A fortuna, entendida como riqueza material, como acúmulo de dinheiro, é algo que em determinado momento de minha vida desejei fortemente, não posso negar.
Mas desejar algo fortemente não é a mesma coisa que lutar para se conseguir este algo. Eu desejei fortemente, mas nada fiz para alcançar este objetivo. Eu simplesmente desejava, como um cão deseja o bife sobre a mesa de um restaurante no qual não pode entrar ou um garotinho deseja conhecer aquele herói de desenho animado que não existe na vida real.
Por que eu desejei a fortuna em determinado momento de minha vida?
Ora, é uma longa história.
Sei que desejei a fortuna porque deixei registrada em minhas anotações pessoais uma pergunta, a quinta de uma série, e que está diretamente relacionada a esse desejo.
Em minha quarta pergunta, cheguei à conclusão de que se eu quisesse ter algum sucesso em minha vida, eu teria que olhar primeiro para meu próprio umbigo e resolver meu problema principal, que deduzi ser a inércia como modo de vida.
Eu disse também que quando fiz essa série de perguntas embaraçosas, em 2001, eu já era formado a cinco anos em administração de empresas, e sentia uma forte frustração por não ter obtido até então nenhuma satisfação financeira ou psicológica decorrente de ter cursado o ensino superior.
Ora, se meu problema era a inércia, porque eu simplesmente não punha mãos à obra e me aventurava a seguir meus sonhos de ser empreendedor e ganhar dinheiro?
O problema é que eu já tentara isto, e ainda bem cedo, em 1996, quando cursava meu último ano de faculdade. Mas as coisas deram errado e em 2001 não havia a menor possibilidade de eu fazer uma segunda tentativa de ser empreendedor, porque então eu já estava atolado em um emprego que não só tolhia minha criatividade, minha vontade de viver e minhas esperanças futuras, como ainda bloqueava juridicamente a possibilidade de eu exercer a profissão que eu escolhera, de maneira que tentar o empreendedorismo em 2001 estava fora de cogitação.
Se por um lado eu sabia que minha vida estava estagnada em razão de minha inércia, por outro eu sabia que se eu tentasse romper a inércia e procurasse empreender alguma coisa, estaria impedido em função do emprego em que estava atolado. Era uma situação muito ruim de se viver, aquela na qual eu estava em 2001.
Então, eu poderia dar de ombros e deixar de lado meu espírito empreendedor, porque, afinal de contas, eu já estava com um emprego, fosse ele bem ou mal tolerado pelos meus gostos pessoais. Afinal, era um emprego seguro e garantido.
Mas, havia algo que me atormentava.
As pessoas em geral não estão acostumadas a pensar a longo prazo. Quase ninguém faz as coisas no dia-a-dia pensando nas consequências daqui a cinco, dez, vinte anos no futuro. Eu também não era acostumado a pensar assim, mas depois de ter estudado administração, essa forma de pensar, essa preocupação com o futuro passou a ser um hábito, ou um vício, em minha vida. Claro, não aprendi sobre como pensar no futuro apenas nos livros de administração. Aprendi também nos livros de autoajuda, mas deixarei para um outro momento esclarecer sobre como e onde obtive esse aprendizado. Por enquanto, é suficiente saber que passei a pensar no futuro como um horizonte mais amplo, e esta maneira de pensar me trouxe também algumas angústias que eu não tinha como evitar naquele momento de minha vida.
Qual deveria ser a minha sensação, ao me imaginar naquele mesmo emprego por mais vinte anos sem nenhuma mudança séria na rotina de trabalho? O que eu estava obtendo eu continuaria a obter, e essa perspectiva não era boa. Pelo contrário. Era angustiante.
É verdade que passados tantos anos depois de ter anotado minhas preocupações em 2001 a vida deu um novo rumo às minhas previsões e as coisas que eu temia não foram todas concretizadas, e oportunidades imprevistas surgiram para atuar em meu benefício, mas até então, minha limitada capacidade de antever o andar das coisas não me poupou de sentir as angústias que senti. Hoje, eu não teria tantos temores quanto ao futuro, mas naquela época, sim. Afinal, não havia ninguém para me ensinar, e o aprendizado solitário é sempre um caminho difícil e lento. Eu fui aprendendo com meus erros, eu acho, e hoje erro menos em minhas previsões. A vida é assim mesmo.
Eu deveria estar satisfeito em ter um emprego seguro, mas algo em minha mente indicava que eu não estava satisfeito. Por que eu não estava satisfeito?
Eu não estava satisfeito porque, embora eu tivesse um emprego seguro, eu sabia que era jovem e poderia obter mais da vida, muito além do que eu poderia obter somente com aquele emprego.
E eu sabia que poderia obter mais porque outras pessoas estavam obtendo mais da vida do que simplesmente um salário limitado no final de um mês sofrido. Mas, afinal, quem eu conhecia pessoalmente que estava obtendo mais do que eu próprio, que justificasse essa minha esperança em ter uma eventual fortuna ao meu alcance?
Pessoalmente eu não conhecia ninguém, mas eu era um administrador de empresas, e como administrador de empresas, eu tinha os empreendedores como modelos. E quem era o grande modelo em 2001, que despertava a inveja, a ira, o ciúme e ao mesmo tempo a admiração, a simpatia e o orgulho de grande parte do mundo civilizado?
Era Bill Gates, o homem mais rico do mundo, bilionário com pouco mais de trinta anos, uma pessoa de outro país, de um outro ramo de negócios, enfim, uma figura quase ficcional, mas nem por isso irreal e impossível de ser entendido, compreendido, e por que não, imitado.
Bill Gates é uma figura pública diretamente ligada ao mundo da tecnologia dos computadores. Eu só havia ouvido falar dele em 1994, quando comprei meu primeiro computador pessoal. Desde então, eu tenho acompanhado a evolução de sua empresa, seus produtos, suas ideias e sua vida em geral. Evidentemente que o admiro, mas não como um ídolo. Em 2001, eu o via apenas como um caso extremo de sucesso rápido, porque não conhecia outros mais surpreendentes. Ao longo dos anos, depois de 2001, tivemos a oportunidade de ver pessoas ficando ricas de maneira ainda mais rápida e impressionante, deixando claro para mim que eu não estava errado ao ter Bill Gates como um exemplo de empreendedor a ser seguido. Eu sabia e sei de minhas limitações, mas Bill Gates e todos os milionários do mundo também possuem limitações. Por que eu não poderia me tornar uma pessoa rica um dia? Ora, a fortuna estava ao alcance de qualquer um que se atrevesse a buscá-la. Por que eu não poderia me atrever ao mesmo? O que havia de errado comigo?
Então, fiz a minha quinta pergunta em minha agenda de anotações:
Por que Bill Gates não deixa minha consciência dormir em paz?
Esta foi uma pergunta sincera, verdadeira e direta. Eu poderia estar dormindo em paz todas as noites, seguro em meu emprego público não satisfatório, limitado e duro, mas já garantido, seguindo aquele velho ditado popular, segundo o qual mais vale um pássaro nas mãos do que dois voando, mas não dormia feliz.
Eu não poderia dormir em paz porque eu sabia que a longo prazo, mesmo com um salário garantido e uma aposentadoria certa, eu jamais teria o prazer de estar fazendo aquilo que eu gostaria de fazer, eu jamais iria ser dono de meu próprio nariz e eu jamais seria dono de meu próprio tempo e destino. O conforto momentâneo em que eu estava profissionalmente era apenas um engodo, uma ilusão, e quando eu me aposentasse, seria tarde demais para qualquer retomada de sonhos a muito esquecidos, e eu não queria abrir mão deles, de maneira nenhuma.
Bill Gates seria sempre uma figura a brilhar ao longe, a dizer-me que eu era um acomodado, um inerte, um fracassado, alguém que tentou, mas ficou pelo caminho, incapaz de se desenredar da rotina do dia-a-dia de um emprego sem sentido e frustrante, apenas porque se deixou seduzir pela segurança e pelo canto da sereia da estabilidade do serviço público.
Eu não queria viver o resto de minha vida trabalhando naquele serviço público. Não sabia como me livrar dele, mas tinha esperança de que a fortuna poderia estar ao meu alcance, e Bill Gates era a prova viva de que a fortuna era possível.
Inconformado, pensei em alternativas.
E, em desespero, continuei a fazer perguntas.
Por que Bill Gates não deixa minha consciência dormir em paz?
Esta foi uma pergunta sincera, verdadeira e direta. Eu poderia estar dormindo em paz todas as noites, seguro em meu emprego público não satisfatório, limitado e duro, mas já garantido, seguindo aquele velho ditado popular, segundo o qual mais vale um pássaro nas mãos do que dois voando, mas não dormia feliz.
Eu não poderia dormir em paz porque eu sabia que a longo prazo, mesmo com um salário garantido e uma aposentadoria certa, eu jamais teria o prazer de estar fazendo aquilo que eu gostaria de fazer, eu jamais iria ser dono de meu próprio nariz e eu jamais seria dono de meu próprio tempo e destino. O conforto momentâneo em que eu estava profissionalmente era apenas um engodo, uma ilusão, e quando eu me aposentasse, seria tarde demais para qualquer retomada de sonhos a muito esquecidos, e eu não queria abrir mão deles, de maneira nenhuma.
Bill Gates seria sempre uma figura a brilhar ao longe, a dizer-me que eu era um acomodado, um inerte, um fracassado, alguém que tentou, mas ficou pelo caminho, incapaz de se desenredar da rotina do dia-a-dia de um emprego sem sentido e frustrante, apenas porque se deixou seduzir pela segurança e pelo canto da sereia da estabilidade do serviço público.
Eu não queria viver o resto de minha vida trabalhando naquele serviço público. Não sabia como me livrar dele, mas tinha esperança de que a fortuna poderia estar ao meu alcance, e Bill Gates era a prova viva de que a fortuna era possível.
Inconformado, pensei em alternativas.
E, em desespero, continuei a fazer perguntas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário