domingo, 7 de julho de 2013

Desfrutando o que se tem

Tenho pensado bastante sobre a frase abaixo:

“Existem dois objetivos na vida: primeiro, conseguir o que se quer; e depois, desfrutar o que obteve. Apenas os mais sábios realizam o segundo”

Logan Pearsall Smith

Evidentemente, não é a primeira vez que a comento aqui, neste blog. E a razão é que ela lança um desafio a todo aquele que a lê. Ela desafia-nos a nos provarmos sábios simplesmente desfrutando daquilo que já é nosso.

Por que o simples desfrutar daquilo que é nosso implica em alguma espécie de sabedoria?

Porque desfrutar é um ato que demanda disciplina, antes de tudo. Disciplina primeiramente para nos lembrarmos de que devemos desfrutar aquilo que temos, e disciplina em um segundo momento para tomarmos consciência daquilo que realmente temos, daquilo pelo qual viemos a lutar um dia, e que tanto esforço nos exigiu. E por fim, disciplina para continuar o ato de desfrutar daquilo que é nosso por esforço e merecimento não uma, nem duas, mas vezes e vezes sem conta, até que o ato de desfrutar não signifique mais um desfrute, mas uma obrigação, um peso, um dever, que não mais nos proporciona nada de bom, útil ou prazeroso, e que torna aquilo que é nosso não mais tão desejável quando antes, e assim, possamos seguir em frente, com novos objetivos e novos desfrutes, e assim por diante, num processo de desejo, busca, desfrute e abandono que seja ao mesmo tempo saudável e não alienante, não meramente consumista, e que não se resuma a ciclos fúteis de consumo e descarte glutômano e doentio.

Mas estamos muito longe de sermos sábios. 

Olhe à sua volta, veja quantas coisas possui, somente sob o aspecto material, e verá que a maioria do seu esforço na vida se resumiu a trabalhar para ganhar dinheiro para comprar coisas que você quase nunca usa, e portanto, significa que todo esse tempo passado trabalhando foi quase que todo convertido em nada, porque você não é capaz de desfrutar do que obteve.

Você não é assim? Não? Desculpe...

Eu sou.

Estou trabalhando desde meus 12 anos. Nem tenho ideia do quando de dinheiro ganhei e gastei. Nunca trabalhei de graça para ninguém, nem nunca fiquei sem trabalhar. Logo, acumulei coisas, que possuo, sim, mas não desfruto.

Tenho mesmo que desfrutar? Mas se não, por que tenho o desejo de ter coisas das quais não desfrutarei? Não sinto prazer em simplesmente consumir dinheiro pelo mero prazer de consumir dinheiro. Quando compro algo, penso que aquilo tem algum valor para mim, ao menos naquele momento.

Se é assim, por que então não desfruto daquilo que já tenho em mãos?

Por que sou volátil? Será que aquilo que me agradava ontem não me agrada mais hoje?

Pode ser. Poderia ser, mas não é verdade. Pego, como contraprova desta hipótese, o fato comum de que vez por outra eu decido usufruir de coisas que obtive a muito tempo atrás, e essas coisas ainda são prazerosas, interessantes e úteis. Então, qual é o problema?

Eu poderia passar dias pensando no assunto.

Eu, ao contrário do que faço hoje, já fiz alguma espécie de controle financeiro. Eu já me importei em fazer o que todos os livros de finanças pessoais consideram essencial para se ter algum controle sob nossas finanças: eu iniciei um registro de todos os meus ganhos e gastos, por um certo período de tempo.

Eu ainda tenho esse registro.

Eu olho para ele e penso: no dia x, gastei tantos Reais para comprar algo que foi consumido definitivamente, tal como uma refeição ou um aluguel, mas no dia y eu comprei algo que ainda está aqui, comigo, em minha casa, depois de mais de uma década de comprado. E o que eu fiz com esse algo que foi comprado para ser desfrutado?

Eu estou desfrutando deste algo?

Mas essa forma de pensar não é uma espécie de paranoia?

Não, não é, porque eu passo no mínimo 8 horas por dia trabalhando, deixando de viver a minha vida para ter dinheiro para justamente comprar esse algo que agora desprezo.

Eu não deveria ter comprado o que agora não me interessa?

Mas então, o que me levou a comprá-lo?

Eu simplesmente não aceito que estejamos vivendo a décadas como escravos de nossos trabalhos simplesmente para entulhar nossas casas de bobagens sem sentido. Não é aceitável que sejamos tão péssimos em nossas estratégias de vida.

Não deveríamos ter comprado, nem lutado por isto, mas já que lutamos, e compramos, agora temos o dever moral de desfrutar. Não é mais apenas uma questão de sermos sábios, mas uma questão de não sermos burros.

Odeio ser tapeado por algo que nem sem quem ou o que me tapeia.

Tenho o dever de conhecer meus inimigos.

Sun Tzu!

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