É preciso frisar aqui que minhas postagens trazem mais perguntas do que respostas. Assim, elas não ensinam, e portanto, são quase sempre desinteressantes e frustrantes, quando comparadas ao tipo de material que em geral é publicado nos blogs Internet afora.
As pessoas esperam que os blogs sejam interessantes, informativos, didáticos. Os leitores gostam de ajuda, de manuais, de tutoriais, de roteiros passo-a-passo que os ajudem a resolver seus problemas diários. Eles não gostam de dúvidas, perguntas sem respostas e questões sem solução, e este meu blog é repleto disto: dúvidas, questionamentos, incertezas, confusão.
Por que se dar ao trabalho de encher ainda mais o mundo de perguntas, quando o que as pessoas querem é exatamente o oposto, as respostas?
Penso que sou por temperamento uma pessoa questionadora, mas como me conheço muito bem, retruco dizendo que "agora", "hoje" eu sou uma pessoa questionadora. Eu não sou assim por temperamento. Eu não nasci assim. Eu me forcei a ser assim.
E tem mais: eu não sou uma pessoa que é assim, questionadora, por birra, por ser do contra ou por gostar de polêmicas.
Não.
Eu sou quieto, calado, tenho meus pensamentos quase sempre guardados em silêncio e fujo das brigas verbais sobre qualquer assunto. Eu não sou nem polêmico, nem briguento, nem questionador. Eu sou desconfiado.
Eu sou desconfiado das respostas prontas. Eu sou desconfiado das soluções mágicas. Eu sou desconfiado dos caminhos já trilhados. Eu sou simplesmente desconfiado.
Mas eu não sou desconfiado por temperamento, por birra ou por prazer em desconfiar de tudo. Eu não nasci assim. Eu sou assim "hoje, "agora". Eu me esforcei muito para ser uma pessoa questionadora, porque me esforcei muito para ser uma pessoa desconfiada.
A desconfiança é necessária.
O contrário da desconfiança é a confiança.
Quem confia, segue em frente sem questionar.
Quem não questiona, nem desconfia, põe na mão do mundo seu destino.
A confiança é um luxo ao qual uma pessoa vulnerável não pode se dar.
Sou questionador porque sou desconfiado. Sou desconfiado porque sou vulnerável. E, ao admitir a mim mesmo que sou vulnerável, admito que não posso correr o risco de errar de caminho, de perder o controle de minha vida entregando o controle ao mundo. Abordo o mundo como aqueles assustados animais que bebem à beira das poças lamacentas infestadas de crocodilos. Um passo em falso, e o desastre está feito.
O que posso eu contra os astutos e famintos crocodilos submersos? Se não tivesse sede, poderia ignorá-los, porque são inofensivos em chão seco, mas a vida requer água, e tenho sede. Mas, ainda que eu não tenha muita sede, uma hora chega em que tenho de enfrentá-los.
Então, rodeio, rodeio, experimento, me assunto, dou saltos para trás, paro, farejo, observo, deixo outros irem primeiro, sorvo a água aos poucos e pelas bordas.
Na vida, não vence nem o mais forte, nem o mais corajoso, nem o mais inteligente. Vence aquele que sobrevive mais tempo, adaptando-se às circunstâncias.
Você é um crocodilo? Se for, sorte sua.
Mas se não for, se você nada pode contra eles, o que o autoriza a agir com confiança, e beber do rio da vida sem medo e sem miséria?
Você não acredita em crocodilos? Você acredita que eles existam, mas confia neles? Você toma aquele par de olhos sinistros semi-cobertos pela lama por simples bolhas de espuma? Você apoia os crocodilos? Você luta pela preservação deles? Você se daria a comer para salvá-los?
Quem é você?
Nenhum comentário:
Postar um comentário