quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O tédio das tardes de domingo

Eu citei aqui uma frase sobre o tédio em nossas tardes de domingo.

Parece que não há nada de interessante a se fazer numa tarde de domingo.

Analisei em mim mesmo a existência desta suposta sensação de tédio e não a encontrei. 

Encontrei o cansaço que ainda persiste mesmo numa tarde de domingo, embora já tenhamos desfrutado do nada fazer na sexta à noite e no sábado todo. 

Então, com tanto tempo para descansar, por que o meu cansaço insiste em se prolongar até as tardes dos domingos, ocupando o espaço de outra sensação que, se não fosse ocupado pelo cansaço, o seria, justamente, pelo tradicional e merecido tédio?

É que não há em mim hoje em dia muito espaço para o tédio. Não há tempo para o tédio. Aliás, nem mesmo há o suficiente para o descanso. Tédio, então, é um luxo.

É exatamente esta falta de tempo que me faz desejar a eternidade. A vida é curta demais para se fazer tudo.

No domingo, olho com um olhar vazio meus possíveis afazeres, e me pergunto: mas dá tempo de se tentar fazer algo que seja possível de ser feito apenas no exíguo período de tempo de uma curta tarde de domingo?

E concluo que não. E meu olhar perdido parece tédio, mas não é. Sei que minha desolação pode até parecer a olhos alheios que seja tédio, mas é algo fundamentalmente diferente.

Desolação? A desolação que confunde-se com o tédio vem de onde? E por quê?

Ela vem da convicção que tenho de que somos escravos de um modo de vida que não é nosso. Não é humano. Tem a ver com trabalho, e com falta de tempo, e com cansaço. Vem do fundo da alma, e é como um aviso de um vulto negro esguio e encapuzado, e mau, que sussurra em meu ouvido: "nada há que possa fazer, que o liberte de ser consumido".

E eu esperneio, como um cordeiro entre dentes, e anseio a eternidade, fraco, e cansado demais para me libertar numa simples tarde de domingo.

domingo, 28 de outubro de 2012

Minhas revistas Seleções

As frases que andei postando aqui e em alguns posts anteriores foram tiradas de um exemplar de uma revista Seleções Reader's Digest.

Este exemplar, e mais uma centena de outros, estão aqui ao meu lado, em uma estante de livros, aguardando um momento em minha vida em que eu possa arrumar tempo para lê-los.

A maioria nunca saiu dos plásticos nos quais vêem embalados os exemplares.

Eu os recebo pelo correio, e os coloco na prateleira de livros. Isto a dez anos.

Não cancelo a assinatura. Não leio as revistas.

É que tenho um apego a esta excelente revista, que data de longo tempo. É uma história à parte e não a contarei aqui, agora.

Somente gostaria de ver um dia a empresa que a publica lançando em meio digital todos os exemplares já lançados, desde o primeiro número. 

Não é um sonho vão. Eu pagaria tranquilamente para ter acesso a eles.

Que tesouro há nestas revistas fabulosas!

Queria todas, página por página, desde o início, na tela de meu computador.

Isto é um sonho de consumo.

Buscando a origem das coisas

Eu disse aqui sobre os vícios que temos.

Como gosto de escrever, admito que tenho este vício, o de contador de histórias.

Só que eu não conto história alguma. Somente penso em contar a história. Na verdade, sou consumido por um outro vício: o de buscar as origens das coisas.

Se penso em, digamos, Ecologia, penso em escrever alguma história pessoal sobre Ecologia, algo em que eu pessoalmente tenha participado, ou pensado, ou visto. Mas então, penso: qual o caso mais antigo que tenho? Quando este assunto me ocorreu pela primeira vez?

Mas então, seria simples se se resumisse à minha memória. Logo eu chegaria a alguma história sobre o tempo em que eu era criança e pronto, contaria a partir dali, daquele primeiro evento, e seguiria em frente no tempo, contando histórias cada vez mais recentes, até hoje.

Acontece que o assunto em questão, qualquer assunto, já era tratado no mundo antes de eu passar a existir. E de alguma forma, este assunto influiu no meu passado, mesmo eu não existindo.

Mas então, nunca conto nada?

Por enquanto, não. Este é um novelo de lã que tenho que achar a ponta do primeiro fio e dali colocar todos os demais fios em ordem.

Não é fácil.

Mas eu vou conseguir. Aqui. Neste blog.

Esperem.

Sobre frases famosas

O uso de frases de pessoas famosas, ou o uso de frases famosas que, de tão usadas, tornam também seus criadores famosos, é uma coisa comum.

Este uso, eu disse aqui, torna tudo o mais que vem depois um pouco mais belo, e por isso, frases de pessoas famosas são muito usadas. E este uso gera implicações.

Tomo a liberdade de lembrar aqui que entre as frases famosas, nem todas possuem um dono conhecido. Dentre estas, incluo os ditados populares e os provérbios. Eles se enquadram na categoria de frases, e embora não saibamos quem os cunhou, certamente eles foram cunhados um dia. Eles não nasceram do nada, ou na pior das hipóteses, eles nasceram de um povo, tanto que muitos são citados como sendo ditados de um povo x, ou de um país y.

Independentemente de terem ou não um dono conhecido, as frases trazem sutilmente um suave cheiro de sabedoria. Quando citadas, dão a quem cita um leve ar de saber das coisas. Se alguém cita, é porque conhece a frase de algum lugar, e portanto, tem suas fontes, e se a frase é boa, então o citador tem boas fontes, e se a frase é boa e desconhecida, ou de gente desconhecida, melhor ainda: o citador dispõe de bom gosto e de fontes pouco acessíveis à plebe em geral. Mais fino supõe-se ser o citador.

Quem é citado, então, é a fonte do saber. É como um pequeno objeto que brilha. E se muito citado, mais cintilante é. E se, por fim, tem muitas e variadas, e boas, citações, este é a nascente do saber. São os Goethes, os Nietzches, os Nerudas, os Saramagos, os Chico Buarques da vida.

Citar alguém é promover alguém. Uma citação é uma propaganda.

Propaga-se a frase, mas propaga-se a ideia embutida na frase. E propaga-se o autor da frase. E propaga-se as ideias do autor da frase. Citar Neruda é alardear publicamente que se admira Neruda.

Quero dizer, então, que admiro Hitler, já que o citei?

Este é o problema das citações.

Uma frase, em si, fora de seu contexto, tem uma força, e uma forma, que é diferente da força e forma que tem quando dentro de seu contexto original. Uma frase, banal dentro de um contexto, pode ser uma excelente frase isoladamente. E o inverso também é verdadeiro.

Certas frases precisam de contexto para se fazerem entendidas. Se tomadas isoladamente, não dizem nada. 

Na verdade, qualquer livro é na verdade uma coleção de frases. E certamente a maioria, na verdade quase todas, não tem impacto algum isoladamente. Em conjunto, formam o livro, mas isoladamente, são inertes. Uma ou outra consegue brilhar no meio de um livro todo. 

Por vezes uma frase é o resumo de milhares de outras. Por vezes, milhões de palavras precisam ser ditas, para que se possa chegar a uma conclusão tal que possa ser dita em apenas uma ou duas frases. Por vezes, é somente depois de se dizer milhares de frases preparatórias é que se chega à frase lapidar, que comprime em si todas as outras, como um diamante.

Há uma semelhança entre uma frase e os modernos métodos de compactação eletrônica. Por meio de algoritmos, um conjunto de dados, como os bits que compõem uma imagem digital, podem ser rearranjados de modo tal que a mesma imagem pode ser representada com um conjunto muitíssimo menor de bits. Há bits redundantes, repetidos ali, que podem ser simplificados. E o mesmo, creio, se dá com as frases famosas. Elas dizem com poucas palavras o que por vezes vem antes dito em livros inteiros. Elas são, na verdade, ideias compactadas.

Não é fácil chegar a elas. Para isso, não se dispõe de algoritmos e máquinas que operem sobre bits ou dados. Elas somente chegam ao estado de perfeição depois de muito meditar, ou depois de séculos de experiência social de um povo.

No entanto, vez por outra, sem querer, achamos frases que, dentro de um contexto, explicam algo, ou expressam algo que sabemos o que significa, mas que não fomos capazes de sintetizar em forma de palavras. Essas frases não são os raros diamantes que representam a complexidade compactada em poucas letras, mas ainda assim, elas são significativas para nós, que não tínhamos ainda as palavras certas para expressar algo que desejávamos expressar.

Essas não são frases famosas, mas ainda assim, são frases significativas, e podem ser citadas sem maiores problemas. Exceto...

Exceto se quem as proferiu for um vilão?

Não. Exceto que precisamos contextuá-las, sob o risco de parecermos estar fazendo propaganda de um vilão, quando na verdade não é nada disto.

Não há razão para não citar um vilão se este vilão disse algo que me parece sensato. Ele não deixará de ser vilão simplesmente por ter sido citado.

Um vilão é sempre isto: um vilão. Já está julgado pela história e não será perdoado apenas por ter uma ou duas frases suas citadas qui e ali. 

Contexto, aqui, é tudo.

sábado, 27 de outubro de 2012

Agenda DEC

Eu disse aqui que uma das razões deste blog existir era que eu iria registrar nele ideias que tenho anotadas em minha Agenda 99. Depois, disse aqui :

"Por falar nisso, ela, a agenda de papel de 1999, está para ficar cheia dentro em breve. Uns dias mais e ela estará completamente abarrotada de coisas. Então, tenho muito o que fazer com ela.

Mas, se ela encher, onde eu irei anotar minhas novas ideias?

Não, eu não vou comprar uma nova agenda 2005."

Mas o tempo passou e as coisas aconteceram de maneira diferente. Minha Agenda 99 encheu-se de anotações e ideias, eu não passei nem uma fração dela para este blog e ainda iniciei outra agenda, que está quase cheia também, e que eu a chamo de Agenda DEC.


O que significa este nome? Um dia, eu conto, neste blog.

Assim, tenho muitas agendas com coisas anotadas.

Este blog equivale hoje a um livro de 300 páginas. Se tivesse tudo o que já escrevi ou pensei escrever, seria muito maior.

Ainda bem que gosto de escrever.

Honestidade intelectual

Eu iniciei este post antigo com uma frase de uma pessoa que não conhecia. Depois, disse:

"Quem é Muriel Rukeyser? Ainda não sei, mas prometo que vou dar um jeito de saber quem é. É uma questão de educação."

Quero dizer que temos aqui duas coisas distintas. Primeiro, citar algo e dizer quem é que foi citado. Segundo, saber quem é esta pessoa.

As pessoas em geral pecam pelos dois males acima. O segundo é o mais sutil, e por isso, mais perigoso.

Eu disse que identificar "quem disse o quê" é uma questão de educação. Na verdade, é mais que isto. É uma questão de honestidade intelectual.

A frase de Muriel Rukeyser não é minha. Não fui eu quem a cunhei. Só a postei exatamente porque a frase me surpreendeu de alguma maneira. Não costumamos postar frases que não significam nada para nós. Se postei é porque a frase me pareceu significativa de alguma forma. Então, é preciso que eu seja honesto e diga que a frase não só não é minha, como pertence a uma pessoa específica. Pertence a fulano, beltrano ou sicrano. O mérito não é meu. Isto é ser honesto.

Mas, há muitas frases interessantes, e muita gente diferente que é dona dessas frases. Quem são essas pessoas? Porque por trás de cada frase bacana, há uma pessoa, que pode ou não ser bacana. Eu mesmo já citei uma frase de um livro de Hitler e esta pessoa não é, definitivamente, bacana. E tem muita gente boa que não produz frase alguma que provoque algum impacto digno de nota. De alguma forma, parece que frases têm vida própria, e brilham e se espalham independentemente de quem as tenha proferido.

Sei o nome da pessoa que proferiu certa frase, mas, quem foi ela?

É certo sair postando, e assim, de certa forma, endossando frases de pessoas que são pessoas que não merecem publicidade alguma?

Se as frases são, depois que brilham, independentes de quem as proferiu, que mal há então em se endossar tais frases?

Uma coisa é certa: há algo mais em uma simples postagem de frases de efeito. De um lado, precisamos ser honestos intelectualmente e não podemos fazer nossas as frases que não o são. De outro, não podemos exigir, nem imaginar, que frases boas venham sempre de pessoas boas. 

Por fim, as pessoas não são medidas apenas pelas frases que dizem, e boas frases não são suficientes para salvar a reputação de pessoas más. 

O que é preciso é que fique claro que pessoas más podem proferir frases boas e que não devemos deixar de gostar de uma frase somente porque ela foi cunhada por uma pessoa da qual não gostamos.

Ou não?

A honestidade intelectual está acima da luta do bem contra o mal? Não estamos nós próprios sendo maus não sendo honestos intelectualmente com nossa audiência em nossos blogs fazendo passar por nossas as frases de outras pessoas? Não estamos sendo desonestos intelectualmente conosco mesmos quando não admitimos, mesmo que em nosso íntimo, que aquele maldito vilão disse uma frase que nos acertou em cheio?

Vou tentar pensar nisto depois. Agora, chega.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mudanças

Eu disse aqui que vivemos ciclos de vida. E estou convicto disto lendo este blog.

Eu escrevi aqui, em 29 de maio de 2004, que eu vivia em Goiânia. Agora, passados mais de oito anos daquele texto, onde estou?

Por segurança, limito-me a dizer que estou em Brasília, mas muita coisa aconteceu nestes oito anos. Com relação ao local onde morava, posso dizer que houve várias mudanças de residência ao longo deste tempo.

Eu disse que nasci em Tujuguaba, um vilarejo no interior do Estado de São Paulo, Brasil.

Como vim parar em Brasilia quarenta e dois anos depois?

Por quantas cidades passei? Em quantas morei? Por quanto tempo? E em que casas? O que eu fazia nessas cidades? Onde estudei? Quem conheci? O que aconteceu nelas?

As mudanças em nossas vidas estão quase sempre associadas a mudanças de localidade. Mudamos de cidade. Mudamos de casa. Mudamos de emprego. Mudamos de companhia. Mudamos nosso grau de escolaridade. Mudamos nossa percepção de futuro. Estamos sempre mudando.

Vou falar sobre mudanças.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Terras Natais

Eu escrevi assim em meu texto sobre minhas origens:

"Quem eu sou se explica pelo modo como vim ao mundo. Meu eu está ramificado nas brumas do passado. Nunca terei as respostas completas que satisfaçam minha curiosidade, mas posso ter algum conforto em saber que sou quem sou em parte por minha culpa e meu mérito, mas também sou quem sou por culpa da cadeia das coisas, das causas infinitas, que se perdem nas profundezas do passado, influências de atos e decisões de pessoas que não conheci, e que não me conheceram, e que ainda assim estão ligadas a mim, embora eu não estivesse ligado a elas enquanto ainda eram vivas.

Eu estou enraizado nas memórias do passado e suas lendas.

Isso é história. Isso merece ser registrado. Isso merece ser entendido."

E merece mesmo. Só que não é fácil de entender.

É compreensível que não tenhamos controle sobre o local onde nascemos. Esta não é uma decisão nossa. Podemos dizer que preferiríamos ter nascido em outros lugares, mas aí é outra história. Isto não nos é permitido. Não temos este poder: o de mudar o nosso passado.

Aceita-se que nascemos onde nascemos por uma decisão de nossos pais.

Se você não está satisfeito em ter nascido onde nasceu, culpe seus pais.

Mas esta frase trás em si a semente de sua própria resposta.

Se você resolver que não está satisfeito com o local onde nasceu, faça o seguinte exercício mental. Suponha que pudesse voltar no tempo e, por um mecanismo que seja do seu gosto, lhe seja possível que faça uma escolha do local onde pretende nascer.

Parece uma piada, mas não é.

Se prestar atenção ao exercício, verá que, se fosse feita esta opção a você quando ainda era um feto, não teria condições de responder. Na verdade, ainda hoje você não tem condições de responder. Você chegará à conclusão de que, no momento da escolha, você gostaria de ser um feto que tivesse o maior conhecimento do mundo sobre todos os locais possíveis. Você pensaria assim: eu não sei agora qual o melhor lugar, porque não conheço o mundo, mas se tivesse que perguntar a alguém sobre o melhor lugar, perguntaria a mim mesmo, no futuro.

E lhe é permitido, no útero, consultar a si mesmo no futuro. Não confie e seus pais, que já erraram na escolha do lugar na vida real. Escolha a si mesmo, o único em quem pode confiar.

Mas qual você? Você, no útero, perguntaria a você mesmo em qual futuro? A você com dez anos, que escolheria nascer no sítio do avô, porque o sítio do avô é o melhor lugar do mundo? Ou perguntaria a você velhinho, que escolheria nascer naquela cidadezinha pacata, tranquila, onde fica aquele asilo acolhedor, onde nada acontece?

Mas você hoje, agora, um adulto, não faz ideia de quem seja este velhinho que você nem quer ser, na verdade. Você, hoje, não confiaria em alguém que não conhece, e você não conhece você no futuro. Então, o você de agora pediria ao você, um feto, que escolhesse o você de hoje para consultar, e não um você de amanhã, que ninguém conhece.

Claro, você, no útero, perguntaria ao melhor você que existe, que é o você agora, do presente, e que está na melhor fase de sua maturidade, e sabe como nunca o melhor lugar para nascer. E você agora, maturo, diria para você mesmo, no útero: nasça no melhor lugar do mundo hoje, que é, digamos, New York, Estocolmo, ou outro lugar qualquer do mundo.

Agora, deixe de ser um feto, volte a ser você mesmo, hoje, e se veja recebendo a notícia de que terá um filho e que precisa escolher um lugar para ele nascer.

Então, perceberá que, tal como você mesmo, no útero, qualquer fruto seu dependerá de sua sabedoria e capacidade de escolha para decidir sobre uma boa terra natal. Quer dizer, você certamente escolheria para um filho seu hoje o melhor lugar do mundo, o mesmo que escolheria para você próprio, para nascer. Não é de se esperar que escolha para si próprio o melhor lugar, mas deixe seu filho verdadeiro nascer num lugar pior.

Então, sabemos que você não pode escolher onde vai nascer, porque já nasceu. Mas pode escolher onde um filho seu nascerá hoje, ou daqui a nove meses, ou um ano.

Mas você verá que não pode dar este privilégio a ele. Você hoje, na flor de sua capacidade, não pode dar o melhor lugar para seu filho nascer, apesar de tudo.

Resta então, não ser pai. Mas então, você estará privando seu filho da vida, simplesmente porque ele não pode nascer onde você supõe que seja o melhor lugar do mundo para se nascer hoje. E você escolherá a vida, ainda que não nascida em local perfeito, do que a não vida.

E isso explica a decisão de seus pais.

Você pode estar insatisfeito em relação ao local onde nasceu, mas pode colocar a culpa em seus pais. E eles retrucarão que, diante das circunstâncias, fizeram a melhor escolha. Você poderia ter nascido em lugar melhor, mas teria de esperar, talvez até que fosse tarde demais. E você nunca seria você.

Assim, nossas terras natais são sempre as melhores terras natais, diante das circunstâncias sob as quais nascemos. Se não fosse assim, não teríamos nascido. Se nascemos, é porque era possível a vida nascer ali.

E este é um mistério que me perturba. 

Muito.

Fora de controle

Se, depois de adultos, temos algum controle sobre o que pode nos influenciar, por outro lado, há uma fase em nossas vidas em que somos influenciáveis, mas não temos controle algum da situação.

Esta fase vai de nosso nascimento, de nossa concepção, na verdade, até o momento em que tomamos a consciência de que somos seres vulneráveis, mas podemos escolher o rumo de nossas vidas.

Há o famoso ditado:

"Diga-me com quem andas e direi quem és."

Ele, em geral, é verdadeiro, embora não tenha a exatidão matemática que o tornaria uma lei da natureza.

Mas uma criança não tem os meios de escolher suas influências.

Ela não pode escolher quase nada.

Daí que as crianças não são culpadas de nada. Se não podem escolher, não podem ser culpadas. São o que são por imposição. São escravas de seus destinos, até que a lei defina que, completado certo período de tempo, serão adultas.

Mas a vida é imperfeita. Na verdade, as leis são imperfeitas. Não se pode esperar razoavelmente que todas as crianças virem adultas ao completarem exatamente os dezoito anos, ou vinte e um, ou seja que data for. Há crianças que serão eternamente crianças.

É certo que em dado momento, a grande maioria terá que aceitar o fato de que já pode fazer escolhas, e mesmo que não as faça, será considerada capaz de escolher. E, escolhendo bem, ou escolhendo mal, ou abstendo-se de escolher, não lhe será permitido alegar falta de capacidade de escolher. Diante da lei, não se pode não escolher.

Pois bem, tem-se a lei, e paga-se pelo uso errado da liberdade.

Mas a lei não pune a escolha de más influências. Ela pune ações concretas. Daí não se obrigar ninguém a escolher boas influências.

Cabe aqui um adendo: pagar pelo uso errado da liberdade não implica em falta de liberdade. Eu chegar a uma encruzilhada onde há um poste com dezenas de placas apontando para todos os lados pode me confundir, mas isto não significa nem que terei de sair da estrada e seguir por meio de pastos, plantações e rios, nem significa que minha confusão e incapacidade de escolha é o mesmo que escravidão. A regra é que somente se deve seguir por alguma estrada válida. Mas se você resolver ir pelos pastos, pagará seu preço, porque os pastos não são estradas.

Não poder seguir pelos campos não implica em não poder viajar pelo mundo. Implica somente que campos não são estradas permitidas. A liberdade de viajar ainda persiste.

Pois bem, dentre as paragens do mundo, posso escolher qualquer uma que queira, exceto que, até minha maioridade, seja legal, seja emocional, não tenho controle sobre qual direção seguir. 

Não tenho culpa dos lugares que passei, porque não escolhi o percurso.

Você escolheu o lugar onde nasceu?

Nossa terra natal foi nosso ponto de partida, mas não o escolhemos.

Se não chegarmos ao destino que nos propomos, não temos tanta culpa assim, temos?

Escolhendo suas influências

Eu disse que somos fontes de influência para outras pessoas sem querer, sem controle e sem qualquer chance de não influir, desde que existamos. Na verdade, podemos influenciar as pessoas mesmo muito depois de mortos.

Duvida?

Veja Jesus, Maomé, Buda. Veja todas as pessoas que já existiram e deixaram algum legado, bom ou mau. Elas continuam entre nós, por meio de suas ideias, pensamentos, modos de vida, exemplos de comportamento e luta.

Eu não sei de que maneira posso influenciar outras pessoas, mas daí tiro duas conclusões, uma verdadeira, e outra falsa. 

Primeiro: não importa, em geral, como as pessoas se deixam influenciar por nós. Uma pessoa não pode me mudar simplesmente me olhando, me avaliando e decidindo que vai mudar sua vida por isso, ou simplesmente se deixando inconscientemente mudar com base no que viu. Por exemplo: eu sigo minha vida. Já que não tenho controle sobre como influencio as pessoas, como não sei se elas serão pessoas melhores ou piores depois de cruzarem comigo, então, não preciso ter boas intensões. De que adianta ter boas intensões se não tenho controle sobre como irei influenciar outras pessoas?

Segundo: se sei que influencio, sei também que sou influenciável.

Das duas, a verdadeira é a segunda, e a falsa é a primeira.

A primeira conclusão é falsa, afirmo, e provo: John Lennon está morto porque subestimou a maneira como influenciava as pessoas. Ele foi morto porque, de uma maneira que não podemos entender, ele influenciou Mark Chapman de modo a fazer este desejar matá-lo. E o matou.

Não é verdade que somente porque não temos controle sobre como influenciaremos as pessoas é que não devemos nos esforçar para influenciá-las positivamente. Não é razoável pensar que, agindo mal, possamos influenciar positivamente as pessoas. Não é razoável supor que, ensinando mal, as pessoas aprenderão bem. Não temos controle absoluto sobre a maneira como influenciamos as pessoas, mas temos algum controle, e ele deve ser exercido.

A segunda conclusão é correta, porque, ao contrário do que acontece com outras pessoas, nós somos capazes de mensurar o efeito exato que sentimos diante de qualquer tipo de influência.

Não sei como outra pessoa sente quando me vê bem ou mal vestido, mas sei exatamente o que sinto quando vejo uma pessoa bem ou mal vestida.

É razoável supor que, se sinto o que sinto quando tenho contato com determinada fonte de influência, então, se sou uma pessoa normal, outras pessoas normais também deverão sentir mais ou menos aquilo que sinto.

Se sou uma pessoa que busca o melhor para mim, devo ter já o discernimento, ou deveria ter, para ser capaz de avaliar se determinada fonte de influência me é oportuna ou não.

Se prezo a vida, não me é oportuno conviver com pessoas que, ou ambientes onde, não respeitam a vida. Posso me manter fiel a minha crença de que a vida é merecedora de meu respeito, mas como não sou imutável, é razoável supor que, diante de tais influências, tenderei a mudar minha crença, lenta ou abruptamente. 

E não quero mudar.

Não quero ser influenciado por certas pessoas, certos ambientes, certas ideias, certos comportamentos, que sei que podem contribuir para eu mudar para pior. E não quero mudar para pior.

Assim, se tenho a consciência de que sou influenciável, tomo a precaução de escolher minhas influências.

E é este estágio que define um homem como maduro ou não. O nascimento desta consciência é que serve de fronteira entre o inocente e o adulto, entre o homem e o moleque, entre o sensato e o temerário.

Um homem adulto sabe que é vulnerável, e se protege. O imaturo, não.

Assim, sou o que sou em grande parte porque escolhi ser influenciado por este e não por aquele exemplo.

Eu escolho meus amigos, meus livros, meus filmes, minhas viagens e a maneira e lugar onde dispendo meu tempo.

Não me deixo levar por aquilo que não me interessa.

Decido como serei moldado.

Sou, até onde um homem pode ser, senhor do meu destino.

Esta foi-me uma grande revelação.

Influências pessoais

Eu escrevi assim no início de meu livro sobre minhas origens:

"Posso, sim, contar algumas histórias antigas, mas para quê?

Primeiramente, para que elas fiquem registradas para a posteridade. Mas não só por isso: contar histórias antigas me ajuda a entender quem sou e, talvez, quem sabe, até vir a entender quem serei, ou o que será daqueles que ainda virão. Não sabemos como as coisas estão relacionadas tão bem como gostaríamos de saber."


Ao dizer isto, eu tentava conectar passado e futuro. Já disse aqui que não sei se há realmente uma relação direta entre futuro e passado, mas ao dizer, como disse acima, que não sabemos bem como as coisas estão inter-relacionadas, quis dizer que o futuro é de uma incerteza desconcertante.


Pode até ser que o nosso futuro pessoal não possa ser claramente definido pelo nosso passado, e que estudar o nosso passado pode ser uma grande perda de tempo, se é somente isto que buscamos nele.

Mas há um sentido mais profundo quando digo que, ao escrever sobre nosso passado, ele pode vir a afetar o futuro.

É que não temos controle sobre a influência que exercemos sobre outras pessoas.

Mesmo que não escrevamos nossas histórias, e assim, não deixemos nada escrito para o futuro, ainda assim, a nossa simples existência pode influenciar outras pessoas.

Quem nunca, andando pelas ruas, sentiu repulsa por uma situação em que, por exemplo, vemos uma pobre criança pedindo esmolas, usada pelos pais nas esquinas deste imenso país?

A criança não tem controle sobre o que sentimos por ela.

Sua simples existência pode mudar uma vida. Uma pessoa que, vendo-a, decida agir, pode disparar um processo no qual agirá a partir dali como uma nova pessoa. A criança, ainda assim, não tem controle sobre quem a olha. Ela não muda as pessoas; as pessoas é que decidem mudar a si próprias por causa dela.

Eu não tenho controle sobre a influência que posso vir a exercer sobre outras pessoas. Mas certamente, influenciarei alguém, em algum lugar, em algum momento, de uma maneira que não faço a menor ideia.

Assim, nossa simples existência condiciona o futuro.

Se me visto mal, posso exercer uma influência boa ou não em quem me vê e me avalia. A minha boa vontade, o meu desejo, o meu empenho em ser uma boa influência em geral é inócuo. Não há garantias de que uma boa intensão obtenha seu intento. É possível que uma boa intensão saia pela culatra.

Não sabemos mesmo como será o mundo daqui a mil anos. Só sabemos que, seja ele do jeito que for, nós somos parte da causa.

A pergunta é: podemos ter algum controle sobre este processo?

É o que veremos mais adiante.

domingo, 21 de outubro de 2012

Uma dedicatória honesta

Eu resolvi, como é costume, dedicar meu livro, ainda incompleto, sobre minhas origens, a um grupo de pessoas conforme segue abaixo:

"Em memória de todos os meus familiares e antepassados, vivos ou mortos, e amigos e conhecidos que cruzaram minha vida nesses quatorze anos em que vivi em Tujuguaba"

Pois bem.

Por que a meus familiares, antepassados, amigos e conhecidos?

Porque, eu aprendi um dia, e acho isto uma verdade, nós somos em grande parte frutos do meio em que vivemos.

Eu não tenho o que reclamar da vida que vivi nos meus primeiros quatorze anos de existência. Se sou o que sou, em parte isto se deve a mim, em parte a minha constituição genética, e em parte à influência do meio, que neste caso, não pude escolher.

Mas, mesmo não tendo escolha, eu tive sorte.

Se pudesse escolher, talvez não escolheria outro lugar.

Não sei, mas acho que não posso escolher de outra maneira.

Creio ser tão verdade que somos fortemente influenciados pelo nosso meio que se escolhesse outro lugar, estaria afirmando a mim mesmo e ao mundo que não estou satisfeito com o que sou.

Talvez não esteja na situação ideal, mas isto não se deve aos quatorze anos de vida em Tujuguaba. Não.

Lá, havia limitações, inegavelmente. Mas foram limitações superadas.

Afortunadamente, vivemos em uma época em que nosso futuro depende menos do lugar em que nascemos do que daquilo que escolhemos voluntariamente para nós mesmos.

Não é o lugar em que nascemos que nos limita. O que nos limita são as escolhas que fazemos dos lugares em que viveremos por nossa própria vontade o restante de nossas vidas.

Então, a dedicatória que fiz foi honesta. Fui bem criado em Tujuguaba.

Tive muita sorte de ter nascido lá.

A indignidade da pobreza

Está certo que não escolhemos como chegamos ao mundo. Também está certo que uns são mais sortudos que outros. E também está certo que por longos anos somos pessoas limitadas, imaturas, e não somos capazes de cuidar de nossa própria vida.

Um lugar no mundo é o que eu quis quando tomei consciência de que era pobre. Eu achei ser a coisa mais injusta do mundo ter nascido pobre, enquanto algumas pessoas que eu conhecia eram ricas somente porque tiveram a sorte de terem nascido em meio a famílias ricas.

Houve um momento em que eu resolvi que não poderia simplesmente me conformar com a situação na qual vivia.

Houve um momento em que eu senti vergonha de ser pobre.

Houve um momento em que eu achei a pobreza uma situação indigna de se viver.

Houve um dia em que eu me rebelei contra a miséria.

Houve um dia em que, rebelando-me contra a miséria, eu me rebelei contra o próprio Deus.

Houve um momento em que descobri que Deus nunca desejou minha pobreza.

Houve um momento em que descobri que muitos antes de mim já sabiam que Deus nunca quis nossa miséria.

Se Deus nunca quis nossa miséria, então quem quis?

E se ninguém nunca quis a nossa miséria, por que éramos miseráveis?

Sim, houve um dia em que eu percebi que há, sim, pessoas que querem a nossa miséria.

Há sim, eu descobri, pessoas que lutam para que continuemos sempre em nosso eterno estado de miséria.

Há pessoas que, se pudessem, teriam eternamente suas botas sobre nossas caras.

Na minha, não.

Um lugar no mundo

Quando falo que nossa história pessoal pode servir para esclarecer sobre nosso presente e indicar caminhos para nosso futuro, falo em possibilidades futuras.

Eu não tenho poder de mudar meu passado.

Esta verdade é dura como um diamante.

Meu presente está determinado. Estou aqui, agora, teclando em frente a um computador. Posso decidir parar e ir fazer qualquer coisa, mas então já estou falando sobre o futuro.

Possibilidades futuras são relativas.

Minhas possibilidades futuras hoje, neste exato momento, são de um tipo. Minhas possibilidades futuras daqui a dez anos serão outras, dependendo de uma infinidade de coisas, inclusive de minha sobrevivência até lá. E houve um momento em que eu tive minhas possibilidades futuras, mas em um passado distante.

Quais eram minhas possibilidades futuras quando eu tinha quinze anos?

Eu era capaz de pensar nestes termos?

Eu tinha maturidade para pensar nestes termos?

Minha vida hoje se assemelha à vida que eu gostaria de levar quando eu tinha quinze anos?

A vontade de um garoto conta para um adulto de quarenta e dois anos?

É correto permitir que um adolescente dite os rumos de um adulto formado?

Quanto do que fazemos hoje não são na verdade somente os desejos de um garoto egoísta, cheio de espinhas e bobo?

Não sei.

Mas sei que posso falar somente sobre mim. Não sei o que poderia ir pela cabeça de outras pessoas em suas infinitas possibilidades ao longo do tempo.

Minhas possibilidades futuras ao longo de minha vida sempre me pareceram limitadas.

Por longos anos fui apenas uma criança, e depois um adolescente, até que em determinado momento, fui forçado a pensar na vida, e em minhas possibilidades futuras.

Inexperiente, desorientado, isolado, deprimido, infeliz, fracassado, houve uma época em que eu me debati, buscando um rumo.

Eu hoje sei que tudo o que queria era somente isto: um lugar no mundo.

Um lugar digno no mundo.

Um dia, na porta de um bar, a dignidade me obrigou a reclamar meu espaço neste mundo de Deus.

Neste dia, eu provavelmente dei meus primeiros passos sérios para me tornar um homem, um legítimo ser humano.

Tem sido uma longa trajetória, cheia de altos e baixos, mas é uma história ainda não terminada.

O que é exatamente um lugar no mundo?

O que é dignidade de merecer um lugar no mundo?

Há pequenas coisas que mudam uma vida. Pequenas coisas fazem grandes diferenças.

Um olhar torto muda uma vida.

Quando começa nossa história?

Eu disse aqui que escrever a história de nossas vidas é difícil por uma série de motivos. Um deles é o tempo.  O outro, a própria complexidade que existe em escrever livros de maneira geral.

O que há de complexo em se escrever sobre nós mesmos?

É que um livro deve ter um começo, um meio e um fim. E se pensarmos bem, nossas vidas também. Por este modo de se abordar ambos, parece que há uma linearidade clara, óbvia até: começamos contando nossas vidas a partir do começo, e terminamos o livro contando o fim.

Mas, quando começa exatamente nossas vidas?

Muitos dirão que começa no momento em que nascemos, e sob certos aspectos, é exatamente neste momento que nossas vidas começam.

Mas, o que me levou a querer escrever sobre meu passado foi uma questão um pouco mais complexa. Escrevo sob meu passado para entender porque as coisas são como são em meu presente, e quais as minhas possibilidades futuras.

Saber o dia em que nasci não ajuda muito a explicar nada, neste caso. Há perguntas mais profundas, mais difíceis de serem respondidas, mais importantes para a elucidação do porquê as coisas estão como estão e como poderão ser.

Minha história começa no meu nascimento? 

Minha história começa no momento em que começo a me lembrar das coisas?

Minha história começa quando eu completo dezoito anos, e me livro da dependência familiar?

Minha história começa no útero de minha mãe?

Minha história começa com o casamento de meus pais?

Minha história começa com o nascimento de meus pais?

Minha história começa quando chego ao passado mais remoto que posso me aprofundar?

Minha história começa quando tomo consciência de que sou um homem, tenho meus problemas, tenho uma razão para viver e começo a lutar por um objetivo definido?

Eu andei pensando nestas questões.

Elas são difíceis de serem respondidas.

Dificílimas.

Lembranças nunca se acabam

Eu disse aqui que tinha iniciado um texto sobre minhas origens.

Escrever um livro somente em formato digital nos permite, felizmente, editá-lo a qualquer momento, mesmo depois que ele já está disponível ao público em algum endereço virtual. Eu posso ter diferentes edições, sem custo algum. Um livro digital, por este aspecto, é muitíssimo mais flexível e barato que um livro em papel.

Se eu comprometo-me a escrever um livro somente em formato digital, e disponho desta flexibilidade, eu posso dar-me ao luxo de nunca terminá-lo.

Mas os livros precisam terminar, dirão muitos. 

Sim, os livros em papel, porque eles precisam ser impressos e distribuídos nas livrarias, e vendidos. Mas os livros digitais, como o que me propus a escrever sobre minhas origens, não. Eu não pretendo imprimi-lo e mandá-lo para as livrarias.

E tem mais. Sendo um livro baseado em lembranças, ele nunca estará completo. Eu sempre poderei lembrar-me de coisas interessantes, e isso é quase certo, sempre terei vontade de contar novas histórias neste meu livro, que permite tudo.

Então, como as lembranças nunca se acabam, o livro nunca tem uma versão final, definitiva. 

Mas isto não é novidade.

Você conhece os programas de computador? Já ouviu falar em controle de versões?

Windows 1, 2, 3, 3.1, 3.11, 95, 98, NT, Millenium, 2000, XP, Vista, 7, 8 e assim por diante?

Por que os livros não podem ser assim? Tujuguaba 1.0, 1.1, 1.2, 2.0, 3.0, etc.?

Assim, pensando nisto, coloquei um aviso aos leitores na abertura do livro, que reproduzo abaixo:

"Mensagem aos leitores


Este livro existe apenas em formato digital. Isto significa que ele não precisa necessariamente terminar de ser escrito um dia, embora aparente estar completo e pronto para ser lido a qualquer momento.



É que sempre surgem novas lembranças, e não gostaria de deixá-las de fora. E acho, e espero, que essas lembranças nunca  terminem.



Então, a versão que se tem em mãos não é necessariamente a definitiva.



Levem em consideração que isso é literatura, mas é também memória.



Amo minhas pequenas lembranças.



Espero que gostem de minhas pequenas histórias."



Agora, a pergunta: por que as lembranças nunca se acabam?


Porque ficam escondidas em algum lugar em nossos cérebros, esperando algum acontecimento especial que as faça retornar à nossa consciência.

Quais são esses acontecimentos especiais?

Não sabemos. De alguma maneira, algo ocorre que é especial somente para nossos neurônios, que se ligam e acabam fazendo surgir alguma lembrança que tem relação, ou não, com aquilo que está ocorrendo naquele exato momento.

É como se, de repente, uma fresta se abrisse entre as nuvens em noites escuras e por algum tempo, pudéssemos ver uma velha estrela ou uma constelação conhecida, mas esquecida. Um mundo que já foi nosso, mas que se perdeu no tempo, escondido pelas nuvens das areias do nosso dia-a-dia.

As lembranças estão lá, escondidas, mas brilhando como estrelas.

Elas nunca se apagam.

Sobre a disciplina

Eu disse aqui que parti em busca de sucesso por meio da ajuda de um livro que prometia ensinar o caminho das pedras.

Passada uma década, não sou um fracasso, é verdade, mas não sou ainda rico.

Ser rico é o objetivo supremo da vida?

Não, mas é um objetivo intermediário que, sem ele, os demais objetivos ficam seriamente prejudicados. Dinheiro é sempre um excelente meio para se atingir determinados fins.

De qualquer forma, pergunto: não sou rico por quê?

Claro, não sou rico porque nasci pobre.

Não estou enriquecendo ao longo do tempo por quê?

Por que não sou disciplinado o suficiente?

Por que o livro que estudei realmente não pode fazer ninguém ficar rico? Suas lições apontam para o caminho errado?

Ou eu não estou mais tão interessado assim em ganhar dinheiro?

Sou forçado a admitir que a resposta é uma mistura das três perguntas. Não tenho sido muito disciplinado em ganhar dinheiro. Mas não tenho mantido a disciplina exatamente porque sei que o custo a ser pago para se ganhar dinheiro é muito alto, e não estou ainda disposto a pagar este preço. E mesmo que estivesse, o livro em si de Og Mandino não seria suficiente para me ensinar tudo que preciso saber para ficar rico.

A pergunta mais importante é: se existisse, e sei que existe, um livro, ou livros, que ensinassem meios efetivos de se enriquecer, eu teria a força de vontade para segui-los?

Imaginemos que não fosse meu objetivo maior o dinheiro, mas uma outra coisa qualquer. Há algo mais valioso que o dinheiro?

Mas, a resposta já está dada.

Quando parei de fumar, dei mostra a mim mesmo de minha força de vontade e disciplina, porque estava em jogo algo muito valioso para mim: minha saúde física.

Quando resolvi lutar contra a depressão, deu-se o mesmo fato. Lutei disciplinadamente contra uma doença que colocava em risco algo valioso para mim: minha saúde mental.

De onde vem a disciplina? Eu venci a depressão e o vício do fumo porque simplesmente era a coisa certa a fazer?

Se pensarmos nas milhões de pessoas que morrem anualmente de depressão e de males decorrentes do fumo, penso que elas poderiam ter sobrevivido a esses problemas se fossem mais disciplinadas.

A disciplina vem de onde, então?

É um dom nato, e aquele que a tem, consegue mais facilmente perseverar diante dos problemas, ou a disciplina é algo que pode ser aprendido, e as pessoas somente sucumbem aos desafios porque não aprenderam a serem disciplinadas na luta contra os problemas da vida?

Eu vou tentar responder esta questão aqui.

Sei que vou.

Sou um cara disciplinado.

sábado, 20 de outubro de 2012

Tarefa dificílima

Eu disse aqui que a tarefa de eternizar em palavras nosso passado é dificílima. Ela é, porque, como eu disse aqui, temos muita coisa para ser registrada, e precisamos filtrar o que iremos escrever, sob pena de escrever de mais, ou de menos.

Mas um outro problema é o tempo.

Não tenho tempo de ficar burilando um texto sob meu passado sabendo que tenho um monte de outras coisas que propus a mim mesmo, e ainda mais um monte de outras coisas que sou obrigado a fazer em função da vida que levo.

Escrever um livro em si sempre é uma tarefa dificílima.

Um blog, não. Os blogs são esparsos, desconexos, incoerentes. Livros não podem ser assim. 

E mais: blogs não têm fim. Livros, ao contrário, precisam ser precisamente limitados. Não se pode falar sobre tudo em livros.

Estou pensando em esquecer o livro sobre minha cidade natal e falar sobre tudo por aqui, neste blog.

Abandonar projetos é decisão difícil. Preciso pensar em uma solução que permita manter o projeto e ao mesmo tempo, escrever sobre o mesmo assunto aqui, no blog.

Eu não costumo fugir diante de tarefas dificílimas.

A coragem de identificar-se na Internet

Eu disse aqui que inicialmente este blog chamava-se Metamorphose, mas que depois eu o chamaria de Master Flow. O que eu não disse é que, depois de muito ponderar, resolvi nomeá-lo com o meu próprio nome.

Por que muito ponderar sobre o nome de um blog?

A coisa é mais profunda do que parece.

Primeiro é uma questão de segurança; segundo, de responsabilidade; terceira, de vaidade, e quarta, de honestidade.

Colocar seu verdadeiro nome em público na internet significa, antes de tudo, expor-se ao crime virtual. O meio é virtual, mas as consequências, não. Já falei um pouco sobre privacidade aqui.

No momento em que me identifico, bandidos, desafetos, inimigos, a sociedade em geral passa a saber quem sou, o que escrevo, o que penso, o que faço. Com um pouco de esperteza, chegam a conclusões que podem trazer-me desvantagens em todos os sentidos.

No entanto, no momento em que me identifico, assumo que aquilo que está sendo escrito é meu, e se as pessoas não gostam, pois bem, que falem comigo. Eu sou responsável por aquilo que publico. Não sou adepto do jogo sujo do anonimato.

Se, por outro lado, aquilo que publico agrada, eu levo o mérito. Não sou um Mister M, um mascarado que depois precisará provar que é mesmo quem diz ser. Sou eu, com meus erros e defeitos, minhas virtudes e deméritos. Mas o lucro é meu, se houver.

Por fim, sou um homem honesto, embora imperfeito. Não devo nada, não faço nada que me desabone diante do mundo. Não temo o mundo. Sou quem sou, escrevo o que escrevo e arco com as consequências. Eu não sou um covarde.

Não sou Metamorphose, nem Master Flow. Não sou Anonymous.

Sou Rosenvaldo Simões de Souza.

www.rosenvaldo.com

Eu disse aqui que meus velhos sites foram apagados dos servidores do UOL. 

Esta atitude comercial do UOL obrigou-me a ter de pagar mesmo pelo UOL Host. Agora, tenho um endereço só meu, que é http://www.rosenvaldo.com, e acabei migrando meus velhos sites para lá. 

É como se eles houvessem renascido do nada. O fôlego que os trouxe de volta à vida foi o dinheiro.

Agora, resta trabalhar o site para que o dinheiro gasto não seja em vão.

A vaidade dos contadores de visitas

Um dia desses, fiz uma busca no Google e acabei caindo em um blog velho com um layout banal e um monte de fotos horríveis de carros velhos e nada muito além isso. Um blog com uma mensagem inicial de promessa de grandes realizações e meia duzia de postagens, abandonado a longos anos.

Mas o maldito blog tinha um contador de visitas!

Perdoe-me o dono do blog. Não há nada de errado em iniciar seu pequeno blog, postar as imagens dos seus carros favoritos e depois deixar o passatempo de lado. Não é sobre os gostos do dono do blog que falo aqui. Nem sobre o direito que tem ele e todo mundo de colocar um contador de visitas para medir em números o sucesso ou não de seu passatempo. A internet é cheia disto.

O que me espantou foi que, apesar de possuir somente meia duzia de fotos de carros comuns, o contador do blog marcava mais de 10.000 visitas.

Isto é muita coisa.

Eu sei do que estou falando.

Eu tenho o maldito hábito de colocar também contadores de visitas em blogs e sites, e de tempos em tempos eu vejo como andam as contagens.

Meus blogs e sites são uns fracassos, concluo. 

Este blog, por exemplo, com mais de oito anos no ar, com mais de 300 postagens razoavelmente regulares, não recebeu em seus dois anos no Blogger mais do que 1.500 visitas. E eu ainda faço alguma propaganda dele. Vez por outra eu o atualizo e divulgo o link em comunidades de blogueiros no Orkut.

Está certo. O Orkut é um fracasso. Mas e daí?

Aposto que o dono do blog de carros nunca mais fez nada depois que postou a última foto. Ele nem deve saber que seu blog recebe tanta visita.

Um contador de visitas pode ser adulterado, eu sei. Posso iniciar um deles com um valor grande para dar a impressão de que um blog ou site é muito visitado, mas isto não muda nada. Se ninguém visitá-lo, o contador permanecerá parado. Tanto é assim que costumo dar uma olhada no Google Analytics, que é isento de risco de falsos contadores de visitas.

Por que se importar com o valor de um contador?

Importo-me com o valor dos contadores pelo mesmo motivo que me importo em colocar minhas postagens em público. Quer dizer, eu poderia escrever para mim mesmo e pronto. Mas não. Eu escrevo e publico para o mundo, literalmente, tudo aquilo que resolvo escrever neste blog.

Quando publico algo, quero que as pessoas leiam. Quero socializar-me. Quero confirmar que faço parte do mundo, e que minha vida não é só trabalho remunerado de segunda a sexta-feira. E fico pensando: poxa, as pessoas não se importam com o que outras escrevem. Eles querem é ver carros. Mais carros. Não bastassem os milhões deles que entopem nossas ruas, nos sufocam e nos atormentam dia e noite como um pesadelo, as pessoas ainda querem vê-los nas páginas da internet! Que doença social abominável!

Fico envaidecido quando alguém lê algo que escrevi. Sou humano. Esforço-me para postar coisas relevantes. Não acho que uma foto de carro e um contador de visitas inflado satisfaria meu ego mais que um texto bem feito sobre algo bem pensado.

Eu poria fotos de carros aqui somente para inflar meu ego e satisfazer a vaidade de ter um contador de visitas de seis dígitos?

Não.

Meus contadores de visitas são humildemente reais.

Tristemente reais.

Notícias inconsequentes

Eu disse aqui que eu poderia usar este blog como um canal para relatar minha relação com o mundo externo, e não como um diário. Eu poderia, por exemplo, tecer meus comentários sobre notícias, mas que isto para mim era uma coisa difícil, porque não sou especialista em nada.

Mas eu leio as notícias. Leio muito sobre tudo o que ocorre na cidade, no país, no mundo.

Há notícias que para mim não significam nada. Algumas me enojam e outras me excitam, mas em geral, tudo não passa de bobagem.

E tem mais.

Com a tecnologia moderna, fontes de notícias antigas, como revistas e jornais, estão colocando seu material antigo na internet. Então, não há somente notícias novas, atuais, mas notícias antigas. Bilhões delas, prontas para serem lidas e comentadas.

Este oceano de informação só comprova que a grande maioria das informações, e principalmente das notícias do dia-a-dia, são inconsequentes. Pipocam nas páginas dos jornais, nas telas das tvs e nas páginas dos portais de notícias e desaparecem sem maiores consequências.

Já andei comentando sobre algumas por aqui, como a morte de algumas pessoas e coisinhas mais, de meu particular interesse.

Estou revendo minha concepção de que não posso contribuir com mais algum comentário ou alguma observação pontual.

Muitas vezes, o que mais me espanta é que há um tipo de notícia que é veiculada de maneira despretenciosa, em letras minúsculas, sem alarde, discretamente, quase inconsequentemente, que na verdade guarda em si repercussões enormes, mas que a mídia tendenciosa, malévola, dúbia, faz questão de manter nos rodapés de páginas. Por vezes, é preciso que se dê um pequeno alerta do tipo: "olhem, amigos, essa pequena nota guarda em si um problema complexo, emergente, que pouca gente quer que saibamos e discutamos..."

E por fim, muita notícia, a maioria, que aparece em letras garrafais, tonitroantes, não passa na verdade de letras inconsequentes, uma cortina de fumaça que vem para nos cegar, e nos faz perder tempo, dinheiro e nos desvia a atenção daquilo que realmente importa.

Este blog pode ser útil comentando algumas pequenas notícias, e alfinetando, e assim, implodindo, letras garrafais que nada significam.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Diários

Este blog poderia ser um diário, mas não é.

Se fosse, seria necessariamente incompleto, porque ele não pode conter tudo que uma vida produz. Registrar uma vida em palavras significa, antes de tudo, resumir a vida a seus melhores momentos.

Não.

Na verdade, a vida não é feita somente de melhores momentos. Ela tem altos e baixos, rotinas e mornidão. E um diário, para ser fiel, tem de registrar tudo. Vá bem que não precisemos dizer todos os dias que todos os dias acordamos e escovamos os dentes com o creme dental X, e que assim o fazemos repetidamente, sem variações, anos a fio. Seria um desperdício de tempo relatar o que fazemos repetidamente. E um abuso da paciência e do bom gosto de seus potenciais leitores.

Mas um diário em forma de blog padece de um problema: ele teria ser iniciado em uma data x, e existimos a muito tempo antes de x. Assim, o blog terá registradas nossas vidas apenas depois de x, e ele será incompleto, ou tentaremos registrar tudo que merece ser relatado antes de x, até um momento em que nossas memórias não são confiáveis e assim, tudo aquilo que relatarmos antes de x será também incompleto.

Mas a incompletude de nossos registros não é o mau maior de um diário em forma de blog. O mau maior é: a quem interessa um diário desses?

Imagine que a vida de uma pessoa muito importante, sobre a qual recaia grande interesse geral, pudesse ser registrada por ela mesma em forma de um diário abrangendo desde seus nascimento até sua morte. Um diário assim seria interessante?

Certamente que sim, supomos.

Mas, um diário assim pode na verdade fazer mais mal que bem à reputação de alguém reconhecidamente influente.

Será que, lendo-o, não acabemos perdendo o interesse pela celebridade que se mostra comum nos detalhes de seu dia-a-dia?

É possível que sim. 

Agora, imagine um cidadão comum, desconhecido do grande público. Imagine que ele mantenha um diário público de sua vida e que as pessoas, ao lê-lo, passem a admirar esta pessoa, apesar de sua simplicidade de vida.

Será que, lendo-o, não acabaremos adquirindo um real interesse pelo cidadão comum que se mostra célebre nos detalhes de seus dia-a-dia?

Também é possível que sim.

O que temos a aprender com os detalhes das vidas dos outros?

Há como aprender algo com a vida dos outros?

Por que não aprender algo com a nossa própria vida?

Mas como aprender com nossa própria vida se não temos um registro dela?

Bingo: eis uma boa razão para escrevermos um diário.

Aprender a viver melhor a partir do estudo dos detalhes de nossa própria vida.

Mas, por que torná-lo público?

Para nos tornarmos famosos?

Não.

Para que tenhamos, como ganho colateral, a oportunidade de permitir que outras pessoas possam ter a chance de se aperfeiçoarem a partir de nossa vida. Afinal, nem todo mundo escreve diários. Se você não registra sua vida, não pode aprender com ela. Logo, deve-se fiar na vida dos outros, que escrevem diários.

Mas, o que temos de tão bom que nos convence de que podemos servir de exemplo de vida para outras pessoas?

Não sei, mas por vezes podemos ser úteis mesmo sendo maus.

O diário de um vilão então poderia ser útil?

Talvez, mas somente faria o bem para aqueles que buscam se tornar pessoas melhores, assim como o diário de um santo pode servir como um exemplo de maldade para alguém que busca se tornar uma pessoa pior.

Mas, como encontrar o mal em uma vida que só fez o bem?

Não sei, mas uma coisa é certa: no momento em que torno público o que quer que seja, não posso mais controlar o efeito que isto terá na vida das pessoas, seja para o bem ou seja para o mau.

Este raciocínio leva necessariamente ao conceito de publicação responsável. E dá-lhe Antoine de Saint-Exupéry:

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Esta frase é poderosa, cativante, polêmica e complexa. Não escreva diários on-line sem antes estudá-la a fundo. Tu podes estar promovendo o mal na Terra sem o saber.

Diários, concluo, são perigosos? Saint-Exupéry tem razão com sua célebre frase? Eu concordo com ele?

É o que me proponho a responder, mas não agora.

Agora, vou tornar público este post.

Sem medo de ser eternamente responsável.

A inutilidade da Filosofia

Eu disse aqui que antes de ter este blog, eu cheguei a criar um no site IG e que se chamava Filosofia Inútil.

Por que ele tinha este nome? Por que ele não foi em frente?

Ele tinha este nome em virtude de uma famosa e polêmica frase de Karl Marx. Talvez esta frase seja a mais famosa de sua lavra. Qualquer principiante que leia qualquer livro elementar de introdução à Filosofia deverá conhecer esta frase. Mas, se não a conhecer, tudo bem: sentirá os efeitos desta frase da mesma maneira.

Marx disse:

"Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo."

Não sei dizer quando e onde isto foi dito, e nem importa agora. O que importa é entender o espírito da frase.

Se o que importa é modificar o mundo, então toda interpretação é inútil. Se tudo o que os filósofos fazem é interpretar o mundo, então, todos os filósofos são inúteis. Ora, Karl Marx é um filósofo. Logo, Karl Marx ou não é filósofo, ou é inútil.

Calma...

Não leve a sério esta interpretação de Karl Marx.

O que quero dizer é que em geral, filosofar é inútil se não ajudar a mudar o mundo. Como eu nunca pensei em mudar o mundo, mas queria pensar em filosofia, só poderia pensar em uma filosofia que fosse necessariamente inútil. 

Mas, como disse, este blog, que mantém o espírito digital de Filosofia Inútil, não tem fim lucrativos, nem milita a favor ou contra nada, e assim, não pretende mudar minha vida, nem a vida de ninguém. Então, eu pensaria por prazer, lazer, hobby.

Karl Marx que fosse para o inferno...

Explicado o nome do blog que não foi em frente, resta explicar seu fracasso.

Existe mesmo filosofia inútil?

Mas, quanto anjos cabem na ponta de um alfinete?

De qualquer forma, eu não queria falar sobre anjos em pontas de alfinetes. Como não sou de perder tempo, porque a vida é curta, e tenho minhas contas para pagar, resolvi não me dedicar muito à Filosofia.

Eu, em minha ignorância filosófica, tinha algo mais importante a fazer: ganhar dinheiro.

Ganhei? 

Não.

Na busca do dinheiro, nem o consegui, nem ganhei a sabedoria que, julgo, poderia ter ganho me dedicando à Filosofia. 

Bingo: talvez fosse a Filosofia a porta que abriria o cofre da vida.

Marx quis mudar o mundo com a Filosofia. Não conseguiu. Fui mais modesto: dar-me-ia por contente se, filosofando, pudesse simplesmente mudar o saldo de minha conta bancária para um valor maior. 

O que eu fiz?

Não fiz nada.

Não alimentei o blog, abandonei a Filosofia, não ganhei dinheiro e o tempo se escoou entre meus dedos como as areias que escorrendo, lenta, mas inexoravelmente, desbastam e encobrem as esfinges. 

Mas isto foi a oito anos atrás, e eu era uma outra pessoa, um ingênuo.

Mas, tudo bem, perdoo-me. 

Mesmo Marx foi ingênuo!

Agora, a pergunta crucial: a Filosofia é mesmo inútil?

Leia meu texto "Abalando Impérios", publicado aqui, neste mesmo blog, que trata mais detalhadamente da questão do poder das ideias, e você poderá de fato tirar suas próprias conclusões. Não quero influenciar ninguém. Analise você mesmo.

Caso queira ler mais um artigo sobre um assunto bastante interessante, leia isto.

Um blog sem fins lucrativos

Eu não sei até hoje para que serve este blog, mas de uma coisa eu tenho certeza: este blog não objetiva ganhar dinheiro. 

Eu não tenho nada contra ganhar dinheiro com blogs. E eu até acharia bom se pudesse ganhar qualquer quantia que fosse com este blog, se fosse possível, mas o que quero dizer é que eu não preciso deste blog para viver, do ponto de vista financeiro.

Isto tem sérias implicações, para o bem e para o mal.

O lado bom é que eu escrevo sobre o que bem entender, sem precisar falar sobre coisas que não me interessam. O assunto mais procurado aqui é sobre carros, um assunto que odeio. Só postei sobre esse assunto porque foi uma enorme fonte de aborrecimento, tal como tudo que se relaciona a carros em geral.

Então, não ter de buscar dinheiro com este blog me permite postar poemas, falar de existencialismo e pensar bastante antes de postar qualquer coisa, ou não postar nada.

O lado ruim é que eu acabo me esquecendo dele. Acabo me esquecendo de exercer o hábito de escrever sobre coisas que gosto. Acabo perdendo a oportunidade de me expressar.

Mas não importa. Um blog sem fins lucrativos é um luxo.

Um blog sem fins lucrativos é, enfim, um blog livre.

E viva a liberdade!

Ops! já ia esquecendo que outro dia mesmo mataram um blogueiro no Maranhão, que falava demais...

Ops! Ontem o Echelon pegou um cara que queria derrotar a América.

Então, viva a liberdade vigiada...

O poder do silêncio

Houve uma época em que eu ouvia mais música.

Aliás, houve uma época em que a minha vida se resumia a ouvir música.

Houve uma época em que a música era um vício. E como todo vício, a música mais atrapalhou que ajudou.

Houve uma época em minha vida em que eu poderia ter vivido melhor, não fosse a maldita música.

Hoje, quase não perco tempo ouvindo nada.

Prefiro o silêncio.

Os velhos CDs de Zappa continuam não ouvidos. Provavelmente não os ouvirei nunca. Há coisas melhores para serem ouvidas, e nem por isso as ouço.

O silêncio tem uma força que vale ouro. Ele me dá a sensação de prolongar o tempo.

Em silêncio, o meu tempo passa mais devagar.

E como a vida é curta!

Cada minuto conta.

Em silêncio, eu vivo mais.

Existencialismo

Este blog está aos poucos se tornando um blog existencialista.

Eu nunca tinha ouvido falar nisto: existencialismo. Mas a curiosidade me levou até este árido campo filosófico. 

Este não é, definitivamente, um assunto popular. Nem poderia ser. Filosofia como um todo não é nada popular. Popular é aquilo que pipoca a toda hora nos principais sites de notícias país afora, mundo afora. Há muita coisa popular, muita mesmo, mas filosofia não é uma delas. Existencialismo, menos ainda. 

Então, isto explica o pouco interesse que este blog desperta. Afinal, o assunto mais lido aqui é sobre o maldito tag violado. Mas, claro, a vida é uma coisa quente e borbulhante, e nossos carros e pedágios são mais importantes que nosso destino no mundo. Primeiro, precisamos passar pelos pedágios. Depois, daremos um jeito nos rumos de nossas vidas.

Primeiro, nossos carros. Depois, se sobrar tempo, nossas vidas.