domingo, 15 de agosto de 2004

Jim Carrey - Brilho Eterno

Assisti ao novo filme com Jim Carrey. Devo admitir que ele tem um carisma que faz qualquer filme brilhar, mesmo que o tema em si não seja dos mais inspirados. Não sei se é o caso deste.

A ideia gira em torno de uma possível técnica de se apagarem nossas memórias indesejáveis. Pois bem, suponhamos que um dia isso se torne uma realidade e teremos a namorada cansada da cara do namorado procurando uma clínica especializada e pedindo para esquecê-lo, literalmente. As consequências não são tão difíceis de se imaginar. Disso tiro três conclusões:

Primeiro: que os filmes atualmente estão fazendo uma espécie de lavagem cerebral subliminar, algo que, sem paranoia, daria um tema para um bom filme sobre o quarto poder e sobre a mídia em geral. Cada filme que sugira uma realidade futura plausível está, mesmo que não intencionalmente, preparando seu público para caso a ficção um dia venha a tornar-se realidade. Um filme como Sinais faz com que se daqui a alguns anos fizermos contato com alienígenas a coisa não pareça tão absurda. E não é só Sinais. Contato, Aliens, Enigma de Outro Mundo, Independe Day e mesmo Men In Black fazem isso: preparam a humanidade para o dia do verdadeiro contato. E fazem com que descobertas fantásticas, como as que as sondas espaciais fazem quase que diariamente, passem desapercebidas, porque não mirabolantes do ponto de vista dos filmes. Um computador como Hall 2000, de "2001: Uma Odisseia no Espaço", faz nossos modernos Pentium parecerem radios velhos a válvula, embora nem Bruce Willis em Nova York Sitiada tenha sido capaz de nos preparar para um 11 de Setembro. Mas de modo geral, os filmes aplainam o terreno, deixam a coisa mais maleável.

No ramo dos avanços da medicina, um destaque vai para Vanilla Sky, que tenta nos preparar para o dia de nossa imortalidade. E Tom Cruise de novo tenta nos preparar para o dia em que dominarmos os poderes extrassensoriais, em Minority Report. Este, de Jim Carrey, tenta fazer o mesmo, embora muito discretamente, muito subliminarmente.

Minha segunda conclusão: a de que se um dia tivermos a nossa disposição um recurso desses, se teria realmente utilidade maior que um desfibrilador cardíaco ou um monitor de um ultrassom médico. Não sei se pessoas normais iriam querer esquecer algo, mesmo indesejável. Claro, há traumas que devem ser esquecidos, mas qual o sentido de se esquecer um mal relacionamento, um mal patrão, um mal dia? Penso que na verdade, somos aquilo que há em nossas memórias, e não é sem motivo que uma pancada na cabeça que faça alguém esquecer tudo que viveu em uma vida é um acontecimento considerado bizarro do ponto de vista médico, e um cidadão assim não possui uma personalidade, do ponto de vista social. Ele tem um passado, é certo, mas somente nas mentes de outras pessoas. Ele próprio não é ninguém: um simples quadro em branco. Somos o que somos exatamente porque somos a soma de nossas boas e más lembranças. Quem não se espanta quando ouve uma velha música, relê um velho livro, assiste um velho filme, encontra um rosto a muito esquecido, viaja de volta a lugares a muito esquecidos, relê uma carta amarelada e esquecida numa gaveta qualquer? Mesmo uma má lembrança que venha a ser recordada ainda assim nestes casos é bem vinda. Dai...

Tiro minha terceira conclusão: a de que nosso problema não é uma máquina de esquecer. Essa nós já temos: o tempo. Basta esperar, e tudo será esquecido, mais cedo ou mais tarde. Nosso problema é o contrário. Precisamos de uma máquina de recordar. Precisamos escavar fundo em nossa mente e descobrir, colocar a salvo para todo o sempre aquilo que um dia vivemos, mesmo que venhamos a botar a salvo numa folha de papel, num diário, num discurso com nossos netos e mesmo nos nossos blogs, por que não? Imagine o dia em que tivermos a máquina das lembranças. Sente-se, pague sua sessão e tenha boas recordações! E salve-as em vídeo! Mostre ao mundo o que viveu de verdade!

Quando esse dia vai chegar?


2 comentários:

  1. [Laiane]
    Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.. Muito legal seu blog viu;. curti... Passa la do meu ta.... boa noite... bjosssssss

    15/08/2004 04:06

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  2. [Marcela]
    Queria ter a metade da capacidade que você tem para compreender as coisas. Olha, o blog serve pra alguma coisa, enfim... Mesmo não sendo uma máquina de recordar perfeita, é uma forma de recordar momentos com maior exatidão. Isso ajuda, mas ainda pode ser aperfeiçoado, é claro. Agora, quanto a esse filme, ainda não o assisti. Parece ser interessante. Depois de ler seu texto fiquei curiosa para assisti-lo. Bom domingo.

    15/08/2004 06:07

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