terça-feira, 25 de dezembro de 2012

É tempo de Natal

Respire aliviado. O Mundo não acabou. Nem acabará. 

Sorria! É tempo de Natal!

É tempo de esperança. Porque não podemos viver sem ela... porque sem ela... é melhor o mundo acabar logo...

Em algum momento a muito, muito tempo atrás, um pequeno bebezinho nasceu.

Não sabemos quando, nem exatamente onde, nem se houve mesmo uma estrelinha brilhando no céu. Mas este bebezinho nasceu, eu tenho a mais profunda certeza.

Ele viveu pouco... não deixou nada escrito... nem nenhum bem material de valor... mas Ele deixou seu sangue nas pedras... e a Sua Palavra.

A Sua Palavra, Ele nos deixou.

Palavras de esperança.

Ele vive Nelas.

Ele vive conosco Nelas desde então.

E sempre viverá.

Um dia o meu mundo pessoal, meu mundinho pequenino, egoísta e mesquinho, acabará.

Respire aliviado. O seu mundinho também acabará.

Sorria! É o fluxo da vida.

Lembre-se de semear a esperança para os que continuarão honrando a vida.

Ele estará entre nós, também, no final, e sempre.

Mas agora, hoje, Ele está comigo. No meu lar, no meu coração e ao meu lado. E estou feliz!

Abençoado o dia em que Ele veio ao mundo.

Abençoado o Dia de Natal!

Obrigado, Senhor, por ter-nos dado a honra de ser um de nós.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Adeus, spam!

Atualizei meu Windows Live Mail para somente enviar mensagens pela porta 587.

O que isto significa?

Veja este link para mais detalhes.

Arte/UOL

Agora, acho que vamos dar um jeito nesse problema. Vai demorar, mas tem que pegar.

Precisamos dar um adeus ao spam, essa espécie de poluição digital que mata o prazer de abrir nossas tão queridas caixas de e-mail.

Mudando o modelo deste blog

De tempos em tempos, fico entediado com a visual deste blog. Resolvi mudá-lo para algo simples e branco. Acho que ficou bom.

Estou pensando em colocar mais imagens nos posts. Ah, claro, preciso colocar imagens próprias. Nada de fotos copiadas, sem direitos autorais. Um pouco de originalidade não mata ninguém.

Blogar é tão divertido!

O mundo continua

Eu disse que não acabava...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O acaso nosso de cada dia


Como o acaso acabou conduzindo minha vida como um grande rio, quando na verdade eu achava que tinha o controle de tudo, remando meu barquinho com a força de um gafanhoto, lutando contra a corrente, sem me dar conta de que quase nada poderia fazer?

Ele, o acaso, mudou minha vida de diversas maneiras, muitas das quais ainda nem me dei conta. E continuará mudando, não tenho dúvidas.

O que tem de mais interessante nisto é que nesses longos anos de minha existência eu não me dera conta da importância do acaso em nossas vidas, e o mundo me parecia um lugar maldoso, confuso e injusto.

O mundo é injusto, mas há uma razão para isto.

O mundo também é um lugar perigoso e mau, e há também razão para isto.

E além do mais, ele, o mundo, ainda pode ser um lugar muito confuso, se não soubermos como as coisas realmente funcionam nele.

A descoberta do acaso foi algo revelador e impactante em minha vida, e ajudou a ver o mundo de uma forma mais clara e racional.

Esta descoberta se deu não por acaso. Desculpas à parte pelo trocadilho, não descobri o acaso por acaso. Às vezes, a vida parece conspirar para que venhamos a saber aquilo que ainda não sabemos, e que muito nos faz falta. 

O acaso é uma dessas coisas não sabidas e que, quando desvendadas, mudam nossa compreensão do mundo.

Quando do post do link acima, 2004, eu ainda me maravilhava com este novo presente intelectual.

O acaso!

O acaso nosso de cada dia será esmiuçado neste blog com toda a calma que o tema demanda.

O acaso!

Fim do mundo

Aposto que o mundo não acaba amanhã...

Amor ao trabalho

Pode parecer piegas dizer que se ama trabalhar. E é.

Então, não direi que amo trabalhar. Não diga isso você também. Se não soar como pieguice, soará como hipocrisia.

Amor é um sentimento nobre e deve ser reservado a valores mais elevados. Ame seus pais, suas esposa, seus esposo, seu filhos e seus animaizinhos de estimação ou suas plantinhas. Ame gente, ou coisas, que lhe são valorosas e únicas. O trabalho, bem, o trabalho, reserve-lhe um sentimento mais adequado, que não seja o tão raro amor.

Amar o trabalho?

O trabalho é para ser... como podemos dizer?...não amado... mas valorizado, respeitado, apreciado. Você pode até dizer, por força de hábito, que ama isto ou aquilo, e odeia isto ou aquilo, mas é somente uma força de expressão. No fundo, você não ama de verdade. Você só ama coisas fofas, pessoas queridas, seres capazes de lhe dar um sentimento recíproco.

Você não é amado pelo seu trabalho. Você, na melhor das hipóteses, é valorizado por aqueles que se utilizam de seu trabalho. Então, se você acha que ama seu trabalho, repense, porque se continuar amando, será um amor não correspondido.

Por longo tempo eu achava que odiava o meu trabalho. Eu não conseguia entender que todos os trabalhos são essencialmente uma atividade dura, cansativa e quase sempre pouco gratificante. Na verdade, eu estava apenas reagindo a um sentimento que é um dos resíduos, um dos efeitos colaterais de se ser um trabalhador no mundo em que vivemos. 

Eu estava odiando o cansaço decorrente do trabalho. E não consigo ver como alguém possa sentir amor por algo que lhe esgota a mente e o corpo, e do qual não pode se livrar sem se passar por temerário, irresponsável ou vagabundo.

Eu sei agora que o trabalho, seja ele qual for, sempre trará cansaço, esgotamento, frustração e, com um pouco de sorte, alguma esperança de recompensa futura, da qual não temos garantia alguma. Mas não podemos nos furtar a ele, e o enfrentaremos, esgotados, cansados, frustrados ou mesmo irados. O que não podemos admitir é que não haja a necessidade de se trabalhar, não pelas razões que comumente nos motiva, como o dinheiro ou o prestígio, mas pelas razões mais nobres, que fazem de nós, trabalhadores, pessoas maduras, altruístas e responsáveis.

Não ensinamos as crianças pelo amor ao dinheiro. Há quem ensine sem nada ganhar. Nem salvamos vidas nos hospitais pelo prestígio que essa tarefa dá. Há quem cure nas matas, nos desertos e no anonimato, desdenhando qualquer honra ou elogio, trabalhando pelo puro amor à vida e respeito ao semelhante necessitado.

Eu não sei se todos podem ter empregos assim tão significativos, mas não acho que possa existir algum trabalho que perdure sem ser útil à sociedade de alguma forma.

Você não precisa amar seu trabalho. Mas você pode viver sem odiá-lo. Basta que descubra valor nele. Não o valor que ele representa para si mesmo, mas para aqueles que dele se beneficiam.

Se você faz algo que não beneficia ninguém, então acautele-se. Por amor a si próprio, busque algo melhor. Não será por falta de trabalho útil a ser feito que o mundo haverá de parar.

Quanto a mim, faço o meu melhor. E quanto ao emprego que eu odiava, bem, essas são águas passadas. 

Hoje, trabalho de cabeça erguida, e espero continuar a trabalhar assim. É verdade que acho um exagero dizer que amarei meu trabalho ao longo de minha vida, qualquer que seja ele, porque tenho coisas mais preciosas para amar, mas ainda assim, seja ele qual for, o valorizarei, e o farei digno de ser realizado.

A vida é dura.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Abandonando o barco

Certa vez eu disse neste blog:

" Acho que talvez devesse mudar de país, mas ao mesmo tempo acho isso uma derrota."

Por que eu penso que a solução de nossos problemas seja abandonar o Brasil?

Quer dizer, a solução de meus problemas. Não sei se todo mundo tem problemas como eu tinha e tenho. Nem sei se todo mundo acha que pode resolver seus problemas mudando-se de país. Cada um sabe de suas dificuldades e das possíveis maneiras de tentar resolvê-las.

Quando se busca viver melhor em um mundo absurdo como o que vivemos atualmente, há dois tipos de pensamentos iniciais que surgem imediatamente. 

O primeiro pensamento que temos é de que temos problemas. Todo mundo tem. Mas então, quando lamentamos nossa sorte, surge aquela foto de um menininho sem pernas e sem braços pintando um quadro colorido com um lápis na boca, e alguém pergunta: "qual é mesmo o seu problema?"

E então, questionamos se realmente temos ou não algum problema. E muita gente acaba concluindo que não tem problema nenhum, e que tudo é apenas uma questão de ingratidão e má vontade com a vida.

Mas outros seguem afirmando terem problemas, sim.

Então, o segundo pensamento que vem é que se temos problemas, então esses problemas possuem uma causa. Qual é a causa de nossos problemas?

Em geral, ou assumimos que a causa de nossos problemas somos nós mesmos, ou então, não assumimos nada, e colocamos a culpa de nossos problemas nas costas de alguém, ou de algo. Em geral, colocamos a culpa no governo, no Estado, no capitalismo ou no Brasil. Alguns colocam a culpa em quem estiver mais próximo: a esposa, os filhos, a mãe, o patrão, o vizinho, os pais, os amigos, a namorada. E se afasta daquele que lhe parece a raiz de todos os males.

Para aqueles que colocam a culpa no Brasil, a solução de seus problemas parece óbvia: deixar o país e suas mazelas incuráveis, e viver como um rei consumista e festeiro em Miami, em Madri ou em Londres.

Mas eu acho que a vida não é tão simples assim. Não acho que as coisas se resumem em achar que a vida é cor-de-rosa porque temos nossos braços e pernas, nem em achar que somos culpados por tudo que acontece de ruim conosco, ou que a culpa é somente dos banqueiros, dos especuladores ou dos latifundiários, dos corruptos e dos políticos.

Há graus de dificuldade na vida que levamos. E há parcelas de culpa em diferentes esferas do viver. Temos problemas, sim, embora não tão graves quando o de um menininho sem membros, e sim, temos nossas fragilidades. Mas vivemos em um país muito ruim também.

Nada garante que, mudando de barco, indo para Nova York, as coisas serão melhores. Em geral, sim, porque nos livraremos de sérios problemas sociais. Mas não nos livraremos de nós mesmos e nossas fraquezas interiores. Nem veremos muitos problemas graves que vemos aqui no Brasil, e então, nossas fraquezas serão amplificadas pela comparação com um mundo melhor. Nós seremos os graves problemas dos americanos.

Abandonar o barco é uma proposta sedutora. Mas não suficiente.

Ademais, a ideia popular que temos em nossa cultura é a de que quem tem a fama de abandonar barcos em dificuldades em geral são os ratos. E também, a de que o último a sair é o capitão.

O que escolhemos ser: ratos ou capitães?

Ou toda essa história de barcos sendo abandonados não passa de conto da carochinha?

Eu ainda não sei o que pensar.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Votem em mim!

Votem em mim!

Sou candidato a...

Espere.

É mentira. Não sou candidato a nada. Nunca fui. Nem candidato a vereador em minha pacata cidade natal do interior, nem a síndico de prédio e nem mesmo a representante de classe, nos meus muitos anos de estudo. Nunca, absolutamente nunca, candidatei-me a nada. Nunca tive o desprazer de pedir um voto para mim mesmo a quem quer que seja. Nunca dependi da avaliação subjetiva de pessoas que mal conheço, e que mal me conhecem, e que não estão nem aí para mim e minha suposta causa.

Não confio neste tipo de avaliação. E não tenho medo de afirmar que qualquer avaliação que dependa dos gostos e opiniões de pessoas comuns é um grande risco, uma grande causa de injustiças as mais diversas, e no final das contas, uma grande perda de tempo e um desperdício de recursos, oportunidades e de opções de melhorias e avanços em todos os sentidos.

Sempre que me proponho a algo, o faço com base em minhas próprias habilidades e capacidades. Sei bem do que sou ou não sou capaz. Mas este conhecimento que tenho de mim mesmo não interessa a mais ninguém, e ninguém tem interesse algum em saber a respeito de minhas capacidades e incapacidades sobre o que quer que seja. As pessoas não se preocupam com mais nada que não seja com elas mesmas. Daí que eu nunca perdi meu tempo me propondo a fazer nada que dependesse de votos, eleições e convencimento pessoal. Não posso permitir que pessoas que não têm interesse algum em mim decidam sobre o que eu devo e posso fazer, e sobre o que não posso. Só faço aquilo que não depende da decisão dos outros. Não entrego meu destino nas mãos do povo. Nunca.

Eu disse aqui neste blog em uma de minhas velhas postagens:

"Tenho vontade de entrar para a política e tentar mudar as coisas, mas ao mesmo tempo sinto um enorme desânimo."

Este enorme desânimo é real, e ele se deve justamente a esta razão. Não importa se tenho a capacidade de mudar as coisas. Se para mudar as coisas eu dependa antes de pedir votos a quem não sabe e nem se interessa em saber quais coisas precisam ser mudadas, então, nunca mudarei nada.

Sei que muitas pessoas pensam da mesma maneira que eu. Sei que há pessoas muitíssimo mais capacitadas que eu para mudar as coisas que precisam ser mudadas, e sei que elas também não se submetem a este processo de eleição, porque sabem que estão se submetendo a algo que é humilhante, vergonhoso, absurdo e destrutivo.

Eu nunca me candidatei a nada, e provavelmente nunca o farei. No entanto, nada impede que eu pense no assunto. Afinal, a tão celebrada democracia é reconhecidamente imperfeita, e se assim é, por que não discuti-la?

Não vejo por que as coisas não poderiam ser diferentes.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O que é Genealogia?

Tenho postado alguma coisa neste blog sobre meu passado. Ora, o ramo de conhecimento que é especializado no estudo de nosso passado em geral é a Genealogia. Mas o que é exatamente isto?

Segundo a Wikipédia, Genealogia é um ramo da História, que se preocupa com o estudo das famílias.

Estudar famílias então pode ser um ramo científico. E se é um ramo científico, deve possuir métodos, técnicas, princípios e fins.

Qual é o fim da Genealogia?

Acho que é conhecer as ramificações familiares, em geral. Mas, em particular, as pessoas estudam Genealogia mais com o intuito de estudar a própria família, os próprios antepassados, e mesmo algumas pessoas estudam a origem de seus antepassados com o objetivo de buscar laços com os países de onde esses antepassados vieram. Muitas pessoas buscam uma nova nacionalidade mediante o reconhecimento de laços sanguíneos com parentes de lugares distantes, em geral europeus, com o intuito de serem reconhecidos também como europeus legítimos.

Acho que não há nada de errado nisto, mas também não vejo mérito algum na busca de uma nova nacionalidade por este método.

Há toda uma indústria voltada para a busca de antepassados, e parentes distantes e desconhecidos ainda vivos são descobertos, com relações as mais improváveis, e que eventualmente acabam se tornando próximos devido ao laço familiar em comum.

A Genealogia em si pode ser até interessante como um passatempo, mas ela não ajuda muito quando o que se busca é o auto-conhecimento. Saber quem foram meus antepassados não explica muito quem eu sou.

Muita gente não pensa assim. Há na busca pelo conhecimento de antepassados uma tentativa, consciente ou não, de auto-valorização. Algo como o desejo de descobrir entre seus antepassados pessoas que foram importantes, ricas ou influentes, de forma a se saber um descendente delas, e assim, se auto-valorizar.

Há nisto um desejo que cheira a vaidade, às vezes. No entanto, houve uma época em que se tinha como certo que o legado de uma geração para a outra se dava por via sanguínea. A herança de uma geração se perpetuava mediante a transferência de qualidades sociais de uma geração a outra. Uma pessoa poderia se considerar importante porque seus antepassados, ainda que remotos, foram um dia importantes.

Você, pessoalmente, do fundo de sua consciência, se consideraria uma pessoa melhor ou pior pelo simples fato de descobrir que um ancestral seu foi um rei ou um poderoso qualquer a setecentos anos atrás? Creio que não.

Assim, penso que a Genealogia pode explicar certos fatos, e seu estudo pode ser gratificante devido ao conhecimento que pode originar, satisfazendo curiosidades, resolvendo mistérios e tirando dúvidas que de outra forma ficariam sem resposta. Mas penso que de forma alguma se deve buscar satisfazer o ego buscando ancestrais valorosos, e assim, tentar herdar algo que não pode ser legado pelo simples laço genético.

Dito isto, acho que está mais que na hora de partir para os cemitérios, e para as velhas paróquias com seus livros amarelados pelo tempo.

Pensando bem, Genealogia pode até ser divertido!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Ódio político

Eu disse nesta postagem antiga que andava sentindo um ódio político perigoso:

"E tenho sentido muito ódio, um ódio perigoso. Um ódio político e social."

 O que significava isto?

Vamos tentar entender uma coisa muito pouco comentada em todos os fóruns e debates internet e corredores afora. 

Uma coisa é um cidadão comum, que luta pela vida, e sente os efeitos de pertencer a um país que não lhe proporciona aquilo que ele julga que é direito seu. Ele pode sentir ódio, mas o que mais pode fazer? Em geral, ele expressa-se votando uma ou duas vezes a cada dois anos, e mais nada. Seu ódio é inócuo. Ele só conhece os efeitos de um estado de coisas. Não sabe porque as coisas são assim. Se acha que sabe, emite em geral sua opinião, que não é nada mais que isto: uma opinião, em regra disparatada, sem fundamentos e desprovida de substância. Normalmente o cidadão indignado repete algum chavão que ouviu em algum ponto de ônibus de algum estranho, ou de algum colega no trabalho, na hora do cafezinho. Ele, por ele mesmo, não entende nada da gigantesca máquina estatal que é, senão a única, a principal razão de todos os problemas que a sociedade brasileira enfrenta todas as horas, todos os dias, todos os anos, sem exceção.

Mas, ainda que eu seja um cidadão comum, sem poder, eu sou um funcionário público. E eu estudei Administração de Empresas. Logo, considero que conheço como a máquina funciona.

Nesta época, quando escrevi sobre este meu sentimento de ódio, eu era capaz de ver claramente a máquina rangendo, fazendo fumaça, estalando e ameaçando parar. Eu via pequenas coisas, no dia-a-dia, que eram incompreensíveis.

Todo trabalhador com um pouco de bom senso sabe que não há nada perfeito. Não há nenhuma instituição que possa ser dada como perfeita e acabada. Tudo pode ser aprimorado, melhorado, sofisticado. Mas, em última instância, não se espera, na iniciativa privada, que um funcionário seja responsável pelo andamento de uma organização. Em geral, o dono é que é o maior interessado. Então, ele é que deve promover as mudanças.

No Estado, não há um "dono". Teoricamente, somos todos donos. Mas um funcionário público, ainda que seja "dono" de sua instituição, não a dirige. E quem a dirige, e que deveria exercer a função do empresário, que deveria assumir o papel de líder e fazer as coisas acontecerem, não o faz. E não há somente um dirigente. No Estado, todo mundo tem um chefe. Em geral, este chefe não tem poder para nada também. E, se tem algum poder, não o exerce, e não muda nada.

Você vê, no Estado, as coisas caírem de podre e não pode fazer nada. Você não pode ter iniciativa. Você não pode contestar sua liderança. Você não pode ser melhor que seu chefe. E se for, não adiantará nada, porque sua competência não lhe proporcionará nenhum poder. 

No Estado, vale a lei do acomodamento.

Eu, como cidadão, sentia raiva da situação, mas era, e ainda sou, um completo impotente. 

Mas isto de ódio social foi a muitos anos atrás. Eu mudei. Hoje, penso muitíssimo diferente.

O Estado mudou? Não sei. Mas eu mudei, isto é certo.

Educação e dinheiro

Quando falei sobre minhas memórias temáticas, disse que gostaria de falar sobre minha educação e sobre trabalho. 

O que vem primeiro em nossa vida? A educação ou o trabalho?

Se entendermos que a educação não se limita à educação formal em instituições públicas de ensino, então podemos dizer que nossa educação começa no dia em que nascemos.

Algumas pessoas podem dizer que um infortunado, que nasça de uma mãe que não lhe dá sequer o direito de sobreviver, como ocorre com os abandonados logo no dia em que nascem, sequer tem a educação que um analfabeto melhor nascido dispõe, que são os ensinamentos elementares de respeito, segurança, convivência social e rudimentos do falar a língua com razoável correção. Mas, em geral, exceto nos casos em que a criança nasce com deficiências físicas de aprendizado, é quase impossível que não aprenda algo com a simples existência. Então, ela, a criança, pode se desenvolver fisicamente e, embora possa se tornar um adulto sem instrução formal nenhuma e jamais vir a trabalhar, ela ainda aprenderá coisas que podemos chamar de rudimentos de educação.

Já o trabalho vem depois. Pode-se falar de afortunados que, tendo ou não uma boa educação, não precisam de forma alguma trabalhar. E há aqueles que, sendo afortunados, e podendo viver sem o trabalho, ainda assim trabalham, ainda que não tenham como objetivo principal o dinheiro.

Quanto a mim, acredito que nasci em uma família em que a educação, embora limitada, era relativamente valorizada, assim como o trabalho. Não nasci rico, de maneira a poder viver livre do trabalho. Então, o dinheiro sempre foi uma das principais razões para se trabalhar. E, em geral, uma das razões para se empenhar em busca de melhor educação é exatamente obter um bom trabalho. Logo, a educação é condição para se ganhar o dinheiro, e não o contrário.

Então, para que eu fale de dinheiro aqui, neste blog, primeiro é preciso que eu fale de educação. Não só da educação formal, que é importantíssima, mas daquela educação que vem antes, e que começou no dia em que nasci.

Que educação foi esta? De quem a recebi? No que ela consistia?

Eu quero saber quem sou, e porque sou quem sou. Tornar-se quem eu sou começou logo cedo.

Começou com minha educação. Começou no dia do meu nascimento.

Começamos a nos tornar nós mesmos desde o primeiro suspiro.

É preciso entender isto melhor.

Oportunidades na vida

Apesar do que disse aqui sobre minha caderneta de capa marrom, ainda não postei os resumos de todas as lições que anotei nela. A sétima lição foi sobre a verdade simples de um lutador. A lição seguinte refere-se à nossa energia para avaliar nossas oportunidades de vida.

Mandino usa um texto do Doutor Maxwell Maltz, famoso autor de auto-ajuda, para nos lembrar de que nem todas as fronteiras estão fechadas e quase todas as portas estão abertas.

Eu resumi esta lição de Maltz em poucas palavras:

"Lição 8:

1 – Pare, mas não deixe de começar de novo.

2 – Viva o presente.

3 – Pare de menosprezar-se.

4 - Estabeleça metas construtivas.

5 – Enfrente as crises."

O que este resumo quer dizer?

Quer dizer que há algumas regras que devemos seguir. Essas regras que Maltz nos propõe são simples, exceto para aqueles que nunca viram nada sobre o assunto. Elas são aplicáveis. Eu as aplico naturalmente, sem a necessidade de muito esforço.

Falarei mais sobre essas regras em um futuro qualquer.

Por ora, o essencial é relatar esses pequenos resumos, para registrar o que eu percebia como importante, em 2001, quando ainda era relativamente ingênuo e crédulo com relação a uma série de coisas.

Sonhos lúcidos

Eu disse aqui certa vez:

"Tenho lido sobre sonhos lúcidos, e vejo que não é nada fácil tê-los."

De fato, eu tinha interesse em ter um sonho no qual eu controlasse o desenrolar dos acontecimentos. Nossos sonhos em geral possuem um enredo que não controlamos. Passo muita raiva com isso, porque desejo algo no sonho e este algo nunca acontece. Agora, se eu controlasse meus sonhos, seria algo bastante interessante. E o livrinho que eu tinha em mãos na época prometia este controle.

Mas eu nunca tentei seriamente colocar em prática suas teorias.

Nossa imaginação é uma coisa espantosa. Em sonhos, mesmo não os controlando, criamos inconscientemente enredos os mais fantásticos, bizarros, irritantes, horripilantes ou aborrecidos possíveis. Sentimos em nossos sonhos sentimentos que dificilmente sentimos na vida real.

Eu, por exemplo, nunca consigo comer nada em meus sonhos. Sempre sonho com comida, mas nunca consigo me alimentar. Nem consigo matar ninguém. Nunca. Nem nada. Não consigo dirigir um carro direito. Não tenho controle, de maneira geral. Nada acontece como quero. Sempre acordo com algum desejo não realizado.

O que o livrinho dos sonhos lúcidos dizia?

Não me lembro, mas vou pensar melhor em suas teorias.

Quem sabe seja possível. Quem sabe.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A muito tempo atrás

Falando sobre meu passado, eu disse aqui que eu tinha necessariamente tido dezesseis tataravós, mas que tinha informações somente de dois deles.

Acontece que este texto foi escrito a muito tempo atrás. Depois disto, tive uma rara oportunidade de conversar com a minha avó, que está muito viva e bem, com seus 101 anos. Com calma e paciência, descobrimos coisas interessantes juntos, sobre muitas pessoas que ela conheceu, e que viveram a muito tempo atrás também.

Descobri coisas sobre mais dois tataravós. Coisa antigas, do século XIX.

Coisas muito interessantes.

O culto do amador

Em 24 de junho de 2004, eu escrevia neste blog:

"Mais dia, menos dia, haverá 100 bilhões de páginas no mundo e cada cidadão do planeta tentará se destacar nessa gigantesca vitrine usando de seus vários giga de fotos, textos e links quebrados. Todos farão parte dessa imensa loteria global, na busca de seus 15 minutos de fama virtual, uma fama caracterizada por pages views, acessos por dia, número de associados, número de usuários ou, quem sabe, número de dólares em vendas. Essa batalha é desanimadora e não possuímos a menor base para qualquer ação útil, a não ser escrever mais e mais coisas a nosso respeito, colocar mais e mais fotos digitais em nossos blogs. Cada blog é uma pequena palha no grande palheiro global. Mais um produto num mundo só de produtos. A web democratizou a livre iniciativa, mas não há quem possa consumir tudo aquilo que é produzido. O site de buscas Google vale bilhões de dólares apenas por ser capaz de dizer que se você quer algo na web, esse algo existe. Mas o que vale o simples existir? Sites da web são extensões de nós mesmos. Os medíocres serão também virtualmente medíocres."

Em 2007, um escritor americano chamado Andrew Keen publicou o livro "O culto do amador".

Não li o livro, mas eu provavelmente acabarei concordando com o autor, depois de ler, porque é óbvia a quantidade de bobagens que se posta a todo segundo no mundo, sem maiores considerações.

Ah, eu sou um profissional?

Depende.

Mas, calma, quem me questiona?

A caderneta de capa marrom

Eu disse que o sucesso é difícil.

Ele é e eu sei que ele é porque tenho corrido atrás dele faz tempo.

Disposto a seguir ao pé da letra as lições dos livros de auto-ajuda, listei coisas importantes em minha velha Agenda 1999. Essas lições resumidas eram minha esperança de que minha vida iria mudar para melhor em um curto espaço de tempo.

O que foi feito delas?

Eu pensei que aquilo que não memorizamos, acabamos esquecendo. Se essas lições eram tão importantes, de duas uma: ou eu as memorizava, ou eu as esqueceria em pouco tempo. Eu não queria esquecê-las, de maneira que a solução era, ou memorizar, ou andar com elas comigo o máximo de tempo possível.

Naquela época, em 2001, não havia os tablets e smartphones. E decorar lições de auto-ajuda me pareceu inútil. Eu precisava pensar nelas. Pensar em algo que se lê é diferente de decorar algo e tentar usar este algo em momentos difíceis.

Mas, se não iria esquecer, nem memorizar, o que eu deveria fazer: andar com a agenda debaixo do braço, como os evangélicos fazem com suas Bíblias?

Pensei, e cheguei à conclusão de que deveria anotar essas lições, que não eram tantas assim, em uma agenda menor, uma caderneta pequena o suficiente para levar no bolso da camisa ou da calça, sem que fizesse grande volume ou peso.

Fui a uma papelaria e encontrei uma pequena caderneta de capa marrom, imitando couro. Era pequena, confortável de transportar e bastante aconchegante de se manusear.

Transcrevi minhas lições para um documento no Word em fontes miúdas, imprimi em um formato que coubesse sobre as folhas da caderneta, colei as folhas impressas sobre as folhas da caderneta e depois as plastifiquei, porque a colagem deixou as folhas um pouco pesadas e onduladas.

Ficou bom. Ficou prático. Eu agora tinha minhas lições à mão o tempo todo.

E eu comecei a estudá-las. Calmamente, dia após dia. Em casa, nos pontos de ônibus, dentro dos ônibus, no caminho de ida e volta para o serviço, e também no próprio serviço. 

Eram lições de Dale Carnegie e Og Mandino. Os objetivos eram deixar de me preocupar com a coisas e aprender sobre o sucesso.

Mas, com o passar dos dias, percebi que este hábito nada resolvia. Nada mudava. Não acontecia nada demais. Era uma leitura inútil.

Não funcionava.

Coloquei a caderneta marrom de lado.

Até alguns anos atrás, eu a tinha em alguma prateleira ou gaveta.

Agora, não faço ideia de onde se encontra.

Comecei a duvidar dos livros de auto-ajuda.

Essa caderneta mudou minha vida.

Caixas de entrada abarrotadas

Eu disse um dia desses:

"tudo o que vemos são nossas caixas de correio eletrônico abarrotadas de spam, tentativas desesperadas e mesquinhas de nos venderem Viagra, cursos, soluções, celulares e megabites para nossos sites ignorados"

E o famoso e-mail marketing.

Nunca fiz, nem me interesso em saber como se faz. Acho uma violência e uma falta de respeito para com quem recebe sem pedir.

Minha caixa de e-mail tem cerca de 20.000 e-mails registrados nestes últimos 12 anos. É uma média de cinco e-mails por dia. Pensando bem, é pouco.

Raramente perco tempo lendo e-mails. Nunca uso web mails. Sempre uso o aplicativo do momento da Microsoft. Já foi o Outlook Express, o Windows Mail e agora é o Windows Live Mail. Ele roda pesado, acho uma perda de tempo, e me obrigo a baixar os e-mails que recebo ao longo dos dias dos servidores para o meu micro pelo menos uma vez por semana, em geral aos sábados. 

Só recebo lixo.

É impressionante.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ninguém liga para ninguém

A internet mudou radicalmente a paisagem urbana.

Quando eu era menino, costumava brincar ao ar livre. Havia a televisão, mas era um passatempo que não nos prendia. À noite, brincávamos nas ruas e nos lotes baldios. Mesmo um vilarejo como Tujuguaba era um lugar movimentado.

Achava que isto fosse coisa do interior, mas conversando com amigos da mesma faixa etária, que cresceram no fim dos anos 70 e começo dos anos 80 aqui em Brasília, onde vivo agora, eles disseram a mesma coisa. Brasília e suas superquadras era um lugar movimentado. A criançada brincava em bandos, em jogos grandiosos envolvendo dezenas deles noite adentro.

Hoje, isto acabou. Ando pelas quadras daqui e não vejo ninguém. 

Estão todos na internet.

A noite é um silêncio.

A internet esvaziou as ruas do mundo.

O grande palheiro

Eu disse certa vez:

"A Internet, com seus mais de 4 bilhões de páginas, virou o maior palheiro do planeta."

Agora, só por curiosidade, chequei esse número: não são mais 4, mas 25 bilhões de páginas.

Como eu checo isto? É bem simples. Entro no Google, digito a letra "a" ou a letra "e" e pronto. Vejo o número de páginas encontradas. Então, de 2004 a 2012, o palheiro se multiplicou por seis.

O que esperar de algo tão vasto e confuso?

A menor base

Desconhecido como sou, não possuo a menor base para qualquer ação útil com este blog, mas tudo bem. É o que concluo depois não de dias, mas de meses, anos, pensando sobre o que eu poderia fazer.

Repito a pergunta que fiz a muitos anos atrás: por que escrever este maldito blog se ninguém o lê, o critica ou o conhece?

Este maldito blog é desconhecido. Eu sou desconhecido. Mas qual o problema? Não quero ser a celebridade dos blogs. E o que eu tinha de fazer, eu faço: eu escrevo neste blog constantemente, apesar de vez ou outra dar uma parada, por um motivo ou outro. Eu não sinto nem desânimo, nem descrença, nem vontade de desistir de escrevê-lo. Eu só não gosto de escrever para o nada.

Eu não tenho a menor base para fazer dele mais do que ele já é. E o que ele é? Ele é apenas um tipo de diário público, e nada mais.

Ele tem pouquíssima probabilidade de sucesso. Se ele passasse a receber milhões de visitas, eu certamente saberia o que fazer com ele. Eu certamente trataria de ganhar muito dinheiro com toda essa popularidade, embora não faça ideia de como isto se daria. Mas acho que é legítimo ganhar dinheiro, e desejar ganhar muito dinheiro com qualquer coisa que seja honesta e legitimamente fruto de nosso trabalho.

Blogar toma tempo. Blogar requer, às vezes, que tenhamos de abrir nosso guarda-chuva e deixarmos as críticas maldosas e mesquinhas caírem como as gotas de uma chuva inoportuna. Se dissermos A, seremos criticados, e se dissermos Z, seremos também.

Não gosto de fazer propaganda, mas há épocas em que faço. Isto gera intrigas, brigas, ofensas. Existe um exército de moleques mal-educados que acham que ficarão milionários com seus blogs ingênuos. É possível que algum deles fique, mas é improvável. O mundo não comporta tantas estrelas juvenis de egos inflados e pouco conteúdo. Eles, os jovens blogueiros, resmungam à toa.

Este blog é meu. Escrevo para mim. 

O que vier dele, é lucro.

Sonhos incríveis

Eu tentei uma vez escrever um blog sobre com relatos de meus sonhos mais legais. Era um blog simples, e ele ainda existe, mas é mais um projeto abandonado. Está hoje com 116 visitas apenas. Está hospedado como Sonhos Incríveis

Mas foi apenas um passatempo temporário. Ninguém liga para sonhos.

Eu falo nisso porque andei escrevendo sobre uns sonhos que tive, sobre talheres publicitários e sobre os barrancos do abismo, que comentei aqui. São sonhos legais, mas eu não falarei deles por enquanto. Na verdade, vou postar aqui aquilo que escrevi neste blog Sonhos Incríveis e depois penso no que fazer com o velho blog.

As oportunidades estão abertas.

Posso fazer o que bem quiser com aquilo que sonho.

Talheres publicitários

Eu escrevi assim aqui:

"E, por fim, sonhei com meus talheres publicitários. O que é isso? É a fusão de duas ideias reais no mundo dos sonhos. A ideia de talheres publicitários é uma estratégia de marketing que, segundo minha teoria, pode ser uma coisa bacana. Mas, no sonho, a coisa se sofisticou, e virou algo bastante curioso e louco. Pratos publicitários!"

Isto é coisa que se sonhe?

Acontece que não controlamos nossos sonhos, e eles são sempre reflexo daquilo que pensamos em nossas horas de vigília. 

Quer dizer então que eu andava pensando em talheres publicitários?

Não. Na realidade, é um sintoma de frustração.

É curioso como abortamos sonhos na vida e esses sonhos ficam ali, em nosso subconsciente, fermentando. Eu sou formado em Administração de Empresas. Um administrador deve estudar e conhecer bem marketing. E eu estudei bastante o assunto.

Acontece que eu nunca pude colocar nada do que aprendi em prática. Nunca trabalhei na iniciativa privada. Sempre trabalhei no Estado. Nunca, nem nas mais improváveis situações, eu cheguei sequer próximo de fazer algo que se relacionasse com marketing nas várias situações em que tive de trabalhar ao longo desses muitos anos como funcionário público. Então, o marketing é para mim um brinquedo de adulto com o qual não posso brincar.

Isto é frustrante, e esta frustração fermenta interiormente. Claro, naturalmente o marketing não é a única coisa em minha vida de que gosto, mas não posso praticar. Há muitas outras coisas mais.

Essas coisas circulam insatisfeitas pelos nossos neurônios e em silêncio, aguardam a chegada da noite. Então, quando dormimos, elas espreitam pelas frestas de nossa escura inconsciência e abrem as portas que a vida real lhes fechou. Então, sonhamos com aquilo que nunca faremos.

Os sonhos são nossos parques de diversão para nossos planos impossíveis.

Eu sei que você, leitor, não precisa gostar do que escrevo, e pode sentir-se livre para nunca mais voltar a este blog, se lhe parecer que estas deprimentes constatações lhe cheiram a lixo particular. Lamento por seu engano em ter caído aqui, mas quero que entenda que blogs permitem tudo, e que você tem a liberdade de escolha para voltar ou não a ler minhas postagens.

Se você se sentiu enganado de alguma forma, perdoe-me: estou apenas brincando com o marketing, e isto não é nenhum pecado.

Volte sempre.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Achados, perdidos e roubados

Eu disse aqui que tive minha carteira roubada, desesperei-me socialmente e achei que um serviço de achados e perdidos era uma necessidade social.

O que tem uma coisa a ver com a outra?

Você é assaltado, alguém enfia a mão em sua bolsa e rouba sua carteira com dinheiro, documentos e tudo o mais e você faz uma ocorrência policial.

O dinheiro, você deduz, já era. Da polícia, nada se pode esperar. São milhares de roubos iguais ao seu e ela é impotente para coisas de pouca significância em tão grande quantidade. Mas o ladrão poderia ao menos abandonar a carteira com os documentos, que não valem nada para ele, em algum lugar. Está certo, alguns bandidos espertos conseguem ver mais valor nos documentos que no dinheiro, porque em geral, não andamos com muita grana no bolso hoje em dia, e depois, eles não podem sacar nada com cartões de crédito sem senhas. No máximo, podem tentar comprar coisas com o cartão em estabelecimentos onde ainda se usa máquinas manuais, mas essas máquinas manuais estão praticamente extintas hoje em dia. Então, os cartões são inúteis também.

Se o ladrão não tiver a intenção de usar nossos documentos para algum fim maligno, ele poderia jogar a carteira em algum lugar visível e sair livre com o dinheiro.

Acontece que nós não sabemos onde ele jogará nossa carteira. Eles, os ladrões, não podem andar por aí com carteiras roubadas, porque policiais são pessoas treinadas e sabem identificar um bandido em meio a uma multidão de gente comum. Bandidos sabem que são alvos fáceis para a polícia. Então, nada de andar por aí com as provas de seus crimes no bolso da calça. A coisa deve se resumir a roubar a carteira, tirar o dinheiro e jogar o resto em algum lugar qualquer.

Acontece que, uma vez jogada em um lugar qualquer, esta carteira será achada por alguém que não fazemos ideia de quem seja, e que não fará ideia alguma de quem somos.

O que fazer se encontramos uma carteira jogada no chão, por exemplo?

Eu, particularmente falando, abriria a carteira, localizaria o nome de seu dono por meio de um documento e faria de tudo, inclusive avisando as delegacias de polícia da cidade, de que encontrei uma carteira e que a pessoa poderá retirá-la comigo em algum lugar previamente combinado. Obviamente, se a carteira estiver com dinheiro, eu não tocarei nele. A pessoa pode ter de fato perdido a carteira, e não tê-la roubada. É fácil saber se achamos uma carteira perdida ou roubada: a carteira perdida está intacta e provavelmente com dinheiro, e a roubada está certamente sem dinheiro, e provavelmente toda revirada.

Então, eu devolverei a carteira ao dono em um lugar seguro, em uma delegacia ou em um shopping. Pedirei uma prova de que a pessoa é a mesma que consta em algum documento da carteira, para ter certeza de que não estou entregando a carteira para um impostor qualquer, e pronto. Nada de gorjetas, nem retribuições, nem nada. Simplesmente estarei cumprindo com meu dever de cidadão.

Mas não é assim que as coisas funcionam no Brasil. Aqui, se a carteira for realmente perdida, e não roubada, provavelmente o dinheiro que houver nela será roubado, ou, na melhor das hipóteses, diminuído, ou ainda, quem achar e devolver pedirá algum prêmio, uma contribuição pela mesma. Você então terá de pagar um resgate por algo que é seu, e o suposto bom cidadão que aparentemente está fazendo uma boa ação estará te extorquindo, sem vergonha ou pudor. Você não poderá acusá-lo de nada, porque, em última instância, ele pode dizer que encontrou a carteira já vazia, e você perde tudo, de qualquer forma.

Nós não somos um povo educado para compreender que não devemos ficar com aquilo que não nos pertence, não importa como venhamos a tomar posse deste objeto ou bem. Há por aqui o maldito ditado que diz que "o que é achado não é roubado", que endossa a falta de caráter daqueles que deveriam ser solidários e cumprir um dever social simples e óbvio. Afinal, se achamos as coisas, também as perdemos. E quem nunca perdeu nada? Um guarda-chuva, um casaco, um celular, uma carteira, um cartão de crédito, uma sacola de compras, ou uma mochila escolar?

Certo, isto deveria ser ensinado em casa. Mas isto deveria ser ensinado também nas escolas, e deveria haver campanhas educativas também, porque não são somente as crianças que acham e se apoderam de coisas que não são delas. Os piores casos são sempre produzidos por adultos.

Somos um povo malandro, oportunista e que quer levar vantagem em tudo.

Qualquer hora destas, falo um pouco sobre a Lei de Gerson, que sempre é tida como "a causa" de todo esse mal, mas que é superestimada. O problema não é a Lei de Gerson. O problema é a nossa falta de civilidade e educação. Somos roubados duplamente: pelos bandidos e depois, pela população oportunista, que não sabe agir com o mínimo de decência que se espera de um povo dito civilizado.

Se você achar algo que não é seu, faça um favor a si mesmo: trate de achar o dono o mais rápido possível, e não peça nada em troca. 

Está na hora de pararmos com a humilhante situação de vermos supostos cidadãos "de segunda", andarilhos,  garis e sem tetos achando e devolvendo grandes somas sem pedir nada em troca. Esses casos nos envergonha como povo, e é prova de que podemos ter Ipads nas mãos, mas não temos nada na cabeça.

Achou, devolva.

Devolveu, não aceite nada em troca.

Você não faz mais que sua obrigação de cidadão educado.

Memórias temáticas

Eu disse aqui, a muito tempo atrás, que uma das razões para a existência deste blog era o uso dele como uma cápsula do tempo, onde eu poderia registrar algumas memórias. Uma das maneiras de registrarmos nossas memórias é dividi-las por temas. São então nossas memórias temáticas.

Uma das coisas que gosto de pensar é sobre o passado de meus familiares antes de meu nascimento. Este é um tema que me interessa bastante. Outro é sobre minha infância, até meus quatorze anos, quando eu ainda era uma criança, e o mundo era um lugar mágico e delicioso.

Mas eu disse ainda que pretendia falar sobre mais quatro ou cinco outros temas diferentes. Que temas são estes?

Andei pensando e cheguei à conclusão de que um tema importante é sobre minha educação. Não posso falar de mim e de minha vida sem levar em conta minha educação, formal ou informal, que representa uma poderosa força social que tem sido capaz de provocar mudanças pessoais significativas, ou tem permitido manter valores que não devem ser mudados, e que é um tema que precisa ser melhor entendido.

Um outro tema indispensável é o trabalho. Somos criadores e criaturas do trabalho. Identificamo-nos com aquilo que fazemos, e é preciso que eu fale sobre o que fiz e faço.

Outro tema ainda é sobre lugares. Lugares que passei. 

Acho ainda que um outro tema fantástico é sobre tecnologia. O mundo da informática é uma revolução tão importante que precisamos registrar nossa interação com estas máquinas fabulosas que vieram para ficar, e isso é importante porque somos a primeira geração a desbravar o mundo virtual. Então, precisamos falar mais sobre isto.

E por fim, talvez, falarei sobre lazer. Como passo meu tempo livre? Como me divirto? Afinal, a vida não é só trabalho e estudo.

Essas são, por enquanto, minhas memórias temáticas, e prometo a mim mesmo falar sobre elas, ainda que não interesse a mais ninguém. Afinal, blogs pessoais são isto: sobre coisas pessoais.

Desespero social

Em um desses meus antigos posts, eu, em uma crise de desespero social motivada pelo excesso de violência  neste nosso triste país, desejei ardentemente que tudo se espedaçasse em uma terrível guerra civil, à moda iugoslava.

Eu estava escrevendo sob o domínio da ira, e me perdoo por isto. Não desejo mais violência como a solução para a já nossa tão violenta vida. Ademais, não acredito em secessão (palavra difícil de se escrever!), mas em confederação, união, globalização.

O Brasil, felizmente, nunca será uma Iugoslávia. Pelo contrário. Seremos um único bloco de latino-americanos, da Patagônia ao Rio Grande, no México, ou além ainda.

Mas que estamos perdendo a batalha contra a violência, não tenho dúvidas. Um exemplo óbvio desta derrota está nesta manifestação, feita esta semana nas areias do Rio.

Se você não tem ideia do que significa uma quantia de 500.000 pessoas mortas, olhe com calma os feijõezinhos da foto abaixo...


domingo, 2 de dezembro de 2012

Pense com um lápis à mão

Eu disse aqui que li Og Mandino em 1990.

Fico pensando em como nossa memória é falha.

Um livro em geral possui uma quantidade muito grande de informação. Se é uma história de ficção de algum romance, não é tão grave assim que ao longo do tempo esqueçamos detalhes daquilo que acabamos de ler. Em geral, o esquecimento é até bom, porque, apesar de esquecermos os detalhes da história lida, não esquecemos as sensações e emoções que sentimos ao ler o livro, de modo que mesmo depois de muitos anos somos capazes de nos lembrar de um determinado livro e saber se ele é bom ou não. Evidentemente que se o relermos, não temos a garantia de que sentiremos as mesmas sensações da leitura anterior, porque o tempo muda nossas mentes, e pode acontecer de não nos impressionarmos mais com um livro que já nos pareceu impressionante. Isto faz parte de nosso amadurecimento intelectual.

Mas o mesmo não pode ser dito de livros onde o objetivo é passar conhecimento, informação, técnicas, métodos ou conceitos, tais como os livros didáticos, os científicos e também, porque não, os livros de auto-ajuda.

Ler um livro sobre um assunto o qual nos propomos a dominar intelectualmente implica em um esforço não necessariamente de memorização, mas certamente de assimilação, que é um processo bem mais lento e demorado. Na verdade, poucas vezes a simples memorização resolve alguma coisa em termos de consolidação de conhecimentos a longo prazo. A assimilação não dispensa alguma memorização no início, em aspectos secundários do processo. Por exemplo, se estudo um país qualquer e neste país há uma cidade a qual desconheço, evidentemente que preciso de um pequeno esforço de memorização para assimilar o nome desta cidade, mas, na medida em que estudo mais e mais este país e esta cidade, o nome de ambos dispensa o esforço consciente de memorização pura e simples.

Acontece que estudar um determinado assunto, seja ele qual for, requer método.

Pessoas leigas confundem a aparência dos livros com a essência de seus conteúdos. Quem não lê não consegue entender a diferença entre um livro que trata de dragões e contos de fadas, com 900 páginas, e um de sociologia, que trata, por exemplo, sobre métodos de mensuração do impacto de um determinado fenômeno social em um determinado grupo de pessoas, ou então, uma nova corrente filosófica que trata de um assunto áspero por meio de um livrinho fino de 70 páginas. Para o leigo, o livrão sobre dragões é mais complexo que o texto filosófico ou sociológico pelo simples fato de ter mais páginas e demandar, aparentemente, mais tempo para ser lido.

Mas, nós, que somos alfabetizados e fomos incentivados ao hábito de leitura, mais ou menos, de acordo com a qualidade do ensino que tivemos, sabemos que há livros de lazer e há livros de trabalho, de aprendizagem. Há livros fáceis, e há livros difíceis.

O que não aprendemos é como enfrentar livros difíceis. Quer dizer, aprendemos sim, a enfrentar livros difíceis, mas não no começo de nosso processo de aprendizagem. Nos primeiros anos de nosso processo de educação formal, mas escolas, não temos como tarefa estudar em livros duros e complexos. No mais das vezes, temos de estudar os livros didáticos, que na própria essência, são livros de conteúdo simples, resumidos, em linguagem básica e sem grande profundidade.

Somente na faculdade é que teoricamente nos defrontaremos com livros científicos, e então receberemos antes um treinamento de como abordar tal tipo de estudo. Em geral, este treinamento vem sob o nome de Metodologia Científica. Em geral, também, este treinamento se resume a um verniz fino que nada tem de metodológico. Volta-se para a elaboração de trabalhos e monografias, regras ininteligíveis sobre tamanhos de papéis e outras superficialidades mais, que na verdade é um manual de redação, e não de entendimento do método científico em si.

Então, poucos sabem realmente abordar com método um livro difícil. Quer dizer, poucos sabem os passos a serem dados para se assimilar um assunto complexo e técnico.

Acontece que livros de auto-ajuda são na verdade livros de psicologia aplicada, e como tal, também não são livros de leitura meramente de lazer. Ninguém lê um livro de auto-ajuda para passar o tempo. Em geral, espera-se aprender algo com eles.

Mas os livros de auto-ajuda não são livros científicos, no sentido estrito da palavra. Eles usam conhecimentos científicos, em geral, mas eles não são escritos em linguagem científica. Pelo contrário, eles são escritos como romances, de maneira a tornar a leitura fácil mesmo para aqueles que não são acostumados a ler. E em geral, quem lê acaba lendo-os como quem lê romances. E esquece que precisa estudar o tema, aprofundar-se nos ensinamentos, reler, enfim, precisa retornar ao livro vezes e vezes seguidas, e aplicar aquilo que se propõe a aprender. Se não fizer isso, a mera leitura será perda de tempo. Será uma leitura prazerosa e interessante, mas a pessoa não dominará aquilo que se propôs a dominar, e portanto, não ajudou-se por meio do livro. Este foi apenas um passatempo, um entretenimento, e nada mais.

Quando li Og Mandino em 1990, eu não havia ainda estudado em uma faculdade. Não sabia nada de métodos de aprendizagem. Tudo que fiz foi ler o livro como um romance.

Não posso dizer que não aprendi nada, mas foi uma leitura que gerou mais emoção que propriamente conhecimento.

Ainda assim, um pequeno fragmento do livro fixou-se em minha mente.

Foi uma lição de Michael LeBoeuf, no capítulo 24, página 262. Esta foi uma lição simples, mas inesquecível. O autor, tratando de organização, dentre várias sugestões sobre ordem, limpeza e métodos no trabalho, nos aconselhava: pense com um lápis à mão.

Esta lição pareceu-me tão importante que a adotei definitivamente.

Eu odeio perder uma boa ideia. Eu odeio esquecer-me de uma boa ideia. Eu odeio ter uma ideia que acho que é nova para então recordar-me que a tive já a muitos anos atrás, mas que não a desenvolvi porque esqueci de anotá-la em algum lugar qualquer. Eu odeio mais ainda quando ouço que alguém ficou milionário com uma ideia que eu sei que já tive, idêntica ou melhor, a dez anos atrás, e que poderia ter desenvolvido para meu próprio proveito, mas que nunca o fiz, porque tive esta ideia em um momento qualquer em que não me dei ao trabalho de anotá-la, e a ideia me fugiu como um peixe liso, e acabei me esquecendo dela até então, só me recordando que a tive porque o sucesso alheio a fez voltar à consciência, como um peixe que pula em nosso barco como por milagre, e este peixe vem para me atormentar, e dizer: "viu só? Você poderia ter ficado milionário se tivesse me prendido da primeira vez..."

E então, eu tenho pensado com um lápis à mão, pode apostar.

Não sei se vou ficar rico com minhas ideias, mas eu sei que uma ideia não me escapará por falta de papel e lápis, e de rapidez em perceber que é uma ideia boa o suficiente para merecer minha atenção imediata, e ser anotada.

Sim, eu ando com um lápis à mão, mesmo sem pensar.

Nunca se sabe quando um peixe pulará no seu bote, uma vez tendo se posto na água.

E todos somos, querendo ou não, pescadores de ideias.

Então, aprenda com LeBoeuf: não perca seu peixe!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

As visitas a este blog

Somente para registro, comemoro e agradeço o fato de que neste mês de novembro, este singelo blog recebeu, pela primeira vez em seus longos anos de existência, um número considerável de visitas. O contador do próprio Blogger registra até agora, até este presente momento, mais de 500 visitas.

Certo, eu sei que muitas destas visitas são resultado de sites com robots que fazem visitas automatizadas nas quais ninguém lê nada, e achamos que estamos recebendo algum curioso estrangeiro, geralmente da Rússia, Alemanha ou Estados Unidos.

Mas mesmo assim, eu sei que a maioria das visitas são de leitores de verdade.

Fico feliz que seja assim.

Torço, e me esforçarei, para que este número continue crescendo.

O dilema do blogueiro

Tenho enfrentado um dilema ultimamente, com relação à maneira como ando administrando as coisas neste meu blog. Acredito também que muitos outros blogueiros que, como eu, gostam de escrever frequentemente, enfrentam o mesmo dilema.

A questão é a seguinte: eu tenho muito o que escrever, mas ao mesmo tempo tenho uma baixa audiência em meu blog. Tenho então duas opções: ou escrevo pouco, e faço alguma divulgação do blog em algum canal qualquer, para que eu tenha o prazer de ver as pessoas entrando no blog e lendo as postagens, comentando e incrementando os contadores de visitas das mesmas, ou escrevo muito, aumento sensivelmente o número de postagens que compõem o meu blog, porque não podemos ser insensatos e escrever postagens imensas, e em consequência, ainda que continuemos fazendo publicidade, veremos os números dos contadores se diluírem, com postagens sem visita alguma, para nossa tristeza e desapontamento.

Se escrevo pouco, um possível fã ficará decepcionado de entrar em meu blog e ver as mesmas postagens de uma semana atrás, com muitos comentários e muitas visitas, mas já sem nenhum atrativo, e então não voltará. Se publico um número grande de postagens, as pessoas que gostam de ler meu blog poderão incrementar as visitas, mas mesmo assim, eu me sentirei desanimado, porque haverá postagens que eu considerarei boas, nas quais despendi muito esforço e tempo, mas que nunca foram lidas por ninguém.

Ou escrevo muito para quase ninguém, ou fico com o desejo de escrever reprimido.

No fundo, acho que as pessoas não gostam muito de ler.

No fundo, acho que tudo é uma questão de arrogância e vaidade, minha e de quem lê blogs apenas para receber uma visita de volta.

Mas, apesar disto, acho que tenho mais a ganhar escrevendo muito que pouco.

Meus leitores, reais ou potenciais, também.

Difícil, este dilema, de blogueiros indecisos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Precondições

Todas as vezes em que penso em fazer algo produtivo, surge uma precondição.

O que é uma precondição? 

É uma exigência prévia da qual não podemos abrir mão, e sem a qual não podemos prosseguir (e se escreve junto mesmo, e não assim, "pré-condição", conforme o Dicionário Aulete).

Então, eu saio em busca de suprir esta precondição. Em geral, leio algo, faço algo ou me preparo para algo, na suposição de que assim, depois de um certo esforço, eu poderia fazer aquilo que originalmente me propus.

Mas a precondição, ela também, exige uma ou mais precondições.

Eu, espertamente, tentei várias vezes seguir adiante mesmo não tendo dominado as precondições, mas então, de repente, vejo-me embrenhado em um ponto a partir do qual não consigo seguir em frente, porque não sei do que se trata. Surge um termo, uma fórmula, uma referência que é um obstáculo intransponível, e do qual não consigo me desvincilhar. É a barreira da precondição. Eles, os autores, não mentem quanto a isto, posso afirmar com toda segurança. Então, não insisto mais: se leio sobre uma precondição, paro e vou atrás dela, se não a domino. E assim, tenho um monte de coisas começadas, mas interrompidas. E isto me exaspera, me imobiliza e me desanima fortemente. E eu não sei como me livrar disto ainda.

Se eu decido aprimorar meu site, escolho antes estudar um pouco de web design, por exemplo, para não perder tempo fazendo algo que não terá valor ou qualidade alguma. 

Então, mal começo a ler sobre web design e alguém, seja o autor de algum site, ou de algum livro, logo dirá, depois de alguns parágrafos introdutórios: para se seguir adiante, supõe-se um conhecimento mínimo, médio ou avançado em alguma outra coisa, tal como html ou artes plásticas.

Pronto. Ponho o site ou o livro de web design de lado e vou atrás de sites ou livros sobre html.

Mas o livro de html impõe também suas precondições: saber alguma coisa ou muito sobre programação, ou coisa do tipo.

Então, vou aos livros de introdução à programação, que pede um conhecimento de lógica como precondição. 

Vou estudar lógica e o livro pede um conhecimento de filosofia ou matemática como precondição.

Vou estudar matemática, um mundo vasto e complexo, e qualquer livro pede algo como precondição para qualquer coisa. 

E de repente, eu me pego lendo livros didáticos do segundo grau, ou mesmo do primeiro grau, procurando as bases de um conhecimento que aprendi formalmente a muito, muito tempo atrás, e que até então parecia enterrado no passado, mas que agora é fundamental.

Coisas que aprendi nos primeiros anos de escola. Coisas do segundo grau, que deveriam ser ensinadas, mas não formam, porque o professor de química gostava mais de ficar fazendo piadinhas na sala de aula do que propriamente ensinando algo. E assim por diante.

Eu poderia tentar algo simples, que não exigisse precondições, mas não é nada fácil. Não quero fazer algo e imaginar que estou me enganando, fingindo que sei algo sem saber de fato. 

Na vida profissional, podemos até enganar um grande número de pessoas a respeito daquilo que sabemos, aparentando saber mais do que sabemos de fato. Mas não posso enganar a mim mesmo, e não consigo satisfazer minha própria curiosidade. 

Assim, ando enredado em livros de história antiga, história moderna, história da ciência e de suas diversas ramificações, livros de introdução disto e daquilo, e neste meio tempo, acabo dispersando esforços lendo ou fazendo coisas que não preciso fazer, porque nem tudo do que leio eu preciso necessariamente aprender. Muita coisa eu já sei, mas tenho de ler para chegar aonde não sei, e assim, vou repetindo meu primeiro grau, meu segundo grau, meus anos de faculdade e mais outros anos ainda de estudos fora das escolas.

Acho que nunca irei parar de estudar e fazer algo concreto no mundo real.

As precondições não permitem.

domingo, 25 de novembro de 2012

País do futuro?

É preciso ser realista com a vida na medida em que se vai envelhecendo. Muitas das aspirações juvenis desvanecem-se ao longo dos anos, e as esperanças de um futuro melhor, ao menos aqui, no Brasil, vão minguando dia a dia, para nós que já vivemos bastante, e estamos envelhecendo.

Eu disse certa vez neste blog:

"Fui registrar ocorrência na delegacia de polícia de plantão, e, pensando no que significa tudo isso a longo prazo, perdi a esperança no Brasil.

Para dizer a verdade, nunca acreditei um segundo sequer nessa ladainha que venho ouvindo desde que tenho seis anos de idade, a de que o Brasil é o país do futuro. O Brasil, agora tenho certeza, foi, é, e sempre será, um fracasso. O último que sair que apague a luz."

Esta frase é triste e amarga. Para as pessoas que amam este país, e anda não viveram o suficiente para perder parte da esperança, ela soa como uma declaração maldosa e fria.

Mas não estamos falando de torcer pelo país da mesma maneira que torcemos por um time de futebol. O Brasil, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas a Seleção Brasileira de Futebol.

As pessoas tendem a depositar esperanças no país da mesma maneira que depositam esperança na Seleção para a próxima Copa. Há uma sensação de que tudo depende de um pouco de garra, fé, esperança e uma equipe entrosada de astros jogadores. Mas a vida real não é bem assim.

Um país tão grande e com tanta gente diferente, com valores diferentes e culturas diferentes não muda de um dia para outro. Ele nem muda de uma década para outra, apesar dos carros novos que circulam nas ruas dando a impressão de modernidade, nem muda em função de um mendigo circular pelas ruas com um iPhone novinho em folha.

Também não se pode confundir o Brasil com as imagens que o Governo publica nos intervalos dos programas de televisão, que sempre mostram as mesmas coisas: plataformas de petróleo, grandes rodovias, os aviões da Embraer e dezenas de colheitadeiras ceifando em conjunto aquele mar de soja em alguma planície longínqua no interior do Mato Grosso. As pessoas se empolgam com imagens assim, e acreditam realmente que o Brasil é um país muito rico e moderno, e se enchem de orgulho ufanista, como se tudo estivesse indo muito bem, graças à garra do povo brasileiro, que não desiste nunca.

A afirmação acima é amarga. Não tenho bola de cristal para saber como será o futuro, mas tenho livros de história que mostram o passado de maneira fria e isenta. Esses livros deixam claro que países são apenas frutos de seus povos, e nada mais. Não há país sem povo, e não há país moderno com povo atrasado, assim como não há povo moderno em país atrasado. O país é sempre a soma do povo, por mais que digam o contrário.

Na medida em que uma geração envelhece, passa a ver um limite temporal pela frente. As pessoas começam a fazer contas a respeito do tempo que falta para se aposentarem, e sabem que a partir de uma certa idade, não resta mais tanto tempo para se apostar no país. Pode haver amor pelo país, mas há o amor próprio que cada um tem por si, e que se sobrepõe ao amor pela pátria. As pessoas ainda torcem pelo país, mas se puderem, darão um jeito de procurar lugares melhores para passar os poucos anos que restam de vida.

E assim, aos poucos, os brasileiros que podem vão indo embora do país.

É curioso observar que sempre que ocorre uma tragédia qualquer em algum lugar do mundo, seja onde for, sempre há um brasileiro envolvido. Geralmente algum deles se encontra entre as possíveis vítimas de alguma desgraça mundo afora.

Isto é o sinal de que há uma diáspora silenciosa em curso, e que poucos admitem.

É feio falar mal do próprio país. É ofensivo. As pessoas não admitem que outras pessoas não gostem do próprio país. Elas relutam em aceitar que há países melhores no mundo. Mas a verdade é que o mundo é vasto, e na medida em que mais e mais gente viaja mundo afora por turismo ou negócios, vai se percebendo que há, sim, muitos lugares melhores no mundo em diferentes aspectos.

A crítica que fiz foi com relação à segurança. Acho que é uma crítica justa. Acredito que um país inseguro como o Brasil não é um lugar bom para se viver. Quando mais velhos ficamos, mais nos sentimos vulneráveis à violência generalizada que destroça nosso país. E há, sim, uma grande maioria de países mais seguros para se viver que o Brasil. Nossas tristes estatísticas não incentivam ninguém a viver aqui. Nem mesmo a vir passear aqui, meramente a turismo. Por que correr o risco de ser assaltado no Brasil se posso visitar o Caribe com suas belas praias com total segurança?

Mas o problema da segurança é um problema insolúvel, crônico, que não depende de nossas atitudes a favor ou contra nada. É um problema que se expande a cada dia e que nos trás desesperança e tristeza. E é um problema gerado por brasileiros, alimentado por brasileiros, fomentado por brasileiros, defendido por brasileiros e alvo de lucro de brasileiros. Há um grupo de brasileiros que tem total interesse neste estado de coisas, e mais se beneficiarão quanto pior se tornar a situação. Quanto pior se tornar o país, mais benefícios esse grupo de brasileiros terão. E eles não vão desistir de seus ganhos. E assim, nós, demais cidadãos, perdemos já, definitivamente, o jogo contra a violência.

Se você acha que o problema da violência vai ser resolvido, reveja suas opiniões. O problema vai piorar. Não vou explicar agora as razões deste pessimismo, mas ele não é sem razão, ou sem motivos. Há razões institucionais, estruturais, ideológicas e corporativas para que a violência se amplie. A ameaça vem de dentro do sistema em que vivemos, e não de fora, ou do momento, ou de mera circunstância.

Eu não estou sendo ameaçado por americanos, chineses, russos ou argentinos. Eu estou sendo ameaçado pelos meus próprios conterrâneos. Não podemos confiar em nossos próprios vizinhos, nem em nossos porteiros, nem em nossas empregadas domésticas, nem em ninguém. Todo cidadão tem razões de sobra para temer qualquer um e todos.

A violência está matando o futuro de nossa sociedade. Como nada é feito, e a coisa só tem piorado, a melhor coisa a se fazer é acautelar-se. Mais dia, menos dia, as pessoas vão se aposentar e dar adeus ao país.

Vão-se, para nunca mais voltar. Partirão ameaçados de sua terra natal ingrata para morrer em uma terra estrangeira qualquer mais segura, anônimos, é verdade, mas em paz.

Os bandidos, assim, expulsarão os bons, e no final teremos algo como aquelas ilhas desertas, onde só habitam cobras peçonhentas, que depois de devorarem tudo, devoram-se umas às outras.

Esse é o nosso país do futuro?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Siku, parabéns!

Siku


Siku, o ursinho polar rejeitado pela mãe e criado pelo adorável pessoal do Scandinavian Wildlife Direpark, em Kolind, na Dinamarca, completa hoje 1 aninho. 

Agora, ele já está grande e pesa mais de 100 kg. Você pode vê-lo ao vivo diariamente no site Explore.org, andando calmamente pelo gramado, roendo uma perna de carneiro, nadando, dormindo, sentado ou em pé, tentando ver o que ocorre à sua volta, como os ursos em geral fazem.

Siku é o pequeno Embaixador dos ursos polares selvagens, que vivem no Pólo Norte, e que sofrem com o derretimento da calota de gelo do Oceano Ártico, que neste verão nórdico atingiu seu menor tamanho desde que este vem sendo monitorado. Com o derretimento do gelo, os ursos polares precisam nadar mais em busca de alimento, e os filhotes, mais frágeis, tendem a morrer.

Assim, em um esforço global na busca de se tentar reduzir as emissões de carbono pela ação humana, Siku representa os ursos polares de todo o mundo selvagem. Em nome de todos os ursos, nos é pedido que reduzamos nossas emissões de carbono, que colaboremos de todas as formas possíveis para que o aquecimento global não se agrave, ou se detenha, ou ainda, quem sabe, reverta-se de alguma forma.

Esta mensagem é em razão disto. E nós precisamos pensar melhor neste assunto aparentemente tão triste e remoto.

Siku está bem tratado, saudável e, esperamos, viverá longos anos ainda. 

Não sei dizer quando aos demais ursos polares selvagens. Eles já não são muitos, e estão ameaçados. 

Eu sei que há muitas espécies ameaçadas, e eu sinto muito por elas, por todas. Eu sinto muito que não seja possível dar a mesma evidência que é dada a Siku. Nem todos os animais são tão cativantes quanto um fofinho urso polar. Mas não é somente pela fofura de Siku que devemos nos comover, e temer pelo pior. Não são somente ursinhos fofinhos que correm risco. O que dizer dos animais que não são afortunadamente belos? O que dizer dos animais que não são vistos pela internet mundo afora, em países pobres e remotos?

O que é preciso se enfatizar aqui é que Siku representa todas as espécies que, por ação humana, ou mesmo por ação da natureza, correm risco de extinção.

Eu sei também que há miséria no mundo suficiente para nos preocupar pelos próximos milênios, mas um problema não significa o fim de outro. A miséria humana não minimiza a catástrofe ambiental que direta ou indiretamente estamos provocando.

Siku está vivo, e as pessoas cuidarão dele. Ele é uma feliz exceção. Mas, e quanto ao resto? 

Como brasileiro, sei que muitos dirão que deveríamos nos preocupar com nossos animais, e não com animais de outros países, outros continentes, outras regiões do planeta. Mas eu digo que a vida é a mesma, seja ela representada por um urso, um lobo guará, um panda ou um pinguim. Se fosse possível, todos os animais deveriam ter seus nomes inclusos na lista de Embaixadores da Vida, tal como Siku. Ocorre apenas que os dinamarqueses, povo educado e com recursos suficientes para tal, tomaram a excelente iniciativa de mostrar ao mundo o que é um urso polar, e o risco que eles correm, fazendo as imagens de Siku rodarem o mundo.

Talvez não possamos deter o aquecimento global. Talvez nem haja de fato um processo de aquecimento global, mas é certo que podemos fazer muito pela nossa preservação e pela preservação da fauna e flora ameaçadas pela nossa existência descontrolada.

Aceite esta ideia: nossa presença no planeta representa uma ameaça a outras formas de vida. Se destruirmos estas formas de vida, estamos destruindo a nós mesmos, como espécie. Não é que a miséria humana seja um problema e a extinção dos animais seja outro tipo de problema. Eles são o mesmo problema, visto de ângulos diferentes.

Somos uma espécie predatória.

Siku é um predador, mas em relação a nós, é uma simples e frágil vítima.

Precisamos urgentemente repensar nosso modo de vida como espécie.

Nós precisamos enfrentar este problema: nós mesmos.

Obrigado, pessoal do Direpark.

Parabéns, Siku!

Abra o olho, ser humano!

Siku