Eu disse no post anterior que não podemos nos rebelar contra as montanhas. Elas são o que são, elas são a pura realidade e nossa rebeldia em relação a elas não muda nada, a não ser trazer para dentro de nós uma eterna e amarga sensação de derrota.
Assim, diante de uma vida sem perspectivas, e incapazes de fazer algo a respeito, só nos resta, nesse momento, nos conformarmos com aquilo que é, com a realidade dos fatos, com a dureza do presente, que se estende diante de nós aparentemente tão e sempre imutável.
Dando continuidade à minha série de perguntas difíceis, e tendo já respondido sete delas, abordo aqui a oitava pergunta, decorrente das sete anteriores.
Eu disse no post anterior que diante de uma realidade que nos é desfavorável e que não muda, se quisermos seguir em frente com nossa vida sem grandes perdas é preciso que façamos uma mudança interior. Diante das montanhas, precisamos mudar nosso modo de pensar.
Tendo pensado assim, tendo chegado a esta conclusão, fiz minha oitava pergunta:
Por que necessitamos de uma reavaliação filosófica contínua?
Mas, antes, pergunto, apenas para nos situarmos melhor em relação ao assunto: o que é uma reavaliação filosófica contínua?
Nós, seres humanos, em geral somos animais extremamente adaptáveis a diferentes circunstâncias externas e internas. Esta adaptabilidade é um trunfo, mas nem todas as pessoas são igualmente flexíveis. Algumas pessoas mudam suas vidas, mas a dor da mudança impõe um sofrimento que quase anula os benefícios da própria mudança. Em geral não mudamos porque queremos, e sim porque a não mudança representa uma ameaça ao nosso modo de vida. Então, somos forçados a mudar, mas, apesar de nos livrarmos daquilo que nos ameaçava, acabamos caindo em uma nova situação que nos é dolorosa, porque é nova e desconfortável. Evidentemente, nem todos sofrem, mas em geral grandes mudanças não são necessariamente agradáveis.
Mas, às vezes nossas vidas entram em um estado de estagnação. E tendemos a nos acomodar, se a situação for favorável a nós, mas, por outro lado, tendemos a nos rebelar quando a situação nos é desfavorável. Acomodação é fácil. Rebeldia, não.
O rebelde com a vida estagnada precisa, ao menos temporariamente, adaptar-se também à estagnação. Ele não se submete à estagnação em caráter definitivo, mas ajusta-se, em estado de alerta, na expectativa de que mais dia, menos dia, uma brecha nas muralhas da rotina se abrirá e ele, o rebelde, tramará e agirá em busca de uma fuga libertadora.
Assim, esse estado de alerta, essa capacidade de se moldar aos acontecimentos da vida, esse estado de prontidão para a mudança, essa submissão provisória, tudo compõe um verdadeiro processo de vida, e este processo é um processo de crescimento e amadurecimento pessoal, e ele requer atenção e reavaliação constante.
Chamemos um modo de vida de filosofia de vida. Ora, somente com uma verdadeira reavaliação de nosso modo de vida, de nossa filosofia de vida, é que podemos saber quando acomodar ou quando buscar novas oportunidades que se apresentam em nossos horizontes. E, além disso, é mister lembrar que a vida nunca para por muito tempo. Não a nossa vida moderna, ocidental, dita civilizada. O mundo muda com mais rapidez do que somos capazes de acompanhar. Por vezes, as mudanças geram um padrão de acontecimentos no tempo que se assemelham à rotina, mas é uma rotina ilusória.
A mudança do mundo é contínua, e portanto, se quisermos viver uma vida na qual tenhamos mais oportunidades de buscar satisfação para nossos anseios, desejos e sonhos, temos que estar o tempo todo observando este mudar do mundo à nossa volta. Precisamos ajustar nosso modo de vida, nossa filosofia de vida, e continuamente, às mudanças no mundo à nossa volta. Do contrário, o mundo continuará com suas mudanças, mas nós não. Nós ficaremos presos a um modo de pensar e viver que nos fossiliza e nos torna humanos anacrônicos, ultrapassados, lentos e incapazes de navegar nas ondas do tempo presente. Vivemos, é verdade, mas não fazemos mais parte da vanguarda do mundo, e a nós são relegadas as sobras que o mundo não digere, os retalhos e as migalhas que os mais adaptados não querem, ou não precisam.
Estagnar-se mentalmente é, enfim, fossilizar-se em um mundo caleidoscópico que não tem tempo para dar atenção a nós, retardatários.
Este é o mundo como ele é, e eu não sou o responsável por ele ser assim e não de outra maneira. Não há sentido em se rebelar contra a instabilidade do mundo, assim como não faz sentido se rebelar contra o nascer e o pôr do sol.
Precisamos de uma reavaliação filosófica contínua porque o mundo muda continuamente. Esta foi e é a minha resposta à oitava pergunta.
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