quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Florescendo


Eu disse aqui que os gregos antigos tinham por hábito dizer que certa pessoa do passado floresceu em determinado período da história grega, e não diziam que ela nasceu no dia x, do mês y, do ano z, como fazemos hoje.

Sei que eles usavam esse termo, florescer, porque li sobre alguns filósofos gregos antigos em uma coleção de livros sobre filosofia chamada Os Pensadores. Há um volume deles dedicado somente aos filósofos chamados pré-socráticos, porque viveram antes de Sócrates, o primeiro de uma série de filósofos de uma época de ouro da civilização grega, a cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo.

Hoje, não florescemos mais. Simplesmente vivemos de uma data x até a morte, quando então uma certidão de óbito dará até os minutos exatos de nossa morte.

Naquela época, a dos gregos, não havia um calendário tão bem elaborado quanto o nosso, nem relógios tão sofisticados ou precisos. Mas, mais que isso, creio que a civilização grega, e todas as outras mais que existiram antes da nossa, não davam assim tanta importância às minúcias do tempo. Não levavam assim tão a sério a exatidão das horas, do mesmo jeito que acho que há pessoas, sociedades e lugares que ainda hoje não dão essa importância.

Vivemos em uma época que a um grego antigo pareceria absurda. Um relógio qualquer que hoje todo mundo usa seria um objeto desnecessário também a qualquer outro povo do passado, tal como a um egípcio dos tempos dos faraós. Ele poderia nascer, florescer e viver sem se preocupar em saber se a hora do almoço seria antes ou depois do meio-dia exato. Simplesmente comeria quando tivesse fome, num momento do dia em que o hábito de sua sociedade determinasse aproximadamente que fosse o horário de comer e pronto.

Hoje, não florescemos, e sentimos fome sem poder comer, porque ainda não está na hora, embora tenhamos relógios perfeitos.

E não filosofamos nem construímos mais pirâmides.

Alguma coisa se perdeu ao longo dos séculos e de alguma forma, a simples inexistência da palavra florescer entre nós parece denunciar que o que foi perdido nos faz falta. 

Se o que foi perdido foi substituído pela tecnologia, e esta se gaba de ter nos dado relógios, acho que não foi uma boa troca.

Perdemos nosso florescimento e ganhamos a exatidão em nosso tempo de comer e morrer.

Bela troca.


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