Existem verdades universais?
Fiz esta pergunta a mim mesmo em 2001. Esta foi a décima pergunta, de uma série de outras tantas, quando de um momento difícil em que passei pela minha vida, e que me levou a procurar saber o que é a verdade, ou verdades.
Esta é uma pergunta que não é fácil de responder. Quem é que pode assegurar que há pelo menos uma única verdade que seja aceita por toda a humanidade, sem levantar dúvidas ou questionamentos?
Esta é ainda uma pergunta eminentemente filosófica, e faz parte daquilo que é o núcleo da filosofia, uma pergunta filosófica por excelência, e portanto, não fui evidentemente o primeiro a formulá-la, nem seria o primeiro a respondê-la, já que mentes mais preparadas que a minha já tentaram isso antes. Ora, se eu ainda tinha dúvida da existência de verdades universais, era sinal de que ninguém ainda havia dado uma resposta conclusiva, porque se existisse uma única verdade que fosse universalmente aceita pela humanidade, eu saberia qual seria esta verdade, porque também faço parte da humanidade, e não estaria questionando a existência desta mesma verdade.
Mas, na época em que fiz a pergunta, eu não sabia que esta era uma pergunta relativa à teoria do conhecimento, um ramo da filosofia que é dos mais espinhosos e difíceis. Controversa, a verdade não se deixa capturar tão facilmente por perguntas repetidamente feitas, seja no passado, por sábios vários, seja na atualidade, por jovens céticos, tal como eu era na época em que formulei minha dúvida.
Mas, não sendo um estudioso da filosofia, eu não buscava uma resposta necessariamente filosófica, ou uma resposta que atendesse aos padrões exigidos pelos filósofos. Eu me contentaria com uma resposta que me permitisse ter segurança a respeito da existência de enunciados que eu pessoalmente pudesse crer que fossem verdades, e que fossem enunciados que pudessem servir de guias para a condução de minha vida. Eu precisava de algum ponto de apoio sobre o qual me firmar para poder seguir minha vida sabendo que não estava sendo enganado, não estava perdendo o meu tempo e não estava remando meu barco com base em uma mapa errado. Era somente segurança que eu queria para poder continuar a me aventurar pela vida, e nada mais.
Eu não pude responder esta pergunta com um sim ou com um não. Mas eu pensei que caberia a mim mesmo buscar as minhas verdades. Tendo já vivido três décadas sem nunca ninguém ter dito a mim que tal enunciado era definitivamente a verdade, não poderia imaginar que esse fato viesse um dia a ocorrer. E mesmo que alguém viesse e me dissesse uma série de frases, ou mesmo uma única delas e jurasse ser esta uma verdade, eu ainda assim não acreditaria nesta pessoa. A verdade, seja ela qual fosse, teria de ser a minha verdade, não importando o que pensasse o resto do mundo.
Mas eu não sabia de nada que fosse verdadeiramente meu, no sentido de eu ter adquirido um conhecimento, refletido sobre ele e julgado digno de ser chamado verdadeiro e ser incorporado àquilo que eu poderia chamar minha base de apoio para a condução de minha vida. Enfim, eu vivia como que em um lamaçal cognitivo, em uma espécie de areia movediça intelectual. Não podia confiar mais no conhecimento dos livros, mas não podia abrir mão de pontos de apoio intelectual para continuar a acreditar que poderia seguir conduzindo minha vida.
A resposta à pergunta foi a assunção de um compromisso comigo mesmo de que eu deveria olhar todo o conhecimento que parecesse verdadeiro e de uma forma que eu ainda não era capaz de saber, eu deveria passar esse pretenso conhecimento verdadeiro por um crivo, um filtro, que o testaria em sua veracidade segundo meus próprios padrões de confiança, e que somente após ser aprovado pelo meus testes, pudesse ser aceito como verdadeiro para mim, e incorporado ao meu cabedal de verdades conscientemente aceitas.
Não era uma tarefa fácil, porque o mundo está cheio de conhecimento que seus criadores julgam serem verdadeiros, e eu ainda nem fazia ideia de como eu poderia testar cada conhecimento que eu julgasse que devesse ser testado, mas, de qualquer forma, assumi que, existindo ou não verdades universais, era preciso que houvesse as minhas verdades, universais ou não, absurdas ou óbvias, provisórias ou definitivas, secretas ou públicas.
Eu não poderia ser absolutamente cético com relação a tudo que estava escrito no mundo.
Entremeio a trilhões de frases escritas por milhões de pessoas, as verdades estariam ali, escondidas, esperando pacientemente para serem lidas e testadas por mim.
Alguma verdade haveria de existir, disso eu não tinha dúvidas.
Mas eu tinha mais perguntas a fazer, e as fiz.
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