Essa é uma frase importante. Ela é importante porque me faz pensar sobre aquilo que realmente fiz. Ela me obriga a fazer um inventário de meus feitos e realizações. E talvez a única maneira de se fazer esse inventário é exatamente contando minha história pessoal. Senão, como vou saber o que fiz em minha vida? Como as pessoas saberão quem sou ou fui?
Mas, antes, por que essa compulsão em ser lembrado?
Mas não é nisso que reside o problema. O problema é que estou com quarenta anos e com a forte sensação de ter vivido bastante e não ter feito nada. Então, não é para informar as pessoas que devo relatar meus feitos, mas para dar a mim mesmo a sensação de dever cumprido, de não ter vivido minha vida em vão.
Se é assim, o que devo dizer a mim mesmo? Mas, sou eu o melhor e mais imparcial juiz?
Não sei. Temos que ser frios nesta hora.
Primeiro, e agora entra toda a teoria científica da História para me apoiar, é preciso que eu me contextue, isto é, que eu me insira no mundo e no tempo.
Quem sou eu?
Essa talvez seja uma pergunta pertinente, mas não é a mais importante. Devo primeiro perguntar porque vim a ser quem sou, e depois, o que posso vir a ser.
Então, por que sou quem sou? E depois, o que posso vir a ser?
Quem sou eu: um dentre sete bilhões de indivíduos vivendo a vida sem um rumo definido. Então, por que vim a me encontrar nessa situação?
Depois: posso ser qualquer coisa que deseje? Se sim, o que devo ser para que faça algo que seja lembrado?
O que merece ser lembrado? Eu posso fazer esse algo que mereça ser lembrado?
É a mais arriscada das apostas: apostar a vida no fazer algo que mereça ser digno de ser feito. Veja: não é fazer algo que seja digno de ser lembrado, porque não preciso ser lembrado. Preciso apenas satisfazer meu conceito de dever cumprido, de vida digna de ter sido vivida.
Então, o que acho que deva ser digno de uma vida?
Escrever um blog sobre amenidades? Não mesmo.
Escrever sobre minha vida insípida? Não mesmo.
Escrever falsamente sobre minha vida insípida no intuito de convencer a mim mesmo que a minha vida foi, é e será a mais digna das vidas, porque não poderia ser diferente do que foi, é e será, e assim convencer a mim mesmo de que cumpri minha missão na Terra?
Essa não é das piores ideias, mas nem por isso a mais fácil, porque sou um cara difícil de ser convencido de que uma mentira pode ser tornada verdade.
Então, esse é um desafio: provar a mim mesmo que minha vida foi, é e será digna de ser vivida.
Pensando bem, por que não haveria de ser?
Afinal, o que deixei de fazer que poderia me tornar indigno de viver?
Nascendo nas condições em que nasci, faço o melhor que posso.
Ou não?
Essa é a hora da verdade.