sexta-feira, 4 de abril de 2014

Adeus, Smilla

Recebemos, nós, fãs da vida animal, a triste notícia da morte da querida ursa polar de nome Smilla, uma doce amiga que conviveu por quase um ano com nosso também amigo urso polar Siku, no Skandinavian Direpark, na cidade de Kolind, na Dinamarca.

Smilla tinha 26 anos, ou um pouco mais, de idade. Nascera em recinto fechado, e fora introduzida em ambiente aberto, mas controlado, depois de muitos anos de cativeiro. Era calma, pensativa, pacata, como são em geral todos os ursos polares.

Siku, por sua vez, fora retirado do convívio materno assim que nasceu, porque sua mãe, Ilka, não produziu leite para alimentá-lo. Sob risco de morrer de fome, Siku foi amamentado por humanos e depois introduzido em ambiente amplo, mas isolado de outros ursos, porque, ainda bebê, poderia ser morto ou ferido por ursos maiores, já que não tinha a mãe Ilka para protegê-lo. No entanto, depois que adquiriu certo tamanho e força, foi viver junto de Smilla, que também vivia solitária em outra área do parque de ursos.

Smilla, uma fêmea, era pouco maior que Siku, um macho. Os ursos polares machos são bem maiores que as fêmeas. Assim, Siku, embora jovem, já não corria risco diante de uma eventual agressão de Smilla.

E então, em um dia qualquer, Siku e Smilla se encontraram.

Foi comovente ver Siku mordiscando Smilla, submisso, temeroso, mas curioso e aparentemente surpreso e feliz pelo seu primeiro contato com outro animal de sua espécie.

Eles viveram juntos por quase um ano.

Smilla ficava horas descansando, imóvel. Ela era velhinha. Tinha um pescoço mais flácido, um pelo mais escuro, um nariz mais comprido, um olhar mais meigo que Siku.

Ao longo dos dias, Smilla deixou de se incomodar com as brincadeiras de Siku, e logo estavam dormindo juntos pelo gramado do parque, às vezes nadavam juntos na grande piscina, ou apenas ficavam no fundo do fosso junto ao muro que permite que os visitantes os vijam sem correr qualquer tipo de risco.

Então, a mãe de Siku, Ilka, ganhou dois filhotes. O tempo passou, os filhotes cresceram e decidiram que Siku já poderia se encontrar com sua família, sua mãe e seus dois irmãozinhos. Smilla acabou voltando a ficar sozinha por uns dias, e a ideia era integrá-la ao grupo mais à frente, para evitar algum stress entre os jovens animais diante de tantas novidades.

E então, recebemos a triste notícia.

Ela parecia bem, se alimentava normalmente, mas tinha um câncer.

Nada pode ser feito.

Esses são os desígnios da vida.

Agora, só podemos ver Smilla nos vídeos. Mas, Smilla, minha amiga, você nunca será esquecida.

Vá com Deus, Smilla. Um céu só de animais a aguarda, cheio de pastagens verdejantes, e no inverno, cheios de brancos bancos de neve, para você descansar e dormir, como fazem todos os ursos polares que Deus criou.

Obrigado por terem cuidado dela, amigos do Skandinavian Direpark.

Smilla, à esquerda, e Siku



quarta-feira, 2 de abril de 2014

O ascetismo de Gandhi

Eis as fotos com os objetos deixados por Gandhi:




A riqueza e a pobreza

No dia 29 de maio de 2004, eu disse nesta minha quinta postagem, deste blog, que eu estava escrevendo em frente a um velho computador trajando uma camiseta, uma bermuda, um relógio e um par de óculos, e que, assim tão despojado, eu lembrava, de certa forma, Gandhi. Eu disse assim:

"Uso uma camiseta velha verde escuro, bermuda preta, um relógio e um óculos na cara. Descrevendo as coisas assim, parece a descrição dos bens materiais deixados por Gandhi quando de sua morte, e que tanto admiraram o mundo pela sua frugalidade e desprendimento. Mas não é tão simples assim."

De fato, não é tão simples assim. Eu disse em minha última postagem que falaria sobre esse assunto, e agora é o momento.

O ano era 2004. Fiz essa comparação aparentemente disparatada porque naquela época eu havia estudado profundamente o livro de Og Mandino chamado "A universidade do sucesso". Neste livro, Mandino tomou emprestada uma série de textos de outros autores e seus respectivos livros, e montou um mosaico que segue em um crescendo de ensinamentos tipicamente de autoajuda, mas que muito me cativou e me fez pensar.

Há um texto de um autor chamado Howard Whitman, um escritor americano que publicou um livro chamado "Success is within you" no ano de 1956. Não sei se esse livro foi lançado no Brasil em algum momento. Se foi, seu título provavelmente seria "O sucesso está dentro de você".

O texto que Mandino extraiu do livro de Whitman trata do conceito de sucesso. Whitman diz que o sucesso é algo muito pessoal, e que pessoas podem ser bem sucedidas de diferentes maneiras, sob diferentes óticas ou pontos de vista.

Já falei um pouco sobre esse texto aqui, neste blog, mas foi apenas um breve resumo, sem maiores considerações.

Mas, não é sobre o sucesso em si que pretendo falar agora. Meu foco agora é Gandhi. O livro de Whitman, repito, foi lançado em 1956, e portanto, deve ter sido escrito em algum momento não muito antes desse ano. Assim, fazia pouco tempo que Gandhi havia morrido. Quer dizer, Gandhi foi assassinado em 1948, um ano depois da independência da Índia e do Paquistão, em 1947. Logo, sua morte e o impacto de seus feitos ainda estavam bastante presentes nas mentes de seus contemporâneos, creio eu, e na mente de Howard Whitman também, deduzo com base no que ele andou escrevendo.

Ele assim diz:

"Uma das coisas que mais impressionou o mundo acerca de Mahatma Gandhi foi a fotografia publicada de todos os seus bens materiais na época em que morreu: um par de óculos, um par de sandálias, alguns trajes simples, uma roda de fiar e um livro. Embora o mundo soubesse que por aqui havia passado um dos homens mais ricos. Talvez o mundo no fundo de sua consciência tivesse de alguma forma conhecimento daquilo que Henry David Thoreau expressou nesta frase simples: 'A riqueza de um homem se mede pelas coisas que é capaz de deixar para trás'. O próprio Gandhi não se cansava de fazer alusão à redução de necessidades. A vida para ele era como um processo de despojamento gradual de necessidades. Assim como um bebê que grita no berço e precisa de tudo, o ser humano, se vive uma vida bem-sucedida, amadurece pouco a pouco em direção a um adulto que não precisa virtualmente de nada. O próprio Gandhi foi um exemplo dessa espécie de desenvolvimento, um exemplo tão raro que sua vida exprimiu de maneira dramática para o resto de nós o quanto deixamos de corresponder ao potencial de desenvolvimento humano.

Isso não quer dizer que nosso objetivo deva ser a pobreza, ou que uma renúncia ascética de bens ou progresso material por si só torne alguém um 'mahatma', uma alma grandiosa. Muitas almas grandiosas tiveram uma vida cercada de bens materiais e fortuna considerável: Andrew Carnegie, Jacob Riis, Julius Rosenwald, Samuel Mather, os Guggenheims, para citar apenas alguns. Todos esses homens alcançaram um sucesso pessoal verdadeiro nesses casos, tanto exterior quanto interiormente.[...]"

Pois bem, esse pequeno trecho me fez pensar bastante ao longo dos anos.

Primeiro: que foto é essa? Não sei, mas vou buscar no Google, porque agora fiquei curioso.

Segundo: quando li sobre essa pequena lista de bens deixados por Gandhi, também fiquei impressionado. Eu não sou muito apegado a bens materiais, embora admita que seja um pouco ambicioso em certos aspectos e goste de dinheiro. Mas eu admiro também o ascetismo, a frugalidade, a sensatez contra o consumismo desenfreado. Mas Gandhi me impressionou.

Já falei sobre um texto chamado "Você já viu um clipe enferrujado?" neste blog. Frugalidade, moderação, sensação de desconforto diante do desperdício são temas que despertam minha curiosidade.

Quem foi Gandhi? Sabemos alguma coisa sobre ele, mas não muito. Não faz parte de nossa realidade. Por isso, hoje tratei de dar uma lida com calma em sua biografia na Wikipédia. Coisas interessantes vieram à luz depois desta leitura.

Claro, além do homem, do mito, há ainda as suas frases de efeito, seus bordões famosos. Sobre o judaísmo, o cristianismo, sobre o capitalismo. Sobre esse último, tenho lido uma frase que está sendo muitíssimo reproduzida nos últimos tempos. Falarei sobre ela em um momento mais adequado. Ela é importante.

Bem, mesmo um mito precisa se apoiar em ombros de gigantes, e Gandhi não foi exceção, descobri na Wikipédia. Há curiosamente uma ligação entre ele e Thoreau que vai além da mera citação de ambos no trecho de Whitman que transcrevi logo acima. Falarei mais sobre essa ligação também no futuro.

Por ora, ficamos com esse fato: em 2004, eu usava um par de óculos em uma noite fria, e se não estava de fato despojado de bens materiais como um Gandhi, devo admitir que me sentia pobre, limitado, isolado, deprimido e diminuto, mais para um mendigo que para um homem rico.

Eu definitivamente não estava bem em 2004. Eis a conclusão a que chego, e isso já é uma excelente conclusão.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Registros variados

Na medida em que o tempo passa, este blog fica velho, e as postagens antigas passam a fazer parte da história. Logo, este blog serve como um registro histórico das coisas que andei pensando e escrevendo ao longo dos últimos dez anos. Obviamente, não escrevi somente aqui, mas, de qualquer forma, escrevi muito aqui, e às vezes é bom comentar sobre o que já foi escrito, para destacar determinadas coisas que parecem interessantes de serem comentadas.

Mas, não é só este blog que é uma fonte de registros de minhas coisas, de meus escritos. Tem também as agendas, e eu tenho escrito bastante sobre elas também.

Mas, não são somente as agendas que guardam coisas que acho relevantes de serem guardadas. Há meus e-mails antigos. Há meus livros, minhas revistas, meus filmes e minhas músicas. Há meu Outlook, e há meus backups de dados, que guardam muita coisa. Há um diário, ainda mais antigo, de uma época pré-computadores, e há muitas cartas escritas à mão.

Por fim, há alguns cadernos da adolescência, livros velhos, e por último, há minhas memórias, armazenadas em meu cérebro.

Não é só para falar sobre as coisas que estão em minhas agendas que este blog tem servido. Mas eu tenho falado pouco de meus outros registros. Já falei aqui, neste blog, sobre alguns assuntos que estão em alguns desses registros, mas foi muito pouco.

Acho que é hora de começar a falar mais deles por aqui.

São fontes muito interessantes de informação. Por trás de cada pequena anotação, há um mundo de intenções, interesses, projetos e acontecimentos. Em cada registro, há uma história.

Tenho pensado em escrever mais sobre esse mundo oculto de coisas que aconteceram, mas que eu tenho me retardado em publicar aqui.

Agora, acho que vou fazer o que tenho a tanto adiado.

Acho que este blog ficará bem mais interessante.

Onde estava e onde estou

No dia 27 de maio de 2014 este blog completará dez anos no ar.

Lembro-me de ter escrito na minha quinta postagem neste blog um pequeno relato de onde eu estava e como vivia naquele específico momento do tempo.

Agora, passados dez anos, tudo é muito diferente. Não vivo mais no mesmo local, nem na mesma cidade. Não tenho mais meu Pentium 266. Agora tenho um Dell que é topo de linha. Não ouço mais Frank Zappa. Na verdade, raramente ouço alguma coisa. Quando muito, alguma coisa no carro, quando eu e minha esposa saímos para ir a algum lugar por perto, dentro da cidade. Hoje, vivo em Brasília.

Ouço ultimamente outro Frank, o Frank de Ammy Winehouse.

Citei Gandhi nesta quinta postagem.

Isso requer uma explicação, mas ficará para um próximo momento.

O que importa é que não estou mais onde estava a dez anos atrás, e isso merece ser comemorado.

Ah, agora temos o Google Street View, e já é possível mostrar onde era a casa que eu morava no dia em que escrevi o post de dez anos atrás.

Quer saber onde é a casa?

Clique aqui. Entre no Street View. É uma esquina. Veja uma série de casinhas geminadas. Eu morava na segunda casa.

Agora, isso é passado, e isso é bom, muito bom.

Adeus, Vila Monticelli. Adeus, casinha geminada, de tão péssimas lembranças.