sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Og Mandino: a história de um livro

Meu primeiro contato com o livro de Og Mandino, "A Universidade do Sucesso", ocorreu por volta do mês de outubro ou novembro de 1990, na cidade de Guaratinguetá, Estado de São Paulo, durante meu curso de formação de sargento na Escola de Especialistas da Aeronáutica, a EEAR. 

É preciso deixar claro que este não foi obviamente o primeiro livro que li na vida, nem o último. Foi, no entanto, o primeiro livro que realmente abriu minha mente para possibilidades até então não pensadas. Foi o primeiro livro de auto-ajuda, por assim dizer, que li na vida, e que teve um grande impacto no meu modo de pensar e de viver.

Na verdade, não dei muita atenção ao livro quando o vi pela primeira vez. Simei, um colega de turma, e amigo meu, possuía um exemplar, com uma bela e chamativa capa azul, junto de seu material de estudo, e vez por outra, eu o via muito rapidamente. Eu já tinha um grande gosto por livros desde 1982, quando li meu primeiro livro, e a partir de então, sempre freqüentara bibliotecas e sempre gostara de ler, de modo que a simples visão de um livro qualquer já chamava a minha atenção como uma promissora fonte de prazer. Mas tudo do que havia lido até então se resumia a romances e livros didáticos, técnicos; nunca um livro de auto-ajuda. Pelo contrário: livros de auto-ajuda não me pareciam grande coisa na época, já que alguns títulos não me eram estranhos, nem me pareciam atraentes. A revista Veja possuía e ainda possui um serviço de ranking de vendas de livros em suas páginas, e relata as vendas semanais de livros de acordo com três categorias: ficção, não-ficção e auto-ajuda. Assim, como vez por outra eu lia alguma revista Veja em algum lugar, e como sempre me interessei por livros, sempre dava uma olhada no ranking de vendas, e lá estavam os livros de auto-ajuda. 

Não eram livros que me atraiam a atenção. Havia livros sobre bruxaria, livros de Paulo Coelho, um escritor que é conhecido como mago, além de livros sobre cristais, anjos, cabala, numerologia, astrologia, reencarnação, espiritismo e outros temas místicos e esotéricos, temas que nunca chamaram muito a atenção por terem conotação espiritual, religiosa. Como alguém criado sob as regras do catolicismo, e depois, após ter tido algum conhecimento menos superficial de religião, algo em mim ficou marcado pela idéia de que misticismo, esoterismo, Nova Era, espiritismo, eram assuntos não muito saudáveis do ponto de vista cristão. Preconceito talvez, mas essa era a minha opinião na época, de modo que via o ranking de auto-ajuda meramente como uma listagem de livros perigosos para pessoas que tinham fundamentos religiosos suspeitos, algo como uma espécie de livros para espíritas, macumbeiros, novos hippies, gente ligada a drogas e das que gostam de um "papo cabeça", conversa filosófico-mística sofisticada, mas ao mesmo tempo coisa pouco proveitosa, cheia de fantasias e viagens delirantes. Era uma visão preconceituosa de um adolescente, admito, e hoje me perdôo por ter tido essa visão um dia.

De qualquer forma, nunca ouvira falar de Og Mandino. Na verdade, seu livro foi publicado originalmente em 1982, e lançado no Brasil pela Editora Record em 1985. Então, na época de seu lançamento, em que provavelmente teria alguma chance de aparecer entre os mais vendidos no ranking da Veja, eu certamente não li seu nome, ou se li, não prestei atenção ao assunto, de modo que para mim, era apenas um livro com uma bela capa azul convidativa e nada mais.

Estávamos em época de formatura na EEAR. Mais um ou dois meses e estaríamos formados. Já não levávamos os estudos em um ritmo tão alucinante e durante dois anos eu não lera absolutamente nada de interessante, nenhum livro sequer, que eu me recorde. Então, aquele livro me pareceu muito oportuno.
Pedi a Simei que me permitisse folheá-lo.

Foi uma sensação agradável. O volume de mais de quinhentas páginas parecia me convidar para leitura, com suas folhas amareladas e macias.

Li a contracapa e Simei, que andava lendo-o, me informou do seu conteúdo, com alguma empolgação. Li mais um pouco e, não me recordo se na mesma hora ou alguns dias depois, acabei tomando o livro emprestado de Simei, e o devorei.

Foi como um choque elétrico!

Li-o em um só fluxo, e percebi que não seria mais o mesmo tipo de leitor de outrora. Poucas coisas e experiências na minha vida tiveram tanto impacto em termos de mudanças no meu modo de pensar e de me comportar.

Acabei recomendando o livro para Roni, meu irmão mais novo, e como ele não tinha como conseguir o livro em Conchal, que não tinha, e acredito que ainda hoje não tem, uma livraria, acabei comprando em um sebo um exemplar usado só para nós. Então, Roni pode lê-lo e acabou compartilhando comigo do entusiasmo pelo mesmo, embora que acredito que esse seu entusiasmo não tenha sido tão intenso quanto o meu.

Por alguns meses, até abril de 1991, creio eu, eu ainda estava sob os efeitos do que havia lido. Aos poucos, no entanto, o impacto de sua leitura foi perdendo a força e mais dois ou três meses depois, já caíra praticamente no esquecimento. Claro, eu ainda tinha o livro, olhava-o com um misto de prazer, gratidão e orgulho, como um baú cheio de ouro, mas seus ensinamentos acabaram por não se solidificar adequadamente, e logo caiu no esquecimento, na vala comum dos grandes livros lidos, e logo esquecidos. Creio que somente duas ou três histórias, como o texto de "Uma carta a Garcia", os textos de Dale Carnegie e alguma coisa sobre organização, planejamento, agendas e ordem ficaram na memória.

Mas minha visão acerca dos livros de auto-ajuda mudou, e minha relação com eles não parou por ai, em Og Mandino apenas.

Em 1994, Roni mudou-se para o Canadá e levou o exemplar de Mandino na bagagem. Seria de alguma utilidade no futuro incerto que tinha pela frente, e seria melhor usado por ele que por mim.

Roni não desfez-se do livro e o trouxe de volta, em 1998, quando voltou do Canadá. Não sei se foi útil ou não, se Roni chegou a relê-lo ou não. De qualquer forma, manteve o livro junto de si, por algum motivo, e somente  alguns anos depois, em 2000, em uma visita que fiz à sua casa, foi que pude tomar contato com Mandino novamente. Ao dar uma olhada em sua pequena biblioteca particular,  lá estava o livro sem capa, de contracapa azul, mais velho, mais amarelado, cheio de manchas e remendos, convidando-me para lê-lo novamente.

Tomei-o de volta e o tenho até hoje, como um objeto querido e valioso. Estudá-lo nunca deixou de dar alguns bons resultados. Mas é um livro que deve ser estudado, então, o mais profundamente possível, e não apenas lido. Embora estudar seja sempre mais cansativo que simplesmente ler, é sempre um trabalho mais gratificante. Não canso de folhear e reler pequenos trechos, e  a meditar sobre suas palavras, frases, temas e sugestões. Um livro que não muda, mas que contribui para que eu mude, creio, e que por isso tem um sabor diferente a cada nova leitura. Incompleto, é verdade, porque finito, suas palavras tem servido de semente para novas leituras em novos livros, em busca de aprofundar melhor um tema, clarear melhor um raciocínio. Enfim, ele tem sido o be-a-bá na escola do pensar, a cartilha por meio da qual principiei a leitura de novas lições, e que, embora por vezes possa parecer singelo em suas recomendações tantas vezes relidas, pode ainda guardar valiosos segredos, desde que saibamos estudá-lo corretamente.

Documento criado em 16/02/2006

Documento modificado em 01/02/2007

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