terça-feira, 26 de julho de 2011

Amy Winehouse: Too Young To Die

Eu disse num desses meus posts anteriores que vi um livro sobre pessoas que morreram jovens. E eu teci minhas homenagens a eles.

Agora, é hora de mais uma homenagem. Agora é a hora de saudar Emy Winehouse.

Sim, Amy, você também era jovem, jovem demais para morrer.

Por vezes pode parecer oportunismo, mas não. Eu de fato já era um grande fã de Amy antes dela morrer.

Gosto muito de rock, mas gosto também de um monte de outros estilos. Eu gosto de música, gosto de boa música, sem distinções e rótulos.

Gostar de Amy significa antes gostar de toda uma vasta herança musical deixada por incontáveis mestres.

Eu sempre ouvi falar das divas do jazz. Quem nunca ouviu falar? Mas, a música, tais quais os esportes e os conselhos, é para ser experimentada. Um esporte é para ser praticado, um conselho é para ser vivido e uma música é para se ouvida.

Eu ouvi muito das divas do jazz. Eu digo que não é fácil, porque não estamos acostumados a nos esforçar para apurar nossos ouvidos e aprender a gostar de algo que é excelente, mas requer perícia e esforço.

Tente ouvir, por exemplo, Aretha Franklin. Não é fácil. É ríspido, é suave, é amargo. Mas é perfeito.

Assim, vamos nos esforçando e aprendendo a gostar daquilo que o mundo tem de melhor. Então, quando estamos acostumados com o canto das divas, sabemos instintivamente quando ouvimos uma.

Com Amy foi assim.

Esqueça o visual, esqueça a badalação, esqueça as drogas e esqueça os prêmios e video clips. Concentre-se somente no som.

Eu e minha esposa passamos longas horas viajando por esse país afora ouvindo de tudo, mas aprendemos a sentir um carinho especial por Amy Winehouse. Suas músicas ajudaram a tornar menos ásperas as nossas longas e cansativas horas de estrada. Eu, particularmente, quando sozinho, preferia colocar a música "Love is a losing game" para repetir incessantemente. Sua voz fazia as horas duras mais suaves e o calor mais suportável. Eu não me cansava de ouvi-la, e quanto  a Amy, eu sabia que ela ainda estava viva, mas abusando da sorte perigosamente.

Eu sei, nós sabemos, todos nós sabemos que esperávamos mais dela. Esperávamos, otimistas, que tudo acabaria bem e que a teríamos por muitos e muitos anos. Mas nós subestimamos a fragilidade da vida, a fragilidade humana. Vimos em tempo real a submersão de uma jovem como se assistíssemos um reallity show, crentes de que tudo não passasse de mais uma jogada de marketing, de mais uma sacada midiática, mais um factóide para mantê-la em evidência sob os holofotes. Mas nos enganamos.

Perdemos Amy e agora é tarde para quaisquer considerações. Não acabaremos com as drogas, não salvaremos o mundo e sempre nos lembraremos sua morte prematura como mais um motivo de decepção por esse modo de viver imbecil no qual as pessoas vivem hoje em dia, baseado em uma cultura consumista, superficial e destrutiva. Decepção, sem maiores considerações, porque, claro, nada irá mudar.

Então resta saudá-la, reconhecendo que viveu como uma verdadeira diva e certos de que suas canções estarão conosco por muito e muito tempo, porque brilham como obras de excelência. Certamente estarão comigo por muito tempo, eu não tenho dúvidas.

Amy, eu a saudo.

Agora, és eterna.

sábado, 23 de julho de 2011

Rock anos setenta

Ontem tive a oportunidade de comprar um DVD nas lojas Americanas aqui de Ribeirão Preto, no Shopping Santa Úrsula. Falo isso porque escrevo esse blog não só para o mundo, mas para mim também, para que depois de alguns anos eu me lembre que eu tive uma vida como outra qualquer, e não só de trabalho e sofrimento. Ontem, só para confirmar, eu não sofri nem um pouco. Foi um dia normal.

Comprei um DVD com rock dos anos 70. Estavam lá nomes de peso dos quais eu já ouvira falar e até já conhecia algumas músicas, mas nunca tinha visto em vídeo.

Black Sabbath, que já tinha ouvido alguma coisa.

Kiss, que adoro, com a clássica "Rock and roll all night".

Deep Purple, que eu já vi ao vivo em Goiânia.

Slade, com "Cum on feel the noize", que eu já tinha ouvido a bastante tempo.

Grand Funk Railroad, que nunca tinha ouvido nada, nem visto.

Lynyrd Skynyrd, com o clássico "Sweet Home Alabama", que eu adoro, já tinha visto o vídeo e conhecia a letra com perfeição.

T. Rex, que já tinha ouvido falar, mas nunca vi nem ouvi.

MC5, idem.

David Bowie, que sabia lendário nos anos 70, mas só ouvi e vi nos anos 80, bem chatinho, por sinal.

Suzi Quatro, não conhecia nada.

Alice Cooper, tal qual Bowie, mas bem mais legal.

Peter Frampton, que adoro, com "Show me the way".

Talking Heads, com suas bobagens típicas mais dos anos 80 que 70.

E finalmente Ramones, que conhecia dos anos 80.

Quer saber? Achei o visual de todo mundo a coisa mais brega do mundo, ao mesmo tempo a coisa mais autêntica do mundo,  e ao mesmo tempo a coisa mais chique do mundo.

E o som?

Kiss é um show, é fantástico e são eternos.

Adorei rever Lynyrd, e como são lindas as Backing vocals!

Black Sabbath é mesmo um clássico, assim como Deep Purple com suas guitarras básicas.

Adorei a breguice de Slade. O vocalista parece um lobisomem. Mas é um cara legal, canta muito e a música é ótima. É chocante ver o descasamento entre som poderoso e visual ingênuo e inocente. Que coisa! Adorei Slade!

E amei ouvir Frampton novamente. Desde meus sete, oito anos tenho ouvido suas músicas. Elas estão por toda parte. Ele vendeu milhões, bateu todos os recordes de vendas na época e era "o cara". Depois sumiu do cenário. Ficou a lenda.

Vejo Rick Sambora do Bon Jovi e lembro daquele tubo estranho, o talk box, e não tem como negar: rock inspirado em Frampton, e dos melhores. Nada de radicalismos, de puritanismo, de satanismo. Somente um som bom para se pegar uma estrada, para se curtir a energia e levantar o astral. Rock é isso.

Vida longa a Peter Frampton.

Conselhos

Eu leio muito. Sempre li.

E eu venho de uma família de pessoas simples. Não tive pais com muita instrução. À medida que fui crescendo, passei a aprender mais através de livros que através de ensinamentos de outras pessoas. Claro, os livros são escritos por pessoas, logo, aprendi coisas com pessoas, mas não diretamente.

Os livros são então como que meus conselheiros. E eu sou um aluno dedicado. Sempre fui.

Mas dar um conselho é uma coisa. Seguir um conselho é outra.

Alguém dizer que se deve fazer isso ou aquilo é correto, mas não significa que será fácil para aquele que acolhe o conselho. Ser disciplinado com nosso aprendizado dá trabalho.

Muito trabalho.

Agora, por exemplo, estou às voltas com meu backup. Essa é a terceira ou quarta vez que falo sobre backups nesse blog. Isso de backup me incomoda e me atemoriza.

Não é simplesmente uma questão de paranóia. É uma questão de segurança. Preservar nossos dados é uma questão de segurança. Como disse no post anterior, não podemos mais viver sem nossos computadores, e se eles se perdem, perdemos parte de nossas vidas junto.

Além do mais, como posso me deter em fazer qualquer coisa produtiva hoje que não envolva o computador? Pense em algo que seja alguma tarefa e que não envolva informática, tecnologia, computadores?

É difícil.

Então, como posso me arriscar a fazer algo sabendo que posso nem terminá-lo e ver tudo perdido por um problema qualquer? Isso é inadmissível. Eu já passei por isso antes e sei que quando o assunto é informática, é melhor não fazer nada do que fazer algo e depois perder tudo por não ter uma cópia do que se fez. Esse blog mesmo é prova de que mesmo uma simples postagem que se perde enquanto digitamos é uma perda inestimável. Não há como contestar a urgência de se salvar dados digitais voláteis.

Em todo caso, essa conciência de que preciso de segurança digital é uma conciência que faz parte de uma conciência maior, que me diz que devo ter segurança não somente digital, mas em todos os aspectos de minha vida. Segurança física, segurança financeira, segurança emocional, todo tipo de segurança.

Não, eu não sou um medroso. Não é isso. É que sou velho demais para ignorar os riscos do mundo. Não temo perder minha segurança, mas nem por isso vou ficar parado esperando que minha segurança se vá, em qualquer aspecto de minha vida. Viver é exatamente isso: manter-se inteiro e íntegro até onde não der mais, até nosso último suspiro.

Depois, tem um outro problema. Na medida em que sei que preciso cuidar de minha segurança e não cuido, não consigo me enganar. Não cabe aqui essa história de auto-engano. Sei que estou sendo negligente com algo em minha vida e que é idiotice minha achar que sou sortudo e nada irá acontecer comigo. Se descuido de minha segurança, fico preocupado.

Mas eu não posso ficar preocupado. Preocupação não resolve nada. Preocupação é como a febre que sentimos quando doentes. Ela sinaliza algo errado conosco. A solução não é então continuar se preocupando, mas sim arrancar pela raiz as causas de nossa preocupação.

Mas, voltando aos conselhos. Como sei que qualquer preocupação é inútil e contraproducente?

Eu sei porque li, estudei Dale Carnegie e seu livro "Como evitar preocupações e começar a viver".

Esse é o problema. Eu sou um aluno disciplinado. Eu li, eu aprendi e agora eu aplico aquilo que aprendi em minha vida.

Coincidentemente, li por esses dias uma frase, um ditado chinês que diz: "Pense no melhor, prepare-se para o pior e siga em frente".

É o mesmo ensinamento, a mesma lição, o mesmo aviso.

Depois, sou formado em administração. Pegue um manual qualquer de administração e verá o famoso método SWOT. O que o método diz? Vá, pegue seus pontos fortes, alavanque-os. Pegue seus pontos fracos, minimize-os. Analise oportunidades e ameaças externas e pronto, você tem já um diagnóstico para seu planejamento estratégico. Recomendar SWOT é fácil. Minimizar pontos fracos, nem tanto.

Mas, as coisas só acontecem com os outros.

A dois dias atrás pousou o último ônibus espacial americano, o Atlantis, em sua última viagem, e a última de todo o projeto de ônibus espaciais americanos. Foi com alívio que vimos um grande projeto acabar bem com um pouso suave e sem explosões. Quem não se lembra do Challenger e do Columbia?

Agora, a Noruega conta seus mortos, logo a tranquila, rica e pacífica Noruega. Não é que somos alarmistas. É que coisas ruins acontecem com todos, mesmo com as pessoas boas, mesmo com as pessoas pacíficas.

Então, não é melhor seguir alguns conselhos e minimizar nossos riscos para podermos maximizar nossas potencialidades? Sim, claro, exceto que tudo é muito trabalhoso, trabalhoso demais para ser levado à risca. Corremos o risco de fracassarmos, porque são ameaças demais, riscos demais e vulnerabilidades demais. Será que vale mesmo a pena todo esse esforço?

Não sei, mas sinto que há algo que ainda não se encaixa. Falta um equilíbrio nesses conselhos todos. Falta algo que eu farejo, mas não consigo definir.

Tenho pensado em amebas se movendo, mas ainda é cedo para se tirar conclusões.

Aguardem...

Muito prazer, sou sua intranet...

Olá, muito prazer, sou a sua intranet...

Com um sorriso meigo, assim se apresenta ao mundo a minha intranet pessoal. Isso soa chique e sofisticado?

Como assim, uma intranet?

Ah, isso é coisa de nerd. Ah, isso também é coisa de escritor.

Sim, eu tenho uma pequena intranet, um site só meu, onde coloco em ordem um monte de coisas. Minha intranet é um forte concorrente deste blog, porque nem tudo que escrevo eu tenho interesse em divulgar ao mundo imediatamente. Antes, a ideia cozinha em fogo brando ao longo dos meses no meu micro pessoal, para depois ir ter presença no mundo on-line.

É a evolução dos conceitos. Primeiro, escrevemos com papel e lápis, depois, com canetas, depois com máquinas de escrever, e depois partimos para o computador. No computador, partimos do Edit do DOS (ao menos eu parti...) para o Bloco de Notas, depois para o World, depois, para as páginas da Internet. Então, tudo deve acabar em um formato HTML em algum lugar. E quando a coisa ficou legal e queremos fazer algo mais bonito e definitivo, partimos para os arquivos em PDF. Esse é o ciclo.

Assim, pessoas normalmente usam arquivos doc do World para manter suas coisas mais ou menos organizadas, mas nada como uma intranet controlada pelo Front Page para ficar realmente profissional.

Agora, aos fatos.

Minha intranet dá trabalho. Ela é importante, mas toma tempo e exige algum esforço mental para ser organizada.

Ela não é versátil em termos de organização como o Outlook, que já apresentei por aqui, mas ela permite uma clareza muito importante.

Tenho uma rotina de vida, e tenho também uma rotina em frente ao meu computador.

Não podemos viver sem a internet. Então, geralmente sentamos em frente ao micro e logo vamos aos nossos navegadores, em busca de notícias do mundo em geral. Hoje, por exemplo, a notícia principal é sobre o atentado terrorista em Oslo, na Noruega.

Depois, vamos a outros sites quaisquer. Eu, em particular, uso o Internet Explorer da Microsoft. Ele possui uma barra de links favoritos. Meus favoritos estão ordenados em sequência na minha janela. Primeiro, entro no site do UOL, para ler notícias. Depois, vou ao Google e leio mais notícias. Depois dou uma olhada no Orkut, e no Facebook.

É ai que entra a intranet.

Eu poderia ficar horas navegando por milhares de páginas interessantes, mas e minhas tarefas e obrigações?

Elas estão esquecidas no Outlook, que não é um aplicativo para a internet. Então, o que pensei? Pensei em usar minha intranet como um lembrete para cuidar das  minhas coisas no Outlook. Assim, depois de ver meus sites preferidos, passo do link do Facebook para o link da minha intranet.

Minha intranet logo me dá o aviso: vá cuidar de suas rotinas, abra o Outlook, faça algum backup, pense nas milhões de tarefinhas pendentes que prometeu a você mesmo realizar.

E, por fim, quando não estou satisfeito com alguma coisa na minha intranet, basta um click e edito ou acrescento alguma página diretamente com o Front Page.

Essa é uma boa rotina.

Depois, resta esse blog. Mas não importa. O que importa é que não podemos mais viver sem computadores, não podemos mais viver navegando como se fôssemos viver por mil anos e não podemos desperdiçar os milhões de recursos que essas tecnologias todas nos proporcionam. Se posso ser mais eficiente e responsável com o uso de meu tempo através da tecnologia, que seja.

Minha intranet, então, está ai, pronta a me lembrar de tudo.

Aos poucos, iremos conhecê-la melhor.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Reciclagem e o poder da ignorância

Na minha agenda ecológica eu listei meu segundo item por meio do qual eu poderia contribuir para um mundo melhor, para um mundo ecologicamente mais tolerável. Meu item 2 diz somente: agenda com papel reciclável. O que eu quis dizer com isso?

Minha agenda ecológica, por mais paradoxal que pareça, não é de papel reciclado. Então, essa foi minha primeira ideia. Eu deveria pensar nas árvores, na natureza, na qualidade do ar. Pensei que minhas próximas agendas, cadernos, deveriam ser de papel reciclado. Assim, eu iria poupando o mundo da destruição.

Isso faz sentido? Faz. Se eu passar o resto de minha vida usando papéis feitos de outros papéis reciclados, eu pouparei muitas árvores, que se manterão vivas oxigenando o planeta.

Mas, por que reciclar somente o papel? Por que não reciclar tudo o mais que eu sou capaz de consumir, e que seja possível de ser reciclado?

Reciclagem é uma grande ideia. Ela é uma grande ideia porque ela refere-se a um processo natural que já está sendo executado pela natureza a bilhões de anos. Na natureza, a reciclagem corresponde ao chavão de Lavoisier, de que nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Mas olhe! Preste atenção!

Quem foi Lavoisier?

Ele, vide Wikipédia, é considerado o pai da química moderna. Foi ele quem cunhou o chavão do "nada se cria...". No entanto, somente o fez depois de muito estudo. Ora, muitos chavões são cunhados por incontáveis pessoas, com ou sem muito estudo. Então, qual o mérito de Lavoisier?

É que o chavão estava correto. Hoje, com mais de duzentos anos de pesquisas em química e física e outras ciências da natureza, sua afirmação perdura como uma verdade inquestionável. Então, o que podemos dizer de Lavoisier? Que era uma pessoa de sorte? Que era um gênio?

Pois bem, veja o que diz a Wikipédia:

Joseph-Louis de Lagrange, um importante matemático, contemporâneo de Lavoisier disse: "Não bastará um século para produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo".


Lagrange foi e ainda é considerado um gênio. Então temos um gênio falando de outro.

Mas olhe melhor. Lagrange afirma que Lavoisier foi um gênio daqueles que surgem uma vez a cada século ou mais. A humanidade tem de esperar séculos para obter uma cabeça que pode se fazer cair em um único segundo.

Por que Lagrange disse isso?

Porque de fato a cabeça de Lavoisier caiu em um segundo, guilhotinada na Revolução Francesa. Vejamos o que diz a Wikipedia:

Ele (Lavoisier) viveu na época em que começava a Revolução Francesa, quando o terceiro estado (camponeses, burgueses e comerciantes) ficaria com o poder da França.
Foi morto pela mesma, pois era muito mal visto pela população, que pensava que, por ser de uma família nobre, Lavoisier, também, participava do corrupto sistema cheio de impostos sobre a sociedade.
Foi guilhotinado após um julgamento sumário em 8 de Maio de 1794.


Então, Lagrange estava certo. Basta um segundo de ignorância para se por a perder o trabalho de séculos da natureza e décadas de esforço humano incansável e genial.

Eu estou condenando a Revolução Francesa? Não.

Mas estou fazendo uma ligação entre este texto e o anterior, em que cito a descrença na humanidade, citada por João Ubaldo Ribeiro.

"O cão morde a mão que o alimenta", diz o ditado. Como é possível alimentar esperanças em uma humanidade que guilhotina suas melhores cabeças?

Se é assim, ter esperança na humanidade é um exercício de fé.

Mas olhe mais um pouco! Esse ditado, "o cão morde a mão que o alimenta", eu o sei um ditado popular, mas de onde? De que boca foi proferido? De qual cultura emergiu? Não sei, mas fui no Google.

Tente você também. É uma tarefa ingrata. Mas, se for esperto, lerá outro, tão instrutivo quanto este. Lerá, em tom de comédia, que "o mais nobre dos cachorros é o cachorro-quente: alimenta a mão que o morde".

Parece piada, mas não é.

Então, não temamos o colapso do planeta por falta de papel. Sempre poderemos recorrer à reciclagem, esse mecanismo astuto que permite que usemos algo ad infinitum. E não se preocupe, porque Lavoisier nos ensinou que nada se perde. Você pode querer mais e mais com seu impulso consumista, porque por mais que queira, não será capaz de consumir tudo que lhe é oferecido, porque o universo é maior que a sua gula. Veja! Há mais estrelas no céu que grãos de areia na terra! Farte-se, porque podemos reciclar!

E não morda a mão que te alimenta: louve sempre Lavoisier, nosso gênio que, mais nobremente que um simples cachorro-quente, nos alimentou com sua sabedoria, ainda que tenha tido que pagar com sua cabeça e sua vida pela oportunidade de servir à turba ignara.

O poder da ignorância me assusta, mas mais uma vez talvez Lavoisier seja a resposta: um dia, quem sabe, no decorrer dos próximos séculos, porque gênios são coisas raras e demoradas, haverá um gênio que estudará a natureza da ignorância e será capaz de reciclar mentes humanas. E então, tornaremos ignorantes em nobres, e alguma luz brilhará para a humanidade nos milênios vindouros.

Por enquanto, defenda-se!

Cuidado com a guilhotina! Ela é muito mais perigosa e iminente que a falta de oxigênio e árvores para nossas queridas agendas.

Cuidado com o poder da ignorância.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Descrença na humanidade

Há acasos que chamam a atenção por não parecerem acasos, mas coincidências significativas. Por esses dias, uma dessas coincidências me ocorreu. E ela me parece significativa.

De um lado, eu e minhas ruminações. De outro, João Ubaldo Ribeiro. A intersecção: a descrença na humanidade.

Mas como se deu essa intersecção? Depois: qual a significância dela? Por fim: quais as consequências?

Sou uma pessoa que gosta de ler e escrever. Por isso, sempre que posso, acompanho a cena literária nacional, internacional, enfim, gosto de literatura. Tanto gosto que em 2010 estive em Paraty para participar da Flip, a Feira Literária de Paraty. No entanto neste ano não fui. Não deu: compromissos, tarefas importantes, mudança de vida, outras preocupações. Mas poderia ter ido. Não me pareceu, entretanto, tão interessantes os nomes dos convidados. Mentira: nem tive tempo de ver os nomes. Ignorância minha: quase não leio nada de literatura moderna. Não dá tempo. Resumo: não fui.

Mas as notícias eu li. E uma delas me chamou a atenção. João Ubaldo Ribeiro, que eu já sabia que era e é um grande escritor brasileiro, Imortal da Academia Brasileira de Letras, mas cujos livros não possuo nenhum e nem nunca os li. João Ubaldo Ribeiro já teve supostos textos seus amplamente divulgados na Internet. Quem não recebeu um e-mail com o texto "Precisa-se de mão de obra para se construir um país", com aquelas poderosas afirmações, de que somos um povo espertalhão e que por aqui a coisa não tem jeito?

Até então eu não sabia que o texto "Precisa-se..." não era dele. Li o texto a uns dez anos atrás, mas achei-o bastante duro e honesto.

E então, as notícias da Flip vieram corroborar essa minha impressão sobre João Ubaldo, de que, apesar de nada saber a respeito de sua literatura, o tinha por uma pessoa, um cidadão bastante sensato e corajoso diante de suas afirmações. Após taxar o povo brasileiro de espertalhão e malandro, ele vinha agora com esta: o pessimismo diante da humanidade.

Isso era muito peito, muita coragem, muita honestidade.

Mas não fui além desta simples leitura, desta simples afirmação divulgada por todos os jornais e revistas país afora.

Ora, uma frase retirada de seu contexto pode significar algo bem diferente daquilo que realmente significa dentro do contexto. Por isso, para não tomar João Ubaldo como um cara corajoso com base apenas em um texto curto e uma frase de impacto, resolvi pesquisar um pouco mais.

Descobri via Google que o texto "Precisa-se de mão de obra..." não é dele, segundo ele mesmo confirmou em uma ocasião qualquer algum tempo atrás. Se o texto não é dele, tudo bem. O texto em si não é o problema. O problema é um intelectual, uma personalidade nacional afirmar aquilo que ninguém quer dizer, mas que no fundo todos sabem. Não é o tema da malandragem do brasileiro que está em questão aqui, mas a coragem de dizê-la e criticá-la.

Sim, porque criticar políticos é fácil. Difícil é chamar a dona-de-casa de malandra. Isso requer honestidade e coragem.

Mas João Ubaldo não fez isso.

Então, restou a frase sobre o pessimismo quanto à humanidade. Pessimismo em que contexto?

Não achei o vídeo com as gravações de sua fala na Flip, mas achei a transcrição. De fato, ele foi corajoso. Era mesmo uma frase dura de se dizer, mas ele disse e levou o crédito por isso.

Mas ele não é nem o primeiro, nem o mais famoso, nem o último dos pessimistas. Então, porque essa sua declaração foi tão importante?

Ela foi importante porque não é isso que se espera de um brasileiro, ainda mais agora, com o fervor econômico. Mas, ainda mais, ela foi importante porque neste mesmo dia, eu cheguei a uma conclusão dolorosamente parecida, por outros caminhos e por outros motivos.

Eu e João Ubaldo Ribeiro temos algum poder sobre os destinos do mundo? Ele talvez, eu certamente não.

Então, o que importa se eu sou pessimista ou não com relação à humanidade?

E depois, o que isso interessa ao resto do mundo?

Ah, a hipocrisia! Ah, a famosa e maldita dissonância cognitiva!

Eu preciso falar mais sobre isso tudo...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Mais um aniversário

Estou fazendo 41 anos. O que dizer sobre isso?

Primeiramente, e mais importante, é que, apesar de tudo, eu estou sobrevivendo. Apesar do que?

Apesar da falta de perspectiva, da falta de opções, da falta de esperança e do pessimismo geral que me acompanha.

Está certo. O importante é sobreviver. Um ano a mais.

Lembro de ter comemorado meus 34 anos neste blog, a sete anos atrás. O que mudou de lá para cá?

Muita coisa superficial mudou, admito, mas no fundo, no fundo, não mudei muito. Se mudei, foi para pior. Sou agora uma pessoa mais velha, mais amarga e mais pessimista do que era a sete anos atrás, e não vejo solução alguma à vista.

Então, viva meus quarenta e um anos, e que eu continue vivendo muito. Que eu viva muito, até os cem anos, até duzentos anos, até mil anos. Que eu viva eternamente, se assim for possível.

Vá lá que a vida seja uma coisa difícil e amarga, mas melhor vivo que morto.

Afinal, sou ainda uma pessoa curiosa, e o mundo sempre me surpreende. Fascina-me a estupidez infinita, a tenacidade, a genialidade e a bizarrice do mundo. Se não sou um ator do mundo, sou pelo menos um bom expectador.

Quero viver muito ainda, vendo esse eterno chafurdar e esse escorrer de lágrimas que não cessa e aprofunda ainda mais esse vale já tão escuro e triste.

Viva meus pequenos 41 anos, e que venha mais um, mais cem, mais mil.

Eu não canso de viver.