terça-feira, 22 de outubro de 2013

A apresentação da informação

A vigésima sexta pergunta da série que fiz em 2001 é de cunho filosófico também e se relaciona à Teoria da Informação. Dentro de um contexto no qual sou cético em relação ao conhecimento que nos é transmitido por meio de livros em geral, e livros de autoajuda em particular, faço um conjunto de perguntas a respeito da veracidade das afirmações de autores em geral, e busco um meio de saber se essas afirmações são confiáveis ou não.

Então, olhando diferentes informações, de diferentes autores, percebi várias coisas, mas duas em particular chamaram a atenção. A primeira coisa que percebi sobre afirmações em geral é que elas podem ser compactadas.

A segunda coisa que percebi é que diferentes afirmações, ou mais exatamente, diferentes sentenças, querem dizer a mesma coisa, ou quase a mesma coisa.

A primeira descoberta, a da capacidade de se compactar mensagens, se deu em razão de uma recomendação feita por Dale Carnegie em seus livros clássicos de autoajuda, "Como fazer amigos e influenciar pessoas" e "Como evitar preocupações e começar a viver". Ele nos orienta a ler um capítulo e a tentar sublinhar a ideia central deste capítulo, como uma forma de exercício de memorização e focalização de aprendizagem.

Ora, sabemos que qualquer texto possui uma quantidade grande de informações, mas sabemos que muito do que é dito é redundante, e muito do que é dito é colateral, secundário ou mesmo irrelevante.

Se usarmos as técnicas corretas, conseguimos reduzir um texto grande a um texto bem menor, mas sem perder a essência de sua mensagem ou seu conteúdo. Em última instância, podemos acabar com uma forma de informação que se resuma a uma frase, ou mais exatamente, uma sentença. Exemplos de sentença que contém informação em estado quase puro são os ditados populares. Ainda que veiculem metáforas ou aparentem jocosidade ou um humor cultural típico, eles trazem alguma lição temperada ao longo dos séculos de circulação entre diferentes povos ou gerações. Mas, por excelência, temos na Filosofia o campo onde as sentenças são mais lapidadas e compactas. Sentenças filosóficas são diamantes de informação.

Acontece que a partir do momento em que passamos a reduzir textos e capítulos de livros às suas essências, acabamos coletando frases compactas que são límpidas o suficiente para que possamos compará-las entre si, e após algum tempo examinando-as e comparando-as, percebemos que muitas delas tratam dos mesmos assuntos, ou pelo menos abordam os mesmos assuntos sob diferentes pontos de vista.

Mas, daí, não é incomum que encontremos duas sentenças que tratam do mesmo assunto e que são exatamente opostas uma em relação à outra, de maneira que percebemos que há sutilezas no sentido das palavras, sutilezas essas que fazem com que admitamos que a linguagem escrita, ou a falada, possui um grau de ambiguidade que é difícil de ser eliminado. Por vezes, percebemos que estamos falando do mesmo assunto, ainda que por meio de frases que possuem aparências bastante distintas.

Assim, duas frases com palavras distintas podem estar dizendo a mesma coisa, e uma delas é, por consequência, redundante.

Mas, como há milhões de frases em milhões de livros, é de se supor que grande parte de todo esse universo de letras seja redundante, ou secundário, ou supérfluo, e que apenas uma pequena parte seja efetivamente portadora de informação relevante que mereça o foco de nossa atenção. Mas, ainda assim, esse pequeno percentual pode ser ainda mais reduzido quando percebemos que várias sentenças diferentes portam a mesma carga informacional, e portanto, apenas uma delas é importante, e as demais, descartáveis.

Pensando assim, perguntei:

"De quantas maneiras diferentes podemos apresentar uma mesma informação?"

Lerei milhões de frases ao longo de minha vida, mas quais delas realmente importam? Vasculharemos arduamente cordilheiras de palavras com o correr de nossos olhares para termos no final meia dúzia de pepitas informacionais daquelas que brilham no escuro, compensando nosso esforço despendido?

A resposta a essa minha pergunta não é fácil.

Por um lado, sabemos que uma mesma informação pode ser apresentada por meio de mais de uma maneira, ou forma, ou sentença. Mas isso não significa que há infinitas maneiras de se apresentar uma mesma informação.

Claro, há nas diversas línguas conhecidas, vivas ou mortas, milhares de diferentes palavras, cada uma delas com algum grau de ambiguidade, com uma única forma física em um dicionário, mas com diferentes sentidos em diferentes contextos. Ora, as combinações entre palavras são infinitas, mas nem todas as combinações possuem algum sentido, e é muito pouco provável que combinações que façam sentido possuam o mesmo significado informacional.

Eu diria que uma mesma informação pode ser apresentada de diferentes maneiras, por diferentes sentenças, mas não posso dizer um número aproximado que indique quantas sejam essas sentenças. Uma frase tal como "seu pior inimigo é você mesmo" pode ter seu sentido expresso de outras formas. A mensagem central aqui é que a mente de um ser humano é seu maior obstáculo. Ora, uma segunda frase, tal como "conhece a ti mesmo", não se trata exatamente da mesma informação, mas pode-se afirmar sem medo que a primeira sentença está contida na segunda, ou que a primeira não existiria se se aplicasse o comando da segunda, e assim por diante.

Não sei de quantas maneiras diferentes podemos apresentar uma mesma informação. Talvez, sendo sensato, posso dizer que podemos nos dar ao trabalho de compilar frases que tratam de um mesmo tema e acabar descobrindo que diferentes autores disseram a mesma coisa por meio de uma centena, duas centenas, cinco centenas de maneiras diferentes.

Não importa.

O que importa é que tenhamos a consciência de que as palavras são ambíguas e a linguagem é rica em recursos tais como as metáforas, de forma que devemos ter em mente que embora haja infinitas maneiras de se expressar certas informações, ainda assim a mente humana não é capaz de descobrir, ou deduzir, ou apreender infinitas formas de verdade. Há um limite para o raciocínio humano, e em geral, duas ou mais pessoas pensando profundamente sobre um determinado assunto podem chegar, e em geral chegarão, aos mesmos resultados, às mesmas conclusões lógicas, às mesmas verdades possíveis de serem apreendidas, embora expressarão essas verdades de diferentes formas, e tão diversas quantos forem essas pessoas, ou seja, é possível de se dizer que quanto mais pessoas estiverem envolvidas no ato de expressar uma determinada verdade, fruto de um raciocínio lógico e personalizado, maior será a probabilidade de que expressem uma mesma verdade de maneiras diferentes.

Dito isso, sigamos em frente, acautelados de que não devemos nos surpreender diante da reinvenção da roda ao longo das infinitas frases, porque não há aí nenhuma má fé, mas apenas diferentes formas de se ver o mundo e de se expressar. É surpreendente que se reinvente a roda, mas é ainda mais surpreendente que todo dia alguém se pegue gritando o seu "Eureka!" por ter, afinal, tido sua chance de ter descoberto a sua própria roda, sim, a mesma, tal qual a todas as que já foram inventadas.

Por vezes, devemos considerar a possibilidade de que nós, humanos, temos o dever de reinventar a roda, e ter esse processo com um rito de passagem intelectual do qual não podemos, nem queremos, abrir mão.

Que seja.

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