quinta-feira, 31 de outubro de 2013

As dúvidas de Kipling

A vigésima oitava pergunta que fiz, dentre uma série de quarenta e sete delas, em 2001, relaciona-se com um poema de Rudyard Kipling.

No livro "Como evitar preocupações e começar a viver", o autor, Dale Carnegie, nos apresenta um trecho de um famoso poema de Kipling, que transcrevo:

"Tenho comigo seis servos fiéis
(Eles ensinaram-me tudo que sei);
Seus nomes são O que, Por quê e Quando
E Como e Onde e Quem."

Essas são as dúvidas de Kipling.

Podemos aprender quase tudo o que desejarmos apenas sabendo fazer as perguntas certas. Ao menos é isto que sugere o poema, e o que sugere Carnegie, que o apresentou como um ensinamento em seu famoso livro.

Eu, enredado em minhas própria dúvidas, fiz a seguinte pergunta:

"Os seis W (ingleses) solucionam com segurança uma questão?"

Apenas como uma breve explicação, os seis W ingleses são os equivalentes em inglês a "o que", "por quê", "quando", "como", "onde" e "quem", isto é, "what", "why", "when", "how", "where" e "who".

Evidentemente, o poema é apenas ilustrativo. Ele nos remete à valorização da curiosidade humana, que não se contenta em manter-se em sua ignorância. Quer dizer, a curiosidade humana é humana apenas no sentido de que é tipicamente observada na espécia humana, o que não significa que seja comum a todos os seres humanos, nem mesmo, na realidade, é comum à maioria dos humanos. Pensando bem, a curiosidade somente é um valor a ser admirado porque é relativamente raro, e só admiramos os genuinamente curiosos porque a humanidade em geral é indolente, complacente e apática com relação ao mundo que a rodeia e seus infinitos mistérios e segredos. 

O hábito da curiosidade pode ensinar àquele que pergunta, e de pergunta em pergunta, o curioso acaba sabendo mais do que o indolente, e por saberem mais, são os curiosos que movem o mundo. E sendo os curiosos tão poucos, por isso tão lentamente avança a humanidade.

Mas não é esta a questão aqui.

A questão principal é a de saber de quantas maneiras posso questionar algo a respeito do qual tenho alguma curiosidade. São apenas seis perguntas? E se forem? E se eu as responder todas, terei minha curiosidade satisfeita?

Não, respondo agora. As dúvidas de Kipling são apenas alegorias. Não sabia de nenhum método para abordar minhas dúvidas, e nunca havia pensando em contar de quantas maneiras podemos fazer nossas perguntas, e um número tal qual seis pareceu-me bastante grande para satisfazer um curioso moderado.

Quão ingênuo eu era naquela época!

Mas não tanto assim. O poema de Kipling possui um encanto que faz despertar um poder oculto até então ignorado. Esse poder, o de questionar algo como que munido de um conjunto de pontos de vista especiais, eu não sabia que o tinha. 

Há algo de interessante ainda com relação ao poema. Ele provavelmente proporciona uma excitação seletiva. Quer dizer, ele somente é excitante para as pessoas que são naturalmente curiosas. Para os indolentes, ele nada significa. É um mero relato de um aspecto menor da personalidade de Kipling. Mas, para os curiosos, ele faz sentido, porque os curiosos sabem que é somente fazendo perguntas sobre tudo que eles poderão satisfazer a fome de conhecimento que os consome. E, para mim, um curioso, ele fez sentido.

Pensem nisto: seis perguntas diferentes, seis pontos de vistas distintos sobre um mesmo objeto. Mas, por que apenas seis, perguntei a mim mesmo? Por que não mais? Por que não uma lupa, uma pá, um microscópio, como ferramentas para se examinar, escavar, desnudar aquilo que tenho diante de mim sobre o qual pouco ou nada sei, e que me atiça, desafiando-me a conhecê-lo? Por que não ir mais fundo e saber ainda mais sobre o objeto de minha dúvida até ao ponto que o domine em seus mais recônditos segredos? Por que se contentar apenas com seis perguntas e seis respostas, se posso saber infinitamente mais? 

Mas, como?

Eu não sabia a resposta para este "como" na época. 

E por isso, continuei perguntando, perguntando, perguntando.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tateando...

Tratarei agora da vigésima sétima pergunta, dentre a série que fiz em 2001. Nesta questão, tateio em torno da Lógica, um ramo do conhecimento o qual eu não conhecia, ou melhor, conhecia apenas superficialmente.

Na busca por ferramentas mentais que me ajudassem a ler um texto e questioná-lo sem risco de ser ludibriado por argumentos enganosos, eu fazia minhas perguntas, baseadas no que eu supunha ser apenas bom senso.

A pergunta que fiz foi:

"A inversão, a negação e outros recursos podem ajudar no entendimento de uma questão?"

A razão da pergunta é que parecia-me que, tal como na Matemática, certas formas, certos enunciados, que parecem ser verdadeiros à primeira vista, são desmascarados em sua falsidade mediante o simples procedimento de negá-lo, invertê-lo ou reescrevê-lo de uma nova forma.

Eu não sabia nada sobre Filosofia, e nunca lera nada sobre o assunto, nem mesmo textos elementares, infantis ou didáticos. Nunca tivera aulas de Filosofia nem no segundo grau, nem na faculdade. Eu simplesmente não sabia como abordar o problema da maneira correta.

Em um momento futuro, por uma questão de acaso e sorte, vim a achar a ponta do fio que serviria para desenrolar este problema. Porém, esta é uma história à parte e a contarei em um post específico, no futuro.

A resposta à pergunta é que, sim, há maneiras de se entender melhor uma questão, ou mais especificamente, uma afirmação, usando-se de técnicas de organização da frase, comparações, negações e coisas do tipo, mas esse trabalho requer algum conhecimento básico de Lógica, e não entrarei em detalhes aqui a respeito deste assunto tão árido, embora que importantíssimo e fascinante.

Como disse, eu estava tateando em torno de um núcleo de um ramo de conhecimento que eu sentia que me faltava. A coisa estava no ar. Eu a farejava. 

Enquanto isto, continuava a perguntar a mim mesmo sobre coisas que eu não sabia, mas que precisava saber.

Logo, fiz a pergunta seguinte.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A apresentação da informação

A vigésima sexta pergunta da série que fiz em 2001 é de cunho filosófico também e se relaciona à Teoria da Informação. Dentro de um contexto no qual sou cético em relação ao conhecimento que nos é transmitido por meio de livros em geral, e livros de autoajuda em particular, faço um conjunto de perguntas a respeito da veracidade das afirmações de autores em geral, e busco um meio de saber se essas afirmações são confiáveis ou não.

Então, olhando diferentes informações, de diferentes autores, percebi várias coisas, mas duas em particular chamaram a atenção. A primeira coisa que percebi sobre afirmações em geral é que elas podem ser compactadas.

A segunda coisa que percebi é que diferentes afirmações, ou mais exatamente, diferentes sentenças, querem dizer a mesma coisa, ou quase a mesma coisa.

A primeira descoberta, a da capacidade de se compactar mensagens, se deu em razão de uma recomendação feita por Dale Carnegie em seus livros clássicos de autoajuda, "Como fazer amigos e influenciar pessoas" e "Como evitar preocupações e começar a viver". Ele nos orienta a ler um capítulo e a tentar sublinhar a ideia central deste capítulo, como uma forma de exercício de memorização e focalização de aprendizagem.

Ora, sabemos que qualquer texto possui uma quantidade grande de informações, mas sabemos que muito do que é dito é redundante, e muito do que é dito é colateral, secundário ou mesmo irrelevante.

Se usarmos as técnicas corretas, conseguimos reduzir um texto grande a um texto bem menor, mas sem perder a essência de sua mensagem ou seu conteúdo. Em última instância, podemos acabar com uma forma de informação que se resuma a uma frase, ou mais exatamente, uma sentença. Exemplos de sentença que contém informação em estado quase puro são os ditados populares. Ainda que veiculem metáforas ou aparentem jocosidade ou um humor cultural típico, eles trazem alguma lição temperada ao longo dos séculos de circulação entre diferentes povos ou gerações. Mas, por excelência, temos na Filosofia o campo onde as sentenças são mais lapidadas e compactas. Sentenças filosóficas são diamantes de informação.

Acontece que a partir do momento em que passamos a reduzir textos e capítulos de livros às suas essências, acabamos coletando frases compactas que são límpidas o suficiente para que possamos compará-las entre si, e após algum tempo examinando-as e comparando-as, percebemos que muitas delas tratam dos mesmos assuntos, ou pelo menos abordam os mesmos assuntos sob diferentes pontos de vista.

Mas, daí, não é incomum que encontremos duas sentenças que tratam do mesmo assunto e que são exatamente opostas uma em relação à outra, de maneira que percebemos que há sutilezas no sentido das palavras, sutilezas essas que fazem com que admitamos que a linguagem escrita, ou a falada, possui um grau de ambiguidade que é difícil de ser eliminado. Por vezes, percebemos que estamos falando do mesmo assunto, ainda que por meio de frases que possuem aparências bastante distintas.

Assim, duas frases com palavras distintas podem estar dizendo a mesma coisa, e uma delas é, por consequência, redundante.

Mas, como há milhões de frases em milhões de livros, é de se supor que grande parte de todo esse universo de letras seja redundante, ou secundário, ou supérfluo, e que apenas uma pequena parte seja efetivamente portadora de informação relevante que mereça o foco de nossa atenção. Mas, ainda assim, esse pequeno percentual pode ser ainda mais reduzido quando percebemos que várias sentenças diferentes portam a mesma carga informacional, e portanto, apenas uma delas é importante, e as demais, descartáveis.

Pensando assim, perguntei:

"De quantas maneiras diferentes podemos apresentar uma mesma informação?"

Lerei milhões de frases ao longo de minha vida, mas quais delas realmente importam? Vasculharemos arduamente cordilheiras de palavras com o correr de nossos olhares para termos no final meia dúzia de pepitas informacionais daquelas que brilham no escuro, compensando nosso esforço despendido?

A resposta a essa minha pergunta não é fácil.

Por um lado, sabemos que uma mesma informação pode ser apresentada por meio de mais de uma maneira, ou forma, ou sentença. Mas isso não significa que há infinitas maneiras de se apresentar uma mesma informação.

Claro, há nas diversas línguas conhecidas, vivas ou mortas, milhares de diferentes palavras, cada uma delas com algum grau de ambiguidade, com uma única forma física em um dicionário, mas com diferentes sentidos em diferentes contextos. Ora, as combinações entre palavras são infinitas, mas nem todas as combinações possuem algum sentido, e é muito pouco provável que combinações que façam sentido possuam o mesmo significado informacional.

Eu diria que uma mesma informação pode ser apresentada de diferentes maneiras, por diferentes sentenças, mas não posso dizer um número aproximado que indique quantas sejam essas sentenças. Uma frase tal como "seu pior inimigo é você mesmo" pode ter seu sentido expresso de outras formas. A mensagem central aqui é que a mente de um ser humano é seu maior obstáculo. Ora, uma segunda frase, tal como "conhece a ti mesmo", não se trata exatamente da mesma informação, mas pode-se afirmar sem medo que a primeira sentença está contida na segunda, ou que a primeira não existiria se se aplicasse o comando da segunda, e assim por diante.

Não sei de quantas maneiras diferentes podemos apresentar uma mesma informação. Talvez, sendo sensato, posso dizer que podemos nos dar ao trabalho de compilar frases que tratam de um mesmo tema e acabar descobrindo que diferentes autores disseram a mesma coisa por meio de uma centena, duas centenas, cinco centenas de maneiras diferentes.

Não importa.

O que importa é que tenhamos a consciência de que as palavras são ambíguas e a linguagem é rica em recursos tais como as metáforas, de forma que devemos ter em mente que embora haja infinitas maneiras de se expressar certas informações, ainda assim a mente humana não é capaz de descobrir, ou deduzir, ou apreender infinitas formas de verdade. Há um limite para o raciocínio humano, e em geral, duas ou mais pessoas pensando profundamente sobre um determinado assunto podem chegar, e em geral chegarão, aos mesmos resultados, às mesmas conclusões lógicas, às mesmas verdades possíveis de serem apreendidas, embora expressarão essas verdades de diferentes formas, e tão diversas quantos forem essas pessoas, ou seja, é possível de se dizer que quanto mais pessoas estiverem envolvidas no ato de expressar uma determinada verdade, fruto de um raciocínio lógico e personalizado, maior será a probabilidade de que expressem uma mesma verdade de maneiras diferentes.

Dito isso, sigamos em frente, acautelados de que não devemos nos surpreender diante da reinvenção da roda ao longo das infinitas frases, porque não há aí nenhuma má fé, mas apenas diferentes formas de se ver o mundo e de se expressar. É surpreendente que se reinvente a roda, mas é ainda mais surpreendente que todo dia alguém se pegue gritando o seu "Eureka!" por ter, afinal, tido sua chance de ter descoberto a sua própria roda, sim, a mesma, tal qual a todas as que já foram inventadas.

Por vezes, devemos considerar a possibilidade de que nós, humanos, temos o dever de reinventar a roda, e ter esse processo com um rito de passagem intelectual do qual não podemos, nem queremos, abrir mão.

Que seja.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ah! Entendi!

A vigésima quinta pergunta da série que fiz em 2001 também já foi respondida pelas postagens anteriores, em parte aqui, e em parte aqui.

A vigésima quinta pergunta é a seguinte:

"Quantos níveis são razoavelmente necessários para responder o que gostaríamos de saber inicialmente?"

Neste caso, nível aqui quer dizer quantidade de perguntas do tipo "por quê?" aplicadas a uma cadeia de afirmações do tipo: afirma-se A, pergunta-se por quê A, responde-se A porque B, pergunta-se por quê B, responde-se B porque C, e assim sucessivamente, até que uma dada afirmação X satisfaça aquele que pergunta.

A resposta é que os níveis necessários vão depender do quanto o assunto é complexo e do quanto quem pergunta sabe sobre o assunto.

Assim, quanto mais se sabe sobre um determinado assunto, menos se pergunta, e quanto mais complexo um assunto, mais níveis de conhecimento agregado há nele, de maneira que seu domínio envolve um conjunto maior de perguntas a serem respondidas.

Por fim, depreende-se que não há como dominar um assunto complexo sem ter de fazer incontáveis perguntas do tipo "por quê?", até que toda a cadeia de afirmações que sustentam as afirmações finais sejam evidentes para aquele que estuda o assunto.

Por quê? Mas... por quê?

A vigésima quarta pergunta da série que fiz em 2001 foi praticamente respondida na pergunta anterior.

A vigésima quarta pergunta é a seguinte:

"Quantos níveis de 'por quê?' devemos e podemos fazer para uma afirmação?"

Faço apenas a ressalva de que, tal qual a pergunta anterior, esta pergunta, e consequentemente a resposta, não refere-se apenas a uma única afirmação, mas a uma cadeia de afirmações logicamente encadeadas ou interconectadas, de modo que uma afirmação é justificada por outra até que se tenha uma afirmação evidente para aquele que questiona.

A resposta é simples. Podemos fazer tantas perguntas "por quê?" quantas quisermos para uma sequência de afirmações, mas na prática, paramos com as perguntas quando aceitamos uma afirmação como evidentemente verdadeira e convincente. Quantas perguntas devo fazer? Depende do quão complexa for a primeira afirmação, ou quão pouco eu saiba sobre um determinado ramo de conhecimento, uma vez que o que é uma afirmação óbvia e convincente para quem conhece o assunto pode ser uma afirmação que não faz nenhum sentido para quem pergunta sem conhecer o tema.


Em geral, quando se estuda algum ramo do conhecimento científico tal como a Matemática, ou a Biologia ou a Astronomia, um leigo precisa elaborar um número muito grande de perguntas para que obtenha uma afirmação que seja simples e óbvia para o seu nível de conhecimento. Já um especialista no assunto precisa fazer no máximo meia dúzia de perguntas para dar-se por satisfeito.

Já quando há assuntos menos complexos, e talvez a psicologia aplicada por meio da autoajuda seja um desses, então mesmo um leigo pode sentir-se satisfeito com uma resposta que demande meia dúzia de perguntas do tipo "por quê?".

Evidentemente, este tipo de pergunta não é o único que uma pessoa pode fazer a respeito de uma afirmação, mas este é um problema para outra postagem.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Aprendendo a perguntar

A vigésima terceira pergunta que fiz dentre uma série delas feitas em 2001, as quais venho tentando responder neste blog, é a primeira do tipo filosófico ou lógico. Até então, minhas perguntas eram de caráter psicológico, ou existencial, mas não filosóficas.

A pergunta que fiz foi:

"Quantos 'por quê?' podem ser feitos para uma mesma afirmação?"

Esta pergunta reflete a minha tentativa de buscar uma maneira coerente de questionar o mundo e as afirmações que a literatura nos oferece, e é uma demonstração clara de meu despreparo à época para empreender um modo de pensar sistemático e eficaz para analisar as alegações dos diversos autores de autoajuda, dentre outros, que eu andava lento, mas que não era capaz de confirmar ou contestar de maneira formal e completa.

Eu nunca havia lido nada sobre Filosofia antes. Em 2001, minha maior excursão dentro deste vasto território desconhecido limitava-se à compra de um livro sobre a história da Filosofia. Fora um livro não didático, não sistemático, mais um catálogo de temas, épocas, escolas de pensamento e nomes de filósofos que não faziam o menor sentido para mim, que nunca tinha visto o tema antes. Eu estava apenas tateando o terreno, e, sem uma maior orientação, acabei comprando um livro inadequado que mais atrapalhou do que ajudou, porque acabou criando uma imagem que confirmava o estereótipo de que Filosofia era um tema etéreo e difícil. Foi o primeiro, embora não tenha sido o único livro de Filosofia que eu tenha tentado estudar, que não foi uma escolha feliz em termos de didatismo e aprendizado. Evidentemente que não desisti nem do tema nem das dificuldades dos livros e nem de enfrentar outras abordagens didáticas, de maneira que mais tarde aprendi alguma coisa sobre o assunto, mas na época da pergunta, em 2001, eu era completamente cru em relação a ele. Cheio de pré-concepções leigas e estereotipadas, eu fugira do tema por longos anos, como quem foge de algo desnecessário, tal como a extração de um dente ciso que está lá, no fundo de nossas arcadas dentárias, mas que mais cedo ou mais tarde teremos que extrair por um motivo ou outro. Enquanto não for preciso, deixamos o dente quieto, fugindo do trabalho necessário, mas por vezes inevitável. Filosofia, só ouvira falar, e achava melhor deixar de lado. Coisa de gente doida.

Falarei mais sobre o que eu pensava que fosse a Filosofia antes desta questão, mas não agora. Deixarei para um momento posterior porque pretendo fixar-me nas 47 questões de minha Agenda Ecológica de um maneira cronológica e definitiva. Em determinado momento, adentrar-me-ei neste assunto fascinante e polêmico.

O fato é que pela primeira vez em minha vida eu sentia a necessidade de dominar um conjunto de conhecimentos que me seriam úteis no direcionamento e condução de minha vida de uma forma muito íntima e séria. Eu não estava estudando Filosofia. Originalmente eu estava estudando Psicologia aplicada, ou autoajuda, para ser mais simples e direto. Mas, de forma alguma eu imaginava que teria que duvidar das lições com as quais eu me deparava nas minhas leituras naquele momento. 

Mas, não se pode brincar com o destino de nossas vidas. Eu não poderia seguir cegamente uma determinada orientação sem algum questionamento. E eu não sabia questionar. Algo parecia me dizer que uma determinada afirmação não me parecia correta, mas eu não era capaz de verbalizar, nem diretamente, nem por escrito, aquilo que eu sentia intuitivamente ser um argumento contrário àquela afirmação. Faltava-me um ferramental teórico que me permitisse discordar de, ou concordar com ideias de diferentes tipos, para minha própria segurança na condução de minha vida.

Dando uma olhada na pergunta, percebemos que ela foca na contestação de uma afirmação com base no questionamento de suas causas.

Alguém afirma A, e antes de eu concordar ou contestar A, eu pergunto, igual a uma criança, o porquê de A. Este alguém me responde justificando o porquê de A usando uma afirmação B. Eu torno a questionar o porquê de B, e assim sucessivamente. No final, quantos "por quê?" eu posso fazer para uma mesma afirmação? 

Ora, olhando calmamente a pergunta agora, neste momento, com a calma que uma resposta correta demanda, eu responderia que no final, só posso fazer uma única pergunta do tipo "por quê?" a uma dada afirmação, porque no momento seguinte, quando uma razão para esta afirmação me é dada, ela o é em forma de uma segunda afirmação, e neste caso, quando faço o meu segundo "por quê?", já o faço para a afirmação B e não mais para a afirmação A, que já foi respondida na forma de B. E assim sucessivamente.

Mas não foi este o sentido de minha pergunta. Se me permito reformular a pergunta corretamente, o faço para que a mesma fique da seguinte forma:

"Quantos 'por quê?' podem ser feitos para uma cadeia de afirmações sucessivas e interconectadas?"

Desta maneira, consigo fazer a pergunta refletir aquilo que eu buscava perguntar naquele momento, quando formulei a pergunta original.

Ora, teoricamente, posso fazer quantas perguntas "por quê?" eu quiser. Na prática, cada pergunta busca uma resposta que objetiva suprir uma dúvida pessoal, e não é meramente um questionamento movido pela teimosia, birra ou tentativa de irritar aquela que afirma A, depois B e depois C. Não sou uma criança que pergunta abusadamente tirando proveito da boa vontade e paciência de meu professor. Não se trata disto.

O que eu percebo na prática é que há determinadas afirmações que são consideradas básicas, elementares demais para serem questionadas. Era isso que eu queria saber na época, e que só vim a saber quando estudei Lógica. Eu parecia saber intuitivamente que há premissas dadas como evidentes, tais como as premissas da Geometria de Euclides, onde partimos de um ponto, depois seguimos para uma reta, para um plano, e assim por diante, sem ter que questionar o que é um ponto, tido por todos como evidente demais para ser questionado.

A resposta mais adequada à pergunta reformulada, que trata agora de cadeias de afirmações e não mais de uma única afirmação, é de que posso, ou melhor, devo fazer tantas perguntas "por quê?" quantas forem necessárias para que eu chegue a uma afirmação X tal que seja para mim óbvia, evidente e clara, e que acabe por me convencer de que A decorre desta afirmação X, e que em função de X, que eu concordo, eu acabe por concordar, pelo menos parcialmente, com A, já que A decorre indiretamente de X.

Ah! A lógica! Como ela me fazia falta!

Minhas dúvidas de Lógica persistiram.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pontos de vista

A vigésima segunda questão, dentre as muitas que fiz em uma série, em 2001, em muitos aspectos relaciona-se às perguntas anteriores, uma vez que questiona nossa capacidade de dar respostas às perguntas existenciais que surgem em nossas vidas.

A pergunta é a seguinte:

"Outras pessoas podem ter outros tipos de respostas para as mesmas questões?"

O que posso dizer a respeito da pergunta acima é que, mais do que uma possibilidade, é quase uma certeza que uma pessoa terá respostas diferentes de outra pessoa para quase tudo na vida. As pessoas podem concordar em muitos pontos, mas esta concordância não é absoluta, e ela muda com o tempo. Pessoas que em um momento no tempo pensam diferentemente sobre um determinado assunto podem vir a convergir sobre o tema depois de anos, e pode-se dar também o contrário.

Essa questão é importante porque ela relaciona-se bastante com livros de autoajuda, conselhos e gurus, mentores e apoiadores, pais e professores, e todo os tipos mais de tentativas de um ser humano educar ou influenciar outro ser humano.

Quando fiz a pergunta, tinha em mente os livros de autoajuda. Em geral, os autores de livros de autoajuda dão centenas de dicas, sugestões, orientações, regras e conselhos para que cuidemos de nossas vidas. Sendo uma pessoa disciplinada e bem motivada a realizar mudanças significativas e positivas em minha vida, posso tentar seguir um grande número dessas orientações, e acabar obtendo um resultado não esperado, nem desejado. É que um autor de um livro de aconselhamento, por mais bem intencionado e sábio que seja, não pode escrever um livro que seja adequado para toda a gama de seus diferentes tipos de leitores. Livros deste tipo costumam ser lidos por milhares, milhões de pessoas mundo afora. Essa massa de seres humanos não levam vidas homogêneas, nem visam o mesmo objetivo, nem possuem as mesmas histórias. Daí que a disciplina precisa ser relativizada quando o assunto é autoaprimoramento.

Devemos ser disciplinados no sentido de que devemos seguir adiante com o projeto de mudança e aperfeiçoamento de nossas vidas, e os livros de autoajuda são excelentes instrumentos de orientação neste projeto. Mas não podemos seguir as orientações de seus autores sem um questionamento sério. Precisamos pensar seriamente a respeito de cada aspecto daquilo que nos é sugerido que façamos, porque nem tudo convém a todo mundo. As histórias de vida das pessoas não são idênticas. Nem todo mundo vem de uma vida de sofrimento e fracasso. Nem todo mundo busca uma vida de sucesso e riqueza. Nem todo mundo procura desesperadamente a paz espiritual. Nem todo mundo quer enriquecer rapidamente.

Não faz sentido seguir uma orientação que não se enquadre em seus planos. Por fim, divergir de um autor, um conselheiro, não significa ser indisciplinado. Dados, por exemplo, dois conselhos sobre determinado assunto, um deles pode ser seguido com precisão e disciplina, mas o outro pode ser inadequado tal como está, e pode ser deixado de lado após meditada análise. Ao longo do tempo, pode-se aferir a eficácia de se seguir ou não cada um deles, e ver se eles devem ainda ser seguidos ou não.

Seguir ou não conselhos, dar ou não respostas às questões da vida são decisões particulares, pessoais e personalizadas. 

Não se compare. Não se submeta. Não tema questionar. Siga seus planos se eles lhe parecerem o melhor a ser feito. Ele, afinal, é o seu plano, e não o plano de um guru bem intencionado que não o conhece e nem a seus dilemas e dúvidas.

E, não se constranja. Se um dia um guru viesse a conhecer melhor suas ideias e sonhos, ele certamente aprovaria suas decisões, desde que tivessem sido tomadas com a devida reflexão. Afinal, a melhor posição a ser tomada depende apenas de diferentes pontos de vista sob os quais se observa esta posição. Se de seu ponto de vista você vê as coisas como você acha que devem estar, este é o melhor ponto de vista.

A única coisa que não se admite é o conformismo resignado e silencioso.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Definitivo e imutável

A vigésima primeira pergunta da série que fiz em 2001 decorre da pergunta anterior. Estamos falando em questionamentos sobre aprimoramentos que pretendemos que ocorram em nossas vidas, e em respostas a esses questionamentos.

Se na pergunta anterior eu afirmo que devo buscar respostas para minhas dúvidas, muitas delas existenciais e difíceis de serem respondidas, a pergunta que faço agora é:

"São respostas definitivas e imutáveis?"

O que tenho de dizer a respeito desta questão é que dificilmente há respostas definitivas e imutáveis para as questões que surgem a respeito da maneira como devemos conduzir a nossa vida.

Evidentemente, há áreas onde há maior grau de estabilidade e certeza, e há áreas onde o terreno é mais instável e no qual constantemente nos vemos mudando de opinião ou postura em relação a um determinado tema controverso.

Por exemplo: em determinado momento fiz a pergunta a respeito do fato de estarmos nós mesmos definitivamente dispostos ou não a implementar algum tipo de mudança em nossa vida. Qualquer que tenha sido a resposta que eu tenha dado em um determinado momento, esta resposta não servirá como resposta à mesma pergunta formulada, digamos, daqui a um ano depois, quando então o contexto de nossa vida pode ter mudado, sem o nosso consentimento, sem a nossa participação ativa, e então somos forçados a dar uma resposta diferente à questão da que demos um ano antes.

Alguns temas envolvendo valores profundos, como, por exemplo, fé, respeito à vida, honestidade, dentre outros, costumam ser temas onde as pessoas têm opiniões mais estáveis. O mundo pode girar em diferentes rumos, mas as pessoas costumam ter certas convicções firmemente estabelecidas sobre esses temas e, embora precisem mudar ao longo do tempo, não abrem mão desses valores, e não os sujeitam a nenhum tipo de mudança mais profunda ou séria. Podem ceder aqui e ali em pequenos pontos secundários, mas não mudam o que é a essência daquilo que pensam sobre o tema.

Assim, cuidado com respostas definitivas e regras de vida imutáveis. Em geral não são assim tão definitivas e imutáveis, e insistir em querer mantê-las em nossas vidas de maneira forçada e não natural pode acabar fazendo com que vivamos vidas limitadas, engessadas e infrutíferas.

É preciso certa flexibilidade para se viver. Não se pode, e não se deve, mudar os rumos de uma vida ao sabor do vento, mas não se pode viver uma vida com regras lavradas em pedra.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Respostas

Depois de ter feito uma série de perguntas e ter, na décima nona, expressado certa dúvida a respeito da importância de se preocupar com autoajuda, fiz o vigésimo questionamento, ainda cético de que um esforço neste sentido poderia valer a pena.

A vigésima questão foi:

"Por que acredito que tenho respostas?"

Convenhamos: é mais fácil fazer perguntas difíceis do que respondê-las.

Há na mídia e no submundo das filosofias de vida e dos conhecimentos consagrados uma tendência a se considerar mais importantes as perguntas do que as respostas. É comum vermos vários sábios e mestres alardeando que o importante não é tanto dar uma resposta a uma pergunta propriamente falando, mas sim a própria formulação das perguntas.

Claro que formular perguntas é importante, e a ênfase dada mais à pergunta que à resposta está no fato de que não adianta muito ter a resposta para uma pergunta que não é relevante, ou que não é a pergunta que elucida um estado de coisas, uma situação desconhecida, ou que não é uma pergunta-chave, que representa o âmago de um estado de conhecimento e que por si só representa um desafio cuja solução pode não ser dada, mas que leva o conhecimento a um novo patamar, impossível de ter sido pensado antes de a pergunta ter sido feita.

Mas as perguntas que eu andei formulando são perguntas de cunho pessoal, íntimo, e não perguntas necessariamente filosóficas ou científicas. Quer dizer, ao menos as dezoito primeiras são assim, muito pessoais e que demandam respostas igualmente pessoais. Veremos que as demais perguntas em certo momento deixam de ter caráter pessoal ou psicológico e passam a ter cunho mais objetivo e genérico.

Ao fazer a minha série de perguntas, eu era movido mais pela dúvida existencial que pela mera curiosidade.

Ora, fazer uma pergunta movido pela curiosidade não me impõe o dever de respondê-la. E, ainda que eu tente respondê-la, se tiver sucesso, sentirei o prazer de descobrir um novo conhecimento, e se fracassar, não terei nenhuma perda maior do que uma mera sensação de frustração. A curiosidade é um tipo de sensação que tem mais um caráter de prazer do que de dever. Ser curioso, cheio de perguntas não respondidas não impede ninguém de viver a vida da maneira que quiser. A curiosidade é apenas um tempero a mais.

Já uma pergunta movida por uma dúvida existencial tem uma seriedade que não pode ser desprezada. Uma pessoa que tem uma dúvida existencial pode ter sua vida paralisada, e um sujeito pode interromper planos e projetos de vida até que tenha a resposta àquilo que o incomoda. Uma dúvida existencial é como um mapa errado. Uma pessoa pode perceber que está em um rumo incerto ou mesmo errado, e de repente, pode se dar conta de que não pode seguir adiante até que ache o rumo certo que a satisfaça. Achar um rumo, achar uma resposta a uma dúvida desta magnitude não tem nada a ver com satisfação intelectual ou prazer diante do conhecimento. Tem a ver com razões complexas que levam as pessoas a escolher profissões, escolher onde viver e morrer, selecionar com quem viver, se relacionar, casar e tecer laços de amizade, e que podem representar decisões que envolvem vida e morte, escolhas filosóficas, religiosas, políticas, financeiras, espirituais.

Uma pessoa que se depara com uma dúvida existencial precisa ter uma resposta.

Assim, diante da vigésima pergunta, onde questiono minha crença na possibilidade de que eu poderia responder às questões que eu já havia formulado, eu só poderia responder, intuitivamente na época, e racionalmente agora, que eu acredito que eu posso até não ter agora as respostas completas, conclusivas e satisfatórias para as perguntas que fiz a mim mesmo, mas que eu tenho o dever de tentar respondê-las, seja lá quando for, custe o que custar, porque sei que são perguntas existenciais e não meras perguntas que são interessantes, oriundas da curiosidade despertada pela leitura de livros de autoajuda, mas que não são importantes ou relevantes.

Eu tenho tentado dar respostas. 

As perguntas são importantes, dizem os sábios, e talvez até mais do que as respostas, mas perguntas precisam de respostas. Diante de uma pergunta que não quer calar, temos o dever de tentar respondê-las.

Eu tenho tentado, e se este blog parece não ter as respostas, ou se ele aparenta não espelhar nenhum tipo de esforço de minha parte neste sentido, o que tenho a dizer é que as respostas quase nunca se dão por meio do mero trabalho de escrever sobre elas. 

Se quero respostas, devo primeiro buscar ajuda junto àqueles que já se defrontaram com as mesmas perguntas. É preciso não inventar a roda, embora que nem sempre a roda que encontramos nos anais da história se encaixe com a perfeição desejada, pronta para ser usada sem remendos em nossas vidas únicas e particulares. Em geral, achamos meias-respostas, achamos respostas incompletas, parcialmente adequadas, e nos esforçamos para poli-las, para adequá-las ao nosso mundo particular.

As perguntas são antigas, e eu avancei bastante em minhas pesquisas sobre elas. Eu tenho tentado compartilhar meus esforços em desbravar este estranho mundo do existir através deste blog. Essas narrativas estão longe de ser as leituras mais interessantes do mundo, mas escrevê-las tem sido um trabalho gratificante, e espero que outras pessoas possam tiram algum proveito.

Não é muito, mas é que a mente é uma lebre, e nossos dedos, tartarugas.

Paciência.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O cansaço da dúvida

Dando continuidade à série de perguntas sobre autoajuda que fiz em 2001, abordo agora a décima nona questão.

Depois de dezoito perguntas feitas em um impulso, a décima nona questão trás uma pontada de ceticismo com relação a todas as perguntas anteriores e ao processo de autoajuda em geral.

A Décima nona pergunta foi:

"Por que alguém deveria se preocupar com as perguntas acima (ou abaixo)?

Eu me preocupei com as dezoito perguntas feitas anteriormente, tanto que estou tentando dar uma resposta satisfatória a elas hoje, doze anos depois de tê-las formulado. O que a pergunta cética acima aparentemente foca é no interesse que o assunto poderia despertar em qualquer outra pessoa que não eu mesmo. Ora, na época em que a formulei, eu não tinha um blog em que postava meus pensamentos, perguntas e respostas sobre aquilo que andava pensando, nem tinha ideia de que um dia iria tornar públicas essas questões. 

Então, este "alguém" da pergunta sou eu mesmo. Na verdade, a pergunta deveria ter sido formulada nesses termos: por que eu deveria me preocupar em responder as perguntas acima e abaixo.

O "abaixo" em questão deixa implícito que esta não seria a última pergunta, e de fato não foi. Então, por que uma pergunta cética de repente irrompe do nada e lança uma pincelada de dúvida onde dúvidas não faltam, somente para complicar ainda mais a situação?

Esta é o que podemos chamar uma metapergunta, uma pergunta sobre perguntas.

A resposta é que eu, e não simplesmente alguém, devo me preocupar em responder as perguntas acima e abaixo e além que fiz a mim mesmo sobre o assunto autoajuda, autoaperfeiçoamento, crescimento e filosofia de vida porque eu não poderia, e não posso, viver sem um rumo que eu ache que seja o correto para conduzir minha vida.

É uma resposta que dou hoje, uma resposta simples e básica, mas fundamentalmente existencial. 

Uma resposta existencialista para uma questão existencialista.

A questão é realmente existencialista?

Ela é, e não é a única, embora talvez seja a primeira a ser expressa em palavras em um pedaço de papel, e preservada para durar por um tempo que seja maior que os poucos segundos em que esse tipo de questão brota em nossa consciência, em momentos obscuros, nas madrugadas, nas horas de frustração e desespero, nas desilusões e fracassos, para desaparecerem de repente, deixando uma nódoa de amargor como quando mordemos uma semente amarga em meio a uma fruta doce e suave. 

Perguntas existenciais são nuvens negras que surgem no céu de nossas vidas e desaparecem de repente, exceto se as fotografamos, exceto se as anotamos em nossas agendas pessoais. Assim, congeladas, elas ficam adormecidas, esperando uma resposta, como aqueles insetos e répteis embalsamados que vemos em vidros cheios de clorofórmio nas salas de laboratórios. Olhamos para elas, horrorizados, buscando entendê-las.

A dúvida cansa.

Por que tantas perguntas? Por que tanta dúvida? Por que não deixar tudo isso de lado e seguir adiante como se nunca tivéssemos tido alguma dúvida mais séria a respeito do existir?

Não, eu não posso me enganar.

Nada é mais importante que viver, e eu não me deixo iludir por qualquer outra questão que tente se sobrepor a este fato.

Viver é o mais importante, e para viver, eu preciso de razões para os meus porquês.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Velhos planos

A décima oitava questão com relação a autoajuda, dentre uma série que fiz a muitos anos atrás, relaciona-se com velhos sonhos e planos. E também, obviamente, com desapego emocional do passado.

A pergunta foi formulada nos seguintes termos:

"Como se desapegar de velhos planos e sonhos?"

Eu sei que cada pessoa é única e que cada uma pode ter tido ou não sonhos e planos não realizados. E eu sei ainda que cada pessoa tem uma maior ou menor ligação com seu próprio passado, com seus velhos sonhos e planos, e que cada uma tem estratégias próprias para seguir com a vida sem o peso de sonhos e planos fracassados. Eu, no entanto, ainda não resolvi essa questão e sigo em frente ruminando as coisas que não consegui digerir ao longo dos anos.

Talvez alguém possa dizer que tudo não passa de uma questão de mero egoísmo, e que uma pessoa que não consegue se desapegar de seu passado e de seus velhos planos é porque é egoísta e não admite não ser intimamente reconhecida como perfeita. Pessoas menos egoístas simplesmente aceitam que são falíveis, erraram em suas intenções passadas, dão a questão como encerrada e seguem em frente.

Eu acho que pode haver, sim, um componente de egoísmo ao não se admitir uma derrota, ainda que consumada a muito tempo no passado. Mas não é meramente uma questão de egoismo. Aceitar-se como um ser humano falho é uma constatação natural e sensata. Agora, devemos admitir que somos seres que aprendem com a experiência de vida. Simplesmente dizer que errei e não tirar proveito da experiência do erro é condenar-me a errar novamente.

O que podemos aprender com nossos planos que não fomos capazes de implementar da maneira que imaginávamos?

Eu aceito que falhei, mas e daí? 

Não, eu não posso ver as coisas como simplesmente erros que ocorreram por mero acaso. Eu quero saber onde errei, porque errei, e com não errar novamente. Eu ainda não aprendi a me desapegar de velhos planos e sonhos sem tirar algum tipo de proveito deles.

É frustrante, admito, conviver com este problema não resolvido.

Falarei mais sobre este problema e esta frustração ao longo do tempo. Por ora, é bom saber que essa pergunta, ainda que não respondida, acabou por me levar a outros questionamentos. Nesta época de minha vida, devo reconhecer que eu não sabia responder minhas próprias dúvidas, mas de alguma forma já sabia muito bem fazer minhas próprias perguntas confusas.

Velhos planos e sonhos: como desapegar-se deles? Esta é mais uma bela pergunta não respondida.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desapego

A décima sétima pergunta que fiz sobre autoajuda, dentre o total delas, dá um passo adiante em termos de raciocínio e aborda um tema que considero ainda não resolvido, passados doze anos do questionamento original.

Trata-se do tema do desapego.

Sempre que falamos em mudança, pensamos naquilo que vem à frente, e pouca atenção é dada àquilo que é deixado para trás. No entanto, não é fácil deixar coisas para trás.

Deixar coisas, pessoas, lugares, sentimentos, projetos e sonhos para trás é, talvez, uma das mais dolorosas experiências que um ser humano pode ter de enfrentar durante uma vida.

Eu fiz a décima sétima pergunta porque, no fundo, eu pensava em mudanças, mas ao mesmo tempo já sentia a dor de possíveis perdas que teria de sofrer no processo de mudança.

A pergunta que fiz foi:

"O que fazer (e como se desapegar) com aquilo que começamos e não terminamos?"

E ao longo dos anos, pensei muito sobre o tema e o problema que ele encerra.

Evidentemente, não poderia dar uma resposta definitiva para a questão neste simples post. Por isso, aviso ao leitor que caso venha a se interessar pelo assunto, que torne a ler sobre o tema neste blog. A questão do desapego é complexa e profunda, e está presente na vida de todos, quer queiramos ou não.

Mas note: a pergunta toca inicialmente no tema apenas tangencialmente. Eu pergunto mais sobre projetos inacabados do que sobre o desapego em si. 

Projetos começados, mas não concluídos. Quem não os tem?

Como não lamentar o tempo perdido, as ilusões ingênuas, a esperança e o enorme esforço inicial, o investimento que fizemos em busca de algo que agora nos parece fora de sentido, inalcançável, indesejável, mas ao mesmo tempo querido, digno e terno, e cuja lembrança não somos capazes de fazer desaparecer, e cuja chama ainda tenuemente brilha no fundo de nossa escuridão de sucessivos fracassos?

Vou ser B, mas não renego que fui A. Não posso renegar, não devo renegar e não quero renegar o passado, ainda que salpicado com as tintas dos dolorosos fracassos e planos infrutíferos.

Quem poderia dar uma resposta a esse anseio de dar um tratamento adequado ao passado? Como dignificar nossos erros e seguir em frente? Como encarar o futuro diante da enorme ruína inacabada de nossa vida projetada em sonhos inviáveis?

Sonhos são como filhos. Não podemos simplesmente juntar pedaços rotos de peças não encaixadas, colocar tudo em uma caixa de sapatos e enfiá-la em um sótão, porão ou baú e esquecê-la por um longo, longo tempo. Podemos menos ainda colocar os restos na caixa e a caixa na lata de lixo, e acordar um dia e lembrar-se de que aqueles retalhos velhos poderiam ser emendados, recuperados, limpos e enfeitados, e juntados em uma forma que poderia ser bela, útil, terna e acalentadora, porque eles estão no lixo, perdidos para sempre.

O mundo recicla as coisas físicas que jogamos de verdade no lixo. Se não os recicla, ao menos nós os perdemos de vista definitivamente. Mas não podemos fazer o mesmo com nossos pensamentos. Não se pode esquecer que se sonhou um dia em ser astronauta, bailarina, pianista ou médico. Não se pode esquecer da mesma maneira que se esquece de um trapo que atiramos fora depois de anos de uso.

O que fazer com os nossos planos não concluídos?

O que fazer de nosso passado?

Eu tenho pensado nisso intensamente.

Eu não posso esquecer. Simplesmente não posso.