quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Aprendendo a perguntar

A vigésima terceira pergunta que fiz dentre uma série delas feitas em 2001, as quais venho tentando responder neste blog, é a primeira do tipo filosófico ou lógico. Até então, minhas perguntas eram de caráter psicológico, ou existencial, mas não filosóficas.

A pergunta que fiz foi:

"Quantos 'por quê?' podem ser feitos para uma mesma afirmação?"

Esta pergunta reflete a minha tentativa de buscar uma maneira coerente de questionar o mundo e as afirmações que a literatura nos oferece, e é uma demonstração clara de meu despreparo à época para empreender um modo de pensar sistemático e eficaz para analisar as alegações dos diversos autores de autoajuda, dentre outros, que eu andava lento, mas que não era capaz de confirmar ou contestar de maneira formal e completa.

Eu nunca havia lido nada sobre Filosofia antes. Em 2001, minha maior excursão dentro deste vasto território desconhecido limitava-se à compra de um livro sobre a história da Filosofia. Fora um livro não didático, não sistemático, mais um catálogo de temas, épocas, escolas de pensamento e nomes de filósofos que não faziam o menor sentido para mim, que nunca tinha visto o tema antes. Eu estava apenas tateando o terreno, e, sem uma maior orientação, acabei comprando um livro inadequado que mais atrapalhou do que ajudou, porque acabou criando uma imagem que confirmava o estereótipo de que Filosofia era um tema etéreo e difícil. Foi o primeiro, embora não tenha sido o único livro de Filosofia que eu tenha tentado estudar, que não foi uma escolha feliz em termos de didatismo e aprendizado. Evidentemente que não desisti nem do tema nem das dificuldades dos livros e nem de enfrentar outras abordagens didáticas, de maneira que mais tarde aprendi alguma coisa sobre o assunto, mas na época da pergunta, em 2001, eu era completamente cru em relação a ele. Cheio de pré-concepções leigas e estereotipadas, eu fugira do tema por longos anos, como quem foge de algo desnecessário, tal como a extração de um dente ciso que está lá, no fundo de nossas arcadas dentárias, mas que mais cedo ou mais tarde teremos que extrair por um motivo ou outro. Enquanto não for preciso, deixamos o dente quieto, fugindo do trabalho necessário, mas por vezes inevitável. Filosofia, só ouvira falar, e achava melhor deixar de lado. Coisa de gente doida.

Falarei mais sobre o que eu pensava que fosse a Filosofia antes desta questão, mas não agora. Deixarei para um momento posterior porque pretendo fixar-me nas 47 questões de minha Agenda Ecológica de um maneira cronológica e definitiva. Em determinado momento, adentrar-me-ei neste assunto fascinante e polêmico.

O fato é que pela primeira vez em minha vida eu sentia a necessidade de dominar um conjunto de conhecimentos que me seriam úteis no direcionamento e condução de minha vida de uma forma muito íntima e séria. Eu não estava estudando Filosofia. Originalmente eu estava estudando Psicologia aplicada, ou autoajuda, para ser mais simples e direto. Mas, de forma alguma eu imaginava que teria que duvidar das lições com as quais eu me deparava nas minhas leituras naquele momento. 

Mas, não se pode brincar com o destino de nossas vidas. Eu não poderia seguir cegamente uma determinada orientação sem algum questionamento. E eu não sabia questionar. Algo parecia me dizer que uma determinada afirmação não me parecia correta, mas eu não era capaz de verbalizar, nem diretamente, nem por escrito, aquilo que eu sentia intuitivamente ser um argumento contrário àquela afirmação. Faltava-me um ferramental teórico que me permitisse discordar de, ou concordar com ideias de diferentes tipos, para minha própria segurança na condução de minha vida.

Dando uma olhada na pergunta, percebemos que ela foca na contestação de uma afirmação com base no questionamento de suas causas.

Alguém afirma A, e antes de eu concordar ou contestar A, eu pergunto, igual a uma criança, o porquê de A. Este alguém me responde justificando o porquê de A usando uma afirmação B. Eu torno a questionar o porquê de B, e assim sucessivamente. No final, quantos "por quê?" eu posso fazer para uma mesma afirmação? 

Ora, olhando calmamente a pergunta agora, neste momento, com a calma que uma resposta correta demanda, eu responderia que no final, só posso fazer uma única pergunta do tipo "por quê?" a uma dada afirmação, porque no momento seguinte, quando uma razão para esta afirmação me é dada, ela o é em forma de uma segunda afirmação, e neste caso, quando faço o meu segundo "por quê?", já o faço para a afirmação B e não mais para a afirmação A, que já foi respondida na forma de B. E assim sucessivamente.

Mas não foi este o sentido de minha pergunta. Se me permito reformular a pergunta corretamente, o faço para que a mesma fique da seguinte forma:

"Quantos 'por quê?' podem ser feitos para uma cadeia de afirmações sucessivas e interconectadas?"

Desta maneira, consigo fazer a pergunta refletir aquilo que eu buscava perguntar naquele momento, quando formulei a pergunta original.

Ora, teoricamente, posso fazer quantas perguntas "por quê?" eu quiser. Na prática, cada pergunta busca uma resposta que objetiva suprir uma dúvida pessoal, e não é meramente um questionamento movido pela teimosia, birra ou tentativa de irritar aquela que afirma A, depois B e depois C. Não sou uma criança que pergunta abusadamente tirando proveito da boa vontade e paciência de meu professor. Não se trata disto.

O que eu percebo na prática é que há determinadas afirmações que são consideradas básicas, elementares demais para serem questionadas. Era isso que eu queria saber na época, e que só vim a saber quando estudei Lógica. Eu parecia saber intuitivamente que há premissas dadas como evidentes, tais como as premissas da Geometria de Euclides, onde partimos de um ponto, depois seguimos para uma reta, para um plano, e assim por diante, sem ter que questionar o que é um ponto, tido por todos como evidente demais para ser questionado.

A resposta mais adequada à pergunta reformulada, que trata agora de cadeias de afirmações e não mais de uma única afirmação, é de que posso, ou melhor, devo fazer tantas perguntas "por quê?" quantas forem necessárias para que eu chegue a uma afirmação X tal que seja para mim óbvia, evidente e clara, e que acabe por me convencer de que A decorre desta afirmação X, e que em função de X, que eu concordo, eu acabe por concordar, pelo menos parcialmente, com A, já que A decorre indiretamente de X.

Ah! A lógica! Como ela me fazia falta!

Minhas dúvidas de Lógica persistiram.

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