Depois de ter feito uma série de perguntas e ter, na décima nona, expressado certa dúvida a respeito da importância de se preocupar com autoajuda, fiz o vigésimo questionamento, ainda cético de que um esforço neste sentido poderia valer a pena.
A vigésima questão foi:
"Por que acredito que tenho respostas?"
Convenhamos: é mais fácil fazer perguntas difíceis do que respondê-las.
Há na mídia e no submundo das filosofias de vida e dos conhecimentos consagrados uma tendência a se considerar mais importantes as perguntas do que as respostas. É comum vermos vários sábios e mestres alardeando que o importante não é tanto dar uma resposta a uma pergunta propriamente falando, mas sim a própria formulação das perguntas.
Claro que formular perguntas é importante, e a ênfase dada mais à pergunta que à resposta está no fato de que não adianta muito ter a resposta para uma pergunta que não é relevante, ou que não é a pergunta que elucida um estado de coisas, uma situação desconhecida, ou que não é uma pergunta-chave, que representa o âmago de um estado de conhecimento e que por si só representa um desafio cuja solução pode não ser dada, mas que leva o conhecimento a um novo patamar, impossível de ter sido pensado antes de a pergunta ter sido feita.
Mas as perguntas que eu andei formulando são perguntas de cunho pessoal, íntimo, e não perguntas necessariamente filosóficas ou científicas. Quer dizer, ao menos as dezoito primeiras são assim, muito pessoais e que demandam respostas igualmente pessoais. Veremos que as demais perguntas em certo momento deixam de ter caráter pessoal ou psicológico e passam a ter cunho mais objetivo e genérico.
Ao fazer a minha série de perguntas, eu era movido mais pela dúvida existencial que pela mera curiosidade.
Ora, fazer uma pergunta movido pela curiosidade não me impõe o dever de respondê-la. E, ainda que eu tente respondê-la, se tiver sucesso, sentirei o prazer de descobrir um novo conhecimento, e se fracassar, não terei nenhuma perda maior do que uma mera sensação de frustração. A curiosidade é um tipo de sensação que tem mais um caráter de prazer do que de dever. Ser curioso, cheio de perguntas não respondidas não impede ninguém de viver a vida da maneira que quiser. A curiosidade é apenas um tempero a mais.
Já uma pergunta movida por uma dúvida existencial tem uma seriedade que não pode ser desprezada. Uma pessoa que tem uma dúvida existencial pode ter sua vida paralisada, e um sujeito pode interromper planos e projetos de vida até que tenha a resposta àquilo que o incomoda. Uma dúvida existencial é como um mapa errado. Uma pessoa pode perceber que está em um rumo incerto ou mesmo errado, e de repente, pode se dar conta de que não pode seguir adiante até que ache o rumo certo que a satisfaça. Achar um rumo, achar uma resposta a uma dúvida desta magnitude não tem nada a ver com satisfação intelectual ou prazer diante do conhecimento. Tem a ver com razões complexas que levam as pessoas a escolher profissões, escolher onde viver e morrer, selecionar com quem viver, se relacionar, casar e tecer laços de amizade, e que podem representar decisões que envolvem vida e morte, escolhas filosóficas, religiosas, políticas, financeiras, espirituais.
Uma pessoa que se depara com uma dúvida existencial precisa ter uma resposta.
Assim, diante da vigésima pergunta, onde questiono minha crença na possibilidade de que eu poderia responder às questões que eu já havia formulado, eu só poderia responder, intuitivamente na época, e racionalmente agora, que eu acredito que eu posso até não ter agora as respostas completas, conclusivas e satisfatórias para as perguntas que fiz a mim mesmo, mas que eu tenho o dever de tentar respondê-las, seja lá quando for, custe o que custar, porque sei que são perguntas existenciais e não meras perguntas que são interessantes, oriundas da curiosidade despertada pela leitura de livros de autoajuda, mas que não são importantes ou relevantes.
Eu tenho tentado dar respostas.
As perguntas são importantes, dizem os sábios, e talvez até mais do que as respostas, mas perguntas precisam de respostas. Diante de uma pergunta que não quer calar, temos o dever de tentar respondê-las.
Eu tenho tentado, e se este blog parece não ter as respostas, ou se ele aparenta não espelhar nenhum tipo de esforço de minha parte neste sentido, o que tenho a dizer é que as respostas quase nunca se dão por meio do mero trabalho de escrever sobre elas.
Se quero respostas, devo primeiro buscar ajuda junto àqueles que já se defrontaram com as mesmas perguntas. É preciso não inventar a roda, embora que nem sempre a roda que encontramos nos anais da história se encaixe com a perfeição desejada, pronta para ser usada sem remendos em nossas vidas únicas e particulares. Em geral, achamos meias-respostas, achamos respostas incompletas, parcialmente adequadas, e nos esforçamos para poli-las, para adequá-las ao nosso mundo particular.
As perguntas são antigas, e eu avancei bastante em minhas pesquisas sobre elas. Eu tenho tentado compartilhar meus esforços em desbravar este estranho mundo do existir através deste blog. Essas narrativas estão longe de ser as leituras mais interessantes do mundo, mas escrevê-las tem sido um trabalho gratificante, e espero que outras pessoas possam tiram algum proveito.
Não é muito, mas é que a mente é uma lebre, e nossos dedos, tartarugas.
Paciência.
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