terça-feira, 9 de abril de 2013

Pacifismo e passividade

As palavras são parecidas, e seus sentidos, idem. Mas há entre elas uma diferença que, se não realçada, pode traçar mesmo o destino de uma grande nação.

Falo isto com o intuito de esclarecer o que acho que seja uma imensa confusão entre um conceito e outro, e que acaba fazendo do povo brasileiro um povo que vê seu país afundar de uma maneira que o torna incapaz de reação ou de luta.

Somos chamados de povo pacífico. Ora, somos mesmo? Não enfrentamos guerras a muito tempo. Logo, parece que somos mesmo pacíficos, se não mesmo pacifistas. Mas este aspecto externo, de sermos um povo que não busca lutar contra nações e povos vizinhos, não é mérito algum, se pensarmos na questão interna, onde lutamos uns contra os outros, sem que se caracterize uma guerra civil, mas ao mesmo tempo se caracterize um conflito tão renhido, crônico e doloroso que produz como resultado mais mortes que uma dúzia de guerras externas.

Quem nos chama assim, de pacíficos, quando não o somos de forma alguma?

E com que objetivo? Para que pensemos que somos um povo civilizado, quando não o somos? Quem ganha com essa triste ilusão?

Nós não somos um povo pacífico de forma alguma. Matamo-nos aos milhões. Assim, pergunto: quem nos rotula, falsamente, de sermos um povo pacífico? A quem interessa este rótulo falso?

Como pode ser pacífico um povo que enterra centenas de milhares dos seus próprios semelhantes ano após ano, incapaz de tomar qualquer medida que seja para conter essa sangria horrenda?

Mas quem quer que seja que nos rotule de pacíficos, está prestando um grande desserviço ao povo brasileiro.

Somos nós mesmos que nos rotulamos de pacíficos? Se for, fazemos isto inocentemente?

Seja quem for, e seja qual for a motivação, inocente ou não, o resultado deste rótulo é um só: tornamo-nos um povo passivo.

Passividade é um estado de espírito. Passividade não é uma característica que se deva desejar para um povo. A passividade pressupõe derrota. Um indivíduo passivo está longe de ser um sujeito pacífico. Passividade não implica paz de forma alguma. Pelo contrário: somente porque há cidadãos passivos é que a minoria agressiva se sente segura para cometer seus delitos e atrocidades. Um sujeito passivo torna a si mesmo uma vítima fácil para todo tipo de oportunista.

O povo brasileiro não é pacífico; é passivo. Por ser assim, enterra todos anos, nas últimas quatro, cinco décadas, 50 mil mortos no trânsito, mais 50 mil mortos assassinados, e mantém 700 mil presos nos presídios, a nata de sua juventude, e amarga um governo que está muito aquém de suas necessidades.

Nós não precisamos temer sermos tachados de um povo agressivo se, de repente, resolvermos agir firmemente diante de problemas que requerem força, determinação e, por vezes mesmo violência. Não creio que se possa combater a ação violenta de uns com a passividade de outros. Quem usa de violência não teme a agressão meramente moral, verbal ou teórica de seu oponente.

Eis aí um tipo de confusão de conceitos que mais dia, menos dia, será esclarecido da pior maneira possível.

Creio que estamos à beira de uma guerra civil, em situação pior da que se viveu em 1961 e 1964.

Quem viver, verá.

Não seja passivo. Seja pacifista, mas não passivo.


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