Em minha postagem anterior, eu fiz a pergunta: por que preocupar-se com autoajuda?
Eu poderia simplesmente seguir minha vida sem dar maior importância ao assunto e evitar o trabalhoso e demorado esforço de me empenhar dia após dia, ano após ano, na busca de algo que livros me diziam para fazer sem ter garantia alguma de que eu obteria algum resultado real. Na verdade, eu estava flertando com o fracasso, estava pensando seriamente em abrir mão de métodos de livros de autoajuda e ir tocando a minha vida sem eles.
Eu poderia ir seguindo a corrente da vida, e tirando proveito das oportunidades do dia-a-dia, e tentando me safar dos problemas que teria de enfrentar de um jeito ou de outro, porque ninguém, nem o mais rico e afortunado dos homens está livre de ter de enfrentá-los, e assim, viveria sem maiores tarefas e obrigações.
Eu estava sendo pressionado pela preguiça e pela desconfiança.
Mas, eu poderia me dar ao luxo de tocar a vida sem planos e sem método? Se sim, por que eu me interessei por livros de autoajuda?
Eu resolvi ler Dale Carnegie e seu "Como evitar preocupações e começar a viver" para dar um combate à depressão. E eu li Og Mandino e seu "A universidade do sucesso" porque eu queria tentar ter um pouco mais de sucesso na vida, ainda que somente do ponto de vista meramente financeiro.
Enfim, eu queria paz mental e dinheiro.
Mas, como poderia confiar em mim mesmo e dispensar o apoio de livros de autoajuda? Sem eles, e antes deles, eu tive paz de espírito, mas acabei caindo em depressão. E sem eles, e antes deles, nunca ganhei mais do que o suficiente para ir vivendo a vida, economizando trocados e sem perspectiva alguma de melhoria a curto e médio prazos. Se eu me achava tão bom assim que pudesse ir vivendo sem ajuda, por que já não era bem sucedido financeiramente e não vivia livre da depressão?
Na verdade, eu não era tão bom assim. Eu não tinha o pleno domínio de meu estado mental, e não tinha a capacidade de ganhar dinheiro de maneira sistemática em escala adequada. Sem ajuda, eu teria mais do mesmo, teria mais daquilo que eu já vinha obtendo: instabilidade emocional e grana curta mês após mês.
Mas não era só isso. Eu já tinha lido os livros acima, e a mente humana tem uma característica interessante, que é a de ser incapaz de apagar aquilo que ela já sabe que sabe. Tendo lido algo que para mim era claro e com o qual eu concordava, não havia meio de fingir que não sabia daquilo que havia lido e fingir que não era verdade, ou que aquilo que eu havia lido não tinha sido mesmo lido. Eu não podia fingir que não sabia que havia lido o que tinha de fato lido.
E o que foi que eu li que me fez pensar seriamente em não abrir mão do apoio dos livros de autoajuda?
Só como um exemplo, eloquente, na verdade, de uma advertência que nos faz Carnegie sobre o risco de não tomarmos cuidado com nossa saúde mental, transcrevo uma parte das palavras que aparecem logo na contracapa de seu citado livro:
"A preocupação esgota nossa energia, deturpa nossos pensamentos e enfraquece nossa ambição."
Em outras palavras: deixar que nossa saúde mental se deteriore implica em viver uma vida sem energia, ter nossos pensamentos deturpados e nos tornarmos pessoas sem ambição. Fraqueza, deturpação mental e letargia.
Quem quer viver uma vida assim? Por que viver uma vida assim?
Eu sei o que significa viver uma vida assim. Senti na pele, várias vezes, os efeitos de instabilidade emocional, falta de orientação psicológica, porque minha história de vida me levou a isso, a diferentes crises nervosas, a uma personalidade problemática, a um pessimismo doentio e a uma imaturidade de raciocínio que só me trazia prejuízos de diferentes ordens. Eu sabia que não era mais possível continuar vivendo sob o risco de cair novamente sob as garras da instabilidade psicológica e da depressão. Eu não podia mais permitir isto em minha vida. Eu era jovem demais para entregar os pontos e desistir de viver plenamente. E eu já tinha tentado todos os caminhos mais conhecidos disponíveis ao público em geral, coisas como psicólogos, psiquiatras, remédios e tudo o mais, catarses destrutivas, violência, ódio e pensamentos extremamente perigosos para mim e para a sociedade. Era preciso tentar a autoajuda. Era uma questão de vida ou morte. E eu não poderia fracassar.
E quanto ao sucesso, eu não poderia fazer vista grossa às palavras de Mandino, tais como as que transcrevo abaixo, somente como um exemplo, e que me faziam pensar sobre os riscos de se levar uma vida ao acaso. Sim, diz Mandino, nós em geral sobrevivemos sem planos, mas:
"Que você tenha conseguido sobreviver é sem dúvida um tributo à sua fé e coragem."
E eu concordava, e ainda concordo com ele. Que eu tivesse conseguido sobreviver até meus 30 anos sem a ajuda de quase ninguém para me orientar no mundo complexo e difícil em que vivemos foi sem dúvida um tributo à minha fé e à minha coragem, porque eu vivi todos esses anos por minha própria conta, e muito pouco havia sido ensinado a mim que pudesse ter ajudado em meus passos rumo a uma vida melhor e mais bem sucedida. Mas a fé e a coragem têm seus altos e baixos, e eu já não podia contar somente com esses dois recursos psicológicos para continuar tocando o resto de minha vida. Sozinho, e sem planos, eu não tinha chances.
Claro, antes de me impor esta pergunta, eu havia estudado duramente quatro anos em uma faculdade de Administração de Empresas, mas naquela fase de minha vida tudo aquilo que eu havia aprendido me parecia quase inútil sob o ponto de vista do apoio que eu espera obter de um estudo de nível superior que era, para mim, ingenuamente, uma aposta de melhoria de vida e de sucesso financeiro.
Então, diante da pergunta "por que se preocupar com autoajuda?" eu tinha como resposta o fato de que deixar de me preocupar com autoajuda significava uma vida sem perspectivas de paz de espírito e um sucesso deixado ao acaso.
Eu precisava me preocupar com autoajuda se quisesse ter paz de espírito e sucesso financeiro. Eu não podia mais confiar nas alternativas tradicionais. Eu não podia contar mais com a medicina tradicional, que falhara comigo, e nem com o conhecimento de um curso de administração, que não apontava caminhos para a minha vida profissional e financeira.
Eu precisava urgentemente de novos caminhos.
Essa urgência por alternativas de futuro era imperiosa. Eu não podia mais flertar com o fracasso.
Ainda assim, eu continuei fazendo perguntas, até que elas chegaram a um total de quarenta e sete.
Essa era a resposta da primeira.
Agora, era preciso enfrentar a segunda, e ir em frente.
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