Eu gosto de computadores. Tento usá-los no máximo de suas capacidades. Acho que cada software significa uma funcionalidade potencial para algo útil, e já que estão à mão, tento usá-los.
Softwares não são simples. Eles precisam de manuais. E ler manuais requer tempo. Então, já que temos computadores, temos também os softwares. E já que temos os softwares, temos também os manuais. E já que temos que ler manuais, é melhor que passemos a usar bem os softwares dos quais os manuais tratam, porque ler manuais toma tempo e requer muita paciência e perseverança. Por outro lado, um software sem um manual é quase inútil, e computadores com softwares que não sabemos usar são uma enorme fonte de desperdício de dinheiro e espaço.
Assim, desde que comprei meu primeiro computador, em 1994, tenho lido muitos manuais de softwares.
Quando comprei meu primeiro computador, eu usava um PC com processador Intel 386 com Windows 3.11. Era uma máquina nova, e o Windows vinha com um aplicativo de banco de dados bem simples, o Cardfile, que é o Arquivo de Fichas. Eu achava o máximo ter um ficheiro eletrônico, mas nem tinha o que catalogar nele, e o usei muito pouco. Eu já lera em livros de metodologia científica que eu poderia fazer fichas de livros ou trechos de livros para estudo, mas nunca as fiz. Por fim, devido a um incidente, perdi meu computador com Windows 3.11 e minha próxima aquisição foi um PC com Intel Pentium II e Windows 98.
Evidentemente, eu trabalhei com o Windows 95, mas nunca tive um micro somente meu com ele. De qualquer forma, tanto o Win 95 quanto o 98 vinham com um banco de dados de contatos pessoais chamado Contact, ou Contatos. E o Cardfile até poderia rodar, mas não vinha mais instalado como padrão.
O Contatos tinha e tem uma funcionalidade que é a de adicionar e-mails em sincronia com algum cliente de e-mail, tal como o Outlook Express ou o Windows Mail, programas antigos que usei antes de trabalhar com o pacote Office e o Outlook.
O arquivo que roda o Contatos chama-se wab32.exe e durante um bom tempo eu usei meu programa de e-mail sem me importar muito com a opção de salvar nomes de pessoas e seus e-mails no Wab. Vez ou outra uso e-mails. Não sou assim tão adepto deles. Eles são muito úteis, não há como viver sem eles, mas não tenho que interagir com tantas pessoas ou organizações em minha vida particular de maneira que precise enviar e-mails o tempo todo. No trabalho as coisas são diferentes, e trabalhando recebo e envio e-mails quase que a toda hora. Mas em casa, é diferente. Uma vez por semana dou uma olhada em minhas várias caixas de entrada.
Mas então, em 1999, assim que adquiri meu Pentium II rodando Win 98, percebi que ele não vinha com o pacote Office da Microsoft. Ora, se até meu velho 386 tinha Excel, Word, Access e Power Point, por que não tê-los agora com uma máquina tão mais moderna e potente?
O problema é que softwares são coisas caras, e eu sou uma pessoa honesta. Um pacote de aplicativos como o Office custa caro, e em 1999 eles eram bem mais caros e difíceis de se conseguir. Lojas de informática eram raras, e lojas normais, como cadeias de varejistas e livrarias não vendiam softwares e games como fazem hoje. Era preciso dinheiro e disponibilidade para tê-los em mãos em sua forma legítima, pagos a preço de ouro e com os discos originais do fabricante.
Então, eu adquiri, confesso (com dor no coração), uma cópia pirata do Office no mercado negro. Mas, pensando bem, poucos softwares eram até então originais. O Win 3.11 era pirata, porque quando comprei o meu primeiro micro, não veio nenhum tipo de licença tal como vem hoje quando adquirimos computadores em lojas. Eu não tinha documentação de quase nada. Eu imagino o prejuízo que os desenvolvedores de software levam com a pirataria mundo afora, se considerarmos que muita gente ainda faz cópias piratas de quase todo tipo de software, do Windows ao Office e tudo o mais.
É uma pena. Eu sei que Bill Gates já é rico, mas o que é justo, é justo.
Bem, instalei meu Office e ele era incrível. E já era época da internet. O win 3.11 não foi desenhado para o mundo online, mas os demais, sim. E o Office 2000 vinha com o Outlook, um cliente de e-mail muito bacana.
Eu tratei de estudar seu manual. Os demais membros do pacote, o Excel, Word, Access, Power Point, eu até já conhecia bem, mas não o Outlook.
O Outlook tinha suas próprias funcionalidades de gerenciamento de contatos. Ora, eu tinha já alguns dados em meu Contatos do Windows. O que fazer com ele e com meus e-mails? Continuar usando o Windows Mail e o Contatos ou migrar tudo para o Outlook?
Na dúvida, usei uma outra funcionalidade do Outlook que para mim, na época, me pareceu a mais fascinante: as tarefas.
Veja, um administrador de empresa adora gerenciar o tempo. E eu sou um administrador de empresas. Quando vi que poderia gerenciar tarefas no Outlook, tratei logo de aprender a lidar com essa funcionalidade e deixei contatos e e-mails de lado e fui criando minha lista de coisas a fazer.
A primeira tarefa que criei foi em 10 de abril do ano 2000. Está lá anotada: "transferir lista de contatos do Wab para o Outlook."
Eu anotei essa tarefa e muitas outras mais, e até hoje não utilizo em casa o Outlook para gerenciar e-mails. Uso o Windows Live Mail, que é o sucessor do Windows Outlook Express, que é o sucessor do Windows Mail, se não estou enganado em alguma coisa.
Quanto aos contatos, eu tive de importá-los em algum momento para o Excel, porque tive problemas com o Pentium II com Win 98 e passei a usar um micro marca Megaware com Windows Vista, e os dados do Win 98 ficaram perdidos, exceto que eu tinha backup deles em formato padrão Win 98, cuja extensão era .qic.
Então tive que rodar o Win 98 em uma máquina virtual da Sun para poder rodar o Windows Backup do Win 98 e extrair o arquivo de dados do wab32.exe e salvar em um formato mais fácil de trabalhar, em Excel.
Salvei os dados em .xls e pronto. Migraria os dados de contato do Wab para o Outlook manualmente.
Quais dados eu tinha nessa lista?
Eram somente oito e-mails que eu salvara em algum momento no tempo, entre 1999 e 2007, ano em que comprei meu Megaware, que também veio sem Office original e que teve nele instalada a versão pirata Office 2000 de que já falei. Pelo menos eu não dei mais prejuízo a Bill Gates, me consolo.
Qual era o meu primeiro contato da lista?
Era o e-mail agenciaa4@bol.com.br.
O que isso significa?
Agência A4 é o nome de uma agência de publicidade supostamente aberta pelo meu irmão mais velho Ronaldo por volta do ano 2000.
Digo supostamente porque nunca a vi funcionando, e Ronaldo vive criando nomes para seus trabalhos. Ele é o que podemos chamar hoje de designer gráfico, o que antes era chamado de desenhista.
Em algum momento em 2000, ele resolveu abrir alguma porta comercial em Conchal, cidade onde nascemos e onde ele ainda vive, e resolveu batizar o lugar de Agência A4.
O que é uma agência? Creio que era uma agência de publicidade, embora ele não seja publicitário. Não no sentido de que tenha feito uma faculdade de publicidade. E A4 é uma referência ao tamanho padrão de papel usado comumente no mercado. Papéis usados para todos os fins são padronizados de acordo com certos parâmetros, e levam as letras A e um número, que os distinguem em seus tamanhos. O A4 é o comum, usado nas impressoras laser e jato de tinta, mas pode ser usado para desenho artístico também. O A3 é um pouco maior que o A4 e o A5 são um pouco menores.
A Agência A4 existe ainda? Creio que não. Nenhuma porta que tenha sido aberta pelo meu irmão ao longo dos anos ficou mais do que um ano aberta funcionando normalmente, e a Agência A4 não foi exceção. Certamente fechou ainda no ano 2000.
E o e-mail no Bol?
Bem, mandei uma mensagem tendo agenciaa4@bol.com.br como destinatário e a resposta foi de que este não existe.
Não sei qual a política de exclusão de e-mails inativos do Bol ou outros provedores gratuitos, mas é certo que mais dia, menos dia, e-mails inativos acabam sendo fechados, e este não fugiu à regra.
Assim, não houve o que migrar do Wab para o Outlook quanto à Agência A4.
As coisas vão morrendo ao longo do tempo. Nossos projetos morrem, nossos e-mails morrem, nossas tarefas morrem, nossos computadores morrem, nossos softwares morrem. Com muito custo, mantenho dados antigos ainda legíveis em versões modernas.
Que nome podemos dar para essa tralha toda? Sucata digital? Trashware?
É o que veremos a seguir.
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