Fiz a mim mesmo a seguinte pergunta, a terceira de uma série, da qual tenho tratado aqui neste blog: a enorme tarefa de crescer e enriquecer não nos faz desanimar?
Mais uma vez, eu estava flertando com o fracasso. Quer dizer, mais uma vez eu estava tentando, por meio desta pergunta, racionalizar acerca de minha falta de coragem, ou mais precisamente, a pergunta era um reflexo da força e do poder da minha preguiça em enfrentar a vida da maneira como ela deveria ser enfrentada, segundo os livros de autoajuda.
Segundo Dale Carnegie e Og Mandino, ter sucesso em qualquer mudança, seja de estado emocional, seja de situação financeira, demandaria um enorme esforço e bastante tempo, esforço demais e tempo demais para uma pessoa que naquele momento não tinha a energia e disposição para se dar ao luxo de adotar um estilo de vida chamado conceitualmente de "envolvimento total".
Falarei mais sobre o envolvimento total em um próximo post, mas de qualquer forma, descrevo-o aqui basicamente como um estilo de vida em que uma pessoa fortemente motivada a atingir determinado objetivo se envolve de tal maneira na busca deste objetivo que despende tempo e energia muito além do que uma pessoa comum e menos motivada seria capaz de despender. Eu, como uma pessoa comum, que até então nunca havia despendido este tipo de energia em busca de algum objetivo qualquer, fiquei assustado, e obviamente não queria abrir mão do conforto e do tempo livre para correr atrás de algo tão vago quanto "paz de espírito" e "sucesso". Não eu, ainda embrenhado em um modo de ver a vida basicamente típico de um preguiçoso.
Em um determinado ponto do livro "A universidade do sucesso", de Og Mandino, há um capítulo dedicado a um texto da escritora Joyce Brothers. Nele, apenas como um exemplo, Brothers pergunta se estamos dispostos a levar uma vida de compromisso total e, caso não estejamos, ela nos faz a seguinte recomendação:
"Contudo, se acha que, a contragosto, vai abrir mão das noites para trabalhar e que vai ressentir-se ao ter de deixar de se divertir nos fins de semana, então pense outra vez. Talvez não queira escalar até o topo da escada, apenas parte do caminho. Provavelmente sua verdadeira meta se encontre em outro lugar."
Era uma advertência sensata. Muita gente não tem tanto assim a ambição de viver bem e ficar rica. Talvez fosse este o meu caso. Talvez eu devesse me contentar com uma vida menos rica, um objetivo menos ambicioso, enfim, talvez eu devesse me poupar de tanto sofrimento e ter meu tempo livre para fazer minhas coisinhas mais divertidas do que simplesmente trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Mas, não, eu não poderia me contentar com pouco sabendo que eu poderia obter mais da vida. Eu estava sendo malvado e preguiçoso. Eu estava abrindo mão de uma oportunidade única de viver o meu viver dando o melhor de mim, e, ao ser negligente e acomodado, eu estava de certa forma fazendo mau uso do dom da vida. No link acima, "malvado e preguiçoso", eu falo do Grande Planejador. Eu não digo quem é ele, mas resumidamente, ele é um ser superior a quem teríamos de prestar conta um dia pela maneira como vivemos a nossa vida, na verdade um presente dado a nós por ele. Ora, ainda que não haja um grande planejador, resta ainda a minha própria consciência.
A minha preguiça flertava, sim, com a inércia e com os degraus mais baixos da escada, flertava com o comodismo e com o fracasso, mas minha consciência me advertia que sucumbir aos ditames da preguiça era agir como um ser humano malvado e preguiçoso, e que eu seria punido por mim mesmo e pela vida por esta minha fraqueza.
Em resposta à pergunta "a enorme tarefa de crescer e enriquecer não nos faz desanimar?", respondi que sim, que crescer e enriquecer são tarefas enormes, e nos fazem desanimar, mas era preciso que eu as enfrentasse, se quisesse passar os últimos dias de minha vida em paz comigo mesmo, satisfeito por ter feito o meu melhor e não ter sucumbido à preguiça e ao comodismo.
A tarefa era enorme, mas era preciso que eu a enfrentasse. Havia sim, um certo contragosto, mas este era um efeito colateral menor do que uma consciência incomodada e ferida latejando o tempo todo diante da inércia e do comodismo. Primeiro eu deveria cumprir o meu dever, e depois, quem sabe, gozar a vida preguiçosamente. Esta era, e ainda é, a minha filosofia.
Mas nem por isso minhas dúvidas desapareceram. Esta foi a resposta para a terceira pergunta.
Logo, fiz a quarta. O amargor do contragosto ainda azedava em minha língua...
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