quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Queremos realmente mudar?

Queremos realmente mudar?

Esta é uma importante pergunta que fiz a mim mesmo dentro de um esforço de entender os sucessos e fracassos do uso de livros de autoajuda e de processos de aperfeiçoamento pessoal em geral. Esta é a décima quarta de uma série de quarenta e sete outras perguntas e está intimamente relacionada com a pergunta anterior, a décima terceira, da qual tratei no post anterior neste blog.

Temos problemas e por vezes não somos capazes de resolve-los por nossos próprios meios. Então, recorremos à ajuda de outras pessoas, e também aos livros que oferecem propostas de apoio, como os livros de autoajuda. Esses livros, mas não só eles, evidentemente, oferecem uma série de conselhos que podem ameaçar mudar nossos mais profundos valores e crenças, mas a decisão de acatar ou não esses conselhos cabe apenas a nós.

Eventualmente, a solução de um determinado problema pessoal passa pela necessidade de mudanças nesses valores e crenças, mas então surge a questão: estamos mesmo dispostos a mudar nossos valores e crenças apenas para resolver um problema que às vezes nem é assim tão grave?

Quer dizer, o problema existe, mas a solução que se nos apresenta pode representar a geração de novos e indesejados problemas com os quais não queremos lidar, e assim, é preferível não acatar esses conselhos e manter não atacado o problema original, com o qual nos sentimos menos desconfortáveis.

A questão que se apresenta é a do conforto com o estado presente. Nós não gostamos de mudanças, de maneira geral. Nós gostamos daquilo que é confortável para nós. Nós gostamos de coisas conhecidas, e mudanças em nossas vidas não devem ser bruscas, nem radicais demais. Pelo menos é o que acontece comigo: não gosto de mudanças bruscas demais. Aquilo que me é muito estranho me deixa desconfortável, mesmo que a mudança seja para melhor.

Às vezes esse apego ao conforto presente pode parecer um tipo de comodismo inocente, mas não é. Se por um lado em geral uma mudança pode resolver um problema e gerar outros novos, por outro ela pode resolver definitivamente o problema e nos alçar a um novo patamar de conforto no qual não nos sentimos de forma alguma tão desconfortável quanto antes. Evidentemente não se pode esperar uma vida sem algum tipo mínimo de desconforto, mas pode-se, sim, reduzir o desconforto ao longo do tempo atacando-se problemas que podem ser resolvidos sem agredir nossos valores mais caros e profundos.

Se queremos mesmo mudar ou não é uma questão que deve ser respondida sob o enfoque temporal. Se chegamos a fazer esta pergunta, é porque de alguma forma sentimos algum apego à situação atual e fazemos algum tipo de cálculo de custos e benefícios imediatos que obteremos a curto prazo diante de uma possibilidade de mudanças. Sim, a curto prazo pode parecer que não temos muito a ganhar com uma mudança que cobra-nos mudanças profundas para resolver um problema menor em nossas vidas. Mas não podemos deixar de observar a situação pensando em um horizonte temporal de mais longo prazo.

A longo prazo, uma situação presente confortável ou relativamente suportável, com problemas menores, pode-se degenerar para uma situação horrível e insuportável, e além disso, pode-se tornar uma situação de difícil reversão, senão mesmo irreversível.

A curto prazo, podemos não querer mudar, mas se projetarmos a situação atual para o futuro e atentarmos para as tendências de evolução ou correção de nossos problemas atuais, pode ser que vislumbremos uma situação que desejamos evitar. Então, precisamos agir preventivamente, agora, para evitar que a situação piore, ainda que hoje pareça ser uma bobagem despender esforços com problemas menores.

Pequenos problemas podem desaparecer por si mesmos, mas podem evoluir e virar grandes problemas. Dependendo do quão bom somos em vislumbrar cenários futuros, podemos ver se o prognóstico desses problemas é ruim. Neste caso, devemos agir agora, mudar agora, matar os problemas enquanto é cedo, arrancar pela raiz o mal enquanto ainda é um pequeno broto. Depois, pode ser tarde.

Queremos mesmo mudar? Não, necessariamente, mas por vezes, precisamos mudar, para salvaguardar nosso futuro.

Dói, mas é preciso.

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