quarta-feira, 25 de agosto de 2004

A falta e o excesso de informação

Tenho tentado me concentrar em alguma atividade produtiva, mas tenho sempre comigo uma leve sensação de que não importa o que eu faça, estou no rumo errado e perdendo meu tempo. Quer dizer, não que eu não veja um valor naquilo que eu faço, mas examinando as coisas sob uma ótica existencialista, tudo perde o sentido. Não importa o que eu faça, logo eu me pego fazendo algumas perguntas difíceis: por que estou fazendo isto? Onde isto vai levar? Qual o sentido disso? O que eu ganho com isso? E se for uma ilusão?

No fundo, meu problema é o problema de todos, embora nem todos saibam deste problema: a morte. Não que eu tenha medo de morrer. Eu não quero é exatamente o contrário: desperdiçar a vida em algo que não valha a pena, mas que eu só vá descobrir que não valeu a pena quando estiver no leito de morte. Essa sensação de não saber o que realmente vale a pena na vida tem me perseguido a anos.

Em "Epitáfio", a música dos Titãs, temos um exemplo claro de mensagem que trás embutida essa ideia de urgência e de alerta. A letra da música é parecida com o poema "Instantes", aparentemente de Nadine Stair. Deveríamos fazer certas coisas, e não outras, ou, melhor, deveríamos fazer mais certas coisas e menos outras. Mas que garantia temos no final? Nenhuma. É uma bela letra, mas não serve como alicerce para se guiar uma vida.

Aliás, esse é o tema dessa mensagem: a falta e o excesso de informação. Temos falta de informação que nos oriente, e isso exatamente porque temos uma super-oferta de informação. Temos os livros de autoajuda, e temos as religiões, e a filosofia, e a psicologia, e temos os gurus, e temos ainda um milhão de outras fontes de informação nos bombardeando com mensagens imperativas. Faça isso e será feliz, faça aquilo e enriquecerá. Deixe de fazer A para fazer B. Abandone C. Como separar o joio do trigo? E quem garante que haja trigo no meio de tanto joio?

Poderíamos nos dar ao luxo de testar esses imperativos. A prática é a melhor prova. Mas a vida é curta demais para testes. E se no fim de um teste que pode levar a vida toda, descobrimos que o truque não funciona? Tarde demais, você perdeu...

A dúvida tem me imobilizado. Tenho que começar algo, mas enredo-me em um círculo vicioso lógico que não me permite sair dele. Como sair de uma roda de ratos? Por onde começa uma circunferência? Estou preso à minha própria limitação intelectual. Não sou esperto ou sábio o suficiente para achar uma saída. Enquanto isso, o tempo passa...

Decifras-me ou te devoro!


2 comentários:

  1. [Adolpho]
    A opção feita é sempre a errada. A alternativa A é sempre mais interessante quando a escolha recaiu sobre a B, e seria o inverso, se o inverso fosse. O inferno não são os outros, são as perspectivas, ou o excesso delas. Acredito que a base do caminho certo seja o questionamento. Talvez o caminho todo, assim como o objetivo, seja o questionamento. Sem resposta. Não há soluções. Dúvidas geram sempre mais dúvidas. O conhecimento é inatingível. Confesso não ser seu leitor constante, mas, sem duvida, um admirador habitual. Seus textos são sempre interessantíssimos, e com base neles eu posso arriscar que não lhe faltam esperteza nem sabedoria. Os limitados acham saídas. Quando se saí, acreditando-se ter alcançado algo ou algum lugar, se para. O infinito questionamento mantém o mundo e a vida em movimento, como você faz. Eu, pessoalmente, decidi ter um pouco mais de paciência. Questiono como combustível, assim como questiono para consumi-lo. Quando travo, lembro que Clarice Lispecto

    25/08/2004 14:25

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  2. [Adolpho ]
    Desculpe, mas escrevi demais e faltou a última parte que é: ...lembro que Clarice Lispector disse que há a trajetória (...) que na vida não se pode chegar antes.

    25/08/2004 14:31

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