quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A solidão urbana

É curioso ler aqui que a dez anos atrás eu me sentia solitário, quer dizer, eu tinha poucos amigos quando morava em um bairro de Goiânia. Acontece que esse tipo de isolamento social, essa falta de amigos, é na verdade um sintoma de uma realidade que não posso contestar: viver em um ambiente urbano moderno implica em estar sempre fisicamente rodeado de gente, mas sempre social e emocionalmente isolado.

Já morei em cidades pequenas e grandes e sei do que falo. 

Evidentemente, sei que é possível de se viver em uma cidade grande e ainda assim ter muitos amigos, mas é muitíssimo mais fácil ter um monte de amigos em uma cidade pequena que em uma grande.

Se você estiver andando por uma rua movimentada de uma grande cidade e chegar a esbarrar em alguém, poderá chegar a pedir desculpas, trocar algumas palavras com a pessoa e ir em frente. Mas as chances de tornar a vê-la são ínfimas. Já em uma cidade pequena, certamente você não terá quase nenhuma situação que lhe ocorra de esbarrar em alguém, porque não são muitas pessoas circulando ao mesmo tempo em lugares movimentados. Em compensação, você passará a ver sempre os mesmos rostos a uma certa distância, e a rotina os fará conhecidos. Essa constância nos contatos, ainda que superficiais, pode não redundar em amizade necessariamente, mas acabará fazendo com que você se familiarize com as pessoas com as quais encontra ao longo do tempo, e mais cedo ou mais tarde, acabarão se tornando ao menos conhecidos, em uma cidade pequena.

Daí o senso de coesão social experimentado por moradores de cidades menores.

Mas isso é quase impossível em grandes cidades. Talvez, quem sabe, seja possível alguma coesão social nos locais de trabalho. Mas mesmo assim, é de se duvidar: trabalhei em lugares onde conviviam 200, 800, 1500, 2.500 e mesmo 4.000 pessoas. Isso significa que há mais gente aglomerada em um único grupo de prédios de escritórios que em muitas vilas e cidades pequenas pelo mundo afora.

Nasci em Tujuguaba, um vilarejo que creio que nunca teve mais que 1.000 habitantes em sua zona urbanizada e zona rural. Hoje, acho que a zona urbana de lá não possui mais que uns 700 habitantes. Todos se conhecem a um longo tempo. É bem diferente de um prédio com 20 andares imensos com 100 pessoas trabalhando em cada andar. A mobilidade de pessoas em um lugar assim é constante. Não se consegue consolidar mais que umas poucas dezenas de amizades, a maioria superficiais.

Em uma cidade grande como São Paulo, onde moro agora, ter um amigo morando em determinado local da cidade é o mesmo que tê-lo vivendo em outra cidade, ou mesmo outro estado, tamanha a distância física e social que separa as pessoas.

As pessoas apenas coexistem.

Se respeitam, é verdade. Se você trombar com alguém em uma esquina, terá um pedido de desculpas como o teria de um amigo, mas é só.

É a solidão das multidões.

E é preciso aprender a conviver com isso.

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