Às vezes, nossas vidas se encontram em situações tais que parecem-nos becos sem saída. Quando isso ocorre, muitas vezes a melhor coisa a fazer é deixar o tempo passar e a vida tomar novo rumo por si só, porque nada dura para sempre, e quase nada está sob nosso controle, de maneira que nossas expectativas quanto ao futuro nem sempre, aliás quase sempre, não se confirmam, e o labirinto de ontem se torna o amplo caminho de hoje e de amanhã.
Em 2001 eu fiz minha série de perguntas difíceis, as quais anotei em minha agenda, para que fossem fixadas ao longo do tempo. Já falei sobre seis delas nos posts passados. Agora, falo sobre a sétima pergunta.
Ao longo da perguntas anteriores, eu flertei com o fracasso, porque não tinha disposição para despender um esforço maior para mudar minha vida naquele momento, naquele difícil ano de 2001. Pensei em voltar a escrever livros, mas estava traumatizado demais para tentar acender a brasa de um sonho que parecia naquele momento uma brasa morta, apagada. Então, só me restava a alternativa de ir tocando a vida, dia após dia, com meu emprego desagradável e sem perspectivas. Eu não seria nem um administrador de empresas, apesar de ter estudado para ser um deles, nem seria escritor, apesar de ter ensaiado uma investida nesta carreira em anos anteriores. Não. Eu seria apenas um funcionário público que cumpriria dolorosamente todos os dias a rotina de ir para o trabalho, ano após ano, até a aposentadoria, trinta anos depois. Era desanimador, mas era esta a minha expectativa naquele momento.
Então fiz, resignado, a sétima pergunta:
Como se conformar com o mínimo?
A pergunta é triste, admito agora. É a pergunta que deveria ser feita por um presidiário, um condenado à prisão perpétua, um pária do mundo.
Que mínimo é este?
Na época, era o mínimo de estar vivendo uma vida que em nada se adequava àquilo que eu julgava ser uma vida estimulante e vigorosa. Eu estava no emprego errado, no lugar errado, rodeado das pessoas erradas, e sem uma rota de fuga. Além do mais, sem planos e sem dinheiro.
Como responder a esta pergunta?
A única resposta, a resposta típica de um prisioneiro cuja realidade única é a vida sem alternativas, é a de que, diante de um fato consumado, cuja verdade e inexorabilidade era inquestionável, eu não tinha poder para mudar a situação do meu mundo exterior, mas, se quisesse permanecer com a mente sã e preservar minha vida, eu precisaria promover uma verdadeira revolução interior. Do contrário, acabaria enlouquecendo, ou buscando uma saída que me traria ainda mais problemas do que aqueles que eu já enfrentava. Eu não tinha poder para melhorar minha vida, mas tinha poder de sobra para piorá-la. E isso era tudo o que eu não queria.
Se quisesse me conformar com aquela vida mínima em perspectivas e oportunidades, eu precisava fazer uma mudança no meu modo de pensar. Já que não podia mudar o mundo, eu precisaria mudar a mim mesmo.
Não se pode se rebelar contra as montanhas.
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