sábado, 23 de julho de 2011

Conselhos

Eu leio muito. Sempre li.

E eu venho de uma família de pessoas simples. Não tive pais com muita instrução. À medida que fui crescendo, passei a aprender mais através de livros que através de ensinamentos de outras pessoas. Claro, os livros são escritos por pessoas, logo, aprendi coisas com pessoas, mas não diretamente.

Os livros são então como que meus conselheiros. E eu sou um aluno dedicado. Sempre fui.

Mas dar um conselho é uma coisa. Seguir um conselho é outra.

Alguém dizer que se deve fazer isso ou aquilo é correto, mas não significa que será fácil para aquele que acolhe o conselho. Ser disciplinado com nosso aprendizado dá trabalho.

Muito trabalho.

Agora, por exemplo, estou às voltas com meu backup. Essa é a terceira ou quarta vez que falo sobre backups nesse blog. Isso de backup me incomoda e me atemoriza.

Não é simplesmente uma questão de paranóia. É uma questão de segurança. Preservar nossos dados é uma questão de segurança. Como disse no post anterior, não podemos mais viver sem nossos computadores, e se eles se perdem, perdemos parte de nossas vidas junto.

Além do mais, como posso me deter em fazer qualquer coisa produtiva hoje que não envolva o computador? Pense em algo que seja alguma tarefa e que não envolva informática, tecnologia, computadores?

É difícil.

Então, como posso me arriscar a fazer algo sabendo que posso nem terminá-lo e ver tudo perdido por um problema qualquer? Isso é inadmissível. Eu já passei por isso antes e sei que quando o assunto é informática, é melhor não fazer nada do que fazer algo e depois perder tudo por não ter uma cópia do que se fez. Esse blog mesmo é prova de que mesmo uma simples postagem que se perde enquanto digitamos é uma perda inestimável. Não há como contestar a urgência de se salvar dados digitais voláteis.

Em todo caso, essa conciência de que preciso de segurança digital é uma conciência que faz parte de uma conciência maior, que me diz que devo ter segurança não somente digital, mas em todos os aspectos de minha vida. Segurança física, segurança financeira, segurança emocional, todo tipo de segurança.

Não, eu não sou um medroso. Não é isso. É que sou velho demais para ignorar os riscos do mundo. Não temo perder minha segurança, mas nem por isso vou ficar parado esperando que minha segurança se vá, em qualquer aspecto de minha vida. Viver é exatamente isso: manter-se inteiro e íntegro até onde não der mais, até nosso último suspiro.

Depois, tem um outro problema. Na medida em que sei que preciso cuidar de minha segurança e não cuido, não consigo me enganar. Não cabe aqui essa história de auto-engano. Sei que estou sendo negligente com algo em minha vida e que é idiotice minha achar que sou sortudo e nada irá acontecer comigo. Se descuido de minha segurança, fico preocupado.

Mas eu não posso ficar preocupado. Preocupação não resolve nada. Preocupação é como a febre que sentimos quando doentes. Ela sinaliza algo errado conosco. A solução não é então continuar se preocupando, mas sim arrancar pela raiz as causas de nossa preocupação.

Mas, voltando aos conselhos. Como sei que qualquer preocupação é inútil e contraproducente?

Eu sei porque li, estudei Dale Carnegie e seu livro "Como evitar preocupações e começar a viver".

Esse é o problema. Eu sou um aluno disciplinado. Eu li, eu aprendi e agora eu aplico aquilo que aprendi em minha vida.

Coincidentemente, li por esses dias uma frase, um ditado chinês que diz: "Pense no melhor, prepare-se para o pior e siga em frente".

É o mesmo ensinamento, a mesma lição, o mesmo aviso.

Depois, sou formado em administração. Pegue um manual qualquer de administração e verá o famoso método SWOT. O que o método diz? Vá, pegue seus pontos fortes, alavanque-os. Pegue seus pontos fracos, minimize-os. Analise oportunidades e ameaças externas e pronto, você tem já um diagnóstico para seu planejamento estratégico. Recomendar SWOT é fácil. Minimizar pontos fracos, nem tanto.

Mas, as coisas só acontecem com os outros.

A dois dias atrás pousou o último ônibus espacial americano, o Atlantis, em sua última viagem, e a última de todo o projeto de ônibus espaciais americanos. Foi com alívio que vimos um grande projeto acabar bem com um pouso suave e sem explosões. Quem não se lembra do Challenger e do Columbia?

Agora, a Noruega conta seus mortos, logo a tranquila, rica e pacífica Noruega. Não é que somos alarmistas. É que coisas ruins acontecem com todos, mesmo com as pessoas boas, mesmo com as pessoas pacíficas.

Então, não é melhor seguir alguns conselhos e minimizar nossos riscos para podermos maximizar nossas potencialidades? Sim, claro, exceto que tudo é muito trabalhoso, trabalhoso demais para ser levado à risca. Corremos o risco de fracassarmos, porque são ameaças demais, riscos demais e vulnerabilidades demais. Será que vale mesmo a pena todo esse esforço?

Não sei, mas sinto que há algo que ainda não se encaixa. Falta um equilíbrio nesses conselhos todos. Falta algo que eu farejo, mas não consigo definir.

Tenho pensado em amebas se movendo, mas ainda é cedo para se tirar conclusões.

Aguardem...

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