segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma mudança política no Brasil?

Depois que milhões de pessoas saíram às ruas no Brasil, neste mês de junho de 2013, um surto de reivindicações as mais diversas parece desconcertar os políticos e analistas. No entanto, aos mais atentos, a situação já era esperada. 

Eu disse aqui neste blog, que não é necessariamente político, sobre o andamento das coisas: leiam "Colapso brasileiro" e leiam "Pacifismo e passividade". Foram textos escritos apenas algumas semanas antes do começo dos acontecimentos, que ainda estão em evolução. Só foi pego de surpresa quem não observa os fatos.

Agora, mais uma vez, os desavisados buscam uma solução para a crise. E mais uma vez, quem observa os fatos já sabe que a solução encontra-se na reforma política.

O que é reforma política e por que ela é a primeira e mais importante coisa a ser feita?

A indignação do brasileiro dá-se no dia-a-dia, nas pequenas coisas, na confrontação daquilo que é e daquilo que poderia ser: poderíamos ser uma país de primeiro mundo, rico que somos como povo e território. 

A coisa não acontece por quê?

A coisa não acontece porque temos nossos defeitos como cidadãos, admitimos, mas também não acontece porque há um Estado que deveria lutar para que nos tornássemos cidadãos melhores, e assim, poderíamos fazer as coisas acontecerem, com a ajuda deste próprio Estado.

Mas o Estado não faz sua parte.

O Estado, todos os Estados, são grandes instituições com enormes responsabilidades, demandados por milhões de pessoas e com milhões de ações a serem exercidas. Gerir Estados não é coisa para amadores. 

No entanto, temos valores a preservar, e um desses valores mais caros é a Democracia. 

Democracia significa que nós mandamos no Estado, e não o contrário. Mas nós não podemos gerir o Estado, ainda que ela seja nosso e esteja à nossa disposição. Daí que há algo de errado neste modelo de Democracia.

A Democracia moderna está sendo desafiada. Ela está sendo desafiada sob dois sentidos da palavra desafio. Ela está sendo desafiada por outros modelos de governo, que sabemos ser ditaduras, e portanto nocivas, e portanto, inadmissíveis. E no entanto, ela, a Democracia, tal qual se apresenta hoje no país, não funciona, porque não atende a nossas necessidades. Logo, é um valor a ser preservado, sim, mas precisa funcionar de fato. Daí que ela é demandada pelo povo a ser mais eficiente, mas útil, mais eficaz.

Mas nossa Democracia está calcada em nossa Constituição, a de 1988. É nela que está o problema de nossa Democracia, assim como é nela que se encontra a solução de seus problemas.

Agora, surge uma percepção, que vai se espalhando pela sociedade, de que a raiz do problema está nos nossos políticos. E que não os queremos mais. Mas não sabemos como nos livrar deles.

Ora, as regras eleitorais estão em conformidade com a Constituição. Hoje, com as leis vigentes no momento, não se pode ter garantias de que teremos políticos melhores, ou outros políticos que não esses que já temos. Sem políticos novos e melhores, não teremos leis e administradores melhores. E sem leis e administradores melhores, tudo continuará como se encontra, apenas levemente melhor, ou pior.

Este não é um problema só brasileiro. É quase que global.

São somente leis eleitorais e políticos que são ruins? Não, evidentemente que não. Mas sem novas leis eleitorais, para que possamos escolher novos e melhores políticos, não teremos as mudanças que desejamos  na Constituição e nas leis que podem melhorar o país. 

Também não devemos ser ingênuos de supor que essa mudança eleitoral inicial e urgente será feita da maneira que desejamos pelos atuais políticos. Eles não criarão leis que os destituam. Na verdade, estamos no meio de uma revolução, que pode significar que as coisas mudarão por meios legais e pacíficos, dentro de uma ordem, ou as coisas tenderão a mudar para pior, porque a instabilidade social já está instalada. Eles sairão, de um jeito ou de outro. A escolha é, em parte, nossa, em parte deles. Como povo pacífico, devemos escolher meios pacíficos, mas como povo que deixou a passividade de lado, não devemos permitir que fiquem. 

Mas, como mudar? O que mudar? Mudar para qual caminho?

São perguntas com respostas muito difíceis, e que demandam que nossa sociedade dê o melhor de si como povo, como civilização, como parte da humanidade, sem que deixemos as coisas decaírem para radicalismos ideológicos que gerarão o ódio, a revolta ou quem sabe a guerra entre facções de brasileiros. É uma situação assustadora, mas não impossível. Há precedentes no momento em outros lugares no mundo. Não nos iludamos com a impossibilidade desta hipótese.

Assim, resta começar um trabalho de debates profundos, sem medo de propostas novas, ainda que desagrade aos políticos atuais. Eles tiveram o seu tempo. Eles tiveram suas chances. Eles poderiam ter feito a mudança, mas não fizeram. 

Agora, novos brasileiros deverão cumprir com seus deveres de levar o país ao seu destino, que espera-se, seja melhor, bem melhor do que tem sido.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mandamentos pessoais

Seguir regras de vida é uma coisa trabalhosa, ainda mais quando se tem dezenas, centenas de regras a serem seguidas.

O que é uma regra de vida?

A vida não nos impõe regras explícitas. Ninguém chega e diz: você tem esta regra de vida a seguir. Evidentemente que há regras sociais, legais, de comportamento, culturais, etc, que são impostas a todos, e que nos submetem a punições mais ou menos duras se as desrespeitarmos, mas não há nenhuma maneira efetiva que coibir que as pessoas as desrespeitem. Mesmo a regra de não matar, que parece óbvia e promete uma punição dura, é constantemente violada, e sua existência não inibe os matadores. O que dizer então de regras de vida, que visam apenas uma melhor qualidade de vida, ou simplesmente, mais dinheiro ou sucesso?

O problema de se seguir regras é que elas implicam em se suportar alguma situação desagradável, ou a abstenção de algum desejo ou prazer, ou, no caso das regras de sucesso, implicam no uso de tempo, dinheiro, energia e foco em coisas que não são necessariamente prazerosas, e não dão resultados imediatos, e nem mesmo dão garantias de que resultarão em alguma coisa, e, por fim, não nos ameaça com nada muito sério, a não ser o risco de não nos tornarmos ricos, e a pobreza, ou a mediocridade, ou o tédio e a rotina de uma vida de fracassos não parece ser uma coisa tão ruim assim que justifique que saiamos de nossa bolha de conforto para nos arriscarmos em seguir regras trabalhosas sem qualquer esperança de progresso. Então, regras de vida são, na verdade, meros conselhos.

São conselhos, às dezenas, centenas, que nos oferecem os livros de auto-ajuda, sem maiores considerações. Faça isto: se fizer, poderá obter aquilo. Se não fizer, tudo bem, nada de realmente ruim irá lhe acontecer. Apenas não será um milionário. Pensando bem, deixe essa regra para lá. Nunca quisemos ser realmente muito ricos. Um pouco de esforço com um pouco de dinheiro a mais como retorno e está tudo bem. Damo-nos por satisfeitos e afrouxamos as rédeas da regra e a pomos de lado. Estamos livres para usufruir de nossa vida novamente, livres e soltos.

Mas, eu, diante de centenas de regras, ou conselhos, de pelo menos cinco livros de auto-ajuda, achei que poderia ser um pouco mais racional e encontrar uma maneira de colocar ordem no caos. Assim como dois livros podem ser muitos diferentes, eles podem também ter coisas em comum, como disse aqui. Ora, se eu analisasse uma centena ou mais de conselhos ou regras sugeridas por diferentes livros, escritos por diferentes autores, talvez fosse possível que ao final desta análise, eu conseguisse reduzir o número de regras a uma quantidade razoável, capaz de ser compreendida, assimilada, aprendida e aplicada, sem maiores problemas.

Seriam as minhas regras compiladas. Algo como os meus Dez Mandamentos. Seriam os meus mandamentos pessoais.

Comecei a pensar no assunto e li e reli as muitas regras que já tinha em mãos, anotadas em minha Agenda 99 e em minha Caderneta de Capa Marrom. Rascunhei então em minha agenda um esboço dos meus mandamentos:

"As 10 regras: 

1 - Tomará sempre a iniciativa de usar seus conhecimentos e habilidades.
2 - Não desperdiçarás o tempo.
3 - Avaliará o resultado de suas ações."

E parei na terceira regra. No entanto, eu tinha em mente dez regras.

Por que não fui em frente? O que me levou a desistir do plano de sintetizar centenas de conselhos em dez simples regras de conduta capazes de serem seguidas? Esta pergunta será respondida, mas antes, preciso fazer algumas observações sobre as três regras compiladas.

De qualquer forma, estes são os meus Dez Mandamentos que são, na verdade, três.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Decisões difíceis

Eu disse no post anterior que não estava indo a lugar nenhum com meus planos de sucesso por meio de livros de autoajuda, mas nem por isto eu desistia.

Anotei na minha Agenda 99 a frase severa do grande Planejador, uma espécie de personagem figurada de Deus que advertia um cidadão mediano e pouco motivado para o sucesso na vida:

"Servo malvado e preguiçoso! Como ousas não utilizar os presentes que lhe dei?"

Esta frase me pareceu uma advertência séria, e resolvi seguir em frente com o sucesso.

Eu tinha agora a minha Caderneta de Capa Marrom, e me aplicava nela. E tinha meus planos de leitura.

Decidi segui-lo. Estudei um pouco mais o livro "Organize-se", que já tinha a bastante tempo, e li "Como tomar decisões difíceis", os quais já comentei aqui.

Embora tenha muitas considerações a fazer sobre ambos os livros, uma coisa chamou-me a atenção naquele momento. É que ambos os livros sugeriam que precisávamos abordar a vida de maneira sistêmica, ampla, e não apenas do ponto de vista profissional ou financeiro, se quiséssemos ter alguma chance de ter sucesso, ser organizado e tomar decisões difíceis.

Um dos livros, o das decisões difíceis, sugeria que dividíssemos nossa vida em sete áreas, e o livro sobre organização fazia o mesmo, exceto que sugeria dez áreas. Ora, era muita coincidência dois livros falarem sobre a mesma coisa, mesmo não sendo livros tratando do mesmo assunto. Aquilo me chamou a atenção.

Eu nunca pensara em dividir minha vida em áreas. Minha vida era um bloco só.

Então, listei de um lado os sete itens de um livro e os dez itens do outro livro, e os correlacionei. O resultado está na imagem abaixo. Percebi que os dez itens poderiam ser resumidos ao sete, ou os sete poderiam ser expandidos em dez itens.



Anote isso. A vida não é um bloco só. Aliás, a vida é um bloco só, mas nossa mente não consegue gerenciar este bloco único adequadamente se não o subdividirmos.

Claro, as sete, ou as dez áreas, estão relacionadas entre si. Por exemplo: sem saúde não se tem meios de se ter algum tipo de sucesso profissional, que por sua vez define o sucesso nas finanças, que por sua vez define a qualidade de nossa saúde, e assim por diante. O que importa relatar aqui é que tive a sorte de perceber dois livros tocando no mesmo assunto de forma muito semelhante e me dei ao trabalho de tirar a coisa a limpo, fazendo o gráfico e pensando um pouco sobre ele.

Era uma lição que eu poderia ignorar, mas ao mesmo tempo, era um potencial presente do Grande Planejador, e eu poderia estar negligenciando-o. Pessoas especialistas em seus ramos de conhecimento escreviam livros que eram vendidos no mundo todo e eu corria o risco de deixar este conhecimento de lado por pura preguiça.

Sim, eu estaria sendo preguiçoso, e mesmo malvado, ignorando o fato de que não podemos levar nossas vidas tratando-a como um bloco único. Simplesmente estaria fechando as portas para meu sucesso futuro agindo assim. Por outro lado, organizar a vida em áreas implicava alguma organização, e por consequência, trabalho. Ora, tudo que se relaciona a trabalho nos desanima, não é verdade? Temos uma forte tendência à preguiça, não podemos negar.

Então, eu tinha que tomar decisões difíceis. Seguir ou não seguir as trabalhosas lições dos livros de autoajuda?

Mas, eu acabava de ler um livro que me ajudava a tomar decisões difíceis. Apliquei o ensinamento do livro à análise de uma sugestão do próprio livro. Era a recursividade em ação.

Já falei sobre a recursividade em ação aqui. Agora, eu dou um exemplo claro dela novamente.

De qualquer forma, o problema estava lançado. Ir em frente com todo o trabalho sugerido, trabalho imenso, cansativo, de resultados incertos e mesmo frustrantes, sem esperança alguma de sucesso à vista ou desistir dos livros de autoajuda?

Eu tinha decisões difíceis pela frente.

Mas eu ainda tinha Benjamin Franklin para me ajudar...