sábado, 31 de agosto de 2013

Mudar tem um preço

Eu disse em minha última postagem que mudanças de vida não são coisas que necessariamente desejamos fazer. Às vezes, mudar dói.

Dando continuidade à série de perguntas que tratam de um questionamento geral sobre autoajuda e autoaperfeiçoamento, abordo agora a décima quinta pergunta.

Quando afirmo que mudanças podem não ser desejadas, mas são necessárias dentro de um contexto de vida em que pensamos mais a longo prazo, concluo que implementar mudanças de vida mesmo a contragosto provoca algum tipo de dor. Quer dor é esta?

Não é uma dor física, evidentemente, embora as mudanças possam desencadear sintomas que sentimos diretamente em nosso próprio corpo.

Quando digo dor, refiro-me a sofrimento psicológico, cansaço, frustração, investimento, abstenção de prazeres e velhos hábitos, desconfortos diversos em geral.

Mas, mais do que isso, um ambicioso projeto de crescimento pessoal irá demandar da pessoa que se propõe a ele um imenso custo em todos os sentidos de sua vida. Não se pode implementar um projeto desses sem pagar um certo preço em termos de coisas importantes e valiosas que se tem de colocar em situação de insegurança ou perda.

Por exemplo: uma pessoa que resolva emagrecer terá de abrir mão de certos alimentos que adora. Essa pessoa irá sofrer, e esse sofrimento é o preço que terá que pagar para ter um pouco mais de saúde. Uma pessoa que resolva ter um emprego melhor e resolva em virtude disto voltar a estudar em uma faculdade com aulas noturnas deverá sofrer com a falta de descanso, com a rotina de anos de estudo, com a distância de casa por longos períodos, com o stress de provas e trabalhos, e esses desafios são o preço que terá de pagar para ter um pouco mais de dinheiro. E assim por diante.

A pergunta que fiz, a décima quinta, questiona esse custo. Fiz a seguinte pergunta:

O preço cobrado pelas mudanças não é caro demais?

Essa pergunta trás em si a aceitação de que não há mudanças sem um preço, sem um custo, sem um investimento. O que eu queria saber era se um esforço intenso seria de alguma forma compensado pelos ganhos decorrentes da mudança que eu estaria implementando.

Às vezes, os ganhos decorrentes de uma mudança são óbvios. Às vezes, não. Quando não sabemos o que obteremos de uma mudança, ficamos relutantes em dispender esforços. Afinal, por que dispender esforços se não sei o que obterei em troca?

Despender esforços e depois não se obter nada em troca é extremamente frustrante. A pergunta que fiz surgiu em uma época de minha vida em que sentia-me frustrado com uma série de esforços que fizera em estudos para mudar de emprego, no ano 2000, e que não redundaram em nada. Estudara tanto para quê?

A resposta a esta pergunta é que qualquer esforço que busque uma situação melhor do que a que estamos agora é um esforço válido, mesmo que não sejamos bem sucedidos no alcance dessas mudanças. Mesmo o fracasso não é de todo uma perda, já que temos como resultado a experiência de ter realizado algo que visava uma melhoria, e esta experiência, se bem estudada, pode servir de aprendizagem para uma segunda, uma terceira tentativa, desta vez mais bem planejada, mais bem conduzida, e que pode nos trazer o sucesso.

Assim, só não vale a pena se esforçar para realizar uma mudança quando essa mudança é para pior, ou quando simplesmente não sabemos ou ainda não compreendemos o quê de bom essa mudança pode trazer. Mas, se sabemos o quê obteremos, e isso for bom para nós, então não há o que temer.

Podemos fracassar, é certo, e fracassaremos muitas vezes, mas se pretendemos mudar para melhor, por que devemos desistir? E por que não podemos aprender com nossos erros?

Não há esforço para o bem que não valha a pena.

Alguém pode dizer, por exemplo, que o esforço é proporcionalmente muito alto e os ganhos, baixos demais. Por exemplo: eu teria de despender tempo com certos hábitos de higiene para melhorar minha saúde. Há estudos que dizem que um hábito simples como o uso de fio dental pode aumentar a expectativa de vida de uma pessoa em até dez anos. Usar fio dental é chato, e toma tempo. Mas isso prolonga a vida. Então, ficamos em um impasse: gasto meia hora por dia usando fio dental hoje para ganhar uma hora por dia a mais de vida no futuro. O que vale mais? Meia hora hoje ou uma hora amanhã?

Não sei dizer a resposta. Só acho que há evidentemente um custo para se obter mais tempo de vida. E há milhões de incertezas quando pensamos no futuro. Mas seria uma bobagem não usar fio dental sabendo dos benefícios que ele trás.

Cada pessoa deveria ser capaz de saber avaliar o custo-benefício de se implementar uma mudança de vida para melhor. Entre não usar fio dental e usar, não há dúvida de que qualquer que seja a opção, não se está escolhendo encurtar a vida mais do que seria possível, porque a falta de uso de fio dental está longe de ser um problema tal como a escolha entre fumar ou parar de fumar, entre beber ou parar de beber, entre usar drogas e deixar de usá-las, ou entre entrar para o crime organizado ou não entrar.

Então, um esforço pode ser caro, e cada um deve saber se deve ou não dispendê-lo. Se achar que está gastando uma hora por dia em troco de algo que lhe dará apenas meia hora mais de sobrevida, a decisão é sua. 

Ao longo do tempo, trataremos melhor desse assunto, o do custo-benefício das mudanças.

Por hora, é importante saber que mudanças têm custos e que é preciso algum discernimento para se escolher entre boas e más mudanças, e escolhendo-se as boas, é ainda preciso se fazer um cálculo de custos-benefícios para se avaliar a conveniência de implementá-las. 

De qualquer forma, após esta pergunta, saímos da discussão obtendo mais clareza sobre o processo de mudança, e isso é bom. Uma nova pergunta emerge dessa resposta, e é sobre essa nova pergunta que trataremos em nosso próximo post.

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