segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O livro e o guardanapo de papel

Escrever é uma coisa interessante. Escrevemos com múltiplos objetivos.

Escrevemos com múltiplos horizontes temporais. Nem tudo que é escrito é eterno.

Pense no guardanapo de papel onde rabiscamos um número de telefone. Isso existe ainda, na era dos unipresentes celulares e smartphones? Bem, tenho muitos pequenos pedaços de papel com muitas coisas rabiscadas esparramadas pela casa. Nem sei o que significa, dependendo do quão antigo é o rabisco.

Tenho um livro escrito. Dois. Eles estão disponíveis na web, e um deles foi impresso. Talvez durem por toda a existência humana. Foram escritos como um exercício de criatividade. Foram criados por um processo que não visou nada além da própria alegria de escrever. Não tinham fins culturais maiores que o mero entretenimento.

Tenho agendas, mas elas são apenas rascunhos para coisas que preciso lembrar. São registros de ideias e fatos intelectuais. Agendas de verdade hoje são digitais. Uso o Outlook e as coisas que planejo para o futuro, meus compromissos para os próximos dias estão ali. São uma espécie de diário do futuro. São informações de pouco valor, e não me detenho muito sobre elas. Quase tudo que agendamos passa a ser banal depois de alguns meses ou anos.

E deveria ter meu bloco de notas, aquele onde anotamos nossas ideias e tarefas momentâneas, para depois passarmos a limpo e nos comprometermos a realizar em algum momento no futuro. Eu não uso blocos de notas. Uso as agora inúteis agendas de papel no lugar deles.

E os diários eu prefiro não os usar. Acho muito difícil ter disciplina para manter um que não me trará tanta utilidade assim. De que forma um diário pode ser útil ao próprio dono? A curto prazo, não vejo como. A longo, ele é ainda mais inútil, embora que mais interessante.

Agora, o porquê deste texto: qual dessas diferentes formas de escrita é a mais importante?

Sei que muitos ficarão tentados a eleger os livros como a forma de escrita mais importante, mas eu discordo.

Claro, o acúmulo de livros torna a literatura mais rica como uma fonte cultural, mas do ponto de vista pessoal, raramente um livro beneficia aquele que o escreve.

Meu medo não é que eu não seja capaz de escrever um livro que pode me tornar um imortal da literatura, mesmo porque não tenho interesse nenhum em ser um escritor de literatura. Meu medo é que, tendo uma excelente ideia, eu a perca por esquecimento. E essa ideia pode ser sobre um excelente livro de literatura, que me dará a fama, ou sobre um negócio, que me dará a riqueza, ou sobre um problema filosófico, que me dará o poder da convicção, ou sobre política, que me dará o poder social.

Uma ideia perdida é um plano perdido, e um plano perdido é uma realização perdida.

Jamais subestimo o poder que temos de nos esquecermos de grandes ideias.

Anoto tudo.

Uma boa ideia vale mais que um bom livro.

Nunca perco uma boa ideia.

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