quarta-feira, 13 de junho de 2012

O riacho que corre...

Eu disse aqui que precisamos compreender nosso passado. E disse aqui que precisamos saber o que queremos para nosso futuro. Eu disse que nós vivemos e morremos no tempo.

Penso que interpretar o que seja a vida depende muito de nossos referenciais interiores. Em um país como o nosso, com nosso idolatrado, endeusado Airton Senna como símbolo máximo de sucesso pessoal, muita gente encara a vida como uma corrida de carros, onde vence aquele que chega primeiro, e que cada milésimo de segundo conta para o resultado final. Penso que isso explica em grande parte a nossa violência no trânsito, a nossa pressa imbecil partindo do nada para o lugar nenhum. Como é patético todo esse esforço de se querer impor mitos absolutos como exemplos perfeitos a serem seguidos por toda uma sociedade! Eu simplesmente não aceito este bezerro de ouro.

Há pessoas que encaram a vida como um processo de desbravamento de uma terra hostil, inóspita, e sem mapas. Caminha-se no escuro, como em um eterno nevoeiro, e cada passo pode, para os medrosos, levar a um abismo, ou pode, para os corajosos, levar ao tesouro a tanto tão procurado. A sensação de nada ver diante de si é uma maneira válida, mas não sei se a mais correta.

Há ainda os que encaram a vida como uma festa que o universo preparou para si próprios. E há tantas formas de se encarar a vida que é inútil tentar enumerar mesmo uma pequena parcela delas. 

Como eu vejo esse processo de se viver cronologicamente, no tempo?

Temos um passado, temos um presente e temos um futuro. Sabemos que viemos de algum lugar, e sabemos que iremos para algum lugar. Sabemos que todos nasceram um dia, e sabemos que todos morreremos um dia. Então, temos um começo e um fim. 

Mas não creio que apostemos corridas contra ninguém. Nem acredito que no final do nevoeiro haja alguma luz, ou um abismo, ou um baú de jóias perdidas. Simplesmente caminhamos. E não acredito também que tenhamos tanto controle assim sobre nossas vidas. Somos limitados quanto à nossa capacidade de decidir sobre nosso futuro, assim como nada podemos decidir sobre nosso passado.

Pensei, e vi nos rios a melhor metáfora para o viver. 

Rios não concorrem entre si. Eles se somam.

Rios não escolhem nascer. Eles brotam da rochas depois de cada chuva, e seguem em frente. E como chove!

Rios não são eternos. Mesmo o maior deles acaba em determinado momento juntando-se ao mar.

E os rios não se importam com obstáculos. Eles por vezes se estreitam, se interrompem, mas formam lagoas, represas, lagos, que não podem ser detidos. A força invencível da gravidade é tal que basta uma fresta, e o rio volta a correr. Não há barreira que possa contra essa força.

Mas os rios fluem, e escolhem seus caminhos, apesar de tudo. Um rio não pensa, mas há inteligência na forma como procura, entre as montanhas, o vale mais adequado. 

E por fim, os rios fertilizam as terras por onde passam. Rios são vida.

Então, não fui, não sou e não quero ser mais um discípulo de quem quer que seja. Todo rio é único.

Que eu seja um riacho. Sem pressa, devagar. Rumo ao mar.

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