quarta-feira, 17 de abril de 2013

A luz da vida um dia se apaga

Minha primeira postagem neste blog chama-se "Antes que a luz se apague". O que significa isto? Que luz é esta a que me refiro?

Bem, a luz que ainda não se apagou é a luz da vida.

Há um dito que afirma existir apenas duas certezas na vida: a morte e os impostos. Esta frase, cinicamente política, brinca com uma coisa, mas acerta outra. Impostos são criação humana e, ainda que não haja a menor expectativa de vivermos em um mundo em que eles venham a não existir, não há de fato nada que impeça que isto um dia ocorra. A frase, repito, é uma ácida verdade política da vida moderna.

Mas a morte - ah!, a morte! - contra esta nada podemos. 

Dolorosamente sei que vou morrer. Um dia, a luz que brilha dentro de meu corpo, e que me mantém vivo, se apagará. E então, morre comigo meus sonhos, planos e ideias não publicadas. Mas, mais que isto, morre o meu "eu". Certamente há em mim coisas mais valiosas que minhas ideias não publicadas, e sentirei mais dor por outros motivos que a mera morte de sonhos e planos não realizados. Viver tem suas dores, mas tem seus prazeres, seu encanto, e acima de tudo, viver tem seu mistério, um mistério que me parece tão fascinante que ainda que eu sofra as mais terríveis dificuldades para viver, ainda lutarei para viver um momento a mais, porque é este mistério que alimenta a luz dentro de mim.

O que nos aguarda no futuro que nos resta?

O que viveremos enquanto estivermos vivos? O que veremos?

A luz da vida um dia se apaga, mas, nada sabemos de seu "quando" e de seu "como", nem de seu "porquê".

A literatura, a ciência e as artes, o cinema, às vezes, tenta entender este momento supremo, que é o do nosso apagar-se. Religiões são criadas na ânsia de tornar este momento um mero portal a ser transposto para um outro mundo, um outro plano, um outro nascimento. Este apagar de luzes é o grande drama da existência humana.

Não me importo com os impostos. Nem tenho medo da morte. Muitos já disseram suas visões do que seja ela, a morte, e, para mim, é apenas mais um mistério com o qual terei de lidar, querendo ou não.

O que não quero, de fato, é abrir mão da vida. Viver é um ato misterioso, um desenrolar de um conjunto de eventos sempre surpreendentes e que termina com o morrer, que é este supremo mistério, reservado a cada um de maneira inexorável, ainda que se tenha vivido mansa e rotineiramente, sem sobressaltos e surpresas. 

Talvez se morra sem se saber que se morre, mas ainda assim, este particular modo de morrer só se revelará na hora em que vier de fato a acontecer, de maneira que não há garantias de que se terá uma morte sem sobressaltos. Nesta vida, só se morre uma vez, e morrer é sempre morrer pela primeira vez. Como não se surpreender com isto?

Assim, apoio-me nas estatísticas. Tenho índices de expectativa de vida e outras probabilidades mais que me permitem ter alguma ilusão de que viverei mais algumas dúzias de anos e de que este blog não ficará por ser deletado por algum motivo qualquer depois de minha morte. Que este blog morra pelas minhas mãos, e não comigo. 

Mas, mesmo assim, como saber? Mesmo o destino deste blog é um completo mistério.

Assim, um dia morrerei, isto é certo. Mas, se é assim, eu me pergunto, o que de melhor posso fazer de minha vida? O que devo fazer de minha vida? O que será feito de minha vida?

Vivo em um aquário, pensando estar vivendo em um oceano; ou vivo em um oceano, enquanto penso estar vivendo em um aquário?

Por vezes, tenho a sensação de ter a mais nítida certeza de que vivo em um oceano, mas sou obrigado a usar uma misera parte dele, como se vivesse em um aquário.

Quem me obriga a tanto? Quem me confina a tão pouco? Por que não posso usufruir desta vastidão à minha frente?

Por que viver é algo tão doloroso e frustrante?

Por que estas questões misteriosas são tão intrigantes e sedutoras?

De onde vem esta ânsia de viver? 

Quem alimenta esta luz?

Eu disse mais acima que quem alimenta esta luz é o próprio mistério.

O que é este mistério?

Não sei. Não sei mesmo.

Por vezes, penso que o mistério, qualquer  mistério, é apenas o reflexo de nossa ignorância, e que desperta em nossa mente uma reação tal que diante dele, só podemos sentir curiosidade. Dai que não é realmente o mistério que alimenta nossa vida, mas sim, a nossa curiosidade diante dele. Sem curiosidade diante do mistério da vida, esta deixa de ter qualquer encanto e então é preferível que a morte venha e ponha fim a nosso tédio. Mas como só sentimos curiosidade porque somos ignorantes, concluo que é o nosso inconformismo com a ignorância diante dos mistérios da vida que nos alimenta. 

E se é assim, e como nunca saberemos tudo sobre este vastíssimo universo, direi que se depender de minha ignorância, viverei eternamente, se assim for possível, porque tudo me fascina, e não aceito a dúvida como resposta, enquanto puder aprender algo que satisfaça minha curiosidade.

Para mim, mil anos é ainda assim uma vida curta.

Eu contemplo o universo, e ele é vasto. Eu sou parte dele, e sou feito dele, e sou, então, tão ele quanto ele mesmo. Sou, até onde se sabe, um raro par de olhos cósmicos a contemplar a si mesmo em sua infinitude, vastidão e inescrutabilidade. Sou aquela parte consciente do cosmos que se reconhece a si mesma.

Por meio intermédio, por meio de minha mente, este universo olha para si mesmo e se pergunta: o que é você?

E a eternidade não é suficiente para se responder, nem para se satisfazer com a resposta...

Este misterioso universo narcisista!

A luz da minha vida um dia se apagará, mas restará a luz do universo, e viverei nela, inconsciente, mas eterno.

Por que viver é algo tão doloroso e frustrante?

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