terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desapego

A décima sétima pergunta que fiz sobre autoajuda, dentre o total delas, dá um passo adiante em termos de raciocínio e aborda um tema que considero ainda não resolvido, passados doze anos do questionamento original.

Trata-se do tema do desapego.

Sempre que falamos em mudança, pensamos naquilo que vem à frente, e pouca atenção é dada àquilo que é deixado para trás. No entanto, não é fácil deixar coisas para trás.

Deixar coisas, pessoas, lugares, sentimentos, projetos e sonhos para trás é, talvez, uma das mais dolorosas experiências que um ser humano pode ter de enfrentar durante uma vida.

Eu fiz a décima sétima pergunta porque, no fundo, eu pensava em mudanças, mas ao mesmo tempo já sentia a dor de possíveis perdas que teria de sofrer no processo de mudança.

A pergunta que fiz foi:

"O que fazer (e como se desapegar) com aquilo que começamos e não terminamos?"

E ao longo dos anos, pensei muito sobre o tema e o problema que ele encerra.

Evidentemente, não poderia dar uma resposta definitiva para a questão neste simples post. Por isso, aviso ao leitor que caso venha a se interessar pelo assunto, que torne a ler sobre o tema neste blog. A questão do desapego é complexa e profunda, e está presente na vida de todos, quer queiramos ou não.

Mas note: a pergunta toca inicialmente no tema apenas tangencialmente. Eu pergunto mais sobre projetos inacabados do que sobre o desapego em si. 

Projetos começados, mas não concluídos. Quem não os tem?

Como não lamentar o tempo perdido, as ilusões ingênuas, a esperança e o enorme esforço inicial, o investimento que fizemos em busca de algo que agora nos parece fora de sentido, inalcançável, indesejável, mas ao mesmo tempo querido, digno e terno, e cuja lembrança não somos capazes de fazer desaparecer, e cuja chama ainda tenuemente brilha no fundo de nossa escuridão de sucessivos fracassos?

Vou ser B, mas não renego que fui A. Não posso renegar, não devo renegar e não quero renegar o passado, ainda que salpicado com as tintas dos dolorosos fracassos e planos infrutíferos.

Quem poderia dar uma resposta a esse anseio de dar um tratamento adequado ao passado? Como dignificar nossos erros e seguir em frente? Como encarar o futuro diante da enorme ruína inacabada de nossa vida projetada em sonhos inviáveis?

Sonhos são como filhos. Não podemos simplesmente juntar pedaços rotos de peças não encaixadas, colocar tudo em uma caixa de sapatos e enfiá-la em um sótão, porão ou baú e esquecê-la por um longo, longo tempo. Podemos menos ainda colocar os restos na caixa e a caixa na lata de lixo, e acordar um dia e lembrar-se de que aqueles retalhos velhos poderiam ser emendados, recuperados, limpos e enfeitados, e juntados em uma forma que poderia ser bela, útil, terna e acalentadora, porque eles estão no lixo, perdidos para sempre.

O mundo recicla as coisas físicas que jogamos de verdade no lixo. Se não os recicla, ao menos nós os perdemos de vista definitivamente. Mas não podemos fazer o mesmo com nossos pensamentos. Não se pode esquecer que se sonhou um dia em ser astronauta, bailarina, pianista ou médico. Não se pode esquecer da mesma maneira que se esquece de um trapo que atiramos fora depois de anos de uso.

O que fazer com os nossos planos não concluídos?

O que fazer de nosso passado?

Eu tenho pensado nisso intensamente.

Eu não posso esquecer. Simplesmente não posso.

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