Eu sei que é uma tarefa dificílima, mas eu pelo menos a iniciei: contar a história de meu passado.
Por quê?
Mas, por que não?
Eu comecei um texto contando sobre o local onde nasci. Esse local chama-se Tujuguaba e é um vilarejo no interior do Estado de São Paulo, próximo a Campinas. O texto ainda é pequeno e cheio de erros, mas assim que eu der uma polida nele, eu o disponibilizo ao mundo, esteja ele com dez ou com cem páginas. Não importa.
Só que a coisa é mais difícil do que parece.
A razão dessa dificuldade é que eu não sei quase nada sobre o que ocorreu antes de eu existir. Simplesmente não sei o suficiente para atender a minha própria curiosidade, e não vejo meios de suprir essa falta de conhecimento.
O meu passado antes de mim, quer dizer, o passado do lugar onde nasci e dos meus parentes remotos, não me está acessível. Eu sai de Tujuguaba com 14 anos e simplesmente não tenho mais contato com ninguém por lá. Nem mesmo com minha família. E a cada dia que passa, maiores as chances de o pouco que resta desse passado se perder pela morte de pessoas que ainda têm recordações importantes a serem registradas.
O que posso fazer? Nada.
Tudo se resume a deduções com base no que sei depois que nasci e às famosas pesquisas na Internet. Mas a Internet está longe de oferecer a facilidade de pesquisa que necessito ter para um trabalho dessa natureza. A Internet registra muito bem o tempo presente, mas o passado está fora de seus registros.
Assim, vou recolhendo migalhas daquilo e daqueles que surgiram antes de mim.
Ah, mas como seria tudo mais simples se eu pudesse apenas conversar com as pessoas...
Mas isso não existe mais.
É verdade: a conversa desapareceu. Sou testemunha disso e afirmo com toda a categoria essa realidade. Ninguém mais está disponível para uma simples conversa que dure mais do que dez ou quinze minutos, por mais prazerosa ou importante que ela seja.
A correria do mundo nos engoliu.
As pessoas têm compromissos, precisariam fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e o diálogo não faz parte de nenhuma lista de prioridades. Os telefonemas custam caro e os bate-papos on-line não são nem uma sombra do que seria um papo verdadeiro em uma sala ou cozinha, regada a bolos e xícaras de café em uma tarde tranqüila de um fim de semana comum.
Assim, meu trabalho de registro vai aos trancos, e tão falho quanto um pente velho.
Acho que o melhor a fazer é garantir o que vivi pessoalmente. É verdade que não é nada tão antigo ou espetacular, mas é o que tenho acesso ilimitado e é fonte confiável e disponível.
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