A quadragésima quarta questão da série que discuto recentemente neste blog relaciona-se com a pergunta anterior, objeto de longa discussão no último post.
A quadragésima quarta pergunta é esta:
"Tudo estará bem?"
Nesta pergunta, não me preocupo com o presente, com minha situação atual, mas a situação futura.
Eu tenho discutido neste blog razões contra e a favor de mudanças de vida. Uma das razões contra nos envolvermos em desagradáveis processos de mudança é que, apesar do que diz o mundo a nossa volta, não estamos sentindo que nossa vida esteja ruim a ponto de precisar ser mudada.
Apesar de que sejamos confrontados com pessoas em situações melhores do que a nossa o tempo todo, podemos intimamente sentir que estamos vivendo bem. O mundo pode apontar em nós mil defeitos, mas, se em nosso íntimo não achamos que sejam defeitos que nos incomoda, que importa? Além do mais, não há ninguém perfeito. Tudo mundo tem defeitos. Então, por que mudar? Além do mais, se todos têm defeitos, temos que tolerar uns aos outros, desde que nossos defeitos não tragam prejuízos a mais ninguém além de nós mesmos.
Ora, que me importa se metade do povo russo é alcoólatra? Paciência! E, por fim, que mal faço aos russos se meus defeitos são apenas meus, e não os prejudica? Que vivamos nós e os russos cada qual com seus defeitos e vivamos em paz. Tudo pode estar bem.
Mas, se tudo está bem, posso usar este estado atual de coisas como justificativa para meu comodismo?
Posso, exceto que, como disse, as coisas mudam.
Se tudo está bem hoje, não tenho, no entanto, garantias de que estará bem amanhã. Defeitos tendem a trazer problemas a médio e longo prazos. Um problema pessoal pode se tornar um problema social, e uma situação sem problemas hoje pode evoluir para uma situação problemática amanhã, embora o inverso possa ser verdadeiro também. Evidentemente, não é incomum que um problema atual se resolva de alguma forma ao longo do tempo sem que precisemos fazer nada com relação a ele, mas esta não é uma regra. É apenas uma constatação. A possível solução espontânea de um problema presente vai depender da natureza do problema, e o bom senso pode ser suficiente para servir de guia para que nos preocupemos ou não com uma parte deles, já que podemos discernir com razoável acerto quais deles que têm potencial de resolução futura espontânea e quais precisam de nossa ação.
É com relação àqueles problemas que têm potencial futuro de se agravarem é que me refiro quando faço a pergunta acima. E mais: há os novos problemas, sobre os quais não temos nenhum prognóstico presente.
Assim, uma pessoa sensata deveria ser capaz de avaliar sua vida presente e admitir honestamente que a vida presente que leva está bem e seus problemas atuais são administráveis e sua vida prescinde de mudanças, a despeito das recomendações do mundo à sua volta. Mas esta pessoa sensata deveria igualmente ser capaz de perceber que a inércia presente é apenas um estado passageiro, e que não deverá durar muito tempo, e que, portanto, mais cedo ou mais tarde, as coisas exigirão que ela tome alguma atitude com relação a um estado de coisas novo, porém indesejável.
Assim, podemos dizer que hoje tudo está bem, mas não podemos dizer com a mesma segurança que amanhã tudo estará bem. Não há espaço aqui para desejos.
Claro que desejamos que amanhã tudo esteja bem, mas não temos esta certeza, e portanto, podemos justificar nossa inércia atual por um certo tempo, mas este estado cômodo deverá mudar, quer queiramos, quer não.
Assim, se teremos que agir no futuro para minimizar as consequências de problemas presentes, porque esperar até as coisas piorarem?
Não seria mais sensato realizar pequenas mudanças agora, quando os problemas não são tão graves, do que deixar para depois, quando então talvez seja tarde demais?
Por que não ser previdente?
Não precisamos agir hoje, diria o teimoso, ou preguiçoso, porque hoje tudo está bem. Poderia se argumentar tal como na parábola bíblica dos lírios do campo, que não fiam nem tecem, sob a alegação de que cada dia que cuide de seu problema, e que portanto, estando hoje tudo bem, nada há com o que se preocupar, e que o amanhã com os seus problemas terá seus devidos cuidados no momento certo, que é exatamente o amanhã.
Isto equivale a dizer que hoje não temos porquê nos preocupar, porque tudo está bem.
Certo, eu acato o argumento.
Em seguida, retruco com uma pergunta, mais uma delas, a quadragésima quinta, a qual tratarei no próximo post, porque então já estaríamos indo longe demais com o post presente.
Então, para não perdermos a oportunidade, porque hoje é dia de Natal, reafirmo aqui minha fé no Deus criador, certo de que Ele esteve entre nós, e de que somos feitos à Sua imagem e semelhança.
Sigamos, pois, em frente, renovada a nossa fé!
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