 2050?

Ainda dá tempo. Ainda dá tempo!

domingo, 14 de agosto de 2011

Direitos e deveres

Quando falo sobre esse blog e sobre sua função ou missão, parece a mim mesmo que ele existe para que eu possa registrar minhas ideias. Pode até ser, mas é preciso que eu diga a mim mesmo que eu não vivo em função deste blog, nem de minha Agenda Ecológica 99 nem em função da Internet, nem mesmo em função de registrar ideias ou lembranças. Não. Tudo isso é secundário em minha vida. Tenho coisas mais importantes a fazer.

Os objetivos de vida não são coisas claras, mas para mim é claro que não vivo em função de salvar o mundo atavés de ações ecológicas. Também não vivo em função de escrever blogs nem nada. Não acredito que possa viver em função das coisas que escrevo, e que ninguém lê.

Não acredito também que possa me realizar como ser humano simplesmente em função de meu trabalho, do qual nunca falo e poucos sabem. Ainda não sei de que forma posso realizar-me como ser humano, mas certamente não é através do trabalho.

Na verdade, essas tarefas ecológicas são imposições que vêem de fora. A sociedade exige que eu tenha lâmpadas eletrônicas. Somente isso. Não fosse a dureza da realidade da vida e suas necessidades urgentes, não perderia um segundo de minha vida pensando em lâmpadas e sacolas de plástico.

Vivemos boa parte do tempo falando de sonhos e objetivos de vida, mas esses são apenas frágeis direitos. Na verdade, pouco podemos fazer por eles. Somos massacrados por deveres impostos pelo mundo moderno. Fazer um backup não é um sonho, é uma necessidade. Trocar amortecedores de carros, idem.

Então, vivo em função de quê? Eu vivo, nós vivemos, em função de não deixar desmoronar nosso padrão e estilo de vida. Vivemos como equilibristas, tendo como consolo nossas bugigangas, que compramos e mal compreendemos, porque nos falta tempo e nos falta paciência.

Eu me frustrei com o filme Super 8 porque esperava mais de Spielberg. Perdoe-me, mas eu posso fazer melhor que isso. Posso escrever sobre ficção científica melhor que a maioria das coisas que são mostradas todos os dias, baboseiras para adolescentes que nos fazem rir.

Posso, mas não posso. Tenho o potencial, mas não o tempo, a determinação e a motivação. Escrever para quê?

É como esse blog. Escrevo apenas para mim. Ninguém o lê. Então, por que mais ficção científica?

Os deveres são mais importantes. As sacolas de hoje são urgentes e portanto não permitem que pensemos no futuro da humanidade. É paradoxal: não morreremos devido a sacolas de plástico. Pensamos nelas porque nos preocupamos com as gerações futuras. Mas se nos preocupássemos com as gerações futuras, pensaríamos mais no futuro e menos no hoje. Mas as sacolas de hoje, um problema futuro, não permitem que pensemos na solução de problemas futuros.

Bela situação!

Economizando energia

Depois de me propor a parar de fumar, usar agendas com papéis reciclados e aproveitar melhor as sacolinhas de compras dos supermercados, fui forçado a pensar num quarto meio de contribuir para a preservação da natureza.

Então, como vivíamos a época do risco do apagão energético do governo FHC, nada mais óbvio a ser feito: economizar energia elétrica.

Certo, mas como? Deixar de tomar banho? Viver no escuro? Não ver tv ou internet?

Não, eu não consegui pensar em nada muito sofisticado na época, porque morava num cubículo que não consumia quase nada de energia.

A única ação sensata que pensei foi substituir minhas lâmpadas incandescentes comuns por lâmpadas eletrônicas mais econômicas, duráveis e caras.

Deu algum resultado? Não sei. Não há maneiras reais de se medir o impacto de ações individuais isoladas como essa.

Depois, minha vida foi se incrementando, fui mudando para casas maiores, comprando mais bugigangas elétricas e hoje pago uma fortuna de energia. Não sei se ainda vivemos tão intensamente o risco dos apagões, mas aquela época foi importante para o aprendizado do brasileiro em geral, que passou a ser mais racional em relação a energia elétrica.

Continuo usando as lâmpadas eletrônicas, agora um pouco mais baratas. Acho que o cidadão deve mesmo fazer seu papel e economizar o que puder, mas acho que há limites e no fim não há jeito: temos de construir mais usinas. Isso lembra um pouco esses joguinhos de administração de cidades e fazendas, como Sim City ou Farmville, mas o que posso mais pensar? Que viveremos sempre neste mesmo patamar de consumo?

Claro, novas tecnologias irão reduzir o consumo com energia através de produtos mais econômicos, mas enquanto isso, vamos consumindo, sem medo de apagões.

Isso me faz lembrar uma reportagem que vi uma vez nesses programas de notícias na hora do almoço, quando normalmente vemos os repórteres locais fazendo matérias pouco importantes, mas curiosas.

Um repórter se preocupou em falar do tema da economia popular. Como as pessoas podem ser econômicas. E, evidentemente, a coisa descambou para o anedotário. Logo, falou-se dos avaros, os miseráveis, os mãos-de-vaca, aqueles que economizam não só por necessidade, mas por prazer ou por vício.

Esse é um assunto sério e falaremos mais dele futuramente, mas voltando à reportagem, o repórter chegou, através de indicações de vizinhos, a um senhor pobre e simples, morador daquelas cidadezinhas do interior, morando numa daquelas casinhas simples, com móveis usados e velhos.

Não era só uma questão de economia, mas de vício, mas um vício de um viciado singelo e digno de compaixão, porque simples e realmente sem muito dinheiro.

O senhor em questão, um velhinho magro de uns sessenta e poucos anos, com a aparência desgastada pela vida, se orgulhava de seu hábito. Por fim, o repórter pediu um exemplo de sua diligência em economizar.

O velhinho então chegou na salinha de sua casa, pegou o relógio dependurado na  parede e o virou de costas. Colocou então duas pilhas pequenas no aparelho e ele começou a funcionar. O repórter perguntou o que aquilo significava e ele disse que pilhas custavam dinheiro. Logo, não fazia sentido o relógio ficar funcionando, mostrando as horas para ninguém e consumindo as pilhas se o morador não estava em casa. Assim, sempre que saia, ele tirava as pilhas, e quando voltava, recolocava as pilhas, acertava o relógio e a vida seguia adiante.

Há alguma lição profunda a ser aprendida nessa história.

Super 8 e o melhor dos mundos

Depois de ficar curioso com o cartaz do filme Super 8, pesquisei um pouco sobre o que seria e, bem, era um filme de Spielberg, falava sobre um trem que descarrilhava e algo como um extraterrestre que surgiria.

Pronto. Isso já era o bastante para mim. Adoro coisas sobre extraterrestres.

O filme entrou em cartaz ontem e fui assistir.

Minha esposa ficou decepcionada. Eu, sim, não nego, mas nem tanto. Vamos aos porquês.

Na verdade o extraterrestre em forma de aranha (ops!, não devia dizer nada sobre o resto do filme para não frustrar as expectativas dos que ainda não assistiram!) é apenas um personagem secundário. O legal, e isso fica claro no filme o tempo todo, é que a coisa se passa em 1979 e tudo era antes da era digital. É uma enxurrada de saudosismo e isso é bem legal.

Minha esposa viveu sua juventude e adolescência nos anos 90, logo, não poderia sentir saudades de um walkman ou de bombinhas e maquetes de trenzinhos feitos pela própria molecada. Mas eu, sim. Eu também fazia minhas maquetes e por isso eu entendi o recado do filme.

Sim, a molecada de hoje está perdendo uma coisa importante quando deixa de fazer muitas das coisas que nós mais velhos fazíamos.

Por outro lado, a molecada de hoje curte certas coisas que nós adoraríamos curtir quando éramos moleques. Quem não gostaria de ter internet e videogames como os de hoje?

Então, eu conclui, o melhor dos mundos, talvez, seria uma combinação do melhor das duas épocas. Sim, games poderosos, mas também lugares legais, atividades legais, que hoje não temos e não fazemos mais. Duvido muito que a molecada de hoje se atreva a gravar um vídeo como a molecada do filme, ou fazer coisas que nós, eu, meus irmãos e nossos amigos, fazíamos na vida real.

O que nós fazíamos?

Ah, muita coisa. Nada que se pareça com o que um moleque de hoje faz.

Nós éramos terríveis!

sábado, 13 de agosto de 2011

Jani Lane: Too Young To Die

É com pesar que recebo a notícia da morte de Jani Lane, o ex-vocalista da banda de rock Warrant.

Sim, eu sei que quase ninguém conhece essa banda, o Warrant. Sei também que ninguém está nem aí para Jani Lane. Mais um viciado em drogas que morre devido aos abusos e vida desregrada, dirão.

Mas as coisas não são bem assim.

Sou da geração que cresceu ouvindo heavy metal no fim dos anos 80. Eu amava o hard rock de bandas como Warrant. Eles, os cabeludos roqueiros, até poderiam ser usuários de drogas ou viciados em bebidas, baderneiros, mas não importava. Isso fazia e faz parte do rock 'n roll. Mas eles eram nossos ídolos.

O Warrant não chegou a ser uma banda muito famosa fora dos Estados Unidos, mas mesmo assim, quem era fã de hard rock sabia da música deles, e eles tinham um ótimo visual poser. Muitos não gostavam, mas muitos gostavam. Eu adorava.

Mas Jani Lane é, pessoalmente falando, ainda mais importante.

As pessoas pensam em roqueiros como pessoas inacessíveis. Sim, eles são mesmo, quando estão no auge da fama, e muitos deles continuam fugindo das pessoas comuns pelo resto da vida. Mas não Jani Lane.

Roni, meu irmão mais novo, saiu do Brasil em 1993. Jani Lane saiu do Warrant em 1992. Os dois se encontraram em algum momento entre 1993 e 1998 em Winnipeg, no Canadá. Meu irmão morava lá e sabia quem Jani Lane era.

Um dia, Jani foi tocar num bar em Winnipeg, nas redondezas de onde morava meu irmão. E então, Roni foi ao show. O bar era pequeno e o público não era muito grande. No fim do show, Roni teve oportunidade de conversar pessoalmente com Jani Lane. Não sei sobre o que conversaram, nem por quanto tempo. Mas Roni falou-me desse encontro com muito orgulho, porque, afinal, Jani Lane era um grande cantor de uma grande banda que tinha feito muito sucesso e vendido muitos milhões de discos. Não é todo dia que encontramos pessoas assim. E não é todo dia  que pessoas assim permitem que pessoas comuns, como eu e Roni, se aproximem e conversem como seres humanos normais.

Depois desse encontro, sempre tive muito carinho por Warrant e Jani Lane. Eu comprei seus discos, já em formato de CD, que não existiam por aqui na época em que fizeram sucesso. É claro que eu não ouso rock todos os dias. Na verdade, eu tenho muitos sons que compro os CDs e guardo com carinho mais como uma lembrança que para ouvir todos os dias. Assim, eu tenho o CD do Warrant e considero isso um tributo à banda. Eles faziam um grande som.

Agora, passados os anos, tenho 41 anos. Roni fará 39 em breve. Jani morreu com 47. Era pouco mais velho que nós.

Era um cara que não estava mais na midia, mas isso não importa. Era e será sempre o Jani Lane, o cara do Warrant, o cara legal que tocou em Winnipeg e conversou com meu mano como se fosse um cara normal.

E agora ele está morto.

Um cara jovem demais para morrer.

Jani Lane, fica aqui meu tributo.

Agora, você também é eterno!

Novo visual

Mudei o visual desse blog. Agora, uso um tom pastel, que lembra papel, que me inspira a escrever mais e melhor.

Todo tipo de bloco de notas, seja em papel, como os Post-it da 3M, seja os digitais, tais como os do Outlook, da Barra de Tarefas do Windows, e outros mais, como do Ipad, todos são nesse tom pardo de papel velho. Isso é uma delícia.

Agora, meu blog é assim também.

Boa leitura.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para que servem os disquetes?

Disse num desses posts anteriores que tive vários computadores ao longo desses últimos dezessete anos. Assim, tem muita coisa armazenada em forma de bits.

Como sou curioso, lembrei-me de que tenho ainda umas caixas com disquetes velhos de 1.44 mega, daqueles quadradinhos antigos. Aliás, meu micro ainda possui um drive que os lê. Coisa desnecessária e ultrapassada, certamente, quando um único pen drive barato de 2 gigas pode armazenar dados equivalentes a cerca de 1.400 disquetinhos vagabundos.

Mas eu ainda os tenho: 43 deles.

Uma parte está em duas caixinhas de plástico, com sete disquetes cada. Li todos, obviamente fazendo uma varredura contra vírus, porque essas coisas antigas não são necessariamente seguras. Ao todo, li 14 disquetes, mas estavam todos vazios. Meras relíquias de um tempo que já se foi.

O que fazer deles?

Por no lixo? Usar numa emergência? Não sei.

Quem sabe tiro umas fotos deles e depois os ponho no lixo mesmo.

Alguns tem etiquetas com nomes de arquivos. O que eles me fazem lembrar?

É só isso que resta fazer: lembrar-se de como o usamos, como objetos de recordação.

Adeus, disquetes.

A terceira atitude

A terceira atitude ecológica a que me propus na minha Agenda Ecológica 1999 foi a de reciclar embalagens (sacos) plásticos para lixo.

O que temos aqui?

Primeiro, como disse antes, temos aqui a boa fé e a credulidade de um cidadão de bem tentando fazer sua parte na salvação do mundo diante da catástrofe global da destruição da natureza.

Ora, o plástico, pessimamente degradável, existente nas milhões de sacolas de compras, certamente representa uma ameaça para a natureza. Não faz sentido simplesmente jogar sacolas plásticas de compras no lixo. É possível que as usemos mais algumas vezes, ou pelo menos, que as guardemos e as reciclemos.

E, apesar de não acreditar muito mais em toda essa história de sacolinhas malditas, fiz minha parte. Hoje, simplesmente tenho um latão de plástico grande onde vou juntando sacolas dia após dia, ano após ano, de maneira que, se, e certamente quando, elas forem jogadas todas juntas num único dia e recolhidas pelos lixeiros usuais, elas certamente serão ou aproveitadas por quem tiver que aproveitá-las, ou serão misturadas ao resto de lixo, e terão o mesmo destino que teriam se não fossem juntadas, mas jogadas diariamente no lixo, como se eu nunca tivesse proposto a mim mesmo a tarefa de reciclá-la.

A terceira atitude, senhores, é uma idiotice sem sentido.

Tão sem sentido que a solução correta foi dada mediante uma lei que simplesmente as proíbe. Ponto.

E eu sei que essa lei só foi possível porque muitos antes de mim tentaram fazer exatamente como eu fiz, e chegaram à mesma conclusão: não há meios de se dar um destino ecologicamente correto às malditas sacolinhas.

Eu até pensei em soluções, mas nada me animou a ir adiante. Uma hora dessas eu falo sobre algumas ideias que tive para dar fim às sacolinhas.

Depois, vi que o problema era mais profundo.

Parece piada, mas foi exatamente uma piada que me levou a refletir sobre o assunto.

Quer conhecer a piada?

Ela é para rir, para não chorar...

Cérebro gordo, misterioso e canibal

Depois de estudar um pouco sobre o cérebro humano, parece que ele é algo muito, muito misterioso. Então, de repente, ele nos surpreende com essa notícia, de que ele pode comer a si mesmo se resolvermos emagrecer. Isso é surpreendente, embora desanimador.

Surpreendente, porque nunca imaginei que um órgão pudesse se auto-consumir para salvar o organismo como um todo. Tudo bem, queimamos gordura, músculos e tudo o mais em caso de necessidade, mas comer o próprio cérebro? Isso é muito bizarro.

Depois, até faz sentido que ele se sacrifique, se o objetivo é salvar o todo. Há casos mesmo de pessoas com cérebros quase ausentes. É igualmente bizarro que possamos sobreviver com uma quantidade mínima de neurônios, quais frangos decepados, ou baratas acéfalas, ou quais humanos com cérebros minúsculos de lagartos.

Por outro lado, não faz sentido acumular recursos a ponto de ficarmos obesos, com veias entupidas e morrermos de ataques cardíacos. Qual a lógica de se acumular tanto?

Mas o mais interessante é a consciência. De onde vem, como adquire identidade e personalidade?

Falando mais pessoalmente: por que sou quem sou e não outra pessoa? Melhor: por que sou uma pessoa e não uma vaca ou um peixe?

Falando mais ainda: por que ser quem sou hoje e não ontem ou amanhã? Como se desvendar o mistério da consciência?

Tentei "O Mistério da Consciência" de Antônio Damasio, mas a entropia não deixa. Tenho que fazer backups e concertar rangidos e fazer tranferências e pagamentos financeiros. Manter a vida moderna funcionando tem um custo tremendo em tempo.

Eu preciso ler Damasio. Eu preciso!

Entropia e carros rangendo

Eu tento ser produtivo, mas não é fácil.

Ontem passei o dia todo correndo de oficina em oficina para resolver pequenos problemas no meu carro, que não é novo, nem perfeito.

Primeiro, anteontem, um som frouxo e rangidos no pneu dianteiro direito. Pneu murcho? Paramos em um posto e calibramos o pneu. Mas o barulho continuou.

Calota frouxa? Pode ser. Evito, mas eventualmente acabo esfregando os pneus no meio-fio, na pressa de sair do caminho, nas ruas superlotadas desse mundo moderno, onde há um carro para cada dois seres humanos.

Arranco a calota e o ruído diminui, mas não de todo. Devo procurar um mecânico no dia seguinte. E assim faço. Vou à primeira loja. Troco todas as calotas. Depois, vou à segunda loja e troco uma lâmpada queimada. Depois, vou a uma terceira loja, e mexemos na suspensão, no escapamento, mas nada. O rangido continua. Vamos embora, porque já é noite. Tentamos ainda uma quarta loja, num shopping, e lá eles tentam um quarto caminho, e dizem que o problema acabou, mas vamos embora às dez da noite e o maldito rangido continua.

Nesse meio tempo, eu poderia ter feito grandes progressos em um monte de áreas importantes de minha vida, mas não fiz.

Cuidar do carro é urgente.

Mas é importante? Ora, todos os manuais de administração do tempo são claros: é preciso distinguir o importante do urgente.  Eu digo que os manuais precisam de um pouco mais de profundidade. Essa distinção simplesmente não funcionou ontem.

Não funcionou porque a vida não é fácil.

Não há um único manual de administração que fala em entropia. E os manuais não falam porque esse não é um conceito de ciências sociais, mas de ciências da natureza, da Física, mais apropriadamente.

Mas, sem entender a entropia, fica difícil entender que devemos passar fios dentais diariamente, assim como devemos manter nossos carros seguros, ainda que não salvemos o mundo.

Somente a entropia explica que a continuidade da vida requer esforço, muito esforço.

Se os administradores e economistas conhecessem melhor o conceito de entropia, a vida poderia ser melhor.

Coisas urgentes são importantes. São urgentes exatamente porque são importantes!

Ou não?

Eu e meus computadores

Tenho dito sobre meus livros, mas é preciso que eu diga de meus computadores.

Comprei meu primeiro micro em 1994. Depois, comprei outro em 1996. Depois outro em 1999. Depois, outro em 2006. Depois, outro em 2007. Ao todo, tive cinco micros.

Cada um deles é uma história diferente. Fora as dezenas de máquinas as quais usei nos diversos lugares onde trabalhei. Minha relação com a informática, então, já dura dezessete anos. Não é pouca coisa.

Como isso tudo começou?

Começou a muito tempo atrás, com conceitos que fazem parte da cultura de uma época, que remonta ainda aos anos 70.

É curioso como não temos noção de que estamos colocando tijolos na construção de algo muito grande e importante, ainda que saibamos que a informática e os computadores sejam parte de uma revolução que sabemos estar acontecendo. Construir algo sem um plano é ao mesmo tempo excitante e assustador.

Informática é um assunto ao qual não nos furtaremos em falar fartamente por aqui.

Muitos livros

Tenho muitos livros. Muitos mesmo. Quase 1400 deles em papel e quase o mesmo tanto em formato digital. São quase 3000 livros.

Como isso veio a ocorrer em minha vida? Essa montanha de coisas para ler, em uma vida tão curta e conturbada?

É que eu não os comprei todos de uma única vez. Eles foram sendo comprados aos poucos.

São anos e mais anos comprando livros.

Mas eu os li todos? Não, claro que não. Mas mesmo assim, eu li muito, muito mesmo.

O interessante disso é que eu não compro livros por acaso. Não compro somente por comprar. Eu tenho um método. Eu compro e leio livros segundo uma ordem.

Um livro puxa outro. Um assunto puxa outro. Um tema puxa outro. Uma curiosidade puxa outra. Um problema levanta outro. Uma novidade leva a outra. Um projeto leva outro e assim, vou comprando e lendo livros sem parar.

Mas, qual foi meu primeiro livro?

Foi ela, ela mesma: a Bíblia Sagrada.

Claro, a Bíblia não foi o primeiro livro que comprei, mas foi o primeiro que li.

Meu primeiro livro, meu mesmo, foi Aventuras de Xisto, mas nem mesmo esse foi comprado, mas ganhado.

O primeiro livro que comprei não foi exatamente um livro, mas uma revista, de eletrônica!

Há tantas histórias por trás de tantos livros...

Eu as contarei, todas.

Verdades inacabadas

Eu sempre tenho dito por aqui sobre o passado, o meu passado, o passado do lugar em que vivi, o passado da humanidade.

Eu disse também que talvez somente a História, como ciência organizada e com métodos próprios, seja capaz de permitir que organizemos nossas ideias e nossa massa de informação e registremos tudo para o mundo, se assim desejarmos.

Mas além da História como ciência, há a História como coleção de fatos narrados. São propriamente os fatos históricos que são o objeto de estudo por parte da História como ciência.

Então eu busquei alguma ajuda em ambas as histórias. E elas mais dúvidas geraram que certezas. Vejamos.

Busquei um livro chamado "Que é História?", de um renomado historiador britânico, Edward Hallet Carr. Mas não é fácil. Há muita dúvida sobre o que seja um fato histórico, e os questionamentos são múltiplos.

Busquei também um Atlas da História da Humanidade. Ele começa não com a História, mas com a Pré-História. A humanidade já existia muito antes dos registros escritos nos quais se baseia a História tradicional. Nosso passado está escrito nas pedras, nos fósseis, nas ossadas, no insondável.

Assim, os métodos da ciência da História não me estimularam a ir mais a fundo na questão, porque não sou um historiador, embora o assunto seja fascinante, e os fatos da pré-história (porque nós humanos somos moldados por acúmulos de fatos que remontam a milhares, milhões de anos) também não me permitiram ir além do que já tinha alguma noção, de que somos descendentes de uma série de ancestrais comuns, etc., porque não sou antropólogo. 

Nosso passado não é uma mentira. Ele é uma verdade inacabada.

Edward Hallet Carr morreu sem concluir uma segunda edição de seu importante livro. Grande parte da introdução da edição que tenho em mãos se deve a um comentador que se encarrega de zelar do legado intelectual de Carr, que deixou somente para essa segunda edição um amontoado de caixas de recortes e anotações e rascunhos que nos leva a conclusão de que muito ainda poderia ser dito, melhorado e aprimorado sobre o tema da História como ciência, o que não é surpresa alguma, mas que a vida de uma pessoa, por mais que viva, ainda é pequena demais para tocar adiante mesmo projetos relativamente pequenos, como uma segunda edição de um livro.

E hoje, li uma notícia sobre Antropologia, na verdade mais uma das muitas que são anunciadas semanas após semanas, sobre uma nova descoberta, um novo fóssil, uma nova arcada dentária, uma nova subespécie, enfim, mais um elo na corrente de antepassados perdidos no tempo e nas rochas mundo afora. Nossa história como espécie ainda é uma verdade inacabada.

É também a minha vida uma verdade inacabada? Não sei, mas antes tenho que entender melhor esse negócio de "verdade inacabada".

Filosofando um pouco sobre Ecologia

Este foi o meu primeiro texto sobre Filosofia da Administração.

***
Atitudes ecológicas em 99
 
Há em nossa cultura de massa uma ânsia por convencer, manipular.

Um acontecimento qualquer pode ser analisado sob dezenas de enfoques, e eu poderia focar um ato simples, como a compra de uma agenda, como um mero ato de consumo, sem maiores implicações, mas não posso me furtar de analisar esse ato sob um ponto de vista peculiar: o da Filosofia da Administração.

Por que me focar especificamente no ato de se comprar uma agenda, e não em outro, como fumar um cigarro, ou tomar um ônibus, ou ainda jogar o lixo fora? Se pensarmos que podemos tomar qualquer coisa e analisá-la sob qualquer ângulo, então, por que a compra de uma agenda? E por que um enfoque administrativo-filosófico? Bem, é preciso que se faça alguma escolha.

Vejamos.

Os atos e coisas são em número infinito, e os pontos de vista, também. Como simples exercício matemático, as combinações “coisas x pontos de vista” adquirem proporções também infinitas. O que torna um arranjo “coisa x ponto de vista” especial, entre uma infinidade deles, é que eu fiz essa escolha. O ato de comprar uma agenda é de interesse especial para mim, em particular, devido às implicações que essa agenda provocou. E o enfoque administrativo-filosófico é o escolhido somente porque eu sou administrador, e pensar sob esse ponto de vista é para mim mais um ato prazeroso e estimulante do que exatamente um ato profissional.

Afora ser um administrador, sou, ou melhor, desempenho, inúmeros outros papéis na sociedade, e posso adotar outro enfoque e um outro ato ou coisa para se analisar, mas não me sinto tão motivado. Então, seria um desperdício de tempo tentar adotar um outro ponto de vista e um outro tema. Claro, eu não saberia dizer de antemão se este ponto de vista é o mais útil, ou se há outro mais produtivo. A questão da utilidade não importa tanto aqui, já que sem motivação, não seria certo ou garantido que eu seria capaz de proporcionar algo de útil sob um outro ponto de vista. A única garantia que tenho é que, motivado, tenho maiores chances de produzir algo do que estando desmotivado. Se vier a produzir algo, cabe verificar a posteriori se é, se não útil, ao menos agradável de se ler. Se for agradável, ou útil, ou ambos, meu tempo escrevendo não foi um esforço em vão. Prefiro fazer algo agradável, mas não necessariamente útil, do que algo útil e desagradável, no momento em que escrevo. De resto, tentarei ser útil ao mundo de outra forma, se não conseguir ser escrevendo. Escrever é, então, para mim, mais um lazer agradável que um trabalho útil. Mas se puder ser útil, ótimo, embora que seja um ganho colateral.

Quando digo que analiso as coisas sob o ponto de vista da Filosofia da Administração, o faço porque é um ponto de vista que me proporciona prazer, e é sob o qual consigo ser mais lúcido, criativo, inspirado, por assim dizer. Não teria tanta coisa a pensar ou dizer sob outro ponto de vista. Mas, que ponto de vista é este? O que é a Filosofia da Administração?

Claro, como administrador, sou um profissional que cursou uma universidade e cumpriu o ritual exigido para se exercer oficialmente uma profissão. Mas, não há a profissão de filósofo da Administração.  Oficialmente, posso administrar, mas filosofar é uma coisa muito diferente.

Há algum problema em um administrador filosofar sobre sua área de trabalho? Talvez sim, se ele não dominar a arte ou técnica de filosofar. Então, um filósofo profissional seria o mais indicado para filosofar sobre Administração, mas surge então um problema: Administração é um assunto técnico que exige anos de estudo. Pode um filósofo que não conhece Administração filosofar sobre aquilo que não conhece?

Por um lado, falta ao administrador a técnica de filosofar. Por outro, falta ao filósofo o corpo de conhecimentos sobre o qual filosofar. Alguém com a formação tanto em Administração quanto em Filosofia seria a pessoa ideal, reuniria as qualificações exigidas para se intitular um filósofo da Administração.  Em tese.

Na prática, não precisamos chegar a tanto. Possuir um curso de Administração é uma formalidade que não dá a garantia de se administrar bem nada, nem é um obstáculo ao ato de se administrar o que quer que seja. Administradores fracassam dia e noite, incessantemente, apesar de serem administradores, e Bill Gates não precisou cursar Administração para chegar aonde chegou. E o mesmo se pode dizer da Filosofia. As faculdades põem para fora de suas salas de aula milhares de bacharéis em Filosofia todos os anos, e não assistimos a exércitos de Platões ou Sartres revolucionando o mundo. E nem por isso deixa-se de pensar. E o mundo continua a mudar, com ou sem a ajuda dos filósofos. Idéias surgem e revoluções ocorrem, oriundas das mentes mais variadas, a maioria delas pertencentes a pessoas que jamais cursaram uma faculdade de Filosofia.

Então, o que me impede de filosofar? Ou, dizendo de outra forma, o que me habilita a filosofar, já que devo admitir que um mínimo de técnica é necessário para se pensar corretamente?

De fato, não há impedimento algum em filosofar sobre o que quer que seja, e a Internet está repleta de milhões de sites e fóruns de Filosofia, de Administração, de tudo, onde bilhões de pessoas pensam sobre bilhões de assuntos. Afora o prazer de se pensar, que é um ganho daquele que pensa,  que ganho há para aquele que lê? Quer dizer: o fato de se pensar muito não significa que se obtenha como resultado algo de interessante ou útil digno de se vir a público. Então, que fatos me levam a concluir que minhas idéias, em particular, serão melhores, mais interessantes ou úteis que as bilhões de outras esparramadas pelo oceano on-line?

Bem, nenhum fato pode garantir de antemão a qualidade, por assim dizer, de minhas reflexões, mas se houver alguma qualidade, ela somente poderá ser avaliada e reconhecida se vier ao mundo. Enquanto pensamento, a idéia mais original, revolucionária ou útil não passa de ser o que é: um pensamento. Ela é inacessível, desconhecida e, portanto, não existe para o mundo exterior. É preciso que ela, a idéia, seja verbalizada, escrita, publicada, para que seja possível de ser avaliada. Não posso ser julgado, como filósofo, sem antes expor minhas idéias.

Mas, porque expô-las? Por que não simplesmente pensá-las e guardá-las para mim mesmo? É mesmo preciso publicá-las? Bem, nem todas. Nem tudo o que se pensa é digno de nota. Algumas coisas pensadas devem mesmo ser banidas da mente que as pensou. Não. De fato, nem tudo presta. Logo, se publico algo, é porque aparentemente esse algo já passou pelo crivo de algum filtro de qualidade. Esse filtro, admito, existe.

A mente é uma tela volátil. Pensamos o tempo todo, mas nem tudo se afixa em nossa memória. Imagine que, durante um sonho, seja lhe dito o segredo de algo realmente raro, como um mapa de um tesouro muito valioso, cuja posse depende apenas de localizá-lo. O mapa que vemos no sonho é real, claro e perfeito, mas é complexo. Ao acordar, sei que o sonho é um sonho, mas, por que não registrar o mapa complexo em uma folha de papel real? Nunca se sabe...

Idéias são, sob certos aspectos, como esses mapas do tesouro. Elas, como os sonhos, existem somente em nossa mente. Elas, como os mapas, são complexas, e precisam ser passadas para o papel, sob o risco de perdermos os detalhes. Os caminhos de um raciocínio são intrincados, complicados, bifurcados, tênues. Enquanto pensamos, o raciocínio está claro, mas, um minuto de distração e ele se dissolve como fumaça. É urgente e sábio anotá-los, os raciocínios e idéias, para que se fixem definitivamente.

Mas, a conclusão é valiosa? Ou, dito de outra forma, será que no x do mapa do sonho há mesmo um tesouro enterrado? Não há como saber, a não ser tentando a sorte e escavando.

É verdade que nem sempre podemos testar nossas idéias, assim como não podemos procurar por nossos tesouros revelados em nossos sonhos. O mundo real possui tesouros reais, que sabemos onde estão, mas não somos capazes de alcançá-los, assim como temos idéias maravilhosas, porém impraticáveis. Mas não podemos perder o mapa. Um dia, quando a tecnologia permitir, vasculharemos o fundo dos mares em busca de galeões repletos de ouro e prata. Um dia, quando for possível, teremos a fusão a frio, colônias lunares e a volta no tempo. Boas idéias e bons sonhos não podem ser esquecidos. Eles valem por si sós como promessas futuras. Eles nos desafiam a tentar. Eles são, por si sós, tesouros valiosos.

Alguém, um profissional anônimo, resolveu incluir na minha Ecoagenda 99 uma página intitulada “Atitudes ecológicas em 99”. O que o levou a isso?

Como disse no início, há em nossa cultura de massa uma ânsia por convencer, manipular. Suponhamos que esse profissional anônimo, ao projetar a minha agenda, estivesse imbuído do mais sincero senso de conscientização ecológica. Imaginemos que ele, consciente da gravidade da situação do planeta, resolvesse, após muita ponderação, que não basta fazermos a nossa parte e informamos ao mundo a respeito da gravidade dessa situação. É preciso mais: é preciso que as pessoas mudem seus hábitos. É preciso que façamos algo e que o façamos agora. Sim, você sabe que o mundo corre perigo, mas, e daí? O que você está esperando para agir? O que você vai fazer, agora, para contribuir contra o desastre? O que vai fazer para deter, agora, o rumo negro das coisas? Então, pare de lamentar e aja! Faça, na sua Ecoagenda, uma lista de atitudes ecológicas para o ano que se inicia. Aproveite que está no início do ano, que está planejando seu futuro, que está organizando seu tempo, e prepare sua lista de boas ações.

Assim, suponho, nasceu a terceira página de minha agenda. Fruto das boas intenções dos profissionais anônimos de empresas socialmente responsáveis. Isso soa correto e não há muito que se discutir, exceto que, como filósofo da Administração, não posso deixar de pensar um pouco mais aprofundadamente no assunto. Como filósofo da Administração, vejo conexões ocultas, falácias, implicações, erros e acertos nessa simples página de agenda, e vou me deter nela.

Ecologia é um tema global e, se ainda não interessa, deveria interessar profundamente a todo administrador, quando não a todo ser humano do planeta. Soa familiar? Sim, mas os motivos que me levam a pensar assim não são necessariamente os  mesmos que levam o cidadão comum, ou o ecologista, a pensar no mesmo assunto. Mais uma vez, o enfoque que dou à Ecologia é o da Filosofia da Administração. Que enfoque é esse? É um enfoque diferente do adotado pelo cidadão comum. Mas, qual o enfoque do cidadão comum?

O cidadão comum, ao menos no século XXI, vive rodeado de informação de forma absoluta, maciça, incisiva e incansável. Se abordarmos um ser humano qualquer, em qualquer lugar do planeta, e indagarmos se ele acha que o mundo vai bem, e que o mundo não apresenta problemas ecológicos, teremos como resposta um olhar de espanto: como o mundo vai bem? Como pode ir bem? Como não temos problemas? É óbvio, evidente que temos problemas. Todos sabem disso. As crianças sabem, os idosos sabem, a população urbana sabe e a população rural também. Como todos sabem disso? Como uma percepção pode vir a ser tão universal e unânime? Problemas ecológicos parecem tão certos quanto o Sol que brilha no céu: todos vêem, todos sentem, todos confirmam, e doido é aquele que os nega. Eu os nego? Não, claro que não. Eu os vejo com meus próprios olhos. Como negá-los?

Seria o caso de, como o geocentrismo, ser o problema ecológico um erro universal? Todos sabemos que a Terra gira em torno do Sol, e que o nascer e o pôr do Sol significa somente que a Terra gira em torno de seu próprio eixo a cada vinte e quatro horas. Mas gostamos de pensar e dizer que é o Sol que gira em torno da Terra. É mais conveniente e intuitivo. A razão diz A, e aceitamos A, mas gostamos de sentir e pensar B, que sabemos racionalmente ser apenas uma ilusão. Romantismo? Talvez.

O problema ecológico é uma ilusão que intuímos erradamente? Será que, na verdade, o mundo nunca esteve tão seguro e harmonioso? Será que a humanidade, na verdade, é a benção para o planeta e que, poluindo-o, equilibra uma equação que nunca se harmonizou por si própria, entregue a um passado de puro acaso darwiniano? Não saberia dizer a resposta a essa questão.

O certo é que o senso comum intui o contrário, e luta para reequilibrar um mundo em processo de destruição, cuja causa é humana, e personalizada. O senso comum intui, e a informação que flui é que somos os culpados, eu, você, pessoalmente, pelo drama cósmico da Terra. Temos culpa, e devemos sentir essa culpa, e fazer dessa culpa um motivador para que façamos algo pelo planeta. Temos urgentemente que fazer algo. Seria egoísmo demais ver o mundo ir a pique e ficarmos assistindo ao fim de maneira passiva, confortavelmente aferrados a nossos hábitos de consumo nocivos. Temos que fazer algo e esse algo significa, obviamente, sacrifícios. Tal como na religião, na teologia ecológica não há espaço para a salvação sem sacrifícios. Por questão de justiça a culpa maior deve recair sobre outros, sejam esses outros os governos, as empresas ou o Diabo, mas nós temos que, pessoalmente, fazer a nossa parte. E aceitamos essa culpa como um fato consumado, embora que nem sempre tomemos atitudes específicas necessariamente em função dessa culpa, mesmo porque, por vezes sequer sabemos de que maneira estamos contribuindo para o barco afundar. Não fui eu quem começou a afundar o barco, mas tenho que pegar meu balde e fazer a minha parte, senão, afundo junto. Dizem que o simples fato de eu estar no barco já me faz culpado de ele estar indo a pique. Fico imaginando como isso é possível, e se seria o caso de meu próprio peso estar ajudando a afundar um barco sobrecarregado. Pode ser este o caso, mas no fundo, não consigo ver a conexão entre simplesmente existir inocentemente e ser culpado pelo fim do mundo, mas ainda assim aceito de  bom grado a culpa por existir, a minha parcela de culpa, democraticamente distribuída, e tento, com o meu pequeno balde, ajudar a salvar o navio. Esse é o senso comum, mas, por que eu aceito calado a minha parcela democrática de culpa?

Em geral, porque não quero ser visto como o egoísta, o vilão. Sei que, no final, se o barco afundar, os culpados pagarão o preço do fracasso, e sei que todos pagarão, porque todos são culpados, bastando que existam, mas sei também que os egoístas levarão uma punição maior, porque o barco poderia ter sido salvo se esses mesmos egoístas tivessem ajudado. Não quero ser um oportunista. Mas como podemos ser oportunistas se, ao sermos egoístas e não ajudando, pereceremos juntos com os demais? Qual o ganho do egoísmo, se o egoísta também morre no final? Morrer descansado? Então, que descanse para sempre.

É que o desastre não é para hoje, nem para amanhã. É para depois de amanhã, ou, com sorte, para a semana que vem. Mas, na semana que vem, não estarei mais no barco, espero.

Mas não há como sair do barco. O barco é a Terra, a própria Terra, e não há como fugir. E mesmo que o desastre seja daqui a cem anos, e não estejamos mais aqui, é errado deixar que nossos filhos e netos paguem o preço de nossa negligência. E mesmo que não tenhamos filhos e netos, é ainda mais errado que os filhos e netos de outros, que lutaram pela salvação do mundo, paguem o preço da minha negligência solitária. Enfim, mesmo que eu, um vilão, deseje ardentemente o caos final, não é fácil admitir meus intentos publicamente a uma futura avó, admitindo a ela que desejo o caos para seus netos e bisnetos vindouros. É possível ser egoísta e mesmo vilão, mas não publicamente. Há limites para o egoísmo e a humanidade não admite egoístas impunes quando o assunto é Ecologia. O preço é alto demais para se admitir traidores. Assim, somos coagidos a fazer algo pela causa, somos socialmente forçados a tomar nosso balde e, pelo menos, fingir que fazemos nossa parte, embora, no fundo, possamos estar adorando a chegada caótica do final inevitável.

E assim, o nosso profissional anônimo, movido pelo altruísmo, ou pelo medo, ou ainda coagido pelo seu chefe, criou uma página exortando-nos à ação ecológica em 1999.

Muitos não a leram, muitos leram, mas não fizeram a lista de boas ações. Muitos fizeram a lista, mas não a seguiram completamente. Muitos seguiram a lista e pararam por aí. E muitos ainda cumpriram a lista e foram adiante. O profissional anônimo foi, então, relativamente bem sucedido em seu intuito.

Mas, o que ele fez, afinal? Por que ele não se limitou a fazer a parte dele? Ele, na verdade, fez mais.

Ele não nos mostra que está fazendo a sua parte, porque não sabemos quem é ele e se ele é responsável, ecologicamente falando, no seu dia-a-dia particular. O que ele fez, e que sabemos com certeza que fez, foi incitar-nos a agir. Ele nos informou, tentou nos motivar, tentou nos convencer, ou mesmo tentou nos converter, nos evangelizar. Se ele pratica o que prega, é outra questão. Enfim, informação ecológica não significa ação ecológica, assim como ler um livro sobre uma maratona não nos faz mover um único passo.

Motiva-nos? Talvez. Comanda? Muito provavelmente.

Mas obedecemos? Quase sempre, não.

Agimos? Raramente.

Sentimo-nos culpados? Certamente, em 99% das vezes. A ação, no mundo da informação, é rara, mas a culpa é certa.

Propagação de informação não é a mesma coisa que propagação de ação, concluo eu, e nesta conclusão, não estamos mais falando de Ecologia, e sim de Psicologia, Sociologia e mesmo de Administração, Política e Marketing. Estamos mesmo nos embrenhando no campo da Matemática, se nos permitirmos ir um pouco mais a fundo na questão.

Por que o profissional anônimo, cônscio de se seu dever ecológico, não se limitou a fazer a parte dele, sem pregar a outros seus deveres, intrometendo-se, assim, na vida alheia?

“Ora”, diria o profissional anônimo em sua própria defesa, “mas eu estou somente fazendo a minha parte, e ela inclui informar”.

Certo. Faça a sua parte, mas saiba que a sua parte se subdivide em duas outras partes: agir e informar. Aja e informe. Era essa a tarefa dos discípulos no início do cristianismo: pregar boas novas. E funcionou. A idéia é: aja, e depois propague a ação por meio da informação.

Mas, por que não se limitar a agir?

Óbvio, parece, que o simples agir não é suficiente. Que adiantaria nosso profissional anônimo ser ecologicamente correto, ele, e somente ele, em um mundo repleto de ignorantes de seus deveres ecológicos?

Há, na verdade, mil motivos para informar, pregar e evangelizar. Motivos que vão dos mais altruístas aos mais egoístas. E há mil maneiras de se propagar uma informação. Maneiras que vão das mais meticulosas, ardilosas, eficientes e planejadas, às involuntárias, indesejáveis, distorcidas e catastróficas. A informação, sob certo sentido, não está sob o controle de quem quer que seja. Um ato pode ser interpretado de diferentes maneiras, e, visto de maneira errada, mesmo um derramamento de petróleo, como no caso do Exon Valdez, pode ser interpretado como um ato ecologicamente correto. A interpretação de uma informação é que lhe dá sentido. E, a menos que se viva em uma caverna, não há como não ser visto, e assim, ter seus atos, ecológicos ou não, interpretados por outros que o vêem. Ver é receber informação, e quem vê, interpreta. As coisas se propagam por elas mesmas. O segredo reside, então, na interpretação.

Mas nosso profissional anônimo não foi simplesmente visto e interpretado. Ele planejou. Ele tencionou informar e convencer-nos a agir. Por que?

Porque, é senso comum, o problema ecológico é grande demais para ser resolvido por apenas uma parte da humanidade. Nem só governos, nem só ecologistas, nem só indústrias, nem só os cidadãos heróicos. Todos, unidos, e somente todos unidos é a condição, sem a qual não será possível salvar o mundo. Mas por que o problema requer tanto esforço para ser resolvido?

Porque ele é imenso. Ele é imenso porque uma quantidade imensa de pessoas, durante muito tempo, contribuiu para provocá-lo. Há a intuição clara de que uma quantidade grande de pessoas fazendo a coisa errada durante um longo tempo provocará no fim um grande problema que, se não for corrigido, acabará com todos. A menos que seja corrigido, mas, como é um grande problema, a correção requer uma grande quantidade de pessoas agindo corretamente durante um longo tempo. Parece óbvio.

Hiroshima pertence à mesma categoria de problemas? E Chernobyl? E o Exxon Valdez? Quem sabe então o Saara? Ou então, o Armistício de 1918? Será mesmo que todo problema deve seguir essa mesma equação?

Não estou sugerindo passes de mágica, mas quase.

A conexão causa-problema-solução não é tão óbvia quanto parece, e quando chegamos a essa conexão, não estamos mais falando de Ecologia, mas de Filosofia da Ciência. Para o senso comum, o problema ecológico é óbvio. Para a Filosofia, nem tanto. Para o administrador, bem, ainda não abordamos o problema ecológico sob o ponto de vista da Administração. Sequer tocamos na relação. Até agora, nos limitamos a uma abordagem sob o ponto de vista do senso comum. Mas, será mesmo que podemos encarar o problema ecológico como um problema de Administração? Creio que sim, mas antes, é preciso que se esclareça o que eu entendo por Administração, e que eu, depois, justifique minha crença de que o problema ecológico pode ser encarado como um problema administrativo. Na verdade, creio que pode ser encarado como mais de um único problema. O drama ecológico pode ser fatiado em diferentes direções pelo administrador, e ter essas fatias bem analisadas pelo filósofo da Administração. Talvez seja a hora de pensarmos melhor sobre o que entendemos por Administração. Mais uma vez, há a Administração do ponto de vista do senso comum e a Administração do ponto de vista da Filosofia da Administração. Vamos por partes, do mais simples ao mais complexo, no conteúdo e no tempo.
 
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Data original de criação do documento: quinta-feira, 07 de setembro de 2006, 19:00 h

Falaremos mais detalhadamente sobre quase todos os assuntos abordados acima, mas não agora.

Agora, vamos mudar de assunto.