sábado, 27 de julho de 2013

Verdades universais

Existem verdades universais?

Fiz esta pergunta a mim mesmo em 2001. Esta foi a décima pergunta, de uma série de outras tantas, quando de um momento difícil em que passei pela minha vida, e que me levou a procurar saber o que é a verdade, ou verdades.

Esta é uma pergunta que não é fácil de responder. Quem é que pode assegurar que há pelo menos uma única verdade que seja aceita por toda a humanidade, sem levantar dúvidas ou questionamentos?

Esta é ainda uma pergunta eminentemente filosófica, e faz parte daquilo que é o núcleo da filosofia, uma pergunta filosófica por excelência, e portanto, não fui evidentemente o primeiro a formulá-la, nem seria o primeiro a respondê-la, já que mentes mais preparadas que a minha já tentaram isso antes. Ora, se eu ainda tinha dúvida da existência de verdades universais, era sinal de que ninguém ainda havia dado uma resposta conclusiva, porque se existisse uma única verdade que fosse universalmente aceita pela humanidade, eu saberia qual seria esta verdade, porque também faço parte da humanidade, e não estaria questionando a existência desta mesma verdade.

Mas, na época em que fiz a pergunta, eu não sabia que esta era uma pergunta relativa à teoria do conhecimento, um ramo da filosofia que é dos mais espinhosos e difíceis. Controversa, a verdade não se deixa capturar tão facilmente por perguntas repetidamente feitas, seja no passado, por sábios vários, seja na atualidade, por jovens céticos, tal como eu era na época em que formulei minha dúvida.

Mas, não sendo um estudioso da filosofia, eu não buscava uma resposta necessariamente filosófica, ou uma resposta que atendesse aos padrões exigidos pelos filósofos. Eu me contentaria com uma resposta que me permitisse ter segurança a respeito da existência de enunciados que eu pessoalmente pudesse crer que fossem verdades, e que fossem enunciados que pudessem servir de guias para a condução de minha vida. Eu precisava de algum ponto de apoio sobre o qual me firmar para poder seguir minha vida sabendo que não estava sendo enganado, não estava perdendo o meu tempo e não estava remando meu barco com base em uma mapa errado. Era somente segurança que eu queria para poder continuar a me aventurar pela vida, e nada mais.

Eu não pude responder esta pergunta com um sim ou com um não. Mas eu pensei que caberia a mim mesmo buscar as minhas verdades. Tendo já vivido três décadas sem nunca ninguém ter  dito a mim que tal enunciado era definitivamente a verdade, não poderia imaginar que esse fato viesse um dia a ocorrer. E mesmo que alguém viesse e me dissesse uma série de frases, ou mesmo uma única delas e jurasse ser esta uma verdade, eu ainda assim não acreditaria nesta pessoa. A verdade, seja ela qual fosse, teria de ser a minha verdade, não importando o que pensasse o resto do mundo. 

Mas eu não sabia de nada que fosse verdadeiramente meu, no sentido de eu ter adquirido um conhecimento, refletido sobre ele e julgado digno de ser chamado verdadeiro e ser incorporado àquilo que eu poderia chamar minha base de apoio para a condução de minha vida. Enfim, eu vivia como que em um lamaçal cognitivo, em uma espécie de areia movediça intelectual. Não podia confiar mais no conhecimento dos livros, mas não podia abrir mão de pontos de apoio intelectual para continuar a acreditar que poderia seguir conduzindo minha vida.

A resposta à pergunta foi a assunção de um compromisso comigo mesmo de que eu deveria olhar todo o conhecimento que parecesse verdadeiro e de uma forma que eu ainda não era capaz de saber, eu deveria passar esse pretenso conhecimento verdadeiro por um crivo, um filtro, que o testaria em sua veracidade segundo meus próprios padrões de confiança, e que somente após ser aprovado pelo meus testes, pudesse ser aceito como verdadeiro para mim, e incorporado ao meu cabedal de verdades conscientemente aceitas.

Não era uma tarefa fácil, porque o mundo está cheio de conhecimento que seus criadores julgam serem verdadeiros, e eu ainda nem fazia ideia de como eu poderia testar cada conhecimento que eu julgasse que devesse ser testado, mas, de qualquer forma, assumi que, existindo ou não verdades universais, era preciso que houvesse as minhas verdades, universais ou não, absurdas ou óbvias, provisórias ou definitivas, secretas ou públicas.

Eu não poderia ser absolutamente cético com relação a tudo que estava escrito no mundo.

Entremeio a trilhões de frases escritas por milhões de pessoas, as verdades estariam ali, escondidas, esperando pacientemente para serem lidas e testadas por mim.

Alguma verdade haveria de existir, disso eu não tinha dúvidas.

Mas eu tinha mais perguntas a fazer, e as fiz.

Questionando a verdade

Por que devemos questionar a verdade?

Esta é uma pergunta séria, e foi a nona pergunta que fiz dentre uma série de perguntas difíceis em um determinado momento de minha vida, nos idos de 2001.

Por que eu questionava a verdade em 2001?

Eu questionava a verdade em 2001 porque eu até então havia sido um crédulo.

Um crédulo em tudo aquilo que vinha em forma de palavras impressas no papel, nos jornais, nas revistas, nos livros de literatura, nos livros didáticos, nos livros científicos e agora, naquele momento, nos livros de autoajuda.

Eu vivia um paradoxo.

De um lado, havia os ensinamentos dos livros. De outro, os meus sucessivos fracassos em implementar esses ensinamentos.

Um livro de autoajuda me dizia que meu problema não era a falta de ensinamentos, mas minha inércia em aplicá-los em minha vida real. Outro dizia que meu maior obstáculo não estava no mundo exterior, mas dentro de mim mesmo. Outro ainda pedia que eu fosse perseverante, e o estudasse dia após dia, mês após mês, ano após ano. E eu, que sempre fui um aluno estudioso, disciplinado e cumpridor dos meus deveres, sabia que estudo, disciplina, cumprimento do dever, proatividade, perseverança e autoanálise não eram suficientes para trazer grandes avanços na vida, porque de fato eu obtivera muito pouco avanço na vida fazendo tudo aquilo que me era ensinado dizendo o que eu deveria fazer.

Ora, se eu não estava avançando, não seria na verdade o contrário? Que garantia eu tinha de que os livros estavam mesmo dizendo a verdade?

E se os livros de administração, de economia, de sociologia, de psicologia, de autoajuda, as revistas de negócios, estivessem, todas, não mentindo, mas corroídas de ensinamentos apenas pretensamente verdadeiros? E se tudo fosse apenas propaganda se passando por verdades definitivas? Que garantias eu tinha?

Eu não poderia passar o resto de minha vida seguindo lições de livros nos quais eu não confiasse. Eu não poderia ser cobaia de experimentos de tentativa e erro de teorias de pessoas que eu sequer conhecia.

Eu admitia minha parte da culpa em minha vida estagnada na qual vivia em 2001, mas ao mesmo tempo admitia que sempre fora uma pessoa disciplinada, estudiosa e atenta àquilo que deveria ser feito. Se as coisas não estavam dando certo, parte da culpa poderia estar não em mim, o aluno, mas nos livros, os professores.

Essa desconfiança foi se consolidando com o passar dos anos, desde que eu me formara na faculdade, em 1996, e em 2001 eu já via os livros da época da faculdade como praticamente inúteis para minha vida pessoal. E se os livros de autoajuda fossem todos bem intencionados, mas cheios de teorias falhas e sugestões ineficazes?

Eu respondi à nona pergunta dizendo que devemos questionar a verdade porque não podemos nos dar ao luxo de sermos cobaias de teorias, sugestões e conselhos de pessoas que não pagarão o preço de seus erros. 

Eu não queria ser nem cobaia, nem um trouxa.

Não me passou pela cabeça acusar os livros de autoajuda de estarem mentindo intencionalmente, mas não descartei a hipótese de haver mentiras intencionais nos livros em geral, com o intuito os mais dissimulados possíveis, e horrorizou-me a possibilidade de eu, disciplinadamente, estar me passando por um idiota.

Decidi que eu precisava saber mais sobre esta besta indomável: a verdade.

Reavaliando minha filosofia de vida

Eu disse no post anterior que não podemos nos rebelar contra as montanhas. Elas são o que são, elas são a pura realidade e nossa rebeldia em relação a elas não muda nada, a não ser trazer para dentro de nós uma eterna e amarga sensação de derrota. 

Assim, diante de uma vida sem perspectivas, e incapazes de fazer algo a respeito, só nos resta, nesse momento, nos conformarmos com aquilo que é, com a realidade dos fatos, com a dureza do presente, que se estende diante de nós aparentemente tão e sempre imutável.

Dando continuidade à minha série de perguntas difíceis, e tendo já respondido sete delas, abordo aqui a oitava pergunta, decorrente das sete anteriores.

Eu disse no post anterior que diante de uma realidade que nos é desfavorável e que não muda, se quisermos seguir em frente com nossa vida sem grandes perdas é preciso que façamos uma mudança interior. Diante das montanhas, precisamos mudar nosso modo de pensar.

Tendo pensado assim, tendo chegado a esta conclusão, fiz minha oitava pergunta:

Por que necessitamos de uma reavaliação filosófica contínua?

Mas, antes, pergunto, apenas para nos situarmos melhor em relação ao assunto: o que é uma reavaliação filosófica contínua?

Nós, seres humanos, em geral somos animais extremamente adaptáveis a diferentes circunstâncias externas e internas. Esta adaptabilidade é um trunfo, mas nem todas as pessoas são igualmente flexíveis. Algumas pessoas mudam suas vidas, mas a dor da mudança impõe um sofrimento que quase anula os benefícios da própria mudança. Em geral não mudamos porque queremos, e sim porque a não mudança representa uma ameaça ao nosso modo de vida. Então, somos forçados a mudar, mas, apesar de nos livrarmos daquilo que nos ameaçava, acabamos caindo em uma nova situação que nos é dolorosa, porque é nova e desconfortável. Evidentemente, nem todos sofrem, mas em geral grandes mudanças não são necessariamente agradáveis.

Mas, às vezes nossas vidas entram em um estado de estagnação. E tendemos a nos acomodar, se a situação for favorável a nós, mas, por outro lado, tendemos a nos rebelar quando a situação nos é desfavorável. Acomodação é fácil. Rebeldia, não. 

O rebelde com a vida estagnada precisa, ao menos temporariamente, adaptar-se também à estagnação. Ele não se submete à estagnação em caráter definitivo, mas ajusta-se, em estado de alerta, na expectativa de que mais dia, menos dia, uma brecha nas muralhas da rotina se abrirá e ele, o rebelde, tramará e agirá em busca de uma fuga libertadora.

Assim, esse estado de alerta, essa capacidade de se moldar aos acontecimentos da vida, esse estado de prontidão para a mudança, essa submissão provisória, tudo compõe um verdadeiro processo de vida, e este processo é um processo de crescimento e amadurecimento pessoal, e ele requer atenção e reavaliação constante. 

Chamemos um modo de vida de filosofia de vida. Ora, somente com uma verdadeira reavaliação de nosso modo de vida, de nossa filosofia de vida, é que podemos saber quando acomodar ou quando buscar novas oportunidades que se apresentam em nossos horizontes. E, além disso, é mister lembrar que a vida nunca para por muito tempo. Não a nossa vida moderna, ocidental, dita civilizada. O mundo muda com mais rapidez do que somos capazes de acompanhar. Por vezes, as mudanças geram um padrão de acontecimentos no tempo que se assemelham à rotina, mas é uma rotina ilusória. 

A mudança do mundo é contínua, e portanto, se quisermos viver uma vida na qual tenhamos mais oportunidades de buscar satisfação para nossos anseios, desejos e sonhos, temos que estar o tempo todo observando este mudar do mundo à nossa volta. Precisamos ajustar nosso modo de vida, nossa filosofia de vida, e continuamente, às mudanças no mundo à nossa volta. Do contrário, o mundo continuará com suas mudanças, mas nós não. Nós ficaremos presos a um modo de pensar e viver que nos fossiliza e nos torna humanos anacrônicos, ultrapassados, lentos e incapazes de navegar nas ondas do tempo presente. Vivemos, é verdade, mas não fazemos mais parte da vanguarda do mundo, e a nós são relegadas as sobras que o mundo não digere, os retalhos e as migalhas que os mais adaptados não querem, ou não precisam.

Estagnar-se mentalmente é, enfim, fossilizar-se em um mundo caleidoscópico que não tem tempo para dar atenção a nós, retardatários. 

Este é o mundo como ele é, e eu não sou o responsável por ele ser assim e não de outra maneira. Não há sentido em se rebelar contra a instabilidade do mundo, assim como não faz sentido se rebelar contra o nascer e o pôr do sol. 

Precisamos de uma reavaliação filosófica contínua porque o mundo muda continuamente. Esta foi e é a minha resposta à oitava pergunta.

Conformando-se com o mínimo

Às vezes, nossas vidas se encontram em situações tais que parecem-nos becos sem saída. Quando isso ocorre, muitas vezes a melhor coisa a fazer é deixar o tempo passar e a vida tomar novo rumo por si só, porque nada dura para sempre, e quase  nada está sob nosso controle, de maneira que nossas expectativas quanto ao futuro nem sempre, aliás quase sempre, não se confirmam, e o labirinto de ontem se torna o amplo caminho de hoje e de amanhã.

Em 2001 eu fiz minha série de perguntas difíceis, as quais anotei em minha agenda, para que fossem fixadas ao longo do tempo. Já falei sobre seis delas nos posts passados. Agora, falo sobre a sétima pergunta.

Ao longo da perguntas anteriores, eu flertei com o fracasso, porque não tinha disposição para despender um esforço maior para mudar minha vida naquele momento, naquele difícil ano de 2001. Pensei em voltar a escrever livros, mas estava traumatizado demais para tentar acender a brasa de um sonho que parecia naquele momento uma brasa morta, apagada. Então, só me restava a alternativa de ir tocando a vida, dia após dia, com meu emprego desagradável e sem perspectivas. Eu não seria nem um administrador de empresas, apesar de ter estudado para ser um deles, nem seria escritor, apesar de ter ensaiado uma investida nesta carreira em anos anteriores. Não. Eu seria apenas um funcionário público que cumpriria dolorosamente todos os dias a rotina de ir para o trabalho, ano após ano, até a aposentadoria, trinta anos depois. Era desanimador, mas era esta a minha expectativa naquele momento.

Então fiz, resignado, a sétima pergunta:

Como se conformar com o mínimo?

A pergunta é triste, admito agora. É a pergunta que deveria ser feita por um presidiário, um condenado à prisão perpétua, um pária do mundo.

Que mínimo é este?

Na época, era o mínimo de estar vivendo uma vida que em nada se adequava àquilo que eu julgava ser uma vida estimulante e vigorosa. Eu estava no emprego errado, no lugar errado, rodeado das pessoas erradas, e sem uma rota de fuga. Além do mais, sem planos e sem dinheiro.

Como responder a esta pergunta?

A única resposta, a resposta típica de um prisioneiro cuja realidade única é a vida sem alternativas, é a de que, diante de um fato consumado, cuja verdade e inexorabilidade era inquestionável, eu não tinha poder para mudar a situação do meu mundo exterior, mas, se quisesse permanecer com a mente sã e preservar minha vida, eu precisaria promover uma verdadeira revolução interior. Do contrário, acabaria enlouquecendo, ou buscando uma saída que me traria ainda mais problemas do que aqueles que eu já enfrentava. Eu não tinha poder para melhorar minha vida, mas tinha poder de sobra para piorá-la. E isso era tudo o que eu não queria.

Se quisesse me conformar com aquela vida mínima em perspectivas e oportunidades, eu precisava fazer uma mudança no meu modo de pensar. Já que não podia mudar o mundo, eu precisaria mudar a mim mesmo. 

Não se pode se rebelar contra as montanhas.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Meu fracasso como escritor

Eu disse em minha postagem anterior que em 1996 eu tentei dar asas a um sonho pessoal, mas as coisas não deram certo. Este pequeno episódio requer alguma atenção, se quisermos dar prosseguimento à minha sexta pergunta, da série que fiz em determinado momento de minha vida.

Também na postagem anterior, eu disse que em 2001 eu vivia um conflito entre o desejo de seguir minha carreira de administrador, mas não podia largar meu emprego, porque precisava comer e beber, e pagar minhas contas. Eu questionava minha inércia, mas tenho que levar em conta que em 1996 eu já tentara uma aventura no mundo dos negócios.

Então, depois de me sentir estimulado pelo sucesso de Bill Gates, mas impedido de exercer minha profissão de administrador em virtude de ser um funcionário público, tentei uma solução conciliatória, algo em que eu pudesse aplicar meus conhecimentos e minha criatividade, e que não infringisse as normas de meu emprego público. Então fiz a seguinte pergunta, a sexta:

Por que não fundir a carreira de administrador e de escritor?

Quanto à carreira de administrador, já disse na postagem anterior que era um desejo muito forte, premente, mas, e quanto à suposta carreira de escritor? Que história é esta?

Em 1996 eu cursava meu último ano de faculdade. No final de 1995, eu deixei um emprego público no qual eu tinha estabilidade e uma carreira segura a seguir e passei a viver do dinheiro que juntei ao longo dos anos. Sem precisar trabalhar, e preso a um curso prestes a terminar, resolvi dedicar o ano de 1996 à aventura de ser um escritor.

Li bastante, inspirei-me e acabei escrevendo um pequeno romance. Depois, resolvi abrir uma pequena editora e publicá-lo. Era parte de meus planos ganhar algum dinheiro com a venda deste livro, e eu vivi um ano muito proveitoso, mas no final, algo deu errado, problemas familiares me forçaram a seguir outro rumo e abandonar meus planos de vender e viver de livros e terminei os últimos dias de faculdade em um novo emprego, como estagiário de uma ONG. Era o adeus a um sonho que eu acalentara, mas que morria sem frutificar.

Foi por meio de um livro de autoajuda que eu elaborei este sonho, e certamente falarei sobre esta experiência em uma postagem futura, mas no fim, nada do que fiz foi capaz de deter o meu fracasso, e dei como encerrada minha malfadada carreira de escritor.

Mas, em 2001, ao fazer a sexta pergunta, o sonho ainda estava lá, no fundo, clamando seu direito à vida.

Mas, pensei melhor e disse a mim mesmo que a resposta a essa sexta pergunta era um retumbante "porque não e ponto final".

Não. Eu não deveria fundir a carreira de administrador à carreira de escritor, porque já era um funcionário público, e em 2001 a vida era outra, e eu não mais podia me dar ao luxo de aventuras e sonhos, porque não tinha mais o dinheiro que permitira aquele extravagante ano de 1996. Escrever toma tempo, vender livros é um afazer que pode se transformar em um pesadelo, e eu tinha dentro de mim muita dor e mágoa pelo sofrimento que passei no fim daquela aventura. Eu estava traumatizado.

Mas quem é que não fica traumatizado diante de um fracasso logo na primeira tentativa? Eu sei, um empreendedor de verdade não deveria desistir na primeira barreira, mas, sabe, na verdade, eu não queria mais saber de ser escritor, nem queria mais saber de administrar empresas, e nem queria mais saber de ser um funcionário público pelo resto da vida. Eu estava deprimido, esta era a verdade, e decidi que não faria nada, não faria nada mais do que o mínimo para ir levando a vida. 

Eu tinha 31 anos e estava bem no fundo de um poço.

Desolado, parti então para sétima pergunta.

A sétima.

A fortuna ao meu alcance

A fortuna, entendida como riqueza material, como acúmulo de dinheiro, é algo que em determinado momento de minha vida desejei fortemente, não posso negar.

Mas desejar algo fortemente não é a mesma coisa que lutar para se conseguir este algo. Eu desejei fortemente, mas nada fiz para alcançar este objetivo. Eu simplesmente desejava, como um cão deseja o bife sobre a mesa de um restaurante no qual não pode entrar ou um garotinho deseja conhecer aquele herói de desenho animado que não existe na vida real.

Por que eu desejei a fortuna em determinado momento de minha vida?

Ora, é uma longa história.

Sei que desejei a fortuna porque deixei registrada em minhas anotações pessoais uma pergunta, a quinta de uma série, e que está diretamente relacionada a esse desejo.

Em minha quarta pergunta, cheguei à conclusão de que se eu quisesse ter algum sucesso em minha vida, eu teria que olhar primeiro para meu próprio umbigo e resolver meu problema principal, que deduzi ser a inércia como modo de vida.

Eu disse também que quando fiz essa série de perguntas embaraçosas, em 2001, eu já era formado a cinco anos em administração de empresas, e sentia uma forte frustração por não ter obtido até então nenhuma satisfação financeira ou psicológica decorrente de ter cursado o ensino superior.

Ora, se meu problema era a inércia, porque eu simplesmente não punha mãos à obra e me aventurava a seguir meus sonhos de ser empreendedor e ganhar dinheiro?

O problema é que eu já tentara isto, e ainda bem cedo, em 1996, quando cursava meu último ano de faculdade. Mas as coisas deram errado e em 2001 não havia a menor possibilidade de eu fazer uma segunda tentativa de ser empreendedor, porque então eu já estava atolado em um emprego que não só tolhia minha criatividade, minha vontade de viver e minhas esperanças futuras, como ainda bloqueava juridicamente a possibilidade de eu exercer a profissão que eu escolhera, de maneira que tentar o empreendedorismo em 2001 estava fora de cogitação.

Se por um lado eu sabia que minha vida estava estagnada em razão de minha inércia, por outro eu sabia que se eu tentasse romper a inércia e procurasse empreender alguma coisa, estaria impedido em função do emprego em que estava atolado. Era uma situação muito ruim de se viver, aquela na qual eu estava em 2001.

Então, eu poderia dar de ombros e deixar de lado meu espírito empreendedor, porque, afinal de contas, eu já estava com um emprego, fosse ele bem ou mal tolerado pelos meus gostos pessoais. Afinal, era um emprego seguro e garantido.

Mas, havia algo que me atormentava.

As pessoas em geral não estão acostumadas a pensar a longo prazo. Quase ninguém faz as coisas no dia-a-dia pensando nas consequências daqui a cinco, dez, vinte anos no futuro. Eu também não era acostumado a pensar assim, mas depois de ter estudado administração, essa forma de pensar, essa preocupação com o futuro passou a ser um hábito, ou um vício, em minha vida. Claro, não aprendi sobre como pensar no futuro apenas nos livros de administração. Aprendi também nos livros de autoajuda, mas deixarei para um outro momento esclarecer sobre como e onde obtive esse aprendizado. Por enquanto, é suficiente saber que passei a pensar no futuro como um horizonte mais amplo, e esta maneira de pensar me trouxe também algumas angústias que eu não tinha como evitar naquele momento de minha vida.

Qual deveria ser a minha sensação, ao me imaginar naquele mesmo emprego por mais vinte anos sem nenhuma mudança séria na rotina de trabalho? O que eu estava obtendo eu continuaria a obter, e essa perspectiva não era boa. Pelo contrário. Era angustiante.

É verdade que passados tantos anos depois de ter anotado minhas preocupações em 2001 a vida deu um novo rumo às minhas previsões e as coisas que eu temia não foram todas concretizadas, e oportunidades imprevistas surgiram para atuar em meu benefício, mas até então, minha limitada capacidade de antever o andar das coisas não me poupou de sentir as angústias que senti. Hoje, eu não teria tantos temores quanto ao futuro, mas naquela época, sim. Afinal, não havia ninguém para me ensinar, e o aprendizado solitário é sempre um caminho difícil e lento. Eu fui aprendendo com meus erros, eu acho, e hoje erro menos em minhas previsões. A vida é assim mesmo.

Eu deveria estar satisfeito em ter um emprego seguro, mas algo em minha mente indicava que eu não estava satisfeito. Por que eu não estava satisfeito?

Eu não estava satisfeito porque, embora eu tivesse um emprego seguro, eu sabia que era jovem e poderia obter mais da vida, muito além do que eu poderia obter somente com aquele emprego.

E eu sabia que poderia obter mais porque outras pessoas estavam obtendo mais da vida do que simplesmente um salário limitado no final de um mês sofrido. Mas, afinal, quem eu conhecia pessoalmente que estava obtendo mais do que eu próprio, que justificasse essa minha esperança em ter uma eventual fortuna ao meu alcance?

Pessoalmente eu não conhecia ninguém, mas eu era um administrador de empresas, e como administrador de empresas, eu tinha os empreendedores como modelos. E quem era o grande modelo em 2001, que despertava a inveja, a ira, o ciúme e ao mesmo tempo a admiração, a simpatia e o orgulho de grande parte do mundo civilizado?

Era Bill Gates, o homem mais rico do mundo, bilionário com pouco mais de trinta anos, uma pessoa de outro país, de um outro ramo de negócios, enfim, uma figura quase ficcional, mas nem por isso irreal e impossível de ser entendido, compreendido, e por que não, imitado.

Bill Gates é uma figura pública diretamente ligada ao mundo da tecnologia dos computadores. Eu só havia ouvido falar dele em 1994, quando comprei meu primeiro computador pessoal. Desde então, eu tenho acompanhado a evolução de sua empresa, seus produtos, suas ideias e sua vida em geral. Evidentemente que o admiro, mas não como um ídolo. Em 2001, eu o via apenas como um caso extremo de sucesso rápido, porque não conhecia outros mais surpreendentes. Ao longo dos anos, depois de 2001, tivemos a oportunidade de ver pessoas ficando ricas de maneira ainda mais rápida e impressionante, deixando claro para mim que eu não estava errado ao ter Bill Gates como um exemplo de empreendedor a ser seguido. Eu sabia e sei de minhas limitações, mas Bill Gates e todos os milionários do mundo também possuem limitações. Por que eu não poderia me tornar uma pessoa rica um dia? Ora, a fortuna estava ao alcance de qualquer um que se atrevesse a buscá-la. Por que eu não poderia me atrever ao mesmo? O que havia de errado comigo?

Então, fiz a minha quinta pergunta em minha agenda de anotações:

Por que Bill Gates não deixa minha consciência dormir em paz?

Esta foi uma pergunta sincera, verdadeira e direta. Eu poderia estar dormindo em paz todas as noites, seguro em meu emprego público não satisfatório, limitado e duro, mas já garantido, seguindo aquele velho ditado popular, segundo o qual mais vale um pássaro nas mãos do que dois voando, mas não dormia feliz.

Eu não poderia dormir em paz porque eu sabia que a longo prazo, mesmo com um salário garantido e uma aposentadoria certa, eu jamais teria o prazer de estar fazendo aquilo que eu gostaria de fazer, eu jamais iria ser dono de meu próprio nariz e eu jamais seria dono de meu próprio tempo e destino. O conforto momentâneo em que eu estava profissionalmente era apenas um engodo, uma ilusão, e quando eu me aposentasse, seria tarde demais para qualquer retomada de sonhos a muito esquecidos, e eu não queria abrir mão deles, de maneira nenhuma.

Bill Gates seria sempre uma figura a brilhar ao longe, a dizer-me que eu era um acomodado, um inerte, um fracassado, alguém que tentou, mas ficou pelo caminho, incapaz de se desenredar da rotina do dia-a-dia de um emprego sem sentido e frustrante, apenas porque se deixou seduzir pela segurança e pelo canto da sereia da estabilidade do serviço público.

Eu não queria viver o resto de minha vida trabalhando naquele serviço público. Não sabia como me livrar dele, mas tinha esperança de que a fortuna poderia estar ao meu alcance, e Bill Gates era a prova viva de que a fortuna era possível.

Inconformado, pensei em alternativas.

E, em desespero, continuei a fazer perguntas.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cuidando da própria vida

Todo mundo deve cuidar da própria vida. Isto é o que nos é ensinado desde quando somos pequenos. O que este ensinamento significa, na verdade? E por que eu estou falando sobre ele agora?

Cuidar da própria vida, no sentido geral que conhecemos em nosso meio social, significa na verdade que não devemos nos intrometer na vida das outras pessoas. É um ensinamento que está relacionado ao nosso direito de privacidade, de liberdade e de auto-motivação. Ninguém gosta que pessoas venham nos dizer o que devemos ou não devemos fazer. Não gostamos que as pessoas se intrometam em nossas vidas. Quando alguém é orientado a cuidar de sua própria vida, está sendo advertido a não se intrometer na vida de alguém. Está sendo advertido a respeitar a privacidade de alguém. E apenas isto.

Agora, estou falando neste assunto porque em determinado momento em minha vida, percebi que cuidar da própria vida pode ter um outro significado, que não este acima, de não se meter na vida dos outros.

Este segundo significado tem a ver com integridade pessoal e profissional, e irei aprofundar-me neste aspecto do conceito.

Eu disse aqui que fiz uma série de perguntas difíceis a mim mesmo, quando diante de um momento importante em minha vida. Dentre uma série de perguntas que fiz, as quais já respondi algumas aqui, neste blog, a quarta pergunta, ainda não respondida, tem o seguinte teor:

Como ser um bom administrador do alheio se não administro bem minha própria vida?

Esta quarta pergunta está relacionada com a terceira pergunta, mas vai um pouco além. Na terceira pergunta, eu me questionava se um envolvimento total com um objetivo de vida qualquer valeria ou não a pena, e respondi que sim, valeria a pena, mas respondi assim muito a contragosto.

É preciso que eu esclareça este fato. Aceitar um estilo de vida que envolve uma enorme tarefa e nenhuma garantia de que seremos bem sucedidos requer alguma coragem. E requer, mais que coragem, uma enorme fonte de energia interior, e por fim, muita, mas muita mesmo, energia física.

Do que estou falando?

Estou dizendo que comprometer-se com um projeto de longo prazo, qualquer que seja o objetivo, requer um esforço que em geral nos é doloroso. Esforçar-se por qualquer coisa cansa. Somos seres biológicos e gostamos de sossego e sono. Ter que se esforçar, e ainda por um longo tempo, nos deixa desmotivados. Projetos de longo prazo não são coisas fáceis.

E, por fim, eu sabia do que estava falando. 

Uma coisa é falar sobre projetos de longo prazo teoricamente, sem nunca ter posto em prática nenhum deles durante toda uma vida. Outra coisa é ter tido longos projetos de vida e ter se empenhado neles para valer. Coisa menos comum é ter indo em frente e, a despeito do sofrimento, ter chegado ao fim de um ou mais projetos deste tipo. E coisa rara é ter chegado ao fim de não um, mas vários desses projetos de vida e ter quebrado a cara na maioria deles no final. Não é fácil despender anos e anos de esforço lutando por algo para se chegar ao final de um longo período e se ver frustrado com os resultados.

Toda frustração é desanimadora. Ficamos sem chão quando tudo aquilo que esperávamos se esvai, depois de anos e anos de luta.

Eu sei do que estou falando. Já quebrei a cara com meus planos mais vezes do que gostaria.

Então, o fracasso em grandes projetos de vida justifica o contragosto em se aceitar mais um deles. Por outro lado, desta vez eu poderia estar seguindo os passos corretos para não falhar, e, mais que isto, eu poderia estar seguindo os passos certos para não me frustrar no final de todo o esforço demandado.

A minha quarta pergunta - "como ser um bom administrador do alheio se não administro bem minha própria vida?" - trata desta frustração diante de planos de vida, e mais particularmente de um deles, a saber: meu curso superior.

Uma digressão é necessária aqui, neste momento.

Um dos mais caros planos de vida de uma pessoa nos dias atuais é a escolha de uma profissão, e depois desta escolha, a enorme tarefa de se profissionalizar naquilo em que se propôs trabalhar. Muitos podem não se importar em trabalhar nisto ou naquilo, mas nossa cultura é de especialização, e somos orientados a, e melhor recompensados se, seguirmos uma dada profissão que seja especializada em algum estreito ramo do conhecimento e que seja aprendida em uma faculdade, mediante um curso de formação que consome, regularmente, pelo menos quatro anos de nossa jovem e curta vida.

Escolher um curso é escolher uma profissão. Escolher uma profissão é escolher ter sucesso nesta profissão. Escolher passar quatro anos em uma faculdade, a despeito do enorme trabalho que é formar-se, é escolher um projeto de longo prazo que é desgastante. Logo, é sensato esperarmos algum sucesso depois de formados, quando já então exerceremos a profissão que escolhemos e nos especializamos a tanto custo.

Eu fiz minha escolha. Escolhi cursar uma faculdade de administração de empresas. Frequentei as aulas deste curso durante quatro anos seguidos, e dediquei-me de todo o meu ser a este processo. Era justo que eu esperasse algum sucesso depois de formado. Mas, em 2001, quando fiz a pergunta que é a razão deste texto, eu já estava formado fazia cinco anos. E o que eu tinha em mãos? Nada daquilo que eu esperava enquanto cursava a faculdade. Meus sonhos não se realizaram e eu estava muito longe daquilo que eu imaginava ser um futuro brilhante. Algo deu errado no meio do caminho e era doloroso admitir que eu me sentia frustrado com meu curso superior.

Eu, fazendo uma autocrítica, admiti que o problema era comigo. O problema não era com o curso em si ou com o mundo. O problema era eu, meu modo de ser e de pensar, meu modo de encarar a vida, sei lá, eu não era capaz de diagnosticar exatamente o que em mim era a causa de meu fracasso como administrador, mas admiti que o problema era comigo.

Por que admiti que o problema era comigo?

Porque era esta a abordagem da autoajuda, esta era a abordagem que as muitas mensagens que me eram passadas pelos livros dos autores que eu tinha em mãos sugeriam.

Meu problema, admiti, não era minha falta de conhecimento, mas, conforme ensinava Dale Carnegie, sim, minha inércia.

E ainda admiti que era verdade o que dizia Charles Spurgeon, em um trecho de "A universidade do sucesso", um livro de Og Mandino:


“Tome cuidado apenas consigo mesmo e mais ninguém; trazemos nossos piores inimigos dentro de nós.”

E tendo admitido que o problema era comigo, pus-me a perguntar o que em mim era o centro do problema, o que em mim que me impedia de ter sucesso como profissional, o que em mim que impedia que eu fosse feliz com aquilo que me propus a ser, e que agora poderia estar me levando de encontro a mais um sonho vão, mais um projeto sem futuro, mais uma fonte de frustração e infelicidade.

Eu pensava que todo o conhecimento adquirido nos bancos de uma faculdade eram inúteis se eu não soubesse como usá-los. Eu cheguei à conclusão de que eu nunca havia usado nada daquilo que havia aprendido na faculdade em nenhum momento de minha vida. Eu nunca deixei de trabalhar, mas nunca tive uma empresa só minha para tomar decisões e aplicar sem restrições o conhecimento que eu julgasse que deveria ser aplicado. Este fato era um problema, em um primeiro momento, mas não era de fato um problema depois de se pensar um pouco mais, porque eu poderia aplicar tudo o que aprendi para administrar a minha própria vida.

Ora, um médico não pode aplicar aquilo que sabe sobre medicina para cuidar de seu próprio corpo? Por que eu, um administrador, não poderia aplicar aquilo que sabia para cuidar da minha própria vida? Era uma pergunta sensata, e eu a fiz a mim mesmo. E conclui que não só poderia, como deveria aplicar o que sabia sobre administração para administrar minha própria vida. E não só isso. Eu conclui ainda que eu deveria aplicar esse conhecimento primeiro em minha vida, e somente então depois aplicar onde quer que fosse que pudesse ser aplicado depois, em uma empresa minha ou de terceiros. Eu devia experimentar a eficácia de meus conhecimentos primeiramente em mim mesmo antes de oferecer meus serviços profissionais ao mundo. Essa conclusão encerrava, como disse, um aspecto ético e esse aspecto ético me pareceu importante de ser entendido.

Como posso dar soluções para problemas de alguém quando não soluciono meus próprios problemas? Esse comportamento parece-me que denota falta de integridade entre o que se diz e o que se faz, ou entre aquilo que se faz e aquilo que se prega.

Eu questionei dois ensinamentos, dois bordões mais ou menos populares, e eles pareciam conflitantes entre si em meu entendimento. O primeiro deles diz:

"Pratique o que você prega."

Este bordão me parecia instigante e eticamente verdadeiro. E o segundo, bem conhecido, diz:

"Em casa de ferreiro, o espeto é de pau."

Mas este ditado me parecia hipócrita e lamentável, ainda que pudéssemos constatar sua ocorrência a todo momento na vida real.Eu não poderia admitir ser um administrador que não praticava aquilo que pregava, nem gostava da ideia de, em sendo eu o ferreiro, ter em minha casa espetos de pau. Eu, como um profissional, deveria praticar aquilo que viesse a recomendar a possíveis clientes, e assim, deveria tem minha vida pessoal bem administrada, como uma prova de que meu conhecimento não era uma mera pregação, mas uma forma de agir eficiente e aplicável onde quer que fosse recomendada.

Por fim, eu estava indignado por ter de recorrer a livros de autoajuda, já que tivera a oportunidade de estudar métodos muito mais bem consagrados nos bancos da faculdade. Era como recorrer a um curandeiro tendo passado anos em uma faculdade de medicina, ou recorrer a um mecânico de fundo de quintal para solucionar um problema sofisticado de engenharia sendo eu próprio um engenheiro.

Então, eis o contexto da pergunta, que refaço agora, para que fique clara:

Como ser um bom administrador do alheio se não administro bem minha própria vida?

A resposta a esta pergunta era que eu jamais poderia esperar ter qualquer tipo de sucesso advindo do simples fato de ter um curso superior em administração de empresas se não me desse ao trabalho de primeiro administrar bem a minha vida primeiro, porque do contrário, estaria vendendo promessas e fantasias, e ainda que fosse bem sucedido vendendo fantasias, ainda assim minha vida pessoal seria um caos no qual reinaria a infelicidade e o mal-estar, porque acreditava, e ainda acredito, ser impossível ser feliz e bem-sucedido no sentido espiritual, psicológico e material levando uma vida pessoal caótica, desorganizada e sem estrutura.

Essa necessidade de estrutura, organização e sentido é uma necessidade eminentemente pessoal, e se faz premente mais em alguns tipos de personalidades que em outros. Nem todo mundo vive bem no caos, mas há evidentemente muitíssimas pessoas que vivem excelentemente bem e felizes no, e somente no, caos diário do dia-a-dia, e a ordem os engessa, e os tolhe e os obstrui.

Ordem, organização, estrutura. Eu precisava disso em minha vida. Mas, apesar de tudo, não as tinha. E não as tinha não porque não as conhecesse, nem soubesse como aplicá-las em minha vida. Eu somente não as tinha em razão de uma única coisa, e esta coisa já foi razoavelmente bem discutida por aqui: a inércia.

Eu não precisava necessariamente de livros de autoajuda e de planos para ter uma vida de sucesso. Eu precisava apenas deixar a inércia de lado, tomar mão daquilo que já sabia e aprendera em meu curso de formação profissional e aplicá-lo em minha própria vida.

Paradoxalmente, eu conclui que não precisava dos livros de autoajuda, mas só vim a concluir isso exatamente porque li os livros de autoajuda. Ora, era mesmo um paradoxo.

Este paradoxo ficou latejando em minha mente, e mais tarde, pipocou, brilhante, sob a forma de uma nova pergunta.

Por hora, era certo que eu havia aprendido uma lição, a de que eu, antes de qualquer tentativa séria de ter sucesso na vida por meio de minha formação profissional, deveria, sim, cuidar de minha própria vida. E esse cuidar não era uma advertência contra minha intrusão na vida dos outros, mas algo mais sério, e diametralmente oposto: era um aviso de que eu não estava cuidando bem de minha vida, e que essa negligência estava cobrando seu preço.

Era preciso levar a vida a sério.

Era preciso amadurecer.

Era preciso ser adulto.

Mas, a inércia...

A inércia, sempre fazendo perguntas...

domingo, 21 de julho de 2013

A enorme tarefa de crescer e enriquecer

Fiz a mim mesmo a seguinte pergunta, a terceira de uma série, da qual tenho tratado aqui neste blog: a enorme tarefa de crescer e enriquecer não nos faz desanimar?

Mais uma vez, eu estava flertando com o fracasso. Quer dizer, mais uma vez eu estava tentando, por meio desta pergunta, racionalizar acerca de minha falta de coragem, ou mais precisamente, a pergunta era um reflexo da força e do poder da minha preguiça em enfrentar a vida da maneira como ela deveria ser enfrentada, segundo os livros de autoajuda.

Segundo Dale Carnegie e Og Mandino, ter sucesso em qualquer mudança, seja de estado emocional, seja de situação financeira, demandaria um enorme esforço e bastante tempo, esforço demais e tempo demais para uma pessoa que naquele momento não tinha a energia e disposição para se dar ao luxo de adotar um estilo de vida chamado conceitualmente de "envolvimento total". 

Falarei mais sobre o envolvimento total em um próximo post, mas de qualquer forma, descrevo-o aqui basicamente como um estilo de vida em que uma pessoa fortemente motivada a atingir determinado objetivo se envolve de tal maneira na busca deste objetivo que despende tempo e energia muito além do que uma pessoa comum e menos motivada seria capaz de despender. Eu, como uma pessoa comum, que até então nunca havia despendido este tipo de energia em busca de algum objetivo qualquer, fiquei assustado, e obviamente não queria abrir mão do conforto e do tempo livre para correr atrás de algo tão vago quanto "paz de espírito" e "sucesso". Não eu, ainda embrenhado em um modo de ver a vida basicamente típico de um preguiçoso.

Em um determinado ponto do livro "A universidade do sucesso", de Og Mandino, há um capítulo dedicado a um texto da escritora Joyce Brothers. Nele, apenas como um exemplo, Brothers pergunta se estamos dispostos a levar uma vida de compromisso total e, caso não estejamos, ela nos faz a seguinte recomendação:

"Contudo, se acha que, a contragosto, vai abrir mão das noites para trabalhar e que vai ressentir-se ao ter de deixar de se divertir nos fins de semana, então pense outra vez. Talvez não queira escalar até o topo da escada, apenas parte do caminho. Provavelmente sua verdadeira meta se encontre em outro lugar."

Era uma advertência sensata. Muita gente não tem tanto assim a ambição de viver bem e ficar rica. Talvez fosse este o meu caso. Talvez eu devesse me contentar com uma vida menos rica, um objetivo menos ambicioso, enfim, talvez eu devesse me poupar de tanto sofrimento e ter meu tempo livre para fazer minhas coisinhas mais divertidas do que simplesmente trabalhar, trabalhar e trabalhar.

Mas, não, eu não poderia me contentar com pouco sabendo que eu poderia obter mais da vida. Eu estava sendo malvado e preguiçoso. Eu estava abrindo mão de uma oportunidade única de viver o meu viver dando o melhor de mim, e, ao ser negligente e acomodado, eu estava de certa forma fazendo mau uso do dom da vida. No link acima, "malvado e preguiçoso", eu falo do Grande Planejador. Eu não digo quem é ele, mas resumidamente, ele é um ser superior a quem teríamos de prestar conta um dia pela maneira como vivemos a nossa vida, na verdade um presente dado a nós por ele. Ora, ainda que não haja um grande planejador, resta ainda a minha própria consciência. 

A minha preguiça flertava, sim, com a inércia e com os degraus mais baixos da escada, flertava com o comodismo e com o fracasso, mas minha consciência me advertia que sucumbir aos ditames da preguiça era agir como um ser humano malvado e preguiçoso, e que eu seria punido por mim mesmo e pela vida por esta minha fraqueza. 

Em resposta à pergunta "a enorme tarefa de crescer e enriquecer não nos faz desanimar?", respondi que sim, que crescer e enriquecer são tarefas enormes, e nos fazem desanimar, mas era preciso que eu as enfrentasse, se quisesse passar os últimos dias de minha vida em paz comigo mesmo, satisfeito por ter feito o meu melhor e não ter sucumbido à preguiça e ao comodismo.

A tarefa era enorme, mas era preciso que eu a enfrentasse. Havia sim, um certo contragosto, mas este era um efeito colateral menor do que uma consciência incomodada e ferida latejando o tempo todo diante da inércia e do comodismo. Primeiro eu deveria cumprir o meu dever, e depois, quem sabe, gozar a vida preguiçosamente. Esta era, e ainda é, a minha filosofia.

Mas nem por isso minhas dúvidas desapareceram. Esta foi a resposta para a terceira pergunta.

Logo, fiz a quarta. O amargor do contragosto ainda azedava em minha língua...

sábado, 20 de julho de 2013

Por que não a inércia?

Por que não a inércia?

Esta foi a segunda pergunta que fiz a mim mesmo dentro de um processo de questionamento do qual já falei neste blog, aqui.

Por que fiz esta pergunta? O que eu queria dizer com ela? A que eu estava me referindo ao falar em inércia? Que inércia? A que sentido da palavra inércia eu me referia?

A pergunta acima está diretamente relacionada a uma frase de Dale Carnegie em seu livro "Como evitar preocupações e começar a viver". Eu já tratei desta frase neste blog, aqui.

Reproduzo novamente a frase abaixo, para melhor nos situarmos. Carnegie a profere no final de seu prefácio, onde conta como e porquê o livro surgiu. Ele cita fontes de consultas, e fala do seu trabalho no livro mais como uma compilação de ensinamentos antigos do que como uma fonte de ensinamentos novos. Carnegie nos lembra que bons ensinamentos sobre paz de espírito e saúde mental existem há milhares de anos. Ele nos lembra:

“Mas já que tocamos no assunto, você e eu não temos necessidade de que nos contem nada de novo. Já sabemos o suficiente para viver vidas perfeitas. Todos nós já lemos as regras de ouro e o sermão da montanha. Nosso mal não é a ignorância, mas a inércia.”

Nosso mal é a inércia, e não a ignorância, quando o assunto é viver melhor.

Em minha primeira pergunta, indaguei: por que se preocupar com autoajuda?

A resposta está dada aqui: despreocupar-se com o objetivo de uma vida melhor, com paz de espírito e algum grau de sucesso significa simplesmente flertar com o fracasso, bem mais fácil e provável de ser obtido.

Então, a pergunta "por que não a inércia?" é uma forma diferente de se perguntar "por que se preocupar com autoajuda?", exceto que agora, ela está dentro de um contexto do livro de Carnegie.

Deixar nosso estado de ser baseado em hábitos diários, deixar nosso modo de vida inerte é muito difícil. Começar a dar um passo, por pequeno que seja em busca de uma vida melhor requer um esforço que as pessoas em geral não estão dispostas a despender. Qualquer coisa que envolva esforço, desconforto e resultados não imediatos nos desanima. Não é mais fácil a inércia?

Mas, é bom que saibamos que Carnegie livra a ignorância da culpa pelos nossos problemas. Se não vivemos da maneira que gostaríamos, a culpa não é da ignorância. A culpa é da inércia. Logo, não são só os ignorantes que sucumbem à inércia, mas mesmo aqueles que sabem o que deveriam fazer, mas não fazem.

Então, se nosso problema é a inércia, e não a ignorância, não somos necessariamente todos ignorantes. Mas, eis o paradoxo, como é possível que saibamos o que devemos fazer e não façamos?

Não preciso dar exemplos de situações comuns em que nos metemos em problemas e levamos uma vida aquém do que poderíamos levar simplesmente porque não colocamos em ação aquilo que sabemos que poderia ser a solução de nossos problemas, porque somos inertes.

Mas, mais uma vez, pergunto, agora de uma forma diferente: como é possível que uma pessoa saiba como resolver um problema, mas mesmo assim, é inerte e não o resolve? Como se sente uma pessoa nesta situação? Em quem pode colocar a culpa de estar na situação que está? Ela pode culpar alguém mais que ela mesma pela miséria mental e material em que vive? Como uma pessoa pode dormir em paz sem culpa pela sua inércia?

Esta é a resposta para a pergunta, então, ao menos para mim: eu não posso optar pela inércia porque eu não sou ignorante, sou um adulto apto para a vida e não posso culpar ninguém em particular por não dar uma solução para os problemas os quais eu sei a solução, mas não os soluciono por pura inércia.

Inércia é comodismo, é preguiça, é hábito nocivo, é, enfim, um vício.

Eu não poderia por minha cabeça sobre um travesseiro todas as noites sabendo que meus problemas só existem por culpa de meus próprios vícios.

Eu jamais permitir-me-ia sucumbir diante de um vício.

Outros, talvez. Não eu. Vícios, comigo, não.

Eu sentiria vergonha de minha inércia.

Eu não seria capaz de me encarar frente a um espelho.

Por isso, eu decidi dizer um não à minha inércia.

Sucumbir à inércia, jamais.

Mas, então, eu fiz uma terceira pergunta...

Flertando com o fracasso

Em minha postagem anterior, eu fiz a pergunta: por que preocupar-se com autoajuda?

Eu poderia simplesmente seguir minha vida sem dar maior importância ao assunto e evitar o trabalhoso e demorado esforço de me empenhar dia após dia, ano após ano, na busca de algo que livros me diziam para fazer sem ter garantia alguma de que eu obteria algum resultado real. Na verdade, eu estava flertando com o fracasso, estava pensando seriamente em abrir mão de métodos de livros de autoajuda e ir tocando a minha vida sem eles. 

Eu poderia ir seguindo a corrente da vida, e tirando proveito das oportunidades do dia-a-dia, e tentando me safar dos problemas que teria de enfrentar de um jeito ou de outro, porque ninguém, nem o mais rico e afortunado dos homens está livre de ter de enfrentá-los, e assim, viveria sem maiores tarefas e obrigações.

Eu estava sendo pressionado pela preguiça e pela desconfiança.

Mas, eu poderia me dar ao luxo de tocar a vida sem planos e sem método? Se sim, por que eu me interessei por livros de autoajuda?

Eu resolvi ler Dale Carnegie e seu "Como evitar preocupações e começar a viver" para dar um combate à depressão. E eu li Og Mandino e seu "A universidade do sucesso" porque eu queria tentar ter um pouco mais de sucesso na vida, ainda que somente do ponto de vista meramente financeiro.

Enfim, eu queria paz mental e dinheiro.

Mas, como poderia confiar em mim mesmo e dispensar o apoio de livros de autoajuda? Sem eles, e antes deles, eu tive paz de espírito, mas acabei caindo em depressão. E sem eles, e antes deles, nunca ganhei mais do que o suficiente para ir vivendo a vida, economizando trocados e sem perspectiva alguma de melhoria a curto e médio prazos. Se eu me achava tão bom assim que pudesse ir vivendo sem ajuda, por que já não era bem sucedido financeiramente e não vivia livre da depressão?

Na verdade, eu não era tão bom assim. Eu não tinha o pleno domínio de meu estado mental, e não tinha a capacidade de ganhar dinheiro de maneira sistemática em escala adequada. Sem ajuda, eu teria mais do mesmo, teria mais daquilo que eu já vinha obtendo: instabilidade emocional e grana curta mês após mês.

Mas não era só isso. Eu já tinha lido os livros acima, e a mente humana tem uma característica interessante, que é a de ser incapaz de apagar aquilo que ela já sabe que sabe. Tendo lido algo que para mim era claro e com o qual eu concordava, não havia meio de fingir que não sabia daquilo que havia lido e fingir que não era verdade, ou que aquilo que eu havia lido não tinha sido mesmo lido. Eu não podia fingir que não sabia que havia lido o que tinha de fato lido.

E o que foi que eu li que me fez pensar seriamente em não abrir mão do apoio dos livros de autoajuda?

Só como um exemplo, eloquente, na verdade, de uma advertência que nos faz Carnegie sobre o risco de não tomarmos cuidado com nossa saúde mental, transcrevo uma parte das palavras que aparecem logo na contracapa de seu citado livro:

"A preocupação esgota nossa energia, deturpa nossos pensamentos e enfraquece nossa ambição."

Em outras palavras: deixar que nossa saúde mental se deteriore implica em viver uma vida sem energia, ter nossos pensamentos deturpados e nos tornarmos pessoas sem ambição. Fraqueza, deturpação mental e letargia.

Quem quer viver uma vida assim? Por que viver uma vida assim?

Eu sei o que significa viver uma vida assim. Senti na pele, várias vezes, os efeitos de instabilidade emocional, falta de orientação psicológica, porque minha história de vida me levou a isso, a diferentes crises nervosas, a uma personalidade problemática, a um pessimismo doentio e a uma imaturidade de raciocínio que só me trazia prejuízos de diferentes ordens. Eu sabia que não era mais possível continuar vivendo sob o risco de cair novamente sob as garras da instabilidade psicológica e da depressão. Eu não podia mais permitir isto em minha vida. Eu era jovem demais para entregar os pontos e desistir de viver plenamente. E eu já tinha tentado todos os caminhos mais conhecidos disponíveis ao público em geral, coisas como psicólogos, psiquiatras, remédios e tudo o mais, catarses destrutivas, violência, ódio e pensamentos extremamente perigosos para mim e para a sociedade. Era preciso tentar a autoajuda. Era uma questão de vida ou morte. E eu não poderia fracassar.

E quanto ao sucesso, eu não poderia fazer vista grossa às palavras de Mandino, tais como as que transcrevo abaixo, somente como um exemplo, e que me faziam pensar sobre os riscos de se levar uma vida ao acaso. Sim, diz Mandino, nós em geral sobrevivemos sem planos, mas:

"Que você tenha conseguido sobreviver é sem dúvida um tributo à sua fé e coragem."

E eu concordava, e ainda concordo com ele. Que eu tivesse conseguido sobreviver até meus 30 anos sem a ajuda de quase ninguém para me orientar no mundo complexo e difícil em que vivemos foi sem dúvida um tributo à minha fé e à minha coragem, porque eu vivi todos esses anos por minha própria conta, e muito pouco havia sido ensinado a mim que pudesse ter ajudado em meus passos rumo a uma vida melhor e mais bem sucedida. Mas a fé e a coragem têm seus altos e baixos, e eu já não podia contar somente com esses dois recursos psicológicos para continuar tocando o resto de minha vida. Sozinho, e sem planos, eu não tinha chances. 

Claro, antes de me impor esta pergunta, eu havia estudado duramente quatro anos em uma faculdade de Administração de Empresas, mas naquela fase de minha vida tudo aquilo que eu havia aprendido me parecia quase inútil sob o ponto de vista do apoio que eu espera obter de um estudo de nível superior que era, para mim, ingenuamente, uma aposta de melhoria de vida e de sucesso financeiro. 

Então, diante da pergunta "por que se preocupar com autoajuda?" eu tinha como resposta o fato de que deixar de me preocupar com autoajuda significava uma vida sem perspectivas de paz de espírito e um sucesso deixado ao acaso.

Eu precisava me preocupar com autoajuda se quisesse ter paz de espírito e sucesso financeiro. Eu não podia mais confiar nas alternativas tradicionais. Eu não podia contar mais com a medicina tradicional, que falhara comigo, e nem com o conhecimento de um curso de administração, que não apontava caminhos para a minha vida profissional e financeira.

Eu precisava urgentemente de novos caminhos.

Essa urgência por alternativas de futuro era imperiosa. Eu não podia mais flertar com o fracasso.

Ainda assim, eu continuei fazendo perguntas, até que elas chegaram a um total de quarenta e sete.

Essa era a resposta da primeira.

Agora, era preciso enfrentar a segunda, e ir em frente.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Por que se preocupar com autoajuda?

Esta foi a primeira das 47 questões que fiz em minha agenda, e que não é uma pergunta fácil, e que por isso mesmo eu não a respondi como deveria ter feito.

Por que se preocupar com autoajuda?

Mas, primeiro, por que eu fiz essa pergunta, e não outra qualquer?

Antes de mais nada, é preciso que eu seja claro com relação a alguns aspectos que envolvem livros de autoajuda.

Mas, então, o que são mesmo livros de autoajuda?

Eu já escrevi neste blog sobre a minha primeira experiência com um livro de autoajuda. Também já escrevi aqui sobre outras experiências com livros de autoajuda depois desta primeira experiência. Finalmente, já escrevi também sobre as críticas feitas aos livros de autoajuda. Eu destaquei que uma condição fundamental para que livros de autoajuda funcionem é que as pessoas que decidem lê-los precisam aplicar com muita disciplina aquilo que lhes é recomendado.

Também teci alguns comentários acerca da disciplina, embora que muito superficiais.

Não cabe aqui, neste post, responder às perguntas sobre as causas ou as origens da disciplina, embora sejas questões interessantes. O que cabe aqui é dizer que eu sou uma pessoa relativamente disciplinada. Já fui menos disciplinado, e tenho me esforçado para sê-lo mais, com algum êxito. De qualquer forma, na época em que eu fiz a pergunta acima, por volta do segundo semestre de 2001, eu estava fortemente motivado a seguir dois livros que eu considerava importantes para aquele momento de minha vida. O primeiro deles era "Como evitar preocupações e começar a viver", de Dale Carnegie, em primeiro lugar, e depois "A Universidade do Sucesso", de Og Mandino.

Eu segui todas as recomendações de ambos os livros, e criei minha caderneta de anotações. Após algum tempo vivendo a vida e pensando no assunto, percebi que algo estava errado, e que seguir as instruções não estavam me levando a lugar nenhum. Eu escrevi sobre esse sentimento de frustração aqui.

Percebi que os livros eram apenas um apoio, não uma reposta definitiva para os problemas que eles se propunham a resolver. E escrevi sobre a dificuldade que é obter sucesso seja lá no que for que nos metamos a fazer.

Por fim, comecei a desconfiar dos livros de autoajuda. E já falei sobre desconfiança aqui também.

Agora, por que eu fiz esta pergunta?

Eu fiz esta pergunta porque eu tinha, e tenho, elementos seguros para afirmar que evitar preocupações e obter o sucesso, ou seja lá o que fosse que eu me propusesse a fazer, com ou sem o apoio de livros, de autoajuda ou não, iria exigir de mim um esforço tremendo.

Sim, seguir qualquer tipo de rotina positiva requer esforço, requer sofrimento. E eu não estava muito disposto a sofrer.

Quem me dizia que seguir livros de autoajuda seria um processo lento e doloroso?

Eram os próprios livros de autoajuda.

Vejamos o que dizia Dale Carnegie, só como um exemplo:

"Conheço uma mulher que, durante quinze anos, foi gerente de escritório, de importante companhia de seguros. Lia, no fim do mês, todos os contratos de seguros de sua firma. Sim, lia os mesmos contratos mês após mês, ano após ano. Por que? Porque a experiência lhe ensinara que aquela era a única maneira de guardar claramente no espírito todas as suas cláusulas.

Certa ocasião, levei quase dois anos escrevendo um livro sobre como se falar em público. Não obstante, de quando em quando, tenho de passar os olhos por ele, para me lembrar do que escrevi no livro. É espantosa a rapidez com que nos esquecemos.

De modo que, se você quiser tirar benefícios reais e duradouros deste livro, não julgue que lhe bastará lê-lo apressadamente uma vez. Depois de o ler do princípio ao fim, você terá de passar algumas horas examinando-o, todos os meses. Conserve-o à sua frente, em sua mesa, todos os dias. Corra, com frequência, os olhos pela suas páginas. Mantenha constantemente no espírito as ricas possibilidades de melhoria que ainda se encontram à distância. Lembre-se de que o uso destes princípios só se pode tornar habitual e automático por meio de constante e decidido empenho, de sua parte, em analisá-los e pô-los em prática. Não há outra maneira."

Isso soa desanimador e trabalhoso?

Então veja o que nos propõe Og Mandino, sobre a maneira como devemos agir para tirar o máximo proveito de seu livro:

"Não tenha pressa. Será conduzido pacientemente por oito semestres como em um curso normal de faculdade, mais dois semestres adicionais de estágio, de forma que possa lidar com o sucesso quando for obtido"

Um livro para ser lido em seis anos! Parece animador?

E por fim, um aviso de Howard Whitman, em um dos capítulos iniciais do livro de Mandino, que nos alerta para um ingrediente essencial, sem o qual o sucesso nunca será sucesso:

"Um terceiro ingrediente constante do sucesso é o preço dele. Não existe sucesso de graça."

Então, alertado pelos próprios autores dos livros de autoajuda, e ciente de que poderia estar perdendo meu tempo com algo que poderia não dar resultado algum, eu fiz a pergunta inicial:

Por que se preocupar com auto-ajuda?

Agora, as possíveis respostas.

Sim, eu estava flertando com o fracasso...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

As 47 perguntas difíceis não respondidas sobre autoajuda

Ainda que eu não tenha dado um tratamento adequado às ideias subjacentes contidas em minhas anotações na Agenda 99 e postadas pela última vez aqui, tratando de meus malfadados mandamentos pessoais, adianto-me e passo às anotações seguintes.

Após ter passado algum tempo lendo uma série de anotações em minha caderneta de apoio, e frustrado pelo aparente estado de estagnação de minha vida pessoal, decidi fazer algumas perguntas óbvias, às quais anotei e reproduzirei neste blog, nas próximas postagens.

Eu não decidi fazer uma série de perguntas por acaso. Eu resolvi questionar uma série de ensinamentos tendo como estímulo esses próprios ensinamentos. Havia alguma coisa escrita nos livros que eu andava estudando que me levou a parar e fazer as perguntas que fiz.

As perguntas são em um total de 47, um número grande, é verdade, e que seguem um raciocínio que me pareceu bastante lógico à época. De passo em passo, parti de uma dúvida simples e me aprofundei na questão.

Eu tinha a resposta para todas as perguntas?

Não, evidentemente.

Mas eu tinha hipóteses que poderiam servir de respostas para elas. A primeira pergunta é obviamente um questionamento baseado em uma frase de um livro, mas as demais surgiram calcadas nas possíveis respostas às perguntas respectivamente anteriores.

Mais uma vez, não faz muito sentido expô-las aqui descontextualizadas de suas ideias subjacentes. Daí que serão necessários novos posts futuros para elucidá-las. 

Além do mais, eu disse que não tinha resposta para elas à época, e é provável que não tenha respostas ainda hoje. O que não significa que me furtarei a tentar respondê-las. Eis aqui uma oportunidade grandiosa de exercitar minhas habilidades de raciocínio e lógica.

A quantidade, 47 questões, foi resultado do mero acaso. Poderia ser mais ou menos que isto. Mas ainda assim, é um número que considero elevado, tendo em vista a complexidade das possíveis respostas.

Este passo, o de expor 47 perguntas difíceis não respondidas sobre autoajuda vai além do que simplesmente transcrever uma parte de uma agenda de papel. Ele vai a fundo em questões que estão vivas, e creio, não somente em mim, mas em muita gente atenta ao mundo em que vivemos. Afinal, nem tudo do que se relaciona a elas é diretamente assunto do tema autoajuda em si, indo de encontro a temas tais como economia, mídia, administração, filosofia, ciência, ética, e por fim, mesmo a matemática.

Creio que será empolgante discuti-las, e não me furtarei a esta tarefa, porque creio que é das boas perguntas que advém as boas respostas, as ideias que podem dar um novo entendimento pessoal sobre o mundo em que vivemos e a vida que nele levamos.

Além disso, devo a mim mesmo respostas a estas questões. Talvez não sejam respostas conclusivas e definitivas, mas devo a mim mesmo o trabalho de tentar respondê-las por escrito, para que fiquem registradas. 

Este blog é, definitivamente, o local mais adequado para abordá-las, até que algum outro meio se afirme mais oportuno.

Se você não está acostumado com blogs deste tipo, acostume-se. É diversão garantida.

domingo, 7 de julho de 2013

Promessas não cumpridas

Eu disse aqui sobre o fato de que podemos assumir compromissos pessoais públicos através de postagens em blogs. Eu ao menos tenho pensado em fazer isto, na esperança de que o desconforto que sentirei me forçará a tomar alguma atitude positiva.

O desconforto, já disse, advém da diferença que há entre aquilo que somos e fazemos de fato e aquilo que pensamos ser e fazer em nossas mentes egoístas.

Eu tenho feito promessas neste blog desde a primeira postagem, literalmente.

Eu prometi, em minha primeira postagem, que seria fiel a este blog e faria dele uma bela página pessoal, mas passados tantos anos escrevendo, ainda não tenho uma página pessoal organizada, nem disponibilizei ao mundo minhas ideias tão cuidadosamente anotadas em minhas queridas agendas pessoais.

Por que não cumpri ainda essas simples promessas?

Não as cumpri porque elas não são simples, e depois, eu não vejo que benefício terei com elas.

Ideias em geral não são coisas simples. Quando anotamos coisas no fervor do momento em que ideias aparentemente interessantes vêem à mente, não podemos nos dar ao luxo de encher o papel de detalhes. Anotamos apenas as palavras mais significativas, e o resto está subentendido em nossas mentes. Mas não adianta mostrar palavras rascunhadas apressadamente a uma pessoa que não conhece sobre que tipo de ideias essas palavras se referem, nem sabe de que maneira a ideia está conectada a um contexto maior, e que tipo de problema ela procura solucionar, ou que tipo de utilidade possa ter. Se fosse assim tão fácil, eu colocaria uma cópia perfeita de minha agenda em uma dúzia de postagens e a tarefa estaria terminada. No entanto, se fizesse isso, o palavreado sem sentido seria mais lixo na internet. Ninguém saberia o que significaria cada uma das muitas frases soltas, sem conexão aparente entre si, e eu não teria atingido o meu objetivo de iluminar um pouco mais o mundo com o brilho pálido de meus pensamentos originais.

Ora, socializar ideias é mais que simplesmente publicar rascunhos de agendas.

Então, não cumpri ainda a promessa de disponibilizar as ideias em minhas agendas porque este é um trabalho longo e de fôlego. Mas eu não desisti, nem parei de alimentar este blog com discussões e pensamentos que considero pertinentes e conectados àquilo que originalmente me comprometi.

Qual o meu ganho com isto?

Eu tenho ganhado muito pouco em termos de visitas ao blog, o que não significa que pessoas em geral não o leiam. Talvez poucos tenham tirado algum proveito, mas este não é o maior ganho, nem o único. O que tenho ganhado é uma espécie de clareza em relação àquilo que eu mesmo penso, ainda que constantemente eu tenha reclamado da enorme confusão que são minhas ideias e projetos e a enorme falta de tempo e dificuldade em priorizar seja lá o que for, mas isto não significa que não haja um ganho em se colocar por escrito, e em público, aquilo que tenho pensado.

Eu me cobro, não tenham dúvidas.

Por isso, peço a mim mesmo paciência para comigo mesmo e minhas dificuldades, porque para mim a vida não é nada simples, nem fácil, nem passível de ser simplificada e facilitada. Ela é o que é e tende a se tornar mais complexa e difícil ainda. Daí que todo esforço no sentido de ordem e compreensão é bem vindo. Eu ganho, e quem entender o que penso, ganha também.

De resto, tenho mais promessas esparramadas por inúmeras postagens, e me propus a falar mais sobre certos assuntos que julgo merecedores de mais atenção. Eu o farei.

Aliás, já estou fazendo.

Desfrutando o que se tem

Tenho pensado bastante sobre a frase abaixo:

“Existem dois objetivos na vida: primeiro, conseguir o que se quer; e depois, desfrutar o que obteve. Apenas os mais sábios realizam o segundo”

Logan Pearsall Smith

Evidentemente, não é a primeira vez que a comento aqui, neste blog. E a razão é que ela lança um desafio a todo aquele que a lê. Ela desafia-nos a nos provarmos sábios simplesmente desfrutando daquilo que já é nosso.

Por que o simples desfrutar daquilo que é nosso implica em alguma espécie de sabedoria?

Porque desfrutar é um ato que demanda disciplina, antes de tudo. Disciplina primeiramente para nos lembrarmos de que devemos desfrutar aquilo que temos, e disciplina em um segundo momento para tomarmos consciência daquilo que realmente temos, daquilo pelo qual viemos a lutar um dia, e que tanto esforço nos exigiu. E por fim, disciplina para continuar o ato de desfrutar daquilo que é nosso por esforço e merecimento não uma, nem duas, mas vezes e vezes sem conta, até que o ato de desfrutar não signifique mais um desfrute, mas uma obrigação, um peso, um dever, que não mais nos proporciona nada de bom, útil ou prazeroso, e que torna aquilo que é nosso não mais tão desejável quando antes, e assim, possamos seguir em frente, com novos objetivos e novos desfrutes, e assim por diante, num processo de desejo, busca, desfrute e abandono que seja ao mesmo tempo saudável e não alienante, não meramente consumista, e que não se resuma a ciclos fúteis de consumo e descarte glutômano e doentio.

Mas estamos muito longe de sermos sábios. 

Olhe à sua volta, veja quantas coisas possui, somente sob o aspecto material, e verá que a maioria do seu esforço na vida se resumiu a trabalhar para ganhar dinheiro para comprar coisas que você quase nunca usa, e portanto, significa que todo esse tempo passado trabalhando foi quase que todo convertido em nada, porque você não é capaz de desfrutar do que obteve.

Você não é assim? Não? Desculpe...

Eu sou.

Estou trabalhando desde meus 12 anos. Nem tenho ideia do quando de dinheiro ganhei e gastei. Nunca trabalhei de graça para ninguém, nem nunca fiquei sem trabalhar. Logo, acumulei coisas, que possuo, sim, mas não desfruto.

Tenho mesmo que desfrutar? Mas se não, por que tenho o desejo de ter coisas das quais não desfrutarei? Não sinto prazer em simplesmente consumir dinheiro pelo mero prazer de consumir dinheiro. Quando compro algo, penso que aquilo tem algum valor para mim, ao menos naquele momento.

Se é assim, por que então não desfruto daquilo que já tenho em mãos?

Por que sou volátil? Será que aquilo que me agradava ontem não me agrada mais hoje?

Pode ser. Poderia ser, mas não é verdade. Pego, como contraprova desta hipótese, o fato comum de que vez por outra eu decido usufruir de coisas que obtive a muito tempo atrás, e essas coisas ainda são prazerosas, interessantes e úteis. Então, qual é o problema?

Eu poderia passar dias pensando no assunto.

Eu, ao contrário do que faço hoje, já fiz alguma espécie de controle financeiro. Eu já me importei em fazer o que todos os livros de finanças pessoais consideram essencial para se ter algum controle sob nossas finanças: eu iniciei um registro de todos os meus ganhos e gastos, por um certo período de tempo.

Eu ainda tenho esse registro.

Eu olho para ele e penso: no dia x, gastei tantos Reais para comprar algo que foi consumido definitivamente, tal como uma refeição ou um aluguel, mas no dia y eu comprei algo que ainda está aqui, comigo, em minha casa, depois de mais de uma década de comprado. E o que eu fiz com esse algo que foi comprado para ser desfrutado?

Eu estou desfrutando deste algo?

Mas essa forma de pensar não é uma espécie de paranoia?

Não, não é, porque eu passo no mínimo 8 horas por dia trabalhando, deixando de viver a minha vida para ter dinheiro para justamente comprar esse algo que agora desprezo.

Eu não deveria ter comprado o que agora não me interessa?

Mas então, o que me levou a comprá-lo?

Eu simplesmente não aceito que estejamos vivendo a décadas como escravos de nossos trabalhos simplesmente para entulhar nossas casas de bobagens sem sentido. Não é aceitável que sejamos tão péssimos em nossas estratégias de vida.

Não deveríamos ter comprado, nem lutado por isto, mas já que lutamos, e compramos, agora temos o dever moral de desfrutar. Não é mais apenas uma questão de sermos sábios, mas uma questão de não sermos burros.

Odeio ser tapeado por algo que nem sem quem ou o que me tapeia.

Tenho o dever de conhecer meus inimigos.

Sun Tzu!

A perdição do pobre é a pobreza

A perdição do pobre é a pobreza.

Alfred Marshall, economista inglês, foi quem o disse, e concordo com ele.

A mente humana pode muitas coisas, e um de seus poderes é a capacidade de sentir empatia por outros humanos, a capacidade de simular, emular o sentimento íntimo de outra mente, que não a sua própria. Mas a empatia tem limites. Como simulação, é um pálido espantalho perto do que realmente sente o ser original. A empatia só é mais real na medida em que quem a sente já tenha ou não vivenciado situação igual ou parecida com a que tenta emular.

É fácil sentir, por exemplo, empatia por um pobre coitado cidadão irritado por estar atrasado para o trabalho de manhã e que, furioso, mete a mão na buzina do carro e resfolega sozinho contra o trânsito que não anda. É fácil porque quase todo mundo já passou por situação parecida em grandes cidades. Sabemos como é a situação, e assim, fica fácil entender o que vai pela cabeça do sujeito irritadiço.

Mas não é fácil um homem, um exemplar adulto do sexo masculino, sentir empatia por uma mulher, um exemplar adulto do sexo feminino, quando esta relata a experiência de um parto pessoal. Sabemos o que é dor, mas nós, homens, não temos úteros, e não é fácil fingir que temos um. Também não é fácil sentir empatia por uma série de situações que não fazem parte de nossa realidade.

A pobreza é uma dessas situações.

Para uma pessoa que nunca foi pobre, é muito difícil sentir verdadeira empatia por quem foi ou é pobre. Quem nunca foi pobre não tem poder mental suficiente para recriar as milhares de pequenas coisas que formam, em seu conjunto, aquilo que chamamos pobreza.

Isto não significa que a pobreza seja uma condição que seja digna de orgulho ou de honra. Poucos, afinal, escolhem ser pobres. E ninguém tem o poder de escolher nascer pobre. Simplesmente nasce-se pobre. E quem, não tendo nascido pobre, vem a ser por um motivo ou outro, se pudesse, evitaria a pobreza. Há, claro, abnegados, tais como certos religiosos, ou profissionais, como médicos, cuidadores, pesquisadores, que se submetem a um ambiente de pobreza com o fito de lutar contra ela, mas esta é uma decisão bem pensada, e por isso mesmo, não definitiva. Um padre pode cansar-se de um lugar pobre e ir para outro local menos áspero. Não está apegado à pobreza como está o próprio pobre.

Assim, o pobre, que não pode emular, por sua vez, a não pobreza, mantém-se onde está, na sua perdição. Se pudesse de fato saber que há algo melhor que a pobreza, poderia lutar para obter este algo. Mas então, estamos indo longe demais, porque não há somente uma questão de ignorância de status social e de decisão de ficar ou mudar. Há forças maiores que a mera ignorância que prendem o pobre à sua pobreza. O conforto proporcionado pelo abandono da pobreza não é estímulo suficiente para que um pobre se esforce para deixar de ser pobre. O brilho do conforto se apaga diante de outras luzes que o convidam a ficar onde está.

Que brilhos são estes?

Há muitos.

O conformismo, a preguiça, a enorme dificuldade da tarefa de mudança, as ameaças religiosas e filosóficas, os obstáculos da própria sociedade, a exigência quase sempre necessária de mudança física de um lugar querido para outro absolutamente ameaçador e estranho, enfim, há mais forças lutando para que o indivíduo fique onde está do que forças lutando para que ele mude.

A perdição do pobre é a pobreza, disse Marshall, um economista.

O que mais a Economia tem a nos ensinar?