domingo, 29 de agosto de 2004

Ambições olímpicas

Em época de Olimpíadas, ao vermos as constantes imagens de atletas recebendo coroas de louros e medalhas por suas vitórias incríveis, não é incomum que sintamos em nós mesmos um misto de sensações, começando pelo orgulho nacional, passando pelo respeito individual, empatia, inveja e finalizando com pesar e tristeza por não sermos nós os vencedores. Sentimos que aquele que recebe uma medalha é no fundo um simples ser humano, embora excepcional como atleta, e sentimos também que, assim como eles, nós tivemos nossas janelas de oportunidades, mas as deixamos que se fechassem. Sabemos que agora é tarde, mas depois nos consolamos. Afinal, como poderia ser de outra maneira? Somos pobres mortais e temos nossas vidas para cuidar. Como poderíamos ter sido atletas olímpicos?

Qual o papel da ambição neste contexto?

Talvez a ambição não tenha lugar no espectro de sensações de pobres mortais como nós, mas, por que não, se invejamos os vencedores? Se os invejamos, por que não ser como eles? A resposta mais comum é de que na verdade, nos contentamos com o que temos. Estamos satisfeitos com nossas pequenas conquistas e de certa forma, a ambição é um sentimento perigoso. Ela pode trazer medalhas, mas pode trazer também a guerra, a morte, e ela pode ser a causa de toda a desgraça do mundo. Tome um problema qualquer, pessoal ou global, e a ambição serve perfeitamente como causa para assumir a responsabilidade. Não podemos justificar a miséria da fome mundial como sendo consequência da ambição dos países ricos que não querem abrir mão de um pequeno quinhão de suas riquezas? E nossas dificuldades do dia-a-dia? Claro, sempre podemos atribuir nossas mazelas à ambição do patrão, da esposa, do marido, do governo ou do motorista com um carro mais novo.

Mas, que podemos conseguir na vida sem um pouco de ambição sadia? A humildade pura e simples nos é repugnante e rasteira. Mesmo os animais só são humildes em termos. Nenhum ser vivo tem a pretensão de abrir mão daquilo que a natureza lhes concedeu por direito. Nenhuma gazela se entrega humildemente a um leão para ser devorada. Todos têm o direito a ser ambiciosos. Talvez o mal da ambição seja o de querer atingir aquilo que ambicionamos às custas das ambições dos outros. De um ponto de vista social, é essa a melhor ambição: a que permite que vençamos, mas sem impedir que o próximo vença também.

Feita essa distinção, a ambição não é de todo um sentimento mau. É natural que não seja socialmente incentivada em nosso país. Uma tradição político-religiosa faz de nós, brasileiros, pessoas mais para humildes que para ambiciosas (ao contrário dos nossos queridos irmãos argentinos). De certa forma, a ambição vai contra certos princípios religiosos cristãos. Mas essa leitura cristã da ambição é uma besteira. Se pensarmos que o fundador do cristianismo se diz o próprio deus, então ele é talvez o mais ambicioso dos homens, se não for mesmo um deus. E se ele pede que sejamos como ele, então por que não darmos rédeas as nossas ambições sadias?

A questão principal é: vale a pena? Na maioria das vezes, não receberemos nenhuma coroa de louros pelos nossos esforços, e na maioria esmagadora das nossas investidas, fracassaremos, sem direito a nada, por vezes tendo como prêmio, prejuízos. Mas nas poucas vezes em que formos bem sucedidos, então o esforço será compensado. Nessa hora, seremos invejados, e admirados, e respeitados, e seremos o orgulho da nação. E sentiremos orgulhos de nós mesmos, e seremos explosivamente felizes, que é o que mais importa, no final das contas. Como efeito colateral, a humanidade ganha com isso, porque sempre que realizamos grandes coisas, essas coisas tendem a ser coisas boas, e das quais não só nós, mas todos tiram proveito.

Então, por onde começar? Não temos base alguma para supor que teremos sucesso, mas algumas lições nossos colegas atletas olímpicos nos ensinam.

Primeiro, que mesmo um superatleta pode, quando muito ser um penta-atleta, mas não um atleta polivalente, um superatleta. Quer dizer, ele aumenta suas chances de sucesso quando resolve que será um especialista em corrida, ou em nado, ou em basquete, mas não será tudo ao mesmo tempo. Foco é que eles ensinam.

Segundo, que há atletas amadores e há atletas profissionais. E que se quisermos ser um atleta profissional, o trabalho deve ser em tempo integral, e não só nos fins de semana, e não só quando estamos com vontade. Dedicação é o que eles ensinam.

Pergunto a mim mesmo, porque não tenho nenhuma ambição de moldar ideias ou sugestionar opiniões alheias: qual meu foco? Quando vou começar a me dedicar a ele?

Quanto aos louros, penso neles depois...


2 comentários:

  1. [Guilherme]
    Fiz um comentário no "pensamento ecológico", mas esqueci de deixar o endereço dos meus blogs ocirco.zip.net e mentirasfalsas.zip.net. Até breve!

    29/08/2004 13:13

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  2. Olá Rosenvaldo.
    Muito obrigado por sua visita ao meu blog.

    Acredito qu eo grande problema da "ambição" seja o da linguística. A mesma palavra define sentimentos diferentes, um bom e progressista e outro pobre e mesquinho.
    Neste caso devemos agir da mesma forma quando ingerimos um medicamento. Até certa dose é remédio, depois disso vira droga.
    Parabéns pelo post e pelo blog

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