segunda-feira, 20 de abril de 2015

Lacunas de entendimento

Eu disse aqui que quando iniciei este blog, eu poderia usá-lo como uma espécie de diário, não um diário que tratasse de meu dia-a-dia pessoal, mas de minha percepção a respeito dos acontecimentos do mundo. Disse ainda que não saberia que contribuição eu poderia dar com um blog desse tipo, porque não sou famoso, não tenho especialização em nada e nem tenho autoridade alguma sobre nenhum tipo de assunto que por acaso eu viesse a querer comentar. 

E depois, a Internet está atulhada de palpiteiros de todos os tipos abordando milhares de aspectos sobre todo tipo de assunto, que a grande maioria não domina minimamente. Por que me juntar ao grupo de palpiteiros, se não aprovo muito esse comportamento?

Mas, gostemos ou não dos palpiteiros, amadores em geral que usam da liberdade que a Internet proporciona para falarem o que pensam aberta e livremente, eles estão aí para ficar, e dentre eles estamos nós, mais ou menos afundados nessa onda de comentários infinitos, contraditórios e inconclusivos.

Relembro que quando eu disse o que disse no início deste blog, em 2004, ainda não havia a febre do Facebook. Aliás, em 2004 nem o Orkut ainda existia. Quer dizer, o Orkut estava apenas começando, e hoje ele nem existe mais.

A Internet permitiu que bilhões de anônimos passassem a ter voz, e isso é bom, ainda que quase sempre as vozes que se exprimem não são assim de tão boa qualidade como poderiam ser.

Agora, é evidente que bilhões de pessoas sejam muito diferentes umas das outras. Portanto, elas têm opiniões diferentes, e as expressam na Internet de maneira espalhafatosa e gritante. Mas as diferenças das pessoas não são uma coisa nova e nem precisa da Internet para se manifestar.

Hoje, temos no Facebook as grandes redes de mídia noticiando quase tudo o tempo todo, e assim que uma notícia é postada, imediatamente há uma busca eufórica para se curtir, comentar e, curiosamente, ler-se os comentários, curtindo-os ou não, e por vezes respondendo-os, debatendo-se através de dezenas, centenas de comentários curtos e inconclusivos, agressivos, espasmódicos. A coisa é tão viciante que a participação dos leitores de uma dada postagem acaba sendo tão ou mais interessante que a própria postagem, gerando um mundo de novas percepções, com a iluminação de detalhes curiosos ou sórdidos, apontamento de lapsos intencionais ou não, brigas de grupos que concordam ou discordam daquilo que é postado, e então percebo que aquilo que disse a dez anos atrás não faz mais sentido, porque todo mundo pode e dá seu palpite, sua contribuição a qualquer assunto que queiram dar, sem nenhum escrúpulo quando a serem autoridades ou leigos no assunto, ou se serão criticados ou apoiados em seus comentários por quem quer que seja.

Eu continuo achando que não tenho nada com que contribuir com o entendimento do que acorre com o mundo? Eu aderi à moda de tecer comentários no Facebook? Vejamos.

Eu percebo que há um fenômeno cognitivo que creio melhor chamar de lacuna de entendimento.

Lacuna de entendimento tem a ver com um atributo que temos em nossos cérebros, bastante conhecido, que é a nossa incrível capacidade de percebermos padrões onde quer que foquemos nossa atenção.

Prometo que não vou entrar em detalhes técnicos aqui neste post, e prometo que falarei mais detalhadamente sobre o que é lacuna de entendimento futuramente. Por enquanto, vou usar um exemplo simples para me fazer entender.

Se eu colocar uma sequência de números em uma determinada ordem, tal como 1, 2, 3, 4, X, se eu perguntar a qualquer pessoa o que seja o X, qualquer um pode dizer que X é o número 5. Há um padrão óbvio na sequência e todo mundo percebe.

Se eu complicar um pouco a sequência, cada vez menos pessoas conseguem perceber sua lógica e poucos acertam o que seja o X nessa sequência mais complicada.

Em uma sequência muito difícil, quase ninguém acerta X.

Essa capacidade de reconhecer padrões é poderosa, mas relativa, concluo.

Ela funciona para a compreensão de padrões numéricos, sonoros, visuais, táteis, enfim, é uma capacidade de nosso cérebro, e ele é bom nisso, embora imperfeito. Nossos cérebros recebem dados dos órgãos do sentido e tentam achar alguma ordem no meio do caos de sensações. Basicamente, é nessa capacidade de reconhecimento de padrões que se baseia a lacuna de entendimento.

O que o Facebook tem a ver com isso?

Acontece que se eu iniciar uma sequência de palavras, numa determinada ordem, nosso cérebro irá tentar naturalmente buscar o X que falta no final, quer queiramos ou não. 

Por exemplo: se escrevo uma frase incompleta, nosso cérebro irá completá-la. Digamos que eu escreva "o utensílio que uso para fritar ovos é a f...", todos perceberão que a palavra faltante é frigideira. Se eu omitir a letra f, alguém poderia dizer que a resposta é não a frigideira, mas a panela, a chapa ou grill, ou outra coisa qualquer.

A palavra que está faltando na frase é uma lacuna, e sem ela, não há um entendimento completo da frase. A falta de entendimento de uma frase é uma espécie de falha em uma sequência de ordem. Sem essa ordem, há algum caos na mente de quem a lê, e a mente odeia o caos, a desordem, a falha de entendimento, a incompletude e a incoerência cognitiva. Exasperado, você lerá a frase e sentirá a necessidade urgente de complementá-la com a palavra que falta, seja ela qual for.

No entanto, o vazio só pode ser preenchido por algo que seja de seu conhecimento. A frase precisa fazer sentido para você, senão, o caos continua. Se não conseguimos identificar um padrão, sentimos frustração e insegurança, porque a falta de padrão é o caos e o caos nos assusta profundamente. O caos cognitivo é uma ameaça ao nosso cérebro. Não gostamos disso e nos esforçamos para que haja alguma ordem naquilo que observamos e vivenciamos.

Uma frase incompleta gera uma lacuna de entendimento. No entanto, um texto incompleto também gera lacunas de entendimento. Um texto, quer dizer, um conjunto mais ou menos complexo de frases interligadas, mas com incoerências lógicas, deixa qualquer leitor exasperado. Um texto que fale sobre um acidente em uma rodovia qualquer deve necessariamente falar onde ocorreu, se houve mortos ou feridos, qual foi sua provável causa, e se tudo está normalizado. Se alguém anuncia um acidente e não informa esses dados elementares, haverá uma lacuna de entendimento óbvia. Se um texto assim for postado por alguma agência de notícias no Facebook, ela gerará centenas, milhares de comentários indignados, e com toda razão.

As pessoas odeiam serem enganadas por falsas notícias. Elas odeiam serem manipuladas por textos tendenciosos. Elas odeiam tentativas grosseiras de manipulação de suas opiniões. Elas odeiam opiniões seletivas. Elas odeiam mostras claras de injustiça de qualquer tipo. As pessoas detestam textos que não sejam coerentemente elaborados, e tentam desesperadamente corrigir essas falhas, ou qualquer outra falha observada, por meio de comentários os mais variados possíveis.

No entanto, há textos que não apresentam lacunas de entendimento que são óbvias para todo tipo de leitor. 

Há textos que são elaborados de maneira que pareçam logicamente coerentes, que não exponham falhas estruturais gritantes, e portanto, são lidos de forma aparentemente coerente, sem obter do leitor nenhuma manifestação que o denuncie ou o critique. Há textos que parecem uma sequência completa e acabada, sem nenhum X em qualquer parte que seja de sua composição.

Isso se deve porque, como dito mais acima, a capacidade de detecção de lacunas depende de quem recebe a informação, e não de quem a cria. Se alguém cria um texto sobre algo que o leitor não entende, este pode não perceber nenhum tipo de lacuna e simplesmente consumir a informação sem crítica, isto é, por vezes, alguém pode criar um texto com lacunas sutis, que aos olhos de muitos leitores pode ser límpido e claro como um texto perfeito, não o sendo, porém, para um leitor com um senso crítico mais apurado.

Se alguém cria um texto com uma lacuna intencional, mas sutil, criada com o intuito de passar desapercebida, essa lacuna só será denunciada por um leitor que tenha a capacidade cognitiva de percebê-la.

Em um dado texto qualquer, pode haver denúncia de lacunas que não são reais, mas que o denunciante entende como uma lacuna, porque sua capacidade cognitiva assim a interpreta.

Então, em um texto razoavelmente complexo do ponto de vista estrutural, e tratando de um conteúdo razoavelmente complicado, há certamente lacunas lógicas em sua estrutura, lacunas reais de conteúdo, criadas intencionalmente pelo escritor, lacunas não intencionais de todo tipo, e por fim, certamente numerosas lacunas de entendimento, oriundas das mentes de seus muitos leitores, e que podem ser legítimas ou não, dependendo da fundamentação que esses leitores apresentem para confirmá-las.

Há muita gente hoje vivendo de escrever sobre denúncias de outros textos, em uma cruzada contra suposta manipulação de informação, suposta tentativa de controle de massa, vivendo em um esforço de tentar mostrar ao mundo que aquilo que é dito em geral pela mídia tradicional, pela internet ou outros canais, não é realmente a verdade, mostrar que o mundo é mais complexo do que a mídia quer que acreditemos, e que precisamos ver o outro lado da moeda, observar outros pontos de vista sobre o assunto que estamos lendo, para que formemos nossa opinião de maneira mais aprofundada do que formaríamos se apenas déssemos por verdadeiras as informações que a mídia em geral nos apresenta, sem questionamentos, sem crítica, sem ruminação, sem argumentação.

Um comentário pode parecer banal, mas pode ter embutido num mero ícone, num emoticon, num sorrisinho de um bonequinho, um significado que aponta para a dúvida, o ceticismo, a desconfiança ou para a denúncia direta. Comentários-denúncia podem fazer com que repensemos com mais cautela aquilo que estamos lendo.

Um comentário-crítica de um leitor A é uma forma de se preencher uma lacuna de entendimento tanto de A quanto de B, ainda que B tenha lido o texto criticado e não a tenha percebido. Passará, no entanto, a percebê-la, depois da denúncia de A. É assim que a coisa funciona na internet hoje em dia.

Assim, pergunto a mim mesmo: não sou eu também capaz de perceber lacunas de entendimento em tudo aquilo que é passado ao mundo pela Internet?

Obviamente que sim, como  qualquer outro cidadão do mundo, porque lacunas de entendimento não pressupõem que aquele que as têm precisem ser experts ou especialistas a respeito daquilo que é percebido como incompleto ou corrompido por essas lacunas.

A percepção de lacunas de entendimento depende apenas da experiência única de cada ser humano, de cada história de vida, de cada biografia única e específica. Logo, não há exigência de que alguém precise ser expert a respeito de uma dada informação para que possa relatar uma percepção de uma lacuna.

Posso apontar o dedo para um jornalista líder de audiência e dizer ao mundo simplesmente que o que esse cara disse é uma mentira, ou uma meia-verdade, ou uma tentativa absurda de manipulação, desde que eu perceba no que ele diz uma lacuna de entendimento que possa ser verbalizada, expressa em palavras e ser lida por pessoas normais.

Se os leitores de minha denúncia irão concordar comigo é outra história. Meu próprio comentário-denúncia pode ser entendido como incompleto, e nesse caso, serei também denunciado, mas esta é a natureza na comunicação humana. 

Por isso Mark Zuckerberg não permite que seu Facebook adote a opção de discordar de uma postagem, um "dislike", porque é exatamente a discordância ou concordância que gera sua enorme audiência. E é a discordância que não pode ser simplesmente "descurtida" que obriga um eventual leitor a se dar ao trabalho de tecer comentários-denúncia, num afã de tentar colocar um pouco de ordem e entendimento onde percebe erro, falha, tentativa de engodo, e por fim, caos informativo, uma ameaça à sua compreensão do mundo, e uma forma de altruísmo na busca de espalhar o alerta, ajudar os incautos, proteger as pessoas daquilo que é visto como um perigo, porque é assim que nossas mentes funcionam. Onde há caos, há perigo.

Você denunciaria ao mundo uma postagem na qual percebesse intimamente alguma lacuna de entendimento que julgasse grave a ponto de colocá-lo em risco, e a seus semelhantes?

A resposta parece óbvia, mas não para mim.

Ainda não vi qual possa ser o critério que eu deveria usar para selecionar qual lacuna merece ser denunciada publicamente, nem o que ganho com isso.

Raramente comento algo no Facebook.

Claro, vejo lacunas o tempo todo.

Eu vejo lacunas.

Isso lembra o filme "Sexto sentido", não lembra?

E se, numa sequência 1,2, 3, 4, X, eu acabar denunciando ao mundo que o X que falta é o 6, e não o cinco?

Onde fica a linha que separa uma lacuna de entendimento legítima da paranoia pura e simples?

Eis um bom motivo para não usar esse blog como um local para tecer comentários a respeito daquilo que é anunciado como notícia mundo afora: eu não sei o ponto onde deixo de falar sobre um problema real e passo a falar de algo que não existe.

Porque não podemos confiar na certeza de nossas lacunas, olhamos a notícia, depois os comentários e, quando percebemos que alguém disse em poucas palavras aquilo que nós mesmos poderíamos ter dito, então percebemos que não estamos sendo paranoicos, porque alguém mais pensa como nós, e acabamos dando um "like", curtimos o comentário que corroborou nossa visão pessoal daquilo que acabamos de ler.

Somos animais sociais e não queremos ser vistos como paranoicos.

O corajoso que primeiro denuncia leva, então, a fama por ter tido a coragem de expor-se sem medo de ser criticado publicamente como um paranoico. E as pessoas amam ser famosas, ainda que apenas por meio de um comentário espertamente curtido por dezenas de outros seus semelhantes, que concordam com sua opinião.

Zuckerberg sabe disso.

Esse conhecimento vale ouro.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Morrer é uma droga

Eu iniciei esse blog em parte como um meio de registrar minhas vivências, minhas histórias e meu passado, como disse aqui, quando falei que acho que morrer é uma droga, mas pior que morrer é morrer e ser esquecido. 

Morrer é uma droga. 

Esse é um tema que parece-me uma imensa cordilheira esmagadoramente intransponível. 

Sendo o que é, o tema desafia-me e recuso-me a fugir dele. 

Enfrentemo-lo então, e corajosamente. 

Sei que morrerei. 

Sei disso porque sou um humano e todos os humanos morrem. 

Só resta-me saber quando morrerei. 

A morte é um desafio porque é uma coisa certa. 

Pode-se viver bastante, mas não para sempre. 

Muitos questionam: por que alguém desejaria viver para sempre? 

Não sei, mas se tivesse que escolher hoje, agora, neste exato momento, se prefiro morrer ou continuar vivendo, digo enfaticamente que pretendo continuar vivendo, e tenho pensado assim desde que nasci. Estar vivo até hoje, até este exato momento, é prova de que desde então, desde que nasci, tenho preferido estar vivo do que estar morto. 

O que há na vida que faça com que prefiramos, nós, os vivos, a continuar vivos e não optarmos por deixar a vida e deixarmos de viver, optando pela não vida, optando pela morte, tirando de nós mesmos nossa força vital através do suicídio simples e puro? 

Uma resposta elementar para essa pergunta é que viver não é tão ruim, por um lado, e que estar morto parece ser algo insípido e tedioso, por outro. Viver não é fácil, mas a vida tem lá seus prazeres, e estar morto é simplesmente dormir sem sonhar, o que significa uma espécie de escuridão sem sentido e sem fim. Ora, somos seres de sensações, temos nossos sentidos quase sempre muito despertos, e eles nos mantém em ação, nos mantém curiosos. A morte, sendo o não-ser, é como antes de termos nascido. Ora, sabemos muito bem o que é o não-ser antes de termos nascido: é um nada sem sentido, um breu infinito. Logo, sendo a morte um não-ser como foi o antes de nascermos, não nos parece ruim, mas é algo indiferente e definitivamente muito menos interessante que o estar vivo e constantemente bombardeado de estímulos sensoriais e emocionais que nos fazem sentir a sensação de vivacidade que nos distingue das pedras e dos demais objetos inanimados. 

O suicídio seria, como muitos já disseram, a verdadeira questão na vida de um ser humano. Nascemos para a vida, mas somos capazes de escolher a morte. 

É certo que o suicídio é uma opção válida, mas, por outro lado, é uma decisão muitíssimo particular, e cada qual sabe quando viver ou morrer convém ou não. Não posso falar por outros. Quanto a mim, prefiro viver que optar pela morte. Essa opção é válida para o presente, e não sei se o futuro trará situações tais que me levem a questionar a validade de se continuar vivo. Sei que muitas pessoas preferiram a morte por suicídio por razões que são razoavelmente justificáveis. Não posso julgar seus argumentos. Só sei que é uma decisão dura, irreversível e definitiva e, no entanto, plausível e real, a qual espero não ter de tomar, mesmo nos momentos mais difíceis e desanimadores que o futuro possa me trazer. 

No entanto, a preferência pela vida é óbvia. Estar vivo permite grandes prazeres. Viver constitui-se em um evento mágico, cósmico, absolutamente maravilhoso. 

O que há de mágico em se acordar todos os dias e enfrentar a rotina de trabalho extenuante e sem significado, para apenas chegar à velhice e sofrer as dores da decadência física, psíquica e social? 

E, no entanto, bilhões de pessoas vivem esse modo de vida pretensamente tedioso e sem sentido e nem por isso acham que estar morto é uma opção melhor. São meros expectadores da vida, mas ainda assim, viver parece-lhes a melhor opção. O que há na vida insípida, ou ainda naquela vivida a duras penas, que mereça ser preservada? Ou ainda, indo mais longe, o que justifica uma vida marcada apenas pelo sofrimento, não sendo nem mesmo insípida ou tediosa, mas dolorosa, massacrante, destituída de toda razão ou sentido?  

Mas, mesmo as pessoas desafortunadas, as cronicamente doentes, as que nasceram escravas, as que somente vivenciaram sofrimento dia após dia, não optaram pelo suicídio como meio de fuga de suas agruras e desalentos. O que as moviam? O que as animava? Que esperanças tinham? 

No entanto, se elas não desistiram, por que deveria eu ou você desistir? 

Tolos, diria o suicida, sofrendo em vão e, no entanto, tão exemplares e comoventes em suas tenacidades. 

Que me vale mais: a esperteza lúcida do suicida ou a tenacidade tola dos sofredores sem esperança? 

Mas os sofredores não são tolos, nem o suicida é esperto. O suicida é um mero covarde, e o sofredor que mesmo morrendo sem ver um dia de alento, e ainda mais por isso, é o verdadeiro ser humano, digno de inveja e honrarias. A coragem é comovente, digna. A covardia é repulsiva, e desprezível. 

Poderia, no entanto, até tomar-me por tolo, se sofredor eu fosse, mas não é essa a minha realidade, felizmente, embora a vida nunca seja fácil, nem tem sido para mim. Tenho, apesar de não ser um sofredor crônico, e ainda em razão de minhas convicções, um forte compromisso para comigo mesmo de que lutarei com todas as minhas forças para que possa conduzir minha vida e auxiliar quem quer que eu possa ajudar a conduzir sua vida para uma existência a menos sofredora possível, para que eu e todos os mais seres viventes possam existir em uma experiência gratificante, merecedora de nossos maiores esforços, vidas vividas como promessas realizadas, esperanças rematadas, e não apenas sofrimento sem sentido, ou promessa de não sofrimento. Tenho para comigo o compromisso de que a vida não deve, não pode, não será sem sentido, embora possa não ser imune ao sofrimento. 

Mas Freud já disse que vivemos para o prazer, e fugimos do sofrimento, e mesmo um inseto não age diferentemente do mais sublime ser humano, e sou obrigado a concordar com Freud, e sublinhar firmemente que não sou melhor que um inseto quando diante do cosmo e da vida, e eu e os insetos compartilhamos orgulhosamente dessa tenacidade que não é vergonha, nem deveria ser motivo de vergonha para ninguém, essa tenacidade que faz do vivo o realmente vivo, essa tenacidade que refuta as leis rígidas do cosmo frio e insere movimento e deidade, insere magia onde antes só havia som e fúria sem sentido, insere consciência, magnificência e contemplação temerosa da parte vivente que contempla o todo inanimado. Não, não há nada errado em amar o prazer e fugir do sofrimento. Desconfie de quem disser algo que contrarie essa verdade universal. 

Balanço, por vezes, em minha determinação de viver sem sofrimento. Não sou uma rocha, mas esforço-me para me manter firme com esse meu compromisso com minha vida, e, dentro do possível, com a vida de todas as pessoas que eu possa ajudar ou influir. 

Não desistir. Resistir. Reerguer-se. Enfrentar problemas. Vasculhar todas as possibilidades de solução. Refutar a fraqueza. Contestar as ameaças. Combater os inimigos da vida. Distender a vida até seus limites extremos. Dar a chance ao surgimento da vida. Respeitar e reverenciar quem luta pela própria vida e pela vida alheia, humana ou não. Tombar somente no último suspiro. Sacrificar quase tudo pela manutenção da própria vida, e, em último caso, sacrificar a própria vida para que outras vidas possam continuar. 

Eu me pergunto: o que vale o sacrifício de minha própria vida? 

Pelo quê, ou por quê eu morreria? O que vale o meu próprio sacrifício? O que tem mais valor para mim que a minha própria vida? 

Morrer é uma droga, mas por vezes, precisa-se morrer. 

Diante da suposta grande questão do ser ou não-ser, percebo que há uma questão maior. 

Ante o altruísmo do herói, o que é a esperteza do suicida? 

E ainda assim, um herói é um suicida. 

É que o mero suicídio por tédio em se viver é muitíssimo diferente do sacrifício voluntário do herói, que assim o faz em nome de outros, e para poupar outros, ainda que apenas em esperança. O suicida é um mero egoísta. O herói é altruísta. 

Assim, concluo, há valores maiores que efetivamente levam um ser humano a abrir mão de sua própria existência, em casos extremos, e esses valores precisam ser pesados, conhecidos, questionados. 

Se você ama a vida, pelo que você morreria voluntariamente, e sem pestanejar? 

Eu não tenho uma resposta ainda para essa pergunta audaciosa, e certamente não sou o primeiro a formulá-la. No entanto, não a fiz somente agora. Tenho pensado nisso a longo tempo, e sei pelo que luto. 

Sei pelo que vivo, e sei pelo que vale a pena lutar, embora que não até a morte. 

Eu gostaria de ter meios, tempo e subsídios de outras mentes mais lúcidas que a minha para pensar sobre essa questão, mas não tenho. 

No entanto, não vou desistir. 

Nem vou morrer de tédio.  

Enfrentando os desafios do mundo

Sou uma pessoa comum, e como todas as pessoas comuns, tenho minha série interminável de problemas. Todos têm problemas, não é mesmo? 

No entanto, sei que meus problemas são também problemas comuns a milhões, bilhões de outras pessoas. Acordo pela manhã e sei que tenho que escovar os dentes, mas sei também que todos os 7 bilhões de seres humanos também precisam fazer a mesma coisa. Se não fizerem, terão de enfrentar o problema das cáries, e ninguém quer ter cárie. Então, bilhões de pessoas, todos os dias, assim que acordam, escovam pacientemente seus dentes, assim como eu faço, também pacientemente. 

Assim, escovar os dentes pela manhã é um problema pessoal, mas é também um problema mundial, e quem inventou cremes dentais, escovas, fios e demais apetrechos úteis à higiene bucal humana prestou um serviço inestimável ao mundo, à humanidade. 

Talvez não seja uma tarefa muito difícil pensar em um meio de como resolver o problema da escovação dentária, porque uma simples escova resolve o problema, e uma escova, ao menos aparentemente, não requer muita sofisticação e tecnologia. 

Quando penso em ideias que precisam ser pensadas, penso em problemas tais como o da escova dentária, mas penso também, somente como um exemplo, que talvez o problema maior não seja a criação de uma escova dentária, mas a criação do hábito da escovação, cuja inexistência transforma a escova em um mero objeto inútil. No mundo das ideias, é mais premente pensar em soluções para problemas universais que em soluções para problemas pessoais, assim como é mais importante pensar em soluções para problemas difíceis que soluções para problemas fáceis. 

Essas duas constatações merecem maiores e mais aprofundadas considerações. 

Vivo minha vida, vivo meu dia-a-dia como um ser humano comum, enfrentando os desafios corriqueiros que todas as pessoas enfrentam. Qual a razão de se viver uma vida atulhada de pequenos problemas que nunca são definitivamente resolvidos, nunca nos dão fôlego, nunca permitem que relaxemos e descansemos em relativa paz? 

É que viver é um enorme desafio, e se vivemos cheios de problemas, é certo que nossos problemas modernos são relativamente mais fáceis de serem equacionados que os problemas das pessoas que viveram décadas, séculos, milênios antes de nós. Escovar dentes é infinitamente menos problemático que enfrentar dentes cariados sem a menor chance de prevenção ou correção. Quantos milhares, milhões de pessoas morreram em decorrência de infecções oriundas de dentes cariados e infeccionados, sem o socorro da tecnologia moderna, ao longo dos séculos e séculos que já se passaram? 

Não posso deixar de sentir gratidão pelas pessoas que ajudaram a fazer deste mundo um mundo melhor em termos de qualidade da vida humana. No entanto, a mera gratidão, ou mero pagamento de um preço por um produto na prateleira de um supermercado não faz com que eu esteja quite com o mundo quanto aos benefícios que usufruo. 

É certo que contribuo com o mundo. Trabalho, e meu trabalho é uma contribuição que faço para sanar, ao menos parcial e pontualmente, alguns dos problemas que as pessoas enfrentam. Todo trabalho representa uma parcela no tremendo esforço que a humanidade realiza para manter-se íntegra e funcional. 

Mas será que fazemos o suficiente? 

Será que o mundo não apresenta problemas que vão além dos problemas pessoais triviais que podem ser resolvidos pela mera prestação de trabalhos ofertados por cidadãos especializados que necessariamente precisam trabalhar em troca de um salário para poder continuar vivendo? 

Na medida em que a ciência e a tecnologia avançam, os problemas pessoais vão se tornando cada vez menos graves, vão trivializando-se, enquanto que os problemas sociais vão se tornando cada vez mais graves, crônicos e complexos, desafiando a capacidade que os indivíduos têm de resolver problemas. 

Penso que às vezes agimos como crianças quando pensamos sobre os graves problemas dos quais tomamos conhecimento, mas que não são nossos problemas pessoais. Se sinto uma leve fisgada em um dente, então tenho um problema pessoal, e a fisgada foi em mim, e cabe somente a mim procurar um dentista e dar uma resposta para o problema. No entanto, quando se toma conhecimento mediante uma exótica tabela estatística qualquer de que há tantos milhões de pessoas com falta de acesso aos recursos elementares, até mesmo falta de acesso à água, necessários ao saneamento dentário, então esse não é um problema meu, não me afeta diretamente, não dói nem dá fisgadas em meus nervos e, portanto, não é um problema urgente. Logo, não posso fazer nada. Logo, não preciso me preocupar. Mas, sendo um problema, ele será atacado por quem tem o dever de atacá-lo, e quem tem esse dever são as instituições, mas as instituições são construções virtuais, intangíveis, descentralizadas, dispersas pelo planeta, inacessíveis, burocraticamente direcionadas por gente que não fazemos ideia de quem seja e, bem, logo esquecemos as estatísticas e seguimos com nossa vida, preocupados com o que devemos fazer nos próximos dias, nas próximas horas, nos próximos minutos. Não cabe a nós resolvermos os problemas do mundo. 

No entanto, penso que podemos fazer mais do simplesmente nos preocuparmos com nossos próprios problemas pessoais. 

Penso que é uma forma de altruísmo dispender meu tempo pensando em um problema que vai além do meu mero eu e abranja o todo, assim como penso que é uma forma de gratidão pelas benesses que usufruo fazendo tão pouco pelo mundo quando abro mão de algumas horas de lazer egoísta e me debruço sobre questões que são complexas, desafiadoras, assustadoras e aparente inexpugnáveis. Gosto de pensar que não sou capaz de resolver os problemas do mundo nas minhas horas de folga, mas que não me curvo diante deles, porque sou mais que uma mera mão-de-obra que troca suas horas de trabalho pelo direito de receber um salário no final do mês e viver sem um desafio maior que o meu próprio umbigo.  

Confesso que invejo as pessoas que não se curvaram diante dos grandes problemas. Confesso que admiro aqueles que viveram antes de mim e que poderiam ter vivido suas vidas mansamente, mas que preferiram desafiar algo maior que suas existências. 

Quando me recuso a abaixar a cabeça diante dos desafios do mundo, não quero ser nenhum herói. Quero ser aquilo que de mais autêntico possa ser um ser humano. Um animal inteligente, perseverante, incansável, imbatível, destinado a preservar a vida em todas as suas mais variadas manifestações e ir além, explorando as possibilidades do universo e da existência da consciência.  

Sou a gloriosa, a miraculosa parte consciente do universo, e como tal, recuso-me com todas as minhas forças, e veementemente, a deixar de sê-lo. 

A vontade de não ser pobre

Não sei quanto ao resto do mundo, mas quanto a mim, chegou um dia em que tive a nítida convicção de que era pobre, e de que a pobreza era uma espécie de desgraça familiar muito difícil de ser erradicada.

Não é difícil para um adulto se saber pobre, mas não sei se uma criança tem a mesma facilidade de percepção que tem um adulto quanto à sua verdadeira situação financeira.

Creio que a maneira pela qual a pobreza se revela dá-se por meio da comparação social.

Não se pode dizer que pobres vivendo entres outros pobres não sofram da mesma maneira as agruras da pobreza, mas certamente o impacto emocional de se sentir pobre é muitíssimo maior quando se é pobre e se está diante da riqueza inacessível de outras pessoas. Em geral, a mera observação das diferenças óbvias é dolorosa e repulsiva. Diante da desigualdade, o pobre passa a abominar a pobreza.

A vontade de não mais ser pobre precede então a vontade ativa de se ser uma pessoa rica.

Um pobre sabe que entre sua atual pobreza e uma eventual futura riqueza, há um abismo que é muito difícil de ser transposto, e que ele não faz a mínima ideia de como fazê-lo, mas ele sabe também que há no caminho entre esses dois extremos um estágio onde não se é ainda rico, mas não se é mais tão pobre quando um dia já se foi. Esse ponto intermediário é o ponto que se visa quando se decide, ou ao menos se toma consciência do desejo de não ser mais o pobre que ainda se é.

Essa tomada de consciência ocorreu comigo em um dado momento de minha adolescência, quando tinha entre dezessete e dezoito anos, e me levou a uma triste depressão.

A vontade de não ser pobre é tão urgente, tão premente que em geral as pessoas são coagidas a usar dos meios mais imediatos que se tem em mãos para começar a sair do estado em que se encontram para um estado menos doloroso, mais esperançoso, possível de ser alcançado em um futuro o mais próximo possível. Não é um estado de riqueza, mas um estado suportável, promissor, certamente transitório no caminho da verdadeira riqueza, mas já bastante acolhedor.

Daí que cada qual toma daquilo que lhe parece mais frutífero de sua parte. O filho do padeiro vai ser padeiro; o jovem amante do futebol vai em busca de se tornar um profissional; a moça sem perspectivas de estudo procura o casamento mais adequado; o trabalhador precoce dá continuidade ao trabalho que já vinha fazendo desde pequeno; o trabalhador de rendimentos instáveis decorrentes de empregos temporários passa a buscar contatos com ex-patrões em busca de algo mais duradouro, um rendimento com carteira profissional assinada por uma empresa, de forma a ter um salário mensal regular; o jovem que adora viajar vai tirar sua carteira de motorista de caminhão, e sai pelo mundo como auxiliar de carga numa transportadora qualquer; o filho do lavrador passa a assumir as tarefas do pai, amplia a clientela, melhora os métodos de produção da roça, incrementa os rendimentos aos poucos, repensa as possibilidades do negócio com o pai agora como apoio.

De minha parte, fiz o que podia fazer na época: retornei a um empego que não me pareceu promissor em uma primeira experiência, mas que era melhor que nada, que a vergonha, que a miséria.

Se é possível viver sem comparações, ou se é possível não dar importância às diferenças decorrentes dessas comparações, é coisa que falaremos mais tranquilamente no futuro.

O fato é que há um estágio na vida em que não mais podemos ignorar nossa condição social diante das enormes diferenças de vida que decorrem da riqueza e da pobreza. Ao tomarmos eventualmente conhecimento de que somos pobres, e de que a pobreza não é uma coisa boa, somos motivados a tomar atitudes urgentes no sentido de minimizar esse problema.

Em geral, é isso que acontece com quem se percebe pobre.

Em geral.

Nem sempre.

Há casos em que alguém pode persuadir-se, ou ser persuadido, de que a pobreza não é uma coisa ruim.

Então, entramos em um terreno espinhoso.

Não nos furtaremos de enfrentar esses espinhos, mas não agora.

O trabalho para os outros

Pedir dinheiro é um ato aceitável quando o pedido parte de uma criança e é endereçado a um adulto, mas em determinado momento há um limite.

Não há lei proibindo que um adulto peça dinheiro a outro adulto, mas há uma regra social que condena esse comportamento. A regra pressupõe que um adulto deve ser capaz de ganhar seu próprio dinheiro por meio de trabalho, e não mediante o uso de processos onde não haja uma contrapartida de sua parte.

Assim, chega uma época da vida de uma pessoa em que ela começa a ser estimulada a tentar deixar de aceitar a ajuda dos adultos e começa a ser estimulada a procurar ganhar seus próprio dinheiro por meio de algum tipo de trabalho.

Evidentemente, um adolescente não possui capacidade de ganhar muito dinheiro, e então, acaba aceitando pequenos empregos temporários, acaba ajudando os pais em casa em alguma tarefa remunerada, começa a aprender os rudimentos do comércio com outras pessoas e começa a perceber os limites que a vida impõe quando não se dispõe de uma fonte de renda previsível e segura.

Quando éramos pequenos, minha mãe sempre se esforçava para que aprendêssemos algum tipo de tarefa que pudesse render algum dinheiro. Éramos pobres, meu pai não tinha renda regular, vivíamos endividados, dependendo de crédito de pessoas generosas, e minha mãe fazia o que podia para complementar o rendimento familiar.

Assim, se ela precisasse fazer doces para vender para algum conhecido ou para algum comércio, ela pedia que a ajudássemos naquilo que fosse possível.

Se ela precisasse tecer meias de lã para vender às lojas da cidade na época do inverno, ela dava-nos pequenas tarefas que não exigissem grande habilidade, para que ela pudesse fazer as coisas mais difíceis, e assim, obter maior rendimento e produtividade.

Evidentemente, quase nunca recebíamos nada pelos nossos esforços, porque o dinheiro ganho com o trabalho de todos era destinado para o pagamento das despesas da família como um todo, e quase nunca sobrava nada para se distribuir para as crianças como forma de recompensa pessoal pelo esforço dispendido.

Mas, de alguma forma, sabíamos que o dinheiro ganho servia para pagar coisas que nós mesmos consumíamos. O fato de não receber nenhum benefício pessoal em forma de notas ou moedas era doloroso, mas eu aceitava o trabalho como uma forma de contribuição por ter o que comer em casa. Nunca negaram que fizéssemos compras no comércio local usando o crédito que meus pais tinham. Eu sabia disso, e trabalhar sem receber era o preço que tínhamos de pagar para obter esse crédito. O que eu não recebia pessoalmente ia para pagar as contas nesses estabelecimentos generosos, e por isso, eu não me rebelava com essa forma de trabalho.

Minha mãe então começou a perceber que crianças são imediatistas, e que não estão dispostas a trabalhar sem ver o resultado prático de seus esforços revertido em forma de dinheiro vivo. Crianças não entendem o conceito de crédito.

Ao menos meus irmãos não entenderam, ou fingiam não entender, porque logo não queriam mais ajudar nessas pequenas tarefas rotineiras e enfadonhas que tínhamos de fazer.

Minha mãe resolveu usar uma técnica nova: passou a nos pagar pequenas quantias por determinados serviços prestados. Lembro-me, apenas como exemplo, que ela estaria disposta a pagar cinquenta centavos do dinheiro da época, o Cruzeiro, por volta de 1981, para que lavássemos toda a louça da pia, ou então realizássemos algum outro serviço doméstico qualquer que poupasse seu tempo e sua energia, de forma a nos estimular a trabalhar sistematicamente, para que juntássemos dinheiro, e ela tivesse tempo livre para fazer coisas que pudessem render algum dinheiro para a família, como montar flores de pano e arame, ou cuidar de hortas, ou bordar, ou fazer bolos ou tocas ou luvas para os motoqueiros da cidade.

Eu então aceitei a ideia de trabalhar para minha própria mãe. Meus irmãos não gostaram da ideia e não entraram no trabalho.

Em pouco tempo eu tinha enchido um cofrinho de moedas ganhas com meu próprio esforço, ainda que pagas pela minha própria mãe, o que significava que não nos tornamos mais ricos nem mais pobres com o processo, mas, de qualquer maneira, eu trabalhei diligente e sistematicamente por muitos dias  em troca de cada moeda recebida.

Por fim, um dia alguém achou o esconderijo de meu cofre e o esvaziou.

Não sei quem foi, mas chorei copiosamente diante de meu segundo revém diante da tragédia do roubo.

Novamente, não ficamos mais pobres com isso, porque certamente foi alguém da família que ficou com as moedas, e usou o dinheiro de forma que bem entendeu, e a riqueza continuou na família. 

Apenas meu trabalho foi em vão, de meu ponto de vista pessoal.

O roubo fez, e ainda faz, o mundo girar.