quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O bem comum

Eu disse nesta postagem que andei pensando sobre socialização e como um blog pode atender aos meus próprios interesses pessoais, mas também aos interesses de meus eventuais leitores. Quer dizer, eu tiro algum proveito quando escrevo meus textos neste blog, e o benefício que obtenho relaciona-se com o prazer que sinto em escrever sobre assuntos que me agradam, a clareza que obtenho a respeito de determinados assuntos que acho relevantes, porque quem escreve sabe que é mais fácil ordenar as ideias por meio da escrita que por meio da fala ou de outro meio, como o simples pensar silencioso sobre elas.

Agora, que ganha com isso, com a leitura de meus textos, um eventual leitor?

Depende de quem lê.

Os seres humanos são únicos. Todos sabemos o quanto somos diferentes dos nossos semelhantes. Na verdade, nem sei porque somos chamados de semelhantes, se somos assim tão diferentes.

Somos um tipo de animal (e somos mesmo animais, quer gostemos disso ou não) que tenta entender a si mesmo, mas esse entendimento é muito difícil.

O que temos em comum com nossos semelhantes?

Somos, é claro, muito diferentes, mas temos também muitas semelhanças.

Não acho que ressaltar diferenças seja mais ou menos importante que ressaltar semelhanças. Mas parece-me que ressaltar semelhanças pode, à primeira vista, ter melhores resultados que ressaltar diferenças. Digo à primeira vista porque certamente há situações em que afirmar um diferença pode ser melhor que realçar uma semelhança. Creio que o contexto onde se dá uma comparação é que dirá se é melhor enfatizar semelhanças ou diferenças.

Qual a razão dessa pequena digressão a um assunto que aparentemente nada tem a ver com textos e blogs?

É que meus textos são públicos. E é preciso ter em mente que somos seres sociais. Estamos sempre influenciando e sendo influenciados pelos nossos semelhantes.

Alguém recomendará que eu não me preocupe com essa questão da influência entre seres humanos por três motivos:

1 - Ninguém está se importando muito com o que eu escrevo. Não devo me levar tão a sério assim. Não devo me dar tanta importância assim, porque as pessoas não são folhas ao vento, que mudam de opinião como mudam de roupa de acordo com o que leem em meu blog.

2 - Meus textos não são realmente convincentes. Eu não consigo mudar ninguém, ainda que me esforçasse para isso. Então, seria preciso aprimorar meus dons argumentativos, e deixar de subestimar as razões alheias.

3 - As pessoas não mudam da maneira que acho que mudam. Elas mudam, sim, mas não em razão de textos meus ou de quem quer que seja. Elas mudam muito lentamente por razões que a razão desconhece. Há mais emoção e irracionalidade nas decisões das pessoas do que supomos e mesmo se eu tentasse mudar as pessoas, não seria nem o primeiro, nem o mais esforçado e nem o último a tentar e fracassar, porque há muita gente tentando séria e esforçadamente fazer a cabeça das pessoas, mas não conseguem. Logo, não devo me preocupar com o que escrevo, porque meus textos não conseguirão (nem os textos de ninguém) provocar algum mal ou bem em quem quer que seja.

E eu sou tentado a dar certa razão a alguém que fizesse essas advertências a mim.

No entanto, pensando no assunto, eu devo lembrar a mim mesmo de que não me cabe disseminar o mal, e se for para deixar públicas minhas ideias, que sejam ideias que promovam o bem comum, que tenham um senso de utilidade, porque não vejo razão para agir diferentemente.

Quão a razão para promover o mal?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Escravidão química

Você fuma?

Você bebe?

Você usa cocaína? Maconha? Crack?

Você se considera livre das centenas de possíveis vícios por produtos químicos e livre de vícios psicológicos induzidos por produtos químicos?

Açúcar, gordura, sal, álcool: você está livre deles?

Escravidão química: pense nesse conceito, e em como ele é ao mesmo tempo tão presente e, no entanto, tão dissimulado, incompreendido, silencioso.

Pense na felicidade de ver-se livre definitivamente deles, para sempre!

Difícil?

Você não nasceu fumando. Seu pulmão nasceu livre.

Você nasceu puro.

Quem o corrompeu?

Quem o intoxicou?

Por que você aceita esse grilhão tão mansamente?

Você aceitaria que alguém o obrigasse a fumar um maço de cigarros todos os dias de sua vida?

Com o que se pareceria alguém que lhe exigisse tragar à força um cachimbo de crack? O quão aguerridamente resistiria a um ataque sórdido desses?

Quem nos envenena?

Você aceitaria trabalhar na Souza Cruz, Phillip Morris ou na, digamos, Ambev?

Você disse alguma coisa parecida com "drogas socialmente aceitáveis"?

Existe escravidão aceitável, do tipo psicológica ou química?

Existe meia droga?

Existe quase vício?

Existem "prejuízos físicos menores"?

Por que uma Souza Cruz ainda existe legalmente?

A liberdade legal pode permitir a liberdade de oferecer drogas a quem quer que seja?

As pessoas têm o direito de se autodestruírem?

Podemos proteger as pessoas delas mesmas?

Se não houvesse cordas, as pessoas se enforcariam?

Essas questões me intrigam.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A defesa e o ataque

Na medida em que os dias passam, as semanas passam, e os anos vão também passando, tento olhar para o futuro que nos espera e tenho sentido um certo temor, que considero não sem alguma justificação.

Eleições após eleições, além de outras grandes formas de consulta popular no Brasil, têm mostrado um país fortemente contrastado, para não dizer segregado, dividido ou polarizado.

Política não é um assunto fácil, de maneira que tentarei tecer minhas considerações sobre o tema com alguma cautela e simplicidade, buscando afixar-me em alguns marcos seguros, dos quais necessitarei para justificar meus temores.

Eu perguntei a mim mesmo: o que é a política? Por que a política?

A resposta simples é que a política é a forma civilizada de pessoas entrarem em acordo dentro de regras sociais, de forma a se evitar que as coisas sejam decididas pelos mais fortes, por meio de violência física.

Essa definição é muito parecida com a definição de Direito. De maneira também simples, podemos dizer que o uso de regras codificadas em lei e impostas a todos por um Estado é uma forma de se resolver as coisas sem o uso de muita violência. No mundo do Direito, o Estado pode, sim, usar da força física para fazer valer suas leis, mas somente em casos especiais bem delimitados.

Ora, a sociedade dita civilizada tem boas razões para buscar os mais diversos meios de resolver seus problemas sem recorrer ao uso da força física e da violência.

A sociedade humana, tal como a conhecemos, data de cerca de seis mil anos. Ao longo de tantos séculos, muito se recorreu à violência e à força, seja através de guerras, disputas entre sociedades, e ao assassinato, à escravidão, à pancadaria pura e simples do mais forte contra o mais fraco.

A realidade da violência não deve jamais ser negada entre seres humanos. Vivemos em uma época em que a violência direta de um ser humano contra outro é tida como coisa incomum e indesejável, punível e sujeita às mais graves recriminações. Aprendemos a conter a violência ainda no berço.

Mas, queiramos ou não, a violência é parte da vida, tal como a conhecemos em todos os recantos do planeta. Ela é tão real, onipresente e brutal que os meios de detê-la estão codificados em quase todas  as combinações de DNA que possam existir nos diferentes animais, plantas e organismos que a ciência conhece e estuda.

Não há ser vivo sem mecanismos de defesa contra ataques potenciais. Mesmo o mais indefeso e frágil dos animais possui em sua forma física, em sua aparência, em seu comportamento, em seu modo de existir, maneiras de se defender. Muitos seres vivos possuem ainda não somente os mecanismos de defesa, mas os de ataque, que lhe garantem a sobrevida, o alimento, a procriação e a perpetuação da espécie.

Na natureza, a defesa pressupõe o ataque.

A natureza humana também não é diferente. Somos dotados dos meios de defesa e ataque. Somos animais capazes de nos defender da ameaça de outros animais e da própria espécie. E somos capazes de atacar violentamente para conseguir nossos intentos. Essas considerações não deveriam ser surpresa para ninguém.

No entanto, vivemos em uma época em que nos consideramos civilizados. Dispomos de organização tal que a violência é inibida por diversos mecanismos, e não esperamos que a violência aumente, mas diminua constantemente no tempo. Esperamos que nos tornemos mais e mais civilizados.

Mas nem sempre as sociedades seguem destinos linearmente constantes rumo a um processo civilizatório, isentas de percalços, desvios, retrocessos e recaídas.

Poucas civilizações, se é que existiu alguma, seguiram processos históricos longos na mais perfeita paz e harmonia social.

Seremos nós brasileiros o povo dotado de habilidade social suficiente para não incorrer em episódios de violência social tais como guerras, revoluções, convulsões sociais e outros tipos de retrocessos?

Achamos que sim.

Achamos que somos um povo pacífico e harmonioso.

Achamos que tudo se resolverá da melhor maneira. Não achamos que as coisas irão piorar. Não temos razões para pensar diferente.

Ou temos?

Penso que não temos vivido grandes convulsões sociais tais como guerras, mas tivemos revoluções e temos índices de violência social sem paralelo em todo nosso passado.

Tivemos guerrilha em pequena escala em 1971, tivemos golpe militar em 1964, participamos em pequena escala da II Guerra Mundial lutando em território inimigo, e tivemos a guerra civil constitucionalista em 1932. Tivemos a revolução de 1930, e antes disso, outras convulsões menores que sequer lembramos de tê-las estudado nos livros e nas escolas. Nós tivemos longas décadas de relativa paz, é verdade.

O que a política teve de contribuição dada neste período todo?

Podemos dizer que as divergências sociais que poderiam ter dado motivos para o surgimento de episódios de violência mais contundentes foram adequadamente contornadas pelos meios políticos. Se não o foram pela política, como se solucionaram?

Divergências sociais desaparecem com a mera passagem do tempo? Em geral, somente a muito longo prazo. Em geral, convicções que dão razão a conflitos sérios são perenes, imutáveis, não sujeitas a acomodações definitivas. Há divergências que jamais são superadas. São, no máximo, apaziguadas, acomodadas pelas partes envolvidas, e a defesa somente abaixa a guarda quando morre o atacante.

Em um país com 200 milhões de habitantes, geograficamente desigual, socialmente desigual, economicamente desigual e culturalmente desigual, é espantoso que as diferentes facções que decorrem dessas inúmeras diferenças e polarizações tenham sabido contornar suas divergências. 

Se a política e o Estado, através de suas leis, têm sido capazes de contornar os conflitos até então, isso é questão em aberto que uma leitura mais atenta da história pode responder.

Já quanto à capacidade de contornar conflitos futuros, resta a expectativa de que sim, de que o Estado consiga contorná-los. A questão é: desejará contorná-los?

Em um momento histórico em que forças políticas deixam de apaziguar conflitos sociais e passam a estimulá-los, o que se pode esperar?

Dado que as forças políticas entendam que a melhor defesa é o ataque, o que se pode esperar?

Dado que os seres humanos não são animais que se submetem a ataques sem a devida revanche, que não se submetem sem muita luta, o que se pode esperar?

A relativa paz social das últimas décadas foi fruto da capacidade política das partes envolvidas em conflitos em transcender e achar alternativas à violência ou simplesmente foi o caso de que nos conflitos existentes, o atacante não teve força suficiente para representar uma ameaça à sua vítima potencial?

Vivemos décadas de paz porque tivemos instituições que souberam apaziguar conflitos ou tivemos paz simplesmente porque não houve conflitos? 

Eu prometo que vou tentar responder a essas questões.

Quão radicais foram os conflitos passados? Quão dividida esteve a sociedade brasileira em décadas passadas? Quem tomou a iniciativa de agredir quem? Quem intercedeu a favor ou contra quem e como a coisa foi resolvida sem um banho de sangue?

Eu disse banho de sangue? No Brasil, o país do samba, das praias e do futebol?

Precisamos entender nosso contexto atual. Não me consta haver garantia de paz social perpétua concedida a um povo qualquer que seja, por mais bela e alegre que seja a sua cultura e o seu passado.

O ataque, a agressão e por fim a violência é a decisão política extrema, um recurso final, mas nem sempre.

Onde está o agressor?

Quem é o agressor?

Quando ele agirá?

Ele já não está agindo?

Você às vezes não se sente socialmente agredido?

Pense bem.

Identifique o agressor...

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Desumanização do comércio

Você tem e-mail? Provavelmente sim.

Se tem, já deve ter recebido milhares deles.

Sabe quantos foram realmente enviados por pessoas de carne e osso e quantos foram enviados por softwares, programas automáticos de vendas ou robots comerciais e de mala direta on-line?

Não, eu não estou falando do fenômeno do spam.

Spam é mensagem não solicitada. Essas são também recebidas aos milhares, e em geral também são de origem automática, mas não é bem sobre elas que quero chamar sua atenção.

O que quero que perceba é que há um processo de desumanização das relações comerciais. 

Você compra de uma empresa que não tem pessoas te atendendo do outro lado de um balcão, de uma linha telefônica ou de um site. Você faz transações financeiras com máquinas virtuais, quando não com máquinas reais.

Um caixa eletrônico de banco é uma espécie de robot fixo em um ponto qualquer pronto a expelir ou engolir dinheiro real, além de registrar e transmitir dinheiro virtual dele para sabe-se lá onde.

Uma máquina vende ursinhos de pelúcia, se você conseguir pegá-los com uma garra complicada e imprecisa. Outra máquina vende refrigerante. E outra ainda vende flores frescas mediante o recebimento de algumas notas não tão frescas. Por fim, uma máquina abre e fecha uma cancela na entrada de um shopping center qualquer, lhe dá boas-vindas na sua chegada e recomenda que use cinto de segurança quando vai embora.

As máquinas estão se preocupando conosco!

Quantas ligações a call centers são de fato atendidas por gente de verdade e não por gravações mecanizadas?

É espantosa a expansão deste método de se fazer negócios.

Mas, há um paradoxo nisso.

Preferimos então o atendimento humano personalizado e caloroso?

Mas, onde há este tipo de atendimento hoje em dia?

Não aqui, no nosso confuso Brasil de 2014.

Em geral, somos pessimamente atendidos em quase todos os lugares. Pessoas realmente atenciosas e educadas não são facilmente encontradas em pontos comerciais comuns. Parece que o comércio só consegue contratar jovens mal educados que não sabem sequer para quem trabalham, nem o que vendem, nem onde estão, nem que somos nós, compradores, consumidores, que pagamos seus salários mínimos. Raros são os atendentes que são realmente profissionais naquilo que são contratados para fazer. 

Então, fica o paradoxo. O que você prefere: um e-mail com redação impecável enviado por um software, com um aviso de "não responder: esta é uma mensagem automática", ou um e-mail redigido por um humano, mas deselegante, cheio de erros de português, incompleto, inconclusivo e incongruente?

Quer saber?

Não prefiro nem um nem outro.

Mas, não decido nada, e como não temos muitas opções de escolha, parece que as máquinas vencerão!

Mas relaxe por enquanto: este meu texto ainda é artesanal, e tão autêntico quanto um pastel de carne, exceto que você não pode sentir cheiro algum e nem saber com quanta atenção e prazer eu o redijo e o ponho à sua disposição para que leia e tire as suas próprias conclusões.

E melhor: de graça!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Trabalho: a vida cronometrada

Nós, humanos, não somos amigos dos relógios.

Você pode gostar da aparência deles, pode pagar milhares de dólares por um Rolex ou outra marca famosa qualquer, mas certamente não o faz porque gosta de olhar as horas, os minutos ou segundos. Você, no máximo, gosta de objetos duráveis, bem feitos e que proporcionam status, mas não creio realmente que goste de ter sua vida controlada por um simples relógio, ainda que muito bonito e caro.

Não, nós não amamos os relógios.

Eu não os amo, definitivamente.

Mas a vida nos impõe obrigações, e precisamos dos relógios. De parede, de pulso, no celular, na barra de tarefas da tela do computador, nos painéis das praças e avenidas, no topo dos arranha-céus, em todos os lugares. 

Relógios são onipresentes.

Mas, há um tipo de relógio ainda mais maligno.

É o cronômetro.

Mas, quem precisa de um cronômetro, afinal?

Não eu, certo? Não nós, simples mortais trabalhadores. Nós nos contentamos com os relógios comuns. Alguns deles até têm funções de cronômetro, mas quase não as usamos. Não somos atletas, maratonistas, velocistas, nem procuramos ganhar alguma olimpíada contra nossos colegas de trabalho, certo?

Mas, ainda que eu nunca tenha sido muito amigo dos relógios, a vida foi ficando tão complexa ao longo dos anos que em determinado momento eu percebi que precisava de algum controle do tempo, alguma organização dos meus horários. Precisava primeiro de um calendário para anotar compromissos para os próximos dias, próximos meses. Sim, eles, os compromissos, entraram de vez na minha vida. Imposto de renda, manutenção do carro, troca de óleo, exames de saúde periódicos e outros afazeres mais demandaram um mínimo de organização. Afinal, quem já atrasou uma entrega de declaração de imposto de renda ou perdeu um prazo importante qualquer por esquecimento sabe do que estou falando. É melhor ter um calendário do que não ter.

Eu passei a usar um calendário no Outlook, no computador. Era uma maneira simples de manter-me atualizado com meus compromissos, e vez ou outra, eu recebia um aviso na tela do computador lembrando-me do aniversário de uma pessoa querida, ou lembrando-me de que precisava retornar ao dentista para uma revisão geral.

Mas, mais que isso, eu passei a usar o Outlook para distribuir coisas a fazer, tarefas em geral, ao longo do tempo. Eu deveria fazer o item A primeiro que o B, depois o item C e assim por diante. O item A seria demorado, de maneira que eu o faria em duas ou três etapas, mas entremeio a uma etapa e outra, faria os itens B e C.

O item A deveria começar no dia X por volta das Y horas.

Eu registrava tudo no Outlook e ele enviava-me um aviso na hora de começar A, B ou C.

Essa é a vida cronometrada.

Parece exagero, mas não é. Um dia desses eu vi o calendário de uma pessoa bastante atarefada no trabalho cuja dependência do calendário do Outlook é absoluta. Tire o Outlook dele e sua rotina de trabalho entra em colapso. E ele está longe de ser o único usuário que conheço que é dependente deste modo de trabalhar.

Algumas pessoas são mais organizadas que outras. Uns gostam de maior controle que outros. Há aqueles que são simplesmente mais atarefados que outros. E há ainda aqueles que simplesmente possuem um tipo de trabalho cujas ações são simplesmente descontínuas, fragmentadas, e que não podem trabalhar longas horas, longos dias nas mesmas coisas, na mesma rotina, sem idas e vindas a outros assuntos. Trabalho fragmentado requer um esforço de memória que seria desgastante sem o apoio de agendas e computadores. Essas ferramentas estão aí exatamente para isso. Afinal, temos que nos ocupar com coisas realmente importantes, e não podemos nos dar ao luxo de esquecer tarefas que não podem ser esquecidas. Esta é a realidade e não há muito o que se fazer contra.

Mas, um dia, eu percebi que podemos ter hora para começarmos uma tarefa, e dispomos de um aviso para isso. Vários avisos. Mas, é quanto à hora de pararmos?

Falarei mais sobre esta hora, mas não agora.

Agora, falarei sobre cronômetros.

O Outlook não nos diz a hora de parar. Não há nele, nem em nenhum outro relógio, nem mesmo naquele que fica em toda barra de tarefas de todo computador, uma forma de aviso que diga que um determinado tempo já tenha se passado. Quer dizer: ninguém se importou em avisar sobre o fim de um período de tempo. 

Eu estou falando de cronômetros.

Coloque um relógio qualquer para tocar em uma determinada hora. Essa hora será a hora de se iniciar um trabalho qualquer. Comece este trabalho qualquer, uma atividade qualquer, e apenas imagine que irá parar dentro de meia hora. Quem o avisará quando esta meia hora terminar?

Um relógio comum não o avisará. Um cronômetro, sim.

Então pensei comigo mesmo: em um mundo tão cheio de ideias e programas de computador, será que haveria um cronômetro em forma de software?

Pesquisei e descobri vários. Um deles é o 1Time.

Comece um determinado trabalho e programe o 1Time para avisá-lo em meia hora. Dispare a contagem regressiva dele e inicie o trabalho. Meia hora depois, ele aparece na tela e o avisa: pare! Sua meia hora de trabalho acabou!

Eu gostei desta ideia.

Comprei um cronômetro digital de verdade, um reloginho de plástico amarrado a um colar. 

Tire uma hora para fazer quatro tarefinhas diferentes a cada 15 minutos. Ajuste a contagem regressiva para quinze minutos e deixe o cronômetro interromper a primeira tarefinha para que você possa partir para a segunda tarefinha. Recomece a contagem regressiva com o cronômetro. E assim por diante.

Quanta bobagem, você deve estar pensando.

Sim, uma bobagem.

Mas, houve dias em que me embrenhei em estudos de maneira tão intensa e séria que precisei de um esquema desses para distribuir o tempo entre uma matéria e outra, para poder atingir meus objetivos, que eram ambiciosos e difíceis.

Esse período de vida cronometrada foi doloroso, mas funcionou.

Mas nós, brasileiros, não somos muito acostumados a esse tipo de proceder. É coisa de americanos isso, esse tal de trabalho duro.

A vida cronometrada não é um modo necessário, mas para certos objetivos, é a única vida.

A vida cronometrada, no final, compensa.