sábado, 20 de dezembro de 2014

Gaia nos odeia

Li este texto onde o renomado cientista inglês James Lovelock, o criador do conceito ecológico de Gaia, da Terra como um superorganismo, nos alerta para a possível catástrofe que nos aguarda, onde 6 bilhões de pessoas morrerão nos próximos 100 anos devido ao aquecimento global.

Ele fala com a autoridade de quem?

De um senhor de 88 anos?

De um cientista muito bem informado e lastreado em uma teoria sólida e bem testada?

De mais um futurólogo dotado de liberdade para alardear catástrofes para se autopromover?

De mais um charlatão que, incapaz de dizer algo útil, prega o terror, com um amargor e um ódio digno de um vilão de filmes de meia tigela?

Há um famoso axioma no mundo das finanças que se aplica bem ao caso, e pode responder com que autoridade Lovelock tece suas considerações catastróficas. É um dentre os vários axiomas que formam aquilo que é normalmente chamado Axiomas de Zurique, e que tem servido de orientação, sem bem que nem tanto, a muitos investidores em bolsas de valores e outros mercados onde o que está em jogo é o futuro e seus possíveis resultados. Esse axioma, o quarto dos vários que compõem os Axiomas de Zurique, cai como uma luva para o caso, e diz simplesmente isso:

"O comportamento do ser humano não é previsível. Desconfie de quem afirmar que conhece uma nesga que seja do futuro."

E eu desconfio de James Lovelock, porque cem anos é um nada em termos de Terra, mas é uma eternidade em termos humanos. A Terra não é um organismo racional que toma decisões e faz planos, nem o sistema climático é um relógio perfeito e bem regulado, cuja ação a uma suposta agressão a seu equilíbrio seja necessariamente eliminar o agressor. E somos, é verdade, coisinhas insignificantes quando tomados em particular e quando comparados fisicamente à nossa temível Gaia, mas não há nada, absolutamente nada que nos impeça de fazer o diabo para fazer o clima ser da maneira que queiramos que seja, nem que para isso precisemos virar o planeta no avesso.

Basta um único vulcão vomitando cinzas por um tempo relativamente longo para sua poeira tapar o sol e trazer o frio de maneira muito mais ameaçadora do que supõe nosso ilustre Lovelock. Vulcões existem aos milhares. Vulcões são refrigeradores naturais. Nada, absolutamente nada pode impedir que eles continuem existindo e expelindo cinzas ano após ano, turbinados pelo eterno mover de placas tectônicas inabaláveis, embora que capazes de promover os maiores abalos. Isso acontece de tempos em tempos, isso é bem relatado pela ciência, isso tem servido de contraponto a surtos de aquecimento que não têm nada a ver com os seres humanos e eles continuarão a acontecer, não anualmente, mas regularmente, e várias e várias vezes em um período de cem anos.

Se for preciso, faremos explodir os vulcões. Se for preciso, faremos mais. Não morreremos como formigas assadas pelo calor, inertes diante de algo que sequer temos certeza de que irá acontecer.

Acho, no fundo, que Lovelock nos odeia, a nós, microscópicas criaturas que ameaçam, com a simples respiração, a tranquilidade de sua amada Gaia teórica.

Eis mais um caso de amor entre criatura e criador que se torna devoção, e por fim, religião.

Karl Max que o diga.

Um provérbio africano

Há um provérbio africano que diz:

"Toda manhã na África, a gazela acorda. Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões para sobreviver. Toda manhã um leão acorda. Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome.

Não importa se você e um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, comece a correr."

Há mais sabedoria nesse provérbio do que supõe alguns ditos dos mais sábios filósofos. Ele servirá de base para a análise de um tópico que considero que preciso fundamentar melhor em minha mente. Dado que o tema é vasto e espinhoso, o farei aqui, por escrito.

Aguarde.

Aliás, corra.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A segunda crise dos mísseis

Lendo sobre a tentativa de reaproximação dos Estados Unidos com Cuba, muito do que se lê na imprensa nacional se relaciona à bobagem de que isso significa a vitória de Castro, da esquerda latina ou coisa parecida. Mas acho que as interpretações nacionais estão eivadas de provincianismo e carecem de fundamentos geopolíticos. Afinal, brasileiros são míopes quanto ao que faz o mundo girar, e nossa imprensa, pobre de maneira geral, não está apta a tecer considerações além daquelas para as quais são regiamente pagas pelo sistema de apoio financeiro governamental. Quer dizer, esqueçam as opiniões locais. Elas são mera propaganda governamental, e nada mais.

Mas, curiosamente, li duas notícias lado a lado, e algo me pareceu óbvio, embora pudesse não parecer se as notícias estivessem separadas fisicamente no site onde as li.

De um lado, a notícia da tentativa de aproximação. De outro, a notícia de que Obama assinou mais uma medida de punição econômica contra a Rússia. Aparentemente, fatos desconectados.

Acontece que é sabido que o choque entre Rússia e União Europeia e Estados Unidos é uma briga de gigantes, onde todos os peões do terceiro mundo acabam sendo envolvidos, queiram ou não. Ora, a Rússia, na época da guerra fria, quase iniciou uma terceira guerra mundial exatamente por tentar colocar armas nucleares em uma Cuba recém-chegada ao comunismo. Os Estados Unidos evidentemente nunca pensaram em ter esse tipo de ameaça tão próximo. Logo, deu no que deu.

Agora, a poucos meses atrás, mas já sob sanção ocidental devido à anexação da Crimeia, a Rússia iniciou gestões no sentido de ter bases militares na América Latina, e mais especificamente em Cuba.

Ora, não é óbvio que para os Estados Unidos uma contramedida simples e barata seria simplesmente levantar o embargo e esperar a ruína dos Castro antes de que uma eventual base russa seja negociada e instalada?

Cuba e seu regime podem optar por ver a ilha inundada por um mar de capitalismo e se vincular aos Estados Unidos de tal modo que aceitar uma base russa em seu território seja inviável. Se aceitar a base russa, teremos uma segunda crise dos mísseis. E é exatamente esse cenário que os americanos desejam evitar, e a Rússia alcançar. Se alcançar, a Rússia só sairá de Cuba se a OTAN não entrar na Ucrânia. Simples assim.

Dado que a Rússia não tem uma economia forte a ponto de disputar com os americanos para ver quem paga mais por Cuba, resta aos americanos ver por quanto os Castro venderão sua ilha ao capitalismo. Se é isso mesmo, e os Castro perceberem a importância de suas decisões, eles pedirão um preço alto, muito alto.

Uma coisa é certa: quem pagar mais, leva. Nesse caso, acho que os americanos podem mais, mas nunca se sabe o quão altas as apostas podem chegar.

Lamento pelo jornalismo pago, mas não, Obama não quer o bem dos cubanos, ainda que possa ser intimamente um autêntico comunista. Como todo estadista em uma verdadeira democracia, ele não governa sozinho, não tem poderes para tomar decisões unilaterais sem aval de um congresso que é oposição, e ele pensa e continuará pensando somente nos americanos, seus compatriotas, e qualquer leitura diferente desta é mera retórica tendenciosa.

Veremos ao longo dos anos se é isso mesmo ou se essa minha leitura é fruto do mero acaso de duas notícias ocasionalmente alinhadas.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Aquecendo o motor da vida

Eu disse aqui que estava em um determinado momento de minha vida no qual eu sentia estar aquecendo o motor, arrumando minhas coisas, colocando a vida em ordem, enfim, me preparando para algo que eu parecia ansioso por ver acontecer.

O termo que usei, aquecendo o motor, faz referência ao mundo dos carros, ou dos aviões, e significa exatamente isto: preparação antes de uma ação maior e mais duradoura. Aquece-se o motor de um carro para que ele possa funcionar por um longo período de tempo e leve o carro aonde seu condutor assim o deseje.

Neste sentido, quando eu disse que aquecia o motor, eu quis dizer que eu estava colocando minha vida em ordem para entrar em uma rotina produtiva, na qual eu poderia fazer o que eu sempre desejei fazer.

Colocando a vida em ordem por quê? Ela estava em desordem?

Sim, nossa vida vez por outra, a minha vida, pelo menos, vez por outra passa por mudanças que fazem com que eu tenha que sair de minha rotina de planos e sonhos. Depois de um solavanco, é preciso tempo, paciência e algum trabalho para voltar a um estado de coisas rotineiro e propenso à produtividade duradoura.

Todo mundo tem sonhos, anseios, projetos para a vida à frente, para os anos que virão, e eu provavelmente tinha os meus sonhos quando fiz a afirmação do motor aquecendo, em 2004.

O que eu queria de fato fazer?

Não sei. Nunca soube direito que rumo dar à vida.

Quando menino, nunca tive grandes sonhos, até me apaixonar por aviões e desejar ser piloto, ou mesmo astronauta. Todo garoto já pensou nisso, mas nem todos levaram seus sonhos infantis adiante. Eu pelo menos tentei, e fui razoavelmente bem-sucedido. Mas não de todo.

Depois que vi que não poderia ser astronauta, nem piloto, descobri que não queria mais ser pobre.

Mas nunca havia feito uma afirmação contundente no sentido afirmativo. Não querer ser pobre é uma afirmação negativa, no sentido de que não implica em que eu queira ser necessariamente rico. Nunca disse que queria ser rico.

Mas, em determinado momento, aprendi que isso de desejos negativos não funciona muito bem na condução de nossa vida. Era preciso desejos afirmativos, do tipo: quero ser isso, desejo aquilo, quero ganhar X.

Não sei onde errei, mas parece que não consegui ainda descobrir, ou decidir o que fazer. Claro, faço muitas coisas na vida, mas nada que me arrebate, como o sonho de ser astronauta ou piloto.

Será que a força de nossa vontade é maior quando somos adolescentes? Se for, isso é fruto de nossa juventude ou de nossa imaturidade? Acho que é um pouco de ambos.

Quando amadurecidos, já adultos, não temos mais aquela garra que tínhamos nos nossos 18 anos. Eu me canso fácil, tenho sono fácil, quero dormir na hora certa e não tenho mais disposição de ânimo para arriscar grandes aventuras. Mas, mais que isso, ainda tenho forças. Trabalho muito, penso muito, estudo muito, me preocupo muito e consigo manter as bolas no ar muito bem, no malabarismo que precisamos fazer no dia-a-dia, com os nossos deveres e problemas. Acontece que também nos tornamos mais sábios. Nem tudo convém. Nem tudo é possível de ser feito. Nem tudo dá o resultado que imaginaríamos que daria se fôssemos jovens. Somos mais cautelosos, mais sensatos, menos ambiciosos, e isso é bom. 

Quando eu disse que aquecia o motor, eu certamente fazia menção a algo que sei que devo fazer, mas ao mesmo tempo sei que não é uma coisa fácil de ser feita.

Sou administrador de empresas, mas nunca exerci a profissão tal como ela deve ser exercida, como um profissional que atua gerindo um empreendimento no nosso mundo capitalista privado. Minha experiência nesse campo da vida é limitada, e sei que as coisas nele não são fáceis. Então, aqueci o motor, mas não fui em frente.

Por que fazemos isso, de dar asas a nossas ilusões para depois nos recostar em nossas poltronas quentes e reclamar a respeito de nossos sonhos não realizados, nossas vidas não vividas, nossas grandes oportunidades perdidas?

Eu preciso de uma resposta razoável para essa questão e mais, eu preciso decidir se aqueço o motor novamente, desta vez para uma jornada real, e não meramente imaginária.

Eu preciso de respostas.

Mothman ou o sobrenatural

Eu disse aqui sobre um filme que assisti três vezes. Trata-se de Mothman, um filme sobre o homem-mariposa, uma suposta criatura sobrenatural, estrelado por Richard Gere. Dado que esse é um grande ator, não estou falando de um mero filme de terror de categoria C. Estou falando de um filme que tem alguma consistência temática.

Não há exatamente nada de terrível no filme em si, mas há algumas passagens que me fizeram pensar um pouco mais sobre o estranho mundo em que vivemos.

Não é que eu acredite em monstros sobrenaturais. Eu não posso dizer que seja um crédulo no sobrenatural. Por outro lado, devo admitir que o mundo tal como o conhecemos hoje apresenta mais mistérios do que somos capazes de explicar satisfatoriamente. 

Então, não é uma questão de crença, mas de curiosidade a respeito das possíveis implicações que eventuais respostas a eventos tidos como sobrenaturais podem acarretar.

Historicamente a ciência tem sistematicamente demolido supostos fenômenos sobrenaturais ao longo dos séculos, e não podemos duvidar que mais dia, menos dia, ela acabará desvendando os que ainda restam sem explicação plausível.

Acontece que o registro de coisas estranhas no nosso planeta não para de ocorrer. O mundo continua a nos surpreender quase que diariamente com acontecimentos estranhos, alguns curiosos, alguns assustadores, alguns velhos conhecidos, outros novos e impressionantes, mas de qualquer maneira, acontecimentos que não podem ser explicados com facilidade por uma pessoa comum, e aparentemente, nem pela ciência atual.

Ora, se a ciência não pode explicar algo, o que o explicaria?

Somos forçados a procurar respostas em outras esferas do saber humano, e em geral, apenas explicações teológicas, mágicas, costumam apresentar alguma coerência que satisfaça nosso intelecto.

Dado o fato de que a ciência costuma explicar esses fenômenos mais cedo ou mais tarde, eu tenho a tendência de não procurar refúgio em explicações místicas ou teológicas, mas há casos considerados muito difíceis de serem explicados, ou cuja explicação mística ou teológica nos levaria a uma situação que a razão considera longe demais para se ajustar à nossa realidade.

Mas, além da mera curiosidade pelas explicações desses fenômenos, há uma razão maior para eu ter interesse no paranormal. É que a sociedade ocidental está direta ou indiretamente firmada na efetiva existência deles, e mais, a sociedade ocidental moderna lastreia-se na convicção de que a razão, a explicação para esses fenômenos é de ordem teológica. Logo, ou a civilização ocidental está errada de maneira quase estrutural, ou ela está segura de suas razões, e então, as possibilidades de entendimento do mundo são muitíssimo mais numerosas.

No fundo, no fundo, parece haver uma quase necessidade de que esses fenômenos sejam inexplicáveis pela ciência, e somente explicáveis razoavelmente pela teologia. Do contrário, todo um mundo de civilização desaba.

Se esse mundo desabar, e eu acho que em parte ele já desabou, fica um imenso vazio, que é muito difícil de ser preenchido.

Mas não temos certeza, nem eu, nem a ciência moderna.

Daí que o assunto é curioso, pertinente e urgente.

Se você ainda não se convenceu disso, eu de minha parte já me convenci, e darei minhas razões aqui, para quem quer que queira apreciá-las ou refutá-las.

Atrás do corre-corre do dia-a-dia, paira sempre uma dúvida, nas horas mais escuras e silenciosas de nossas vidas.

Eu me recuso a não enfrentar essa dúvida.

A solidão urbana

É curioso ler aqui que a dez anos atrás eu me sentia solitário, quer dizer, eu tinha poucos amigos quando morava em um bairro de Goiânia. Acontece que esse tipo de isolamento social, essa falta de amigos, é na verdade um sintoma de uma realidade que não posso contestar: viver em um ambiente urbano moderno implica em estar sempre fisicamente rodeado de gente, mas sempre social e emocionalmente isolado.

Já morei em cidades pequenas e grandes e sei do que falo. 

Evidentemente, sei que é possível de se viver em uma cidade grande e ainda assim ter muitos amigos, mas é muitíssimo mais fácil ter um monte de amigos em uma cidade pequena que em uma grande.

Se você estiver andando por uma rua movimentada de uma grande cidade e chegar a esbarrar em alguém, poderá chegar a pedir desculpas, trocar algumas palavras com a pessoa e ir em frente. Mas as chances de tornar a vê-la são ínfimas. Já em uma cidade pequena, certamente você não terá quase nenhuma situação que lhe ocorra de esbarrar em alguém, porque não são muitas pessoas circulando ao mesmo tempo em lugares movimentados. Em compensação, você passará a ver sempre os mesmos rostos a uma certa distância, e a rotina os fará conhecidos. Essa constância nos contatos, ainda que superficiais, pode não redundar em amizade necessariamente, mas acabará fazendo com que você se familiarize com as pessoas com as quais encontra ao longo do tempo, e mais cedo ou mais tarde, acabarão se tornando ao menos conhecidos, em uma cidade pequena.

Daí o senso de coesão social experimentado por moradores de cidades menores.

Mas isso é quase impossível em grandes cidades. Talvez, quem sabe, seja possível alguma coesão social nos locais de trabalho. Mas mesmo assim, é de se duvidar: trabalhei em lugares onde conviviam 200, 800, 1500, 2.500 e mesmo 4.000 pessoas. Isso significa que há mais gente aglomerada em um único grupo de prédios de escritórios que em muitas vilas e cidades pequenas pelo mundo afora.

Nasci em Tujuguaba, um vilarejo que creio que nunca teve mais que 1.000 habitantes em sua zona urbanizada e zona rural. Hoje, acho que a zona urbana de lá não possui mais que uns 700 habitantes. Todos se conhecem a um longo tempo. É bem diferente de um prédio com 20 andares imensos com 100 pessoas trabalhando em cada andar. A mobilidade de pessoas em um lugar assim é constante. Não se consegue consolidar mais que umas poucas dezenas de amizades, a maioria superficiais.

Em uma cidade grande como São Paulo, onde moro agora, ter um amigo morando em determinado local da cidade é o mesmo que tê-lo vivendo em outra cidade, ou mesmo outro estado, tamanha a distância física e social que separa as pessoas.

As pessoas apenas coexistem.

Se respeitam, é verdade. Se você trombar com alguém em uma esquina, terá um pedido de desculpas como o teria de um amigo, mas é só.

É a solidão das multidões.

E é preciso aprender a conviver com isso.

Florescendo


Eu disse aqui que os gregos antigos tinham por hábito dizer que certa pessoa do passado floresceu em determinado período da história grega, e não diziam que ela nasceu no dia x, do mês y, do ano z, como fazemos hoje.

Sei que eles usavam esse termo, florescer, porque li sobre alguns filósofos gregos antigos em uma coleção de livros sobre filosofia chamada Os Pensadores. Há um volume deles dedicado somente aos filósofos chamados pré-socráticos, porque viveram antes de Sócrates, o primeiro de uma série de filósofos de uma época de ouro da civilização grega, a cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo.

Hoje, não florescemos mais. Simplesmente vivemos de uma data x até a morte, quando então uma certidão de óbito dará até os minutos exatos de nossa morte.

Naquela época, a dos gregos, não havia um calendário tão bem elaborado quanto o nosso, nem relógios tão sofisticados ou precisos. Mas, mais que isso, creio que a civilização grega, e todas as outras mais que existiram antes da nossa, não davam assim tanta importância às minúcias do tempo. Não levavam assim tão a sério a exatidão das horas, do mesmo jeito que acho que há pessoas, sociedades e lugares que ainda hoje não dão essa importância.

Vivemos em uma época que a um grego antigo pareceria absurda. Um relógio qualquer que hoje todo mundo usa seria um objeto desnecessário também a qualquer outro povo do passado, tal como a um egípcio dos tempos dos faraós. Ele poderia nascer, florescer e viver sem se preocupar em saber se a hora do almoço seria antes ou depois do meio-dia exato. Simplesmente comeria quando tivesse fome, num momento do dia em que o hábito de sua sociedade determinasse aproximadamente que fosse o horário de comer e pronto.

Hoje, não florescemos, e sentimos fome sem poder comer, porque ainda não está na hora, embora tenhamos relógios perfeitos.

E não filosofamos nem construímos mais pirâmides.

Alguma coisa se perdeu ao longo dos séculos e de alguma forma, a simples inexistência da palavra florescer entre nós parece denunciar que o que foi perdido nos faz falta. 

Se o que foi perdido foi substituído pela tecnologia, e esta se gaba de ter nos dado relógios, acho que não foi uma boa troca.

Perdemos nosso florescimento e ganhamos a exatidão em nosso tempo de comer e morrer.

Bela troca.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O bem comum

Eu disse nesta postagem que andei pensando sobre socialização e como um blog pode atender aos meus próprios interesses pessoais, mas também aos interesses de meus eventuais leitores. Quer dizer, eu tiro algum proveito quando escrevo meus textos neste blog, e o benefício que obtenho relaciona-se com o prazer que sinto em escrever sobre assuntos que me agradam, a clareza que obtenho a respeito de determinados assuntos que acho relevantes, porque quem escreve sabe que é mais fácil ordenar as ideias por meio da escrita que por meio da fala ou de outro meio, como o simples pensar silencioso sobre elas.

Agora, que ganha com isso, com a leitura de meus textos, um eventual leitor?

Depende de quem lê.

Os seres humanos são únicos. Todos sabemos o quanto somos diferentes dos nossos semelhantes. Na verdade, nem sei porque somos chamados de semelhantes, se somos assim tão diferentes.

Somos um tipo de animal (e somos mesmo animais, quer gostemos disso ou não) que tenta entender a si mesmo, mas esse entendimento é muito difícil.

O que temos em comum com nossos semelhantes?

Somos, é claro, muito diferentes, mas temos também muitas semelhanças.

Não acho que ressaltar diferenças seja mais ou menos importante que ressaltar semelhanças. Mas parece-me que ressaltar semelhanças pode, à primeira vista, ter melhores resultados que ressaltar diferenças. Digo à primeira vista porque certamente há situações em que afirmar um diferença pode ser melhor que realçar uma semelhança. Creio que o contexto onde se dá uma comparação é que dirá se é melhor enfatizar semelhanças ou diferenças.

Qual a razão dessa pequena digressão a um assunto que aparentemente nada tem a ver com textos e blogs?

É que meus textos são públicos. E é preciso ter em mente que somos seres sociais. Estamos sempre influenciando e sendo influenciados pelos nossos semelhantes.

Alguém recomendará que eu não me preocupe com essa questão da influência entre seres humanos por três motivos:

1 - Ninguém está se importando muito com o que eu escrevo. Não devo me levar tão a sério assim. Não devo me dar tanta importância assim, porque as pessoas não são folhas ao vento, que mudam de opinião como mudam de roupa de acordo com o que leem em meu blog.

2 - Meus textos não são realmente convincentes. Eu não consigo mudar ninguém, ainda que me esforçasse para isso. Então, seria preciso aprimorar meus dons argumentativos, e deixar de subestimar as razões alheias.

3 - As pessoas não mudam da maneira que acho que mudam. Elas mudam, sim, mas não em razão de textos meus ou de quem quer que seja. Elas mudam muito lentamente por razões que a razão desconhece. Há mais emoção e irracionalidade nas decisões das pessoas do que supomos e mesmo se eu tentasse mudar as pessoas, não seria nem o primeiro, nem o mais esforçado e nem o último a tentar e fracassar, porque há muita gente tentando séria e esforçadamente fazer a cabeça das pessoas, mas não conseguem. Logo, não devo me preocupar com o que escrevo, porque meus textos não conseguirão (nem os textos de ninguém) provocar algum mal ou bem em quem quer que seja.

E eu sou tentado a dar certa razão a alguém que fizesse essas advertências a mim.

No entanto, pensando no assunto, eu devo lembrar a mim mesmo de que não me cabe disseminar o mal, e se for para deixar públicas minhas ideias, que sejam ideias que promovam o bem comum, que tenham um senso de utilidade, porque não vejo razão para agir diferentemente.

Quão a razão para promover o mal?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Escravidão química

Você fuma?

Você bebe?

Você usa cocaína? Maconha? Crack?

Você se considera livre das centenas de possíveis vícios por produtos químicos e livre de vícios psicológicos induzidos por produtos químicos?

Açúcar, gordura, sal, álcool: você está livre deles?

Escravidão química: pense nesse conceito, e em como ele é ao mesmo tempo tão presente e, no entanto, tão dissimulado, incompreendido, silencioso.

Pense na felicidade de ver-se livre definitivamente deles, para sempre!

Difícil?

Você não nasceu fumando. Seu pulmão nasceu livre.

Você nasceu puro.

Quem o corrompeu?

Quem o intoxicou?

Por que você aceita esse grilhão tão mansamente?

Você aceitaria que alguém o obrigasse a fumar um maço de cigarros todos os dias de sua vida?

Com o que se pareceria alguém que lhe exigisse tragar à força um cachimbo de crack? O quão aguerridamente resistiria a um ataque sórdido desses?

Quem nos envenena?

Você aceitaria trabalhar na Souza Cruz, Phillip Morris ou na, digamos, Ambev?

Você disse alguma coisa parecida com "drogas socialmente aceitáveis"?

Existe escravidão aceitável, do tipo psicológica ou química?

Existe meia droga?

Existe quase vício?

Existem "prejuízos físicos menores"?

Por que uma Souza Cruz ainda existe legalmente?

A liberdade legal pode permitir a liberdade de oferecer drogas a quem quer que seja?

As pessoas têm o direito de se autodestruírem?

Podemos proteger as pessoas delas mesmas?

Se não houvesse cordas, as pessoas se enforcariam?

Essas questões me intrigam.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A defesa e o ataque

Na medida em que os dias passam, as semanas passam, e os anos vão também passando, tento olhar para o futuro que nos espera e tenho sentido um certo temor, que considero não sem alguma justificação.

Eleições após eleições, além de outras grandes formas de consulta popular no Brasil, têm mostrado um país fortemente contrastado, para não dizer segregado, dividido ou polarizado.

Política não é um assunto fácil, de maneira que tentarei tecer minhas considerações sobre o tema com alguma cautela e simplicidade, buscando afixar-me em alguns marcos seguros, dos quais necessitarei para justificar meus temores.

Eu perguntei a mim mesmo: o que é a política? Por que a política?

A resposta simples é que a política é a forma civilizada de pessoas entrarem em acordo dentro de regras sociais, de forma a se evitar que as coisas sejam decididas pelos mais fortes, por meio de violência física.

Essa definição é muito parecida com a definição de Direito. De maneira também simples, podemos dizer que o uso de regras codificadas em lei e impostas a todos por um Estado é uma forma de se resolver as coisas sem o uso de muita violência. No mundo do Direito, o Estado pode, sim, usar da força física para fazer valer suas leis, mas somente em casos especiais bem delimitados.

Ora, a sociedade dita civilizada tem boas razões para buscar os mais diversos meios de resolver seus problemas sem recorrer ao uso da força física e da violência.

A sociedade humana, tal como a conhecemos, data de cerca de seis mil anos. Ao longo de tantos séculos, muito se recorreu à violência e à força, seja através de guerras, disputas entre sociedades, e ao assassinato, à escravidão, à pancadaria pura e simples do mais forte contra o mais fraco.

A realidade da violência não deve jamais ser negada entre seres humanos. Vivemos em uma época em que a violência direta de um ser humano contra outro é tida como coisa incomum e indesejável, punível e sujeita às mais graves recriminações. Aprendemos a conter a violência ainda no berço.

Mas, queiramos ou não, a violência é parte da vida, tal como a conhecemos em todos os recantos do planeta. Ela é tão real, onipresente e brutal que os meios de detê-la estão codificados em quase todas  as combinações de DNA que possam existir nos diferentes animais, plantas e organismos que a ciência conhece e estuda.

Não há ser vivo sem mecanismos de defesa contra ataques potenciais. Mesmo o mais indefeso e frágil dos animais possui em sua forma física, em sua aparência, em seu comportamento, em seu modo de existir, maneiras de se defender. Muitos seres vivos possuem ainda não somente os mecanismos de defesa, mas os de ataque, que lhe garantem a sobrevida, o alimento, a procriação e a perpetuação da espécie.

Na natureza, a defesa pressupõe o ataque.

A natureza humana também não é diferente. Somos dotados dos meios de defesa e ataque. Somos animais capazes de nos defender da ameaça de outros animais e da própria espécie. E somos capazes de atacar violentamente para conseguir nossos intentos. Essas considerações não deveriam ser surpresa para ninguém.

No entanto, vivemos em uma época em que nos consideramos civilizados. Dispomos de organização tal que a violência é inibida por diversos mecanismos, e não esperamos que a violência aumente, mas diminua constantemente no tempo. Esperamos que nos tornemos mais e mais civilizados.

Mas nem sempre as sociedades seguem destinos linearmente constantes rumo a um processo civilizatório, isentas de percalços, desvios, retrocessos e recaídas.

Poucas civilizações, se é que existiu alguma, seguiram processos históricos longos na mais perfeita paz e harmonia social.

Seremos nós brasileiros o povo dotado de habilidade social suficiente para não incorrer em episódios de violência social tais como guerras, revoluções, convulsões sociais e outros tipos de retrocessos?

Achamos que sim.

Achamos que somos um povo pacífico e harmonioso.

Achamos que tudo se resolverá da melhor maneira. Não achamos que as coisas irão piorar. Não temos razões para pensar diferente.

Ou temos?

Penso que não temos vivido grandes convulsões sociais tais como guerras, mas tivemos revoluções e temos índices de violência social sem paralelo em todo nosso passado.

Tivemos guerrilha em pequena escala em 1971, tivemos golpe militar em 1964, participamos em pequena escala da II Guerra Mundial lutando em território inimigo, e tivemos a guerra civil constitucionalista em 1932. Tivemos a revolução de 1930, e antes disso, outras convulsões menores que sequer lembramos de tê-las estudado nos livros e nas escolas. Nós tivemos longas décadas de relativa paz, é verdade.

O que a política teve de contribuição dada neste período todo?

Podemos dizer que as divergências sociais que poderiam ter dado motivos para o surgimento de episódios de violência mais contundentes foram adequadamente contornadas pelos meios políticos. Se não o foram pela política, como se solucionaram?

Divergências sociais desaparecem com a mera passagem do tempo? Em geral, somente a muito longo prazo. Em geral, convicções que dão razão a conflitos sérios são perenes, imutáveis, não sujeitas a acomodações definitivas. Há divergências que jamais são superadas. São, no máximo, apaziguadas, acomodadas pelas partes envolvidas, e a defesa somente abaixa a guarda quando morre o atacante.

Em um país com 200 milhões de habitantes, geograficamente desigual, socialmente desigual, economicamente desigual e culturalmente desigual, é espantoso que as diferentes facções que decorrem dessas inúmeras diferenças e polarizações tenham sabido contornar suas divergências. 

Se a política e o Estado, através de suas leis, têm sido capazes de contornar os conflitos até então, isso é questão em aberto que uma leitura mais atenta da história pode responder.

Já quanto à capacidade de contornar conflitos futuros, resta a expectativa de que sim, de que o Estado consiga contorná-los. A questão é: desejará contorná-los?

Em um momento histórico em que forças políticas deixam de apaziguar conflitos sociais e passam a estimulá-los, o que se pode esperar?

Dado que as forças políticas entendam que a melhor defesa é o ataque, o que se pode esperar?

Dado que os seres humanos não são animais que se submetem a ataques sem a devida revanche, que não se submetem sem muita luta, o que se pode esperar?

A relativa paz social das últimas décadas foi fruto da capacidade política das partes envolvidas em conflitos em transcender e achar alternativas à violência ou simplesmente foi o caso de que nos conflitos existentes, o atacante não teve força suficiente para representar uma ameaça à sua vítima potencial?

Vivemos décadas de paz porque tivemos instituições que souberam apaziguar conflitos ou tivemos paz simplesmente porque não houve conflitos? 

Eu prometo que vou tentar responder a essas questões.

Quão radicais foram os conflitos passados? Quão dividida esteve a sociedade brasileira em décadas passadas? Quem tomou a iniciativa de agredir quem? Quem intercedeu a favor ou contra quem e como a coisa foi resolvida sem um banho de sangue?

Eu disse banho de sangue? No Brasil, o país do samba, das praias e do futebol?

Precisamos entender nosso contexto atual. Não me consta haver garantia de paz social perpétua concedida a um povo qualquer que seja, por mais bela e alegre que seja a sua cultura e o seu passado.

O ataque, a agressão e por fim a violência é a decisão política extrema, um recurso final, mas nem sempre.

Onde está o agressor?

Quem é o agressor?

Quando ele agirá?

Ele já não está agindo?

Você às vezes não se sente socialmente agredido?

Pense bem.

Identifique o agressor...

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Desumanização do comércio

Você tem e-mail? Provavelmente sim.

Se tem, já deve ter recebido milhares deles.

Sabe quantos foram realmente enviados por pessoas de carne e osso e quantos foram enviados por softwares, programas automáticos de vendas ou robots comerciais e de mala direta on-line?

Não, eu não estou falando do fenômeno do spam.

Spam é mensagem não solicitada. Essas são também recebidas aos milhares, e em geral também são de origem automática, mas não é bem sobre elas que quero chamar sua atenção.

O que quero que perceba é que há um processo de desumanização das relações comerciais. 

Você compra de uma empresa que não tem pessoas te atendendo do outro lado de um balcão, de uma linha telefônica ou de um site. Você faz transações financeiras com máquinas virtuais, quando não com máquinas reais.

Um caixa eletrônico de banco é uma espécie de robot fixo em um ponto qualquer pronto a expelir ou engolir dinheiro real, além de registrar e transmitir dinheiro virtual dele para sabe-se lá onde.

Uma máquina vende ursinhos de pelúcia, se você conseguir pegá-los com uma garra complicada e imprecisa. Outra máquina vende refrigerante. E outra ainda vende flores frescas mediante o recebimento de algumas notas não tão frescas. Por fim, uma máquina abre e fecha uma cancela na entrada de um shopping center qualquer, lhe dá boas-vindas na sua chegada e recomenda que use cinto de segurança quando vai embora.

As máquinas estão se preocupando conosco!

Quantas ligações a call centers são de fato atendidas por gente de verdade e não por gravações mecanizadas?

É espantosa a expansão deste método de se fazer negócios.

Mas, há um paradoxo nisso.

Preferimos então o atendimento humano personalizado e caloroso?

Mas, onde há este tipo de atendimento hoje em dia?

Não aqui, no nosso confuso Brasil de 2014.

Em geral, somos pessimamente atendidos em quase todos os lugares. Pessoas realmente atenciosas e educadas não são facilmente encontradas em pontos comerciais comuns. Parece que o comércio só consegue contratar jovens mal educados que não sabem sequer para quem trabalham, nem o que vendem, nem onde estão, nem que somos nós, compradores, consumidores, que pagamos seus salários mínimos. Raros são os atendentes que são realmente profissionais naquilo que são contratados para fazer. 

Então, fica o paradoxo. O que você prefere: um e-mail com redação impecável enviado por um software, com um aviso de "não responder: esta é uma mensagem automática", ou um e-mail redigido por um humano, mas deselegante, cheio de erros de português, incompleto, inconclusivo e incongruente?

Quer saber?

Não prefiro nem um nem outro.

Mas, não decido nada, e como não temos muitas opções de escolha, parece que as máquinas vencerão!

Mas relaxe por enquanto: este meu texto ainda é artesanal, e tão autêntico quanto um pastel de carne, exceto que você não pode sentir cheiro algum e nem saber com quanta atenção e prazer eu o redijo e o ponho à sua disposição para que leia e tire as suas próprias conclusões.

E melhor: de graça!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Trabalho: a vida cronometrada

Nós, humanos, não somos amigos dos relógios.

Você pode gostar da aparência deles, pode pagar milhares de dólares por um Rolex ou outra marca famosa qualquer, mas certamente não o faz porque gosta de olhar as horas, os minutos ou segundos. Você, no máximo, gosta de objetos duráveis, bem feitos e que proporcionam status, mas não creio realmente que goste de ter sua vida controlada por um simples relógio, ainda que muito bonito e caro.

Não, nós não amamos os relógios.

Eu não os amo, definitivamente.

Mas a vida nos impõe obrigações, e precisamos dos relógios. De parede, de pulso, no celular, na barra de tarefas da tela do computador, nos painéis das praças e avenidas, no topo dos arranha-céus, em todos os lugares. 

Relógios são onipresentes.

Mas, há um tipo de relógio ainda mais maligno.

É o cronômetro.

Mas, quem precisa de um cronômetro, afinal?

Não eu, certo? Não nós, simples mortais trabalhadores. Nós nos contentamos com os relógios comuns. Alguns deles até têm funções de cronômetro, mas quase não as usamos. Não somos atletas, maratonistas, velocistas, nem procuramos ganhar alguma olimpíada contra nossos colegas de trabalho, certo?

Mas, ainda que eu nunca tenha sido muito amigo dos relógios, a vida foi ficando tão complexa ao longo dos anos que em determinado momento eu percebi que precisava de algum controle do tempo, alguma organização dos meus horários. Precisava primeiro de um calendário para anotar compromissos para os próximos dias, próximos meses. Sim, eles, os compromissos, entraram de vez na minha vida. Imposto de renda, manutenção do carro, troca de óleo, exames de saúde periódicos e outros afazeres mais demandaram um mínimo de organização. Afinal, quem já atrasou uma entrega de declaração de imposto de renda ou perdeu um prazo importante qualquer por esquecimento sabe do que estou falando. É melhor ter um calendário do que não ter.

Eu passei a usar um calendário no Outlook, no computador. Era uma maneira simples de manter-me atualizado com meus compromissos, e vez ou outra, eu recebia um aviso na tela do computador lembrando-me do aniversário de uma pessoa querida, ou lembrando-me de que precisava retornar ao dentista para uma revisão geral.

Mas, mais que isso, eu passei a usar o Outlook para distribuir coisas a fazer, tarefas em geral, ao longo do tempo. Eu deveria fazer o item A primeiro que o B, depois o item C e assim por diante. O item A seria demorado, de maneira que eu o faria em duas ou três etapas, mas entremeio a uma etapa e outra, faria os itens B e C.

O item A deveria começar no dia X por volta das Y horas.

Eu registrava tudo no Outlook e ele enviava-me um aviso na hora de começar A, B ou C.

Essa é a vida cronometrada.

Parece exagero, mas não é. Um dia desses eu vi o calendário de uma pessoa bastante atarefada no trabalho cuja dependência do calendário do Outlook é absoluta. Tire o Outlook dele e sua rotina de trabalho entra em colapso. E ele está longe de ser o único usuário que conheço que é dependente deste modo de trabalhar.

Algumas pessoas são mais organizadas que outras. Uns gostam de maior controle que outros. Há aqueles que são simplesmente mais atarefados que outros. E há ainda aqueles que simplesmente possuem um tipo de trabalho cujas ações são simplesmente descontínuas, fragmentadas, e que não podem trabalhar longas horas, longos dias nas mesmas coisas, na mesma rotina, sem idas e vindas a outros assuntos. Trabalho fragmentado requer um esforço de memória que seria desgastante sem o apoio de agendas e computadores. Essas ferramentas estão aí exatamente para isso. Afinal, temos que nos ocupar com coisas realmente importantes, e não podemos nos dar ao luxo de esquecer tarefas que não podem ser esquecidas. Esta é a realidade e não há muito o que se fazer contra.

Mas, um dia, eu percebi que podemos ter hora para começarmos uma tarefa, e dispomos de um aviso para isso. Vários avisos. Mas, é quanto à hora de pararmos?

Falarei mais sobre esta hora, mas não agora.

Agora, falarei sobre cronômetros.

O Outlook não nos diz a hora de parar. Não há nele, nem em nenhum outro relógio, nem mesmo naquele que fica em toda barra de tarefas de todo computador, uma forma de aviso que diga que um determinado tempo já tenha se passado. Quer dizer: ninguém se importou em avisar sobre o fim de um período de tempo. 

Eu estou falando de cronômetros.

Coloque um relógio qualquer para tocar em uma determinada hora. Essa hora será a hora de se iniciar um trabalho qualquer. Comece este trabalho qualquer, uma atividade qualquer, e apenas imagine que irá parar dentro de meia hora. Quem o avisará quando esta meia hora terminar?

Um relógio comum não o avisará. Um cronômetro, sim.

Então pensei comigo mesmo: em um mundo tão cheio de ideias e programas de computador, será que haveria um cronômetro em forma de software?

Pesquisei e descobri vários. Um deles é o 1Time.

Comece um determinado trabalho e programe o 1Time para avisá-lo em meia hora. Dispare a contagem regressiva dele e inicie o trabalho. Meia hora depois, ele aparece na tela e o avisa: pare! Sua meia hora de trabalho acabou!

Eu gostei desta ideia.

Comprei um cronômetro digital de verdade, um reloginho de plástico amarrado a um colar. 

Tire uma hora para fazer quatro tarefinhas diferentes a cada 15 minutos. Ajuste a contagem regressiva para quinze minutos e deixe o cronômetro interromper a primeira tarefinha para que você possa partir para a segunda tarefinha. Recomece a contagem regressiva com o cronômetro. E assim por diante.

Quanta bobagem, você deve estar pensando.

Sim, uma bobagem.

Mas, houve dias em que me embrenhei em estudos de maneira tão intensa e séria que precisei de um esquema desses para distribuir o tempo entre uma matéria e outra, para poder atingir meus objetivos, que eram ambiciosos e difíceis.

Esse período de vida cronometrada foi doloroso, mas funcionou.

Mas nós, brasileiros, não somos muito acostumados a esse tipo de proceder. É coisa de americanos isso, esse tal de trabalho duro.

A vida cronometrada não é um modo necessário, mas para certos objetivos, é a única vida.

A vida cronometrada, no final, compensa.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os lugares onde moramos

Tenho uma memória relativamente boa para algumas coisas, mas falha para outras.

Por exemplo: tenho mais facilidade para memorizar números do que nomes de pessoas. Se precisar, memorizo uma sequência numérica relativamente longa, com até uns doze dígitos, mas uma pessoa precisa falar seu nome para mim pelo menos umas três vezes até eu memorizá-lo razoavelmente bem. E, após alguns anos, esqueço o nome até mesmo de pessoas com quem convivi muito proximamente, como colegas de serviço e amigos próximos.

Mas essas são falhas de memória consideradas banais. Nossas memórias possuem muitas outras surpresas escondidas, além desta que citei, a de predileção por isso em vez daquilo.

Um caso interessante de surpresa é a rememoração. Quer dizer, é recordar algo que havíamos a muito esquecido.

O que isso tem a ver com o título do tópico, que fala sobre os lugares que moramos?

Tem a ver, como veremos, e muito.

Nós podemos nos esquecer de detalhes, mas certas memórias são tão amplas e consolidadas que dificilmente nos esquecemos delas. Um exemplo de acontecimento, ou período de tempo, ou lugar, do qual quase nunca nos esquecemos é dos lugares onde já moramos um dia.

Há pessoas que nunca se mudam de casa. Outras mudam de casa, mas não de cidade. Outras mudam de cidades, mas não de estado. Outras mudam de estado para estado, mas nunca deixam o país. E outras ainda que chegam a morar em dois, três ou mais países. Por fim, há os que são quase nômades e nunca fixam-se muito em um único lugar por muito tempo.

As razões que levam as pessoas a mudarem são variadas e não falaremos delas aqui e agora, embora sejam assunto muito interessante, como veremos.

O que importa é que nós nos lembramos muito bem dos lugares onde moramos.

Obviamente, nos lembramos porque estivemos nesses lugares tempo suficiente para que nossas memórias se consolidassem. Não esquecemos porque o lugar onde moramos está armazenado em nossas mentes por meio de milhares de outras pequenas memórias, em um complexo que não se apaga tão facilmente quanto, por exemplo, um número telefônico, que guardamos por alguns minutos e depois esquecemos completamente.

Mas, eis a curiosidade: apesar de ser uma memória complexa, a lembrança que temos dos lugares que moramos é ainda assim sujeita a uma lenta e seletiva degradação ao longo do tempo. E, com o passar dos anos, vamos esquecendo coisas menos importantes sobre o lugar onde moramos, embora não nos damos conta dessa erosão silenciosa e contínua.

Mas então, um dia, sem querer, topamos com um pedaço de papel qualquer no meio de nossas coisas e lá está nosso endereço completo, de um lugar onde moramos a quinze, vinte anos atrás.

Claro, nós nos lembramos perfeitamente dessa época. Afinal, o que são quinze anos em uma vida? Parece que foi ontem que mudamos de lá.

Mas, eu não me recordava mais do nome da rua. Sei como chegar ao endereço em que morava, mas não me recordava mais nem do nome da rua, nem do número, nem do nome do prédio, nem do andar, nem do número do apartamento onde morei. Mas há mais coisas anotadas no velho pedaço de papel: há um CEP, um número de telefone, o número de telefone do local de trabalho, que deixei também a longos anos atrás, e há o nome do porteiro, do proprietário do imóvel que alugamos, e todo um emaranhado de coisas que surgem de repente com aquele pedaço de papel, e que sem ele, jamais nos lembraríamos por nós mesmos.

Mas, eis que fica a dúvida: o que foi feito dessas lembranças?

Elas sumiram ou apenas estavam perdidas em algum lugar de nossas mentes?

Elas parecem sumidas, porque jamais nos lembraríamos delas por esforço próprio. Se alguém chegasse e pedisse que eu me lembrasse do número de telefone que tive a quinze anos atrás, eu não seria capaz de fazê-lo.

Mas, quando leio em um pedaço de papel o mesmo número, junto com o endereço e as demais informações que formam em seu conjunto todo um contexto que de fato existiu, estranhamente eu percebo que aquele número não é de forma alguma estranho. Eu o recito como um trecho de uma frase, como um trecho de uma música, e ele me parece bem familiar. A sequência de números não me parece de forma alguma uma sequência aleatória e desconhecida. Ela é familiar. Daí que parece que ela, a memória do número, não estava definitivamente perdida em minha mente, mas apenas desconectada do contexto maior, e assim estaria para todo o sempre, caso não tivesse a ajuda do pequeno pedaço de papel para fazer o trabalho de resgate desse fragmento desgarrado.

Que poder têm esses pedaços de papel de juntar como imãs as centenas, milhares de partes que formam a memória de nossos passados? Como se dá esse estranho fenômeno?

Não sei, mas aposto que isso também intriga os neurologistas, e certamente há mais gente interessada nisto do que apenas eu e minha curiosidade inesgotável.

Por onde andei?

Em que lugares morei?

Eu sei.

Morei apenas em um país: no Brasil.

Morei em três Estados: São Paulo, Goiás e no Distrito Federal.

Morei em oito cidades: Conchal, Araras, Guaratinguetá, Anápolis, Goiânia, Ribeirão Preto, Brasília e São Paulo.

Morei em vinte casas diferentes.

Vinte moradias em quarenta e quatro anos.

São vinte endereços diferentes para serem lembrados. Isso dá em média dois anos em cada lugar.

De repente, fica óbvio que não é fácil se lembrar de lugares onde vivemos por tão pouco tempo.

De repente, fica óbvio que é pedir demais de nossas memórias que permaneçam, apesar da pouca importância de certas informações.

De repente, fica óbvio que a surpresa do fenômeno da rememoração é uma coisa interessante, mas que ainda mais interessante é tentar saber porque mudamos tanto ao longo da vida.

Quer dizer: por que eu mudei tanto de lugar a longo da vida.

Cada casa tem um endereço. Mas cada casa tem um porquê de nela termos ido morar, e um porquê de termos de deixá-la.

A história de nossas mudanças envolve e engloba a história de nossos CEPs e telefones esquecidos.

Esquecer o passado é, mais que um fenômeno neurológico, um fenômeno sociológico: mudamos por questões que vão além de nossas forças, e nossos cérebros precisam ocupar-se com o viver do dia-a-dia, e simplesmente não podem dar-se ao luxo de guardarem coisas que não são mais importantes.

Fascina-me as causas de nosso esquecimento, mas fascina-me também o zigue-zague que empreendemos nos mapas, um zigue-zague errático e aparentemente sem sentido.

Atrás do que estamos quando partimos de um ponto a outro e comandamos a nossos próprios cérebros que deletem aquilo que não se faz mais necessário?

Não sei. Cada qual com sua própria história de vida, e com seus próprios motivos.

Quanto a mim, gosto de recordar velhos endereços. Eles fazem parte de minha história pessoal, e como disse por aqui neste blog várias vezes, o universo não é feito de átomos, mas de histórias.

Vinte lares ao longo de um vida.

Quantos mais experimentarei viver?

O que nos dará de diferente a vida que ainda deveremos viver?

Não sei.

Mas, certamente vinte lares significam vinte boas histórias.

O que sei ainda sobre meu passado e meus muitos lares?

O que sabe você sobre os seus?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O surgimento dos links

As pessoas que usam a internet hoje em dia podem achar que ela surgiu pronta, tal como está agora. Esta percepção deve ser muito forte entre as pessoas mais jovens, já que a internet pública, tal como a conhecemos, surgiu nos Estados Unidos em 1995, sendo popularizada de fato por aqui, no Brasil, entre 1996 e 1997.

Mas as coisas não surgiram prontas. Elas foram sendo aprimoradas ao longo dos anos.

Hoje, quase tudo está vinculado à internet, mas nos primeiros anos, não estava. Muita gente achava, por volta do ano de 1996, que tudo não deixaria de ser um modismo passageiro, embora muita gente via já a revolução que de fato foi seu surgimento e sua abertura ao público. Então, a tecnologia dos computadores, que já existia bem antes da internet, foi se adaptando aos poucos à rede, e vice-versa. Muita coisa da internet foi decorrência do que já havia nos computadores.

A coisa mais interessante na internet foi o surgimento das páginas www, com fotos, cores, browsers e o link.

Muita gente acha que o link foi uma invenção da internet, mas não foi.

Em 2012, na abertura das Olimpíadas de Londres, houve um momento épico em que uma casa se erguia do meio de um palco e dentro dela estava um senhor, um cientista, o pai da internet, Tim Berners-Lee, obviamente um cidadão inglês, recebendo as honras da casa e sendo mundialmente agraciado com a chance de ser consolidado como o verdadeiro pai da internet, quando sabemos que hoje em dia é tão difícil ser pai de qualquer grande invenção que mude o rumo da humanidade, como a teoria da relatividade, de Einstein, ou a descoberta da penicilina, como Alexander Fleming.

Tim Berners-Lee merece o honroso crédito de ter sido o pai das páginas www, mas não da internet em si. Mas como a internet só se popularizou devido às páginas www, as world-wide-web, então, sim, ele merece muito respeito pelo seu feito, mas o que quero abordar aqui não são necessariamente as www, mas especificamente um importante componente da maioria delas: o link.

Tim Berners-Lee não inventou o link. Ao menos não que eu saiba.

As www são feitas em linguagem html, ou linguagem de marcação de hipertexto. O que é um hipertexto? É exatamente um texto com hiperlinks, ou ligações entre diferentes textos, ou melhor ainda, são ligações entre diferente documentos, diferentes arquivos. Ora, já existiam outras formas de linguagem de marcação de hipertexto antes do surgimento da html. Berners-Lee teve sorte de desenvolver uma linguagem específica para a internet, mas não foi o pioneiro na criação da primeira linguagem com hipertextos.

Os links já existiam antes do surgimento da internet.

Um exemplo clássico do uso de linguagens de hipertexto é um arquivo de ajuda de um programa qualquer criado antes do surgimento da internet.

Palavras em um processador de textos qualquer, como o Word, o Wordpad, o Notepad, ou qualquer outro, são editáveis.

Textos editáveis são importantes e úteis, mas não para certos usos.

Por exemplo, não seria interessante que certos documentos pudessem ser editados por seus leitores, e um texto com informação de ajuda, um texto criado para ensinar por meio de exemplos e passo-a-passo é melhor que seja estático, não editável pelo leitor. Hoje em dia temos diferentes tipos de textos não editáveis, tais como as próprias páginas html, os pdf, etc., mas nos anos pré-internet, esses tipos de arquivos não existiam. Então, os desenvolvedores de programas de computador usavam o tipo de arquivo que quisessem. Como a Microsoft usava textos estáticos do tipo .hlp (de help) para seus arquivos de ajuda, esse modelo virou uma espécie de padrão na indústria.

Um arquivo de texto de ajuda do tipo .hlp é um exemplo clássico de hipertexto. Ele tem imagem, tem desenhos, e tem links.

Quem estava acostumado a ler textos de ajuda antes da internet surgir não se surpreendeu muito com os links em si. Eles já existiam.

Então, com o passar dos anos, foram se popularizando.

Hoje, quase todo programa que se preze permite a criação de links. O único que conheço que não permite ainda a criação de links é o Notepad, que trabalha com um arquivo de texto puro, sem hipertextos, padrão .txt (de text).

Pois bem, o pacote Office 2000 surgiu depois da internet. Era, portanto, de se esperar que sendo um produto de ponta da Microsoft, já contivesse programas que permitissem a criação de links facilmente.

Mas, como eu disse, a indústria dos computadores já existia antes da internet, e o pacote Office também. O Office 2000 era um desenvolvimento do Office 97. Quando se fala em anos de produtos, tais como Windows 95 ou Office 2000, tem-se apenas uma data aproximada de quando o produto foi lançado. Seu desenvolvimento deve ter-se dado muitos meses ou mesmo anos antes de seu ano de lançamento. Assim, o Windows 95 deve ter seu processo de desenvolvimento iniciado em 1990, e o Office 2000 em 1997, quando o Office 97 foi lançado. A indústria de desenvolvimento de softwares simplesmente nunca para. Se para, morre.

Em 1997, o Office 2000 estava em gestação. E a internet também. Aposto que a Microsoft se preocupou em aproveitar a onda emergente do surgimento da rede e capitalizar sobre ela. De fato, quase todos os produtos já permitiam criar links com a internet. Havia até mesmo um produto no pacote que criava páginas para a internet, que era o FrontPage.

Quando comecei a usar o Office 2000, interessei-me pelo Outlook, que gerencia e-mails, contatos, calendários e tarefas.

Gostei de criar tarefas, mas havia um problema: sempre que ia anotando alguma coisa no campo de texto que permite que façamos nossas anotações e detalhemos nossas tarefas, quase sempre precisava digitar nomes de sites, e-mails e outros endereços da internet. Ora, se eu digito um endereço qualquer da internet, é melhor que esse endereço seja transformado em um link automaticamente, como uma funcionalidade básica do programa que eu estou usando para editar meu texto.

Hoje, isso é normal. 

Mas não era em 2000, com o campo de anotações de tarefas do Outlook do Office 2000 da Microsoft.

Eu achei que aquilo era um erro, uma falha de aperfeiçoamento do projeto do Office inaceitável. Mas, por outro lado, estamos falando de Microsoft e Office, uma megaempresa e um megapacote de softwares. Não se pode ser perfeito em tudo. Eles simplesmente deixaram para depois um aperfeiçoamento para um problema menor, convenhamos.

Mas eu não pensei assim no momento, na época.

Eu anotei no próprio Outlook uma tarefinha que eu precisaria fazer para que pudesse colocar minha vida em ordem no futuro. Eu anotei assim em meu Outlook:

"Ver maneira de criar link entre tarefas e páginas da web."

Eu precisava descobrir uma maneira de criar links onde não era possível que eles fossem criados.

Isso foi no dia 10 de abril de 2000.

Agora, esse problema é irrelevante.

Até tenho uma cópia do Office 2000 em um notebook velho, mas quase não o uso.

E a criação de links automáticos é uma realidade no campo de anotações de tarefas do Office, e também do Outlook 2010.

Eu não tenho o Office 2010 em casa. Uso-o, no entanto, no trabalho. 

Em casa, uso o Office 2013, ou Office 365, totalmente integrado à internet.

São esses pequenos detalhes que mostram quem somos e como são as empresas líderes em seus negócios.

Certamente não fui o único a ter tido esse pequeno problema. Certamente a Microsoft já sabia dele antes de lançar o produto. Mas o corrigiu. Veja: não estou dizendo que o problema foi corrigido somente na versão 2010 do Outlook. É provável que tenha sido corrigido logo na versão seguinte, no Office 2003, ou mesmo no Office XP, lançado em 2001.

Não importa: links são coisas importantes, úteis e não podemos viver sem eles.

Creio que os ingleses fizeram bem em homenagear Tim Berners-Lee nas Olimpíadas.

Clicar em um link é um evento global.

Clicar em um link tem a força que marca as grandes descobertas e as gerações.

Seremos lembrados nos séculos futuros como a geração que criou os links.

Berners-Lee será ainda mais famoso.

Isso é bom, penso eu, e merece ser registrado.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Coisas perdidas em casa

Eu tenho pensado sobre como as coisas desaparecem dentro de nossas próprias casas.

Isso não deveria ser surpresa para ninguém, nem motivo de muita preocupação séria por parte de gente que não tem muito tempo a perder com as trivialidades da vida, mas mesmo assim, eu tenho pensado no assunto.

Aonde foi parar aquele objeto que você sabe que tem, que até viu um dia desses por acaso procurando uma segunda coisa desaparecida (que por sinal você também não achou) e que não se lembra mais onde foi que o viu?

Você procura A, encontra B, mas não A. Depois de alguns meses, resolve procurar B, não o encontra, nem encontra A, mas encontra C, que não está procurando, mas que irá procurar mais no futuro, e também não achará.

As coisas vão desaparecendo em sucessão misteriosa e agonizante.

Temos muitos milhares de pequenos objetos em casa. Duvida?

Comece a contá-los. Todos.

Sim, eles são milhares.

Um objeto pode parecer banal e sua perda ou ausência pode ter pouco impacto em nossas vidas, mas não podemos ignorar que objetos em geral cumprem certas funções para as quais eles passaram a existir, e suas ausências deixam um pequeno buraco negro em nossas rotinas de vida, queiramos ou não.

Como justificar um pé de meia sem o seu companheiro, desaparecido?

As coisas não vão parar dentro de nossas casas por acaso. Nós a levamos com uma intenção em mente.

Vá a uma loja de R$1,99 e veja como é fácil entulhar a casa de bugigangas, das menores, como pequenos parafusos e clipes, até grandes e incômodas, como bolas de ginástica e até mesmo esteiras de corrida.

Não levamos coisas para casa à toa, pode ter certeza.

E então, as colocamos de lado e esperamos um dia com tempo livre para podermos brincar com esses objetos, um dia que pode ser daqui a um mês, um ano ou uma década.

Mas, então, cadê a bugiganga?

O que afinal acontece com eles, os objetos que nunca mais encontramos? Haverá um duende brincalhão que esconde ou rouba nossos objetos esquecidos e depois buscados somente para rir diante de nossa frustração e de nossas mãos empoeiradas?

Creio que não.

Acho que é uma questão de organização.

Se você mora na mesma casa a décadas, está mais que familiarizado com cada fresta que há nela. Dificilmente um objeto passará desapercebido, exceto...

Exceto se você for desorganizado. Neste caso, quanto mais tempo morando em uma casa, maior tende a ser a bagunça.

No entanto, se se é organizado, cada coisa terá seu lugar, e haverá um lugar para cada coisa, e mesmo que se tenha muitos milhares de coisinhas em cada canto, inevitavelmente logo se terá um mapa mental com a localização de cada uma delas.

Mas, é muito difícil morar décadas na mesma casa.

E é ainda mais difícil montar um mapa mental de milhares de objetos em pouco tempo. Quer dizer, antes morava-se numa casa A e tinha-se uma certa organização, e um mapa mental A foi se formando ao longo do tempo. Mas, muda-se para uma casa B, que tem uma configuração física diferente, e os milhares de objetos são empacotados, desempacotados e armazenados em uma configuração tal que o velho mapa mental A não vale mais nada. Começa-se um mapa mental B, e ele vai sendo construído lentamente ao longo dos meses. Depois de dois ou três anos, ele está quase completo, exceto se você souber que dentro em breve terá de mudar novamente. Ora, por que se dar ao trabalho mental de saber onde se encontra 2.000 objetos que quase nunca usamos se precisamos saber a localização de apenas uns 200 objetos que usamos diariamente? Por que se preocupar com objetos que não iremos usar? Eles irão para um canto da casa assim que saem das caixas de mudanças, e ficam onde foram originalmente desembalados. Se não precisamos deles, e ainda por cima, iremos mudar dentro de mais dois ou três anos, por que se preocupar com eles?

Esses milhares de objetos que quase nunca usamos entram em um limbo mental, uma área cinza sem um mapa. Somente quando precisamos de um deles é que lembramos, primeiro, que o temos, e que não precisamos comprar outro, e segundo, que ele está em algum lugar naquele armário, em uma caixa verde que você usa para guardar botões e lâmpadas queimadas, mas que podem ser úteis para se fazer algum artesanato.

Só que não está. O objeto não está onde deveria estar, na caixa verde empoeirada, cheia de cacos de lâmpadas quebradas, que poderiam servir para se fazer enfeites, mas que agora são apenas pontas de vidros afiadíssimos, com aquele pó branco que, segundo a lenda urbana, caso venha a cair em uma ferida provocada por um caco desses, fará com que esta jamais venha a cicatrizar-se, numa espécie de pesadelo hospitalar inimaginável. A caixa verde não guarda o que você procura, está toda empoeirada, e o que você não procura se transformou de objetos inocentes em armas mortais prontas para lhe pregar em um dos dedos de surpresa.

Quem tirou de dentro da caixa verde o objeto que estava lá?

Ninguém.

Todos negam ter tirado o objeto, embora confirmem que o conhecem e que ele deveria mesmo estar lá.

Foi então obra de um duende?

Certamente não.

Você provavelmente o achará daqui a dez anos, na sua décima oitava mudança, quando resolver que já é hora de jogar fora, antes da mudança, aqueles malditos cacos de lâmpadas mortais.

O objeto estará lá, entremeio aos cacos, zombando de você.

Agora, pergunto a mim mesmo: onde foram parar as minhas chaves de precisão, que sei que tenho, mas que não acho de jeito nenhum? E aquele envelope enorme com a radiografia de meu crânio, que guardei para o caso de vir a ficar louco um dia desses? E mais: cadê o mini-teclado de meu handheld que nunca funcionou, mas que era parte dele e que não era para ser jogado fora de maneira nenhuma, embora que inútil?

Não sei.

Um dia, achá-los-ei.

Na próxima mudança?

Quem sabe?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As histórias de nossas vidas...

Eu disse certa vez aqui neste blog que as histórias de nossas vidas são garantias de nossa eternidade.

Mas elas não são.

Nossas histórias de vida, ou as histórias de nossas vidas, não fazem de nós eternos. Não no sentido como entendemos a eternidade de nossa consciência ou de nossa alma.

Eternidade de nossos corpos físicos é coisa fora de qualquer cogitação.

Mas, nossas almas sem um corpo não é algo que possamos cogitar também.

Então, sem um corpo, sem uma alma imaginável, o que de nós será de fato possível de se eternizar?

Creio que somente nossas histórias podem ser perpetuadas ao longo do tempo por meio de outras pessoas.

Somos rodeados de pessoas. Nós podemos desaparecer, mas continuar existindo nas memórias das pessoas que sobrevivem depois de nosso fim.

Não somos nós de fato que permanecemos. São as lembranças que as pessoas têm de nós que permanecem como se ainda estivéssemos por aqui, neste mundo material.

Somos fragmentados pedaços de lembranças esparramados por diferentes mentes, em diferentes lugares. Um quebra-cabeças que jamais se juntará por inteiro, porque há peças que jamais foram feitas. Há coisas que morrem conosco, que ninguém mais sabe, nem viu, mas que foram coisas importantes para nós, partes de nós significativas, peças deste quebra-cabeças sem os quais a imagem geral jamais é completa, ou sequer mesmo perceptível.

Mas, as pessoas que sobrevivem a nós também passam. E em poucas décadas, pouquíssimas gerações, não há mais peças.

Somos um desenho na areia.

Dói aceitar isso.

Escrever, no entanto, é um espasmo de esperança. Tal como um peixe fora d'água que saltita em um último esforço buscando voltar ao seu meio vital, nos esforçamos por meio de nossas obras, de nossas realizações, de nossas palavras, numa tentativa muito desesperada e irracional de permanecermos, apesar de nossa partida.

Nos empenhamos nisso com muita firmeza, com muita convicção, embora que sem muita consciência.

Nossos códigos genéticos podem perdurar em nossos filhos. Nosso senso estético pode perdurar numa sinfonia ou numa pintura, como perdura Mozart, Beethoven e Da Vinci. Mas não somos capazes de tão grandes realizações em uma tão curta vida.

Tenho 44 anos e faço incontáveis balanços em busca de alguma pepita perdurável. Sacolejo nos meus restos. Esmiúço meu lixo, meu legado de anos imprestáveis, anos desmanchados pela rotina, pela pequenez, pela sensatez e pela timidez que corrói as vidas como um ácido corrói uma vela.

As histórias de nossas vidas perder-se-ão no tempo. Nossos descendentes saberão o que foi um arquivo MP3, mas não quem o inventou. Pessoas passarão. Coisas, talvez. Haverá certamente os museus para elas, as coisas que causaram algum impacto em seu devido tempo. Para as pessoas, ficarão as lápides frias, com seus nomes incógnitos ao lado de datas sem sentido.

Aos 44 anos, não tenho forças para nada. Dizem os cientistas que começamos a envelhecer aos 27 anos. Logo, são já 17 anos de velhice em ritmo que se acentua em escala geométrica. Logo, serei senil. Logo, digo, dentro de mais 25 anos.

O que são 25 anos?

São muito, mas não são nada.

Minhas listas de coisas a fazer continuam cheias de coisas a serem feitas. E, aos 44 anos, parece que junto com a velhice é-nos dada uma certa coragem que nos permite, nos força mesmo a fazer o que vínhamos adiando por qualquer motivo que imaginássemos inventar. É preciso atacar a vida com a coragem dos ratos acuados, porque não há mais nada a perder. O conforto da segurança no seio do amontoado de anos de placidez e procrastinação não consola.

Não a mim.

Eu sei. Aos 44 pode-se ainda muito.


Mas não tanto.

Deus, dai-me a coragem para fazer da minha vida o que sonhei que ela fosse, ou para fazer dela o que Queres.

Entrego a um ser maior as minhas fragilidades.

Não, eu não creio por covardia.

Fala-me Ele por música, fala-me Ele por sons, em um código que é ininteligível a outros. Só a mim fala Ele da maneira que ninguém mais entende. E se Ele fala a outros, é-me ininteligível.

Quão misteriosas são as guinadas em nossas vidas.

Ao menos eu vejo guinadas onde outros podem ver um caminho plano ou um ser estacado, sequer se movendo rumo ao que quer que seja. Não importa. Eu s-i-n-t-o as guinadas. Logo, elas existem.

Por vezes é como se eu mesmo me conduzisse. Por vezes, é como se uma mão me conduzisse, e eu suponho seja Dele essa mão que me conduz.

Não, eu não creio por covardia ou preguiça.

As histórias de nossas vidas podem ser as garantias de nossas eternidades. A mão que me guia o faz por sons, e sigo a melodia de um Deus sonoro.

Enquanto percorro a trilha que já dura 44 anos, pergunto-me, confiante, se estaria eu deixando mais que o mero rastilho de lixo e passos obviamente vacilantes e erráticos na praia da existência humana.

Eu confio no que ouço.

Enquanto caminho, polvilho meus passos de letras.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Os manuais dos softwares e a Agência A4

Eu gosto de computadores. Tento usá-los no máximo de suas capacidades. Acho que cada software significa uma funcionalidade potencial para algo útil, e já que estão à mão, tento usá-los.

Softwares não são simples. Eles precisam de manuais. E ler manuais requer tempo. Então, já que temos computadores, temos também os softwares. E já que temos os softwares, temos também os manuais. E já que temos que ler manuais, é melhor que passemos a usar bem os softwares dos quais os manuais tratam, porque ler manuais toma tempo e requer muita paciência e perseverança. Por outro lado, um software sem um manual é quase inútil, e computadores com softwares que não sabemos usar são uma enorme fonte de desperdício de dinheiro e espaço.

Assim, desde que comprei meu primeiro computador, em 1994, tenho lido muitos manuais de softwares.

Quando comprei meu primeiro computador, eu usava um PC com processador Intel 386 com Windows 3.11. Era uma máquina nova, e o Windows vinha com um aplicativo de banco de dados bem simples, o Cardfile, que é o Arquivo de Fichas. Eu achava o máximo ter um ficheiro eletrônico, mas nem tinha o que catalogar nele, e o usei muito pouco. Eu já lera em livros de metodologia científica que eu poderia fazer fichas de livros ou trechos de livros para estudo, mas nunca as fiz. Por fim, devido a um incidente, perdi meu computador com Windows 3.11 e minha próxima aquisição foi um PC com Intel Pentium II e Windows 98.

Evidentemente, eu trabalhei com o Windows 95, mas nunca tive um micro somente meu com ele. De qualquer forma, tanto o Win 95 quanto o 98 vinham com um banco de dados de contatos pessoais chamado Contact, ou Contatos. E o Cardfile até poderia rodar, mas não vinha mais instalado como padrão.

O Contatos tinha e tem uma funcionalidade que é a de adicionar e-mails em sincronia com algum cliente de e-mail, tal como o Outlook Express ou o Windows Mail, programas antigos que usei antes de trabalhar com o pacote Office e o Outlook.

O arquivo que roda o Contatos chama-se wab32.exe e durante um bom tempo eu usei meu programa de e-mail sem me importar muito com a opção de salvar nomes de pessoas e seus e-mails no Wab. Vez ou outra uso e-mails. Não sou assim tão adepto deles. Eles são muito úteis, não há como viver sem eles, mas não tenho que interagir com tantas pessoas ou organizações em minha vida particular de maneira que precise enviar e-mails o tempo todo. No trabalho as coisas são diferentes, e trabalhando recebo e envio e-mails quase que a toda hora. Mas em casa, é diferente. Uma vez por semana dou uma olhada em minhas várias caixas de entrada.

Mas então, em 1999, assim que adquiri meu Pentium II rodando Win 98, percebi que ele não vinha com o pacote Office da Microsoft. Ora, se até meu velho 386 tinha Excel, Word, Access e Power Point, por que não tê-los agora com uma máquina tão mais moderna e potente?

O problema é que softwares são coisas caras, e eu sou uma pessoa honesta. Um pacote de aplicativos como o Office custa caro, e em 1999 eles eram bem mais caros e difíceis de se conseguir. Lojas de informática eram raras, e lojas normais, como cadeias de varejistas e livrarias não vendiam softwares e games como fazem hoje. Era preciso dinheiro e disponibilidade para tê-los em mãos em sua forma legítima, pagos a preço de ouro e com os discos originais do fabricante.

Então, eu adquiri, confesso (com dor no coração), uma cópia pirata do Office no mercado negro. Mas, pensando bem, poucos softwares eram até então originais. O Win 3.11 era pirata, porque quando comprei o meu primeiro micro, não veio nenhum tipo de licença tal como vem hoje quando adquirimos computadores em lojas. Eu não tinha documentação de quase nada. Eu imagino o prejuízo que os desenvolvedores de software levam com a pirataria mundo afora, se considerarmos que muita gente ainda faz cópias piratas de quase todo tipo de software, do Windows ao Office e tudo o mais.

É uma pena. Eu sei que Bill Gates já é rico, mas o que é justo, é justo.

Bem, instalei meu Office e ele era incrível. E já era época da internet. O win 3.11 não foi desenhado para o mundo online, mas os demais, sim. E o Office 2000 vinha com o Outlook, um cliente de e-mail muito bacana.

Eu tratei de estudar seu manual. Os demais membros do pacote, o Excel, Word, Access, Power Point, eu até já conhecia bem, mas não o Outlook.

O Outlook tinha suas próprias funcionalidades de gerenciamento de contatos. Ora, eu tinha já alguns dados em meu Contatos do Windows. O que fazer com ele e com meus e-mails? Continuar usando o Windows Mail e o Contatos ou migrar tudo para o Outlook?

Na dúvida, usei uma outra funcionalidade do Outlook que para mim, na época, me pareceu a mais fascinante: as tarefas.

Veja, um administrador de empresa adora gerenciar o tempo. E eu sou um administrador de empresas. Quando vi que poderia gerenciar tarefas no Outlook, tratei logo de aprender a lidar com essa funcionalidade e deixei contatos e e-mails de lado e fui criando minha lista de coisas a fazer.

A primeira tarefa que criei foi em 10 de abril do ano 2000. Está lá anotada: "transferir lista de contatos do Wab para o Outlook."

Eu anotei essa tarefa e muitas outras mais, e até hoje não utilizo em casa o Outlook para gerenciar e-mails. Uso o Windows Live Mail, que é o sucessor do Windows Outlook Express, que é o sucessor do Windows Mail, se não estou enganado em alguma coisa.

Quanto aos contatos, eu tive de importá-los em algum momento para o Excel, porque tive problemas com o Pentium II com Win 98 e passei a usar um micro marca Megaware com Windows Vista, e os dados do Win 98 ficaram perdidos, exceto que eu tinha backup deles em formato padrão Win 98, cuja extensão era .qic.

Então tive que rodar o Win 98 em uma máquina virtual da Sun para poder rodar o Windows Backup do Win 98 e extrair o arquivo de dados do wab32.exe e salvar em um formato mais fácil de trabalhar, em Excel.

Salvei os dados em .xls e pronto. Migraria os dados de contato do Wab para o Outlook manualmente.

Quais dados eu tinha nessa lista? 

Eram somente oito e-mails que eu salvara em algum momento no tempo, entre 1999 e 2007, ano em que comprei meu Megaware, que também veio sem Office original e que teve nele instalada a versão pirata Office 2000 de que já falei. Pelo menos eu não dei mais prejuízo a Bill Gates, me consolo.

Qual era o meu primeiro contato da lista?

Era o e-mail agenciaa4@bol.com.br.

O que isso significa?

Agência A4 é o nome de uma agência de publicidade supostamente aberta pelo meu irmão mais velho Ronaldo por volta do ano 2000.

Digo supostamente porque nunca a vi funcionando, e Ronaldo vive criando nomes para seus trabalhos. Ele é o que podemos chamar hoje de designer gráfico, o que antes era chamado de desenhista.

Em algum momento em 2000, ele resolveu abrir alguma porta comercial em Conchal, cidade onde nascemos e onde ele ainda vive, e resolveu batizar o lugar de Agência A4. 

O que é uma agência? Creio que era uma agência de publicidade, embora ele não seja publicitário. Não no sentido de que tenha feito uma faculdade de publicidade. E A4 é uma referência ao tamanho padrão de papel usado comumente no mercado. Papéis usados para todos os fins são padronizados de acordo com certos parâmetros, e levam as letras A e um número, que os distinguem em seus tamanhos. O A4 é o comum, usado nas impressoras laser e jato de tinta, mas pode ser usado para desenho artístico também. O A3 é um pouco maior que o A4 e o A5 são um pouco menores.

A Agência A4 existe ainda? Creio que não. Nenhuma porta que tenha sido aberta pelo meu irmão ao longo dos anos ficou mais do que um ano aberta funcionando normalmente, e a Agência A4 não foi exceção. Certamente fechou ainda no ano 2000.

E o e-mail no Bol?

Bem, mandei uma mensagem tendo agenciaa4@bol.com.br como destinatário e a resposta foi de que este não existe.

Não sei qual a política de exclusão de e-mails inativos do Bol ou outros provedores gratuitos, mas é certo que mais dia, menos dia, e-mails inativos acabam sendo fechados, e este não fugiu à regra.

Assim, não houve o que migrar do Wab para o Outlook quanto à Agência A4.

As coisas vão morrendo ao longo do tempo. Nossos projetos morrem, nossos e-mails morrem, nossas tarefas morrem, nossos computadores morrem, nossos softwares morrem. Com muito custo, mantenho dados antigos ainda legíveis em versões modernas.

Que nome podemos dar para essa tralha toda? Sucata digital? Trashware?

É o que veremos a seguir.