quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Amor ao trabalho

Pode parecer piegas dizer que se ama trabalhar. E é.

Então, não direi que amo trabalhar. Não diga isso você também. Se não soar como pieguice, soará como hipocrisia.

Amor é um sentimento nobre e deve ser reservado a valores mais elevados. Ame seus pais, suas esposa, seus esposo, seu filhos e seus animaizinhos de estimação ou suas plantinhas. Ame gente, ou coisas, que lhe são valorosas e únicas. O trabalho, bem, o trabalho, reserve-lhe um sentimento mais adequado, que não seja o tão raro amor.

Amar o trabalho?

O trabalho é para ser... como podemos dizer?...não amado... mas valorizado, respeitado, apreciado. Você pode até dizer, por força de hábito, que ama isto ou aquilo, e odeia isto ou aquilo, mas é somente uma força de expressão. No fundo, você não ama de verdade. Você só ama coisas fofas, pessoas queridas, seres capazes de lhe dar um sentimento recíproco.

Você não é amado pelo seu trabalho. Você, na melhor das hipóteses, é valorizado por aqueles que se utilizam de seu trabalho. Então, se você acha que ama seu trabalho, repense, porque se continuar amando, será um amor não correspondido.

Por longo tempo eu achava que odiava o meu trabalho. Eu não conseguia entender que todos os trabalhos são essencialmente uma atividade dura, cansativa e quase sempre pouco gratificante. Na verdade, eu estava apenas reagindo a um sentimento que é um dos resíduos, um dos efeitos colaterais de se ser um trabalhador no mundo em que vivemos. 

Eu estava odiando o cansaço decorrente do trabalho. E não consigo ver como alguém possa sentir amor por algo que lhe esgota a mente e o corpo, e do qual não pode se livrar sem se passar por temerário, irresponsável ou vagabundo.

Eu sei agora que o trabalho, seja ele qual for, sempre trará cansaço, esgotamento, frustração e, com um pouco de sorte, alguma esperança de recompensa futura, da qual não temos garantia alguma. Mas não podemos nos furtar a ele, e o enfrentaremos, esgotados, cansados, frustrados ou mesmo irados. O que não podemos admitir é que não haja a necessidade de se trabalhar, não pelas razões que comumente nos motiva, como o dinheiro ou o prestígio, mas pelas razões mais nobres, que fazem de nós, trabalhadores, pessoas maduras, altruístas e responsáveis.

Não ensinamos as crianças pelo amor ao dinheiro. Há quem ensine sem nada ganhar. Nem salvamos vidas nos hospitais pelo prestígio que essa tarefa dá. Há quem cure nas matas, nos desertos e no anonimato, desdenhando qualquer honra ou elogio, trabalhando pelo puro amor à vida e respeito ao semelhante necessitado.

Eu não sei se todos podem ter empregos assim tão significativos, mas não acho que possa existir algum trabalho que perdure sem ser útil à sociedade de alguma forma.

Você não precisa amar seu trabalho. Mas você pode viver sem odiá-lo. Basta que descubra valor nele. Não o valor que ele representa para si mesmo, mas para aqueles que dele se beneficiam.

Se você faz algo que não beneficia ninguém, então acautele-se. Por amor a si próprio, busque algo melhor. Não será por falta de trabalho útil a ser feito que o mundo haverá de parar.

Quanto a mim, faço o meu melhor. E quanto ao emprego que eu odiava, bem, essas são águas passadas. 

Hoje, trabalho de cabeça erguida, e espero continuar a trabalhar assim. É verdade que acho um exagero dizer que amarei meu trabalho ao longo de minha vida, qualquer que seja ele, porque tenho coisas mais preciosas para amar, mas ainda assim, seja ele qual for, o valorizarei, e o farei digno de ser realizado.

A vida é dura.

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