terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pontos de vista

A vigésima segunda questão, dentre as muitas que fiz em uma série, em 2001, em muitos aspectos relaciona-se às perguntas anteriores, uma vez que questiona nossa capacidade de dar respostas às perguntas existenciais que surgem em nossas vidas.

A pergunta é a seguinte:

"Outras pessoas podem ter outros tipos de respostas para as mesmas questões?"

O que posso dizer a respeito da pergunta acima é que, mais do que uma possibilidade, é quase uma certeza que uma pessoa terá respostas diferentes de outra pessoa para quase tudo na vida. As pessoas podem concordar em muitos pontos, mas esta concordância não é absoluta, e ela muda com o tempo. Pessoas que em um momento no tempo pensam diferentemente sobre um determinado assunto podem vir a convergir sobre o tema depois de anos, e pode-se dar também o contrário.

Essa questão é importante porque ela relaciona-se bastante com livros de autoajuda, conselhos e gurus, mentores e apoiadores, pais e professores, e todo os tipos mais de tentativas de um ser humano educar ou influenciar outro ser humano.

Quando fiz a pergunta, tinha em mente os livros de autoajuda. Em geral, os autores de livros de autoajuda dão centenas de dicas, sugestões, orientações, regras e conselhos para que cuidemos de nossas vidas. Sendo uma pessoa disciplinada e bem motivada a realizar mudanças significativas e positivas em minha vida, posso tentar seguir um grande número dessas orientações, e acabar obtendo um resultado não esperado, nem desejado. É que um autor de um livro de aconselhamento, por mais bem intencionado e sábio que seja, não pode escrever um livro que seja adequado para toda a gama de seus diferentes tipos de leitores. Livros deste tipo costumam ser lidos por milhares, milhões de pessoas mundo afora. Essa massa de seres humanos não levam vidas homogêneas, nem visam o mesmo objetivo, nem possuem as mesmas histórias. Daí que a disciplina precisa ser relativizada quando o assunto é autoaprimoramento.

Devemos ser disciplinados no sentido de que devemos seguir adiante com o projeto de mudança e aperfeiçoamento de nossas vidas, e os livros de autoajuda são excelentes instrumentos de orientação neste projeto. Mas não podemos seguir as orientações de seus autores sem um questionamento sério. Precisamos pensar seriamente a respeito de cada aspecto daquilo que nos é sugerido que façamos, porque nem tudo convém a todo mundo. As histórias de vida das pessoas não são idênticas. Nem todo mundo vem de uma vida de sofrimento e fracasso. Nem todo mundo busca uma vida de sucesso e riqueza. Nem todo mundo procura desesperadamente a paz espiritual. Nem todo mundo quer enriquecer rapidamente.

Não faz sentido seguir uma orientação que não se enquadre em seus planos. Por fim, divergir de um autor, um conselheiro, não significa ser indisciplinado. Dados, por exemplo, dois conselhos sobre determinado assunto, um deles pode ser seguido com precisão e disciplina, mas o outro pode ser inadequado tal como está, e pode ser deixado de lado após meditada análise. Ao longo do tempo, pode-se aferir a eficácia de se seguir ou não cada um deles, e ver se eles devem ainda ser seguidos ou não.

Seguir ou não conselhos, dar ou não respostas às questões da vida são decisões particulares, pessoais e personalizadas. 

Não se compare. Não se submeta. Não tema questionar. Siga seus planos se eles lhe parecerem o melhor a ser feito. Ele, afinal, é o seu plano, e não o plano de um guru bem intencionado que não o conhece e nem a seus dilemas e dúvidas.

E, não se constranja. Se um dia um guru viesse a conhecer melhor suas ideias e sonhos, ele certamente aprovaria suas decisões, desde que tivessem sido tomadas com a devida reflexão. Afinal, a melhor posição a ser tomada depende apenas de diferentes pontos de vista sob os quais se observa esta posição. Se de seu ponto de vista você vê as coisas como você acha que devem estar, este é o melhor ponto de vista.

A única coisa que não se admite é o conformismo resignado e silencioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário