segunda-feira, 24 de março de 2008

A moral da história

Eu tenho um monte de histórias para contar. Eu tenho ainda um monte de ideias para serem pensadas, pregadas, difundidas. E tenho um monte de planos, todos muito bons.

Tenho um monte de livros com um monte de coisas legais para serem discutidas.

Minhas histórias e ideias são pobres? Não sei. Talvez sejam, talvez não.

Então, por que escrevê-las?

Porque é gostoso. Só por isso.

Mas, se faço somente aquilo que acho gostoso, como acho tempo para fazer o que precisa ser feito, mas não é gostoso?

Mas, o que não é gostoso?

O que tenho de fazer e não gosto de fazer?

As finanças?

Mas eu gosto!

O que eu não gosto é do monopólio de um único vício.

Sim, eu posso admitir que aquilo que eu faço constantemente acaba sendo parte de mim como um vício, ainda que a palavra “vício” não seja exatamente adequada, porque tem uma conotação ruim. Que seja “hábito” então.

Meus hábitos me fazem?

Não sei, mas um hábito que monopoliza todo meu tempo não é um bom hábito.


Somente um hábito que produza alguma coisa muito valiosa pode ter o monopólio do tempo, mas se o hábito é escrever, o que de valioso produz uma história?

Às vezes, penso que o melhor que se pode produzir é uma lição de moral no final.

Mas, uma mania precisa ter uma moral para justificar sua existência?

As histórias que eu escrevo precisam de um fundo moral que as justifique, já que elas são antes escritas para satisfazer minha compulsão egoísta por escrever? E se não tiverem nenhum fundo moral? Qual o problema?

Um fundo moral é apenas um chamariz para os leitores?

Qual o pecado em se escrever por prazer?

Eu li “Alice no País das Maravilhas”.

Não vou longe falando desse livrinho, mas o tema da moral me leva necessariamente a ele.

Há entre suas personagens uma Duquesa feia que vive tentando achar uma moral para cada história.

Eu não sei dizer se o autor, Lewis Carol, tinha alguém em mente quando criou essa personagem. Nesse caso, era o contrário: o vício não era as histórias sem moral, mas a busca de uma moral obrigatória. Uma história sem moral não era uma história.

Cenas de Alice no País das maravilhas - Lewis Carol

Não sei se fatos precisam de uma moral no final.

Há coisas que simplesmente acontecem, sem que possamos tirar deles qualquer tipo de lição. Eles são corriqueiros ou espantosos por si próprios.

Moral da história: histórias não precisam ter moral.

Essa conclusão me provoca um alívio muito suspeito e soa como uma placa dizendo: “fumar faz bem à saúde”.

Você acreditaria num anúncio desses?


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