A vigésima oitava pergunta que fiz, dentre uma série de quarenta e sete delas, em 2001, relaciona-se com um poema de Rudyard Kipling.
No livro "Como evitar preocupações e começar a viver", o autor, Dale Carnegie, nos apresenta um trecho de um famoso poema de Kipling, que transcrevo:
"Tenho comigo seis servos fiéis
(Eles ensinaram-me tudo que sei);
Seus nomes são O que, Por quê e Quando
E Como e Onde e Quem."
Essas são as dúvidas de Kipling.
Podemos aprender quase tudo o que desejarmos apenas sabendo fazer as perguntas certas. Ao menos é isto que sugere o poema, e o que sugere Carnegie, que o apresentou como um ensinamento em seu famoso livro.
Eu, enredado em minhas própria dúvidas, fiz a seguinte pergunta:
"Os seis W (ingleses) solucionam com segurança uma questão?"
Apenas como uma breve explicação, os seis W ingleses são os equivalentes em inglês a "o que", "por quê", "quando", "como", "onde" e "quem", isto é, "what", "why", "when", "how", "where" e "who".
Evidentemente, o poema é apenas ilustrativo. Ele nos remete à valorização da curiosidade humana, que não se contenta em manter-se em sua ignorância. Quer dizer, a curiosidade humana é humana apenas no sentido de que é tipicamente observada na espécia humana, o que não significa que seja comum a todos os seres humanos, nem mesmo, na realidade, é comum à maioria dos humanos. Pensando bem, a curiosidade somente é um valor a ser admirado porque é relativamente raro, e só admiramos os genuinamente curiosos porque a humanidade em geral é indolente, complacente e apática com relação ao mundo que a rodeia e seus infinitos mistérios e segredos.
O hábito da curiosidade pode ensinar àquele que pergunta, e de pergunta em pergunta, o curioso acaba sabendo mais do que o indolente, e por saberem mais, são os curiosos que movem o mundo. E sendo os curiosos tão poucos, por isso tão lentamente avança a humanidade.
Mas não é esta a questão aqui.
A questão principal é a de saber de quantas maneiras posso questionar algo a respeito do qual tenho alguma curiosidade. São apenas seis perguntas? E se forem? E se eu as responder todas, terei minha curiosidade satisfeita?
Não, respondo agora. As dúvidas de Kipling são apenas alegorias. Não sabia de nenhum método para abordar minhas dúvidas, e nunca havia pensando em contar de quantas maneiras podemos fazer nossas perguntas, e um número tal qual seis pareceu-me bastante grande para satisfazer um curioso moderado.
Quão ingênuo eu era naquela época!
Mas não tanto assim. O poema de Kipling possui um encanto que faz despertar um poder oculto até então ignorado. Esse poder, o de questionar algo como que munido de um conjunto de pontos de vista especiais, eu não sabia que o tinha.
Há algo de interessante ainda com relação ao poema. Ele provavelmente proporciona uma excitação seletiva. Quer dizer, ele somente é excitante para as pessoas que são naturalmente curiosas. Para os indolentes, ele nada significa. É um mero relato de um aspecto menor da personalidade de Kipling. Mas, para os curiosos, ele faz sentido, porque os curiosos sabem que é somente fazendo perguntas sobre tudo que eles poderão satisfazer a fome de conhecimento que os consome. E, para mim, um curioso, ele fez sentido.
Pensem nisto: seis perguntas diferentes, seis pontos de vistas distintos sobre um mesmo objeto. Mas, por que apenas seis, perguntei a mim mesmo? Por que não mais? Por que não uma lupa, uma pá, um microscópio, como ferramentas para se examinar, escavar, desnudar aquilo que tenho diante de mim sobre o qual pouco ou nada sei, e que me atiça, desafiando-me a conhecê-lo? Por que não ir mais fundo e saber ainda mais sobre o objeto de minha dúvida até ao ponto que o domine em seus mais recônditos segredos? Por que se contentar apenas com seis perguntas e seis respostas, se posso saber infinitamente mais?
Mas, como?
Eu não sabia a resposta para este "como" na época.
E por isso, continuei perguntando, perguntando, perguntando.
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