Dando continuidade à série de peguntas sobre autoajuda, abordarei neste post a décima terceira pergunta, intimamente relacionada com a décima segunda, tratada no post anterior. Na décima segunda pergunta, eu perguntei se devemos ou não questionar nossos valores e crenças quando buscamos apoio em livros de autoajuda ou em qualquer outro processo de autoaperfeiçoamento em que somos instados a realizar mudanças pessoais de diversas ordens.
Respondi que mudar ou não valores e crenças é uma decisão pessoal de cada um, mas constatei que o questionamento em si tem seus próprios méritos. Então, fiz a décima terceira pergunta:
Até que ponto nossas crenças e valores podem e devem ser mudados em decorrência de uma maior quantidade de informação e conhecimento?
Claro que cada pessoa é livre para decidir se muda ou não valores e crenças por qualquer motivo que seja. Esta dúvida foi esclarecida no post anterior. O problema que esta nova questão trás é outra, e relaciona-se com a busca ativa por mudanças.
De maneira geral, a menos que se viva isolado do convívio humano, sem meios de comunicação de qualquer natureza com o resto da humanidade, todo ser humano está ativa e passivamente sujeito a influenciar e ser influenciado por outros seres humanos com os quais interage, direta ou indiretamente.
Mas, em se tratando de autoaperfeiçoamento, um indivíduo pode decidir-se por interagir com pessoas de maneira ativa em busca de solucionar problemas que ele julga que precisam ser resolvidos. Ele pode perceber que não é capaz de resolver seus problemas sozinho e pode decidir-se por buscar ajuda por meio de interação com outras fontes de saber, que sempre são originadas de outros seres humanos. Um livro de autoajuda é visto aqui como um meio de comunicação, por meio do qual um leitor busca obter conhecimento, informação, aconselhamento, de outra pessoa, o escritor, para tentar obter algum ganho pessoal com isso, tal como um melhor conhecimento de si mesmo, um método apropriado para tratar um problema específico ou um modo de pensar original, que o leve a rever seu modo de pensar tradicional. Esse processo de leitura é um diálogo, embora não direto, mas mediado pelo livro, que é apenas o meio.
Ora, uma pessoa que sai buscando ativamente obter conhecimento para resolver seus problemas sabe que muito provavelmente estará sujeita a uma massa de informação que terá o potencial de afetá-la de uma maneira tal que poderá levá-la a realizar mudanças em sua vida exterior e interior. Quanto mais ele obtém informação e conhecimento, maior a chance de tenha seus valores e crenças questionados por diferentes autores e pensadores. Muito provavelmente o leitor encontrará modos de pensar e argumentos defendendo determinados pontos de vista sobre valores e crenças que ele considerará corretos, convincentes e válidos. Eventualmente, pode aceitar esses argumentos como verdadeiros e pode decidir que precisa pensar e viver sua vida de acordo com essa nova verdade. Ele pode aceitar intelectualmente uma verdade e ainda assim não viver de acordo com esta verdade, mas então, ao decidir livremente agir assim, ele enfrentará um conflito interior bastante desagradável que em determinado momento precisará ser resolvido. Ele pode, por exemplo, ser convencido intelectualmente que a vida é um bem tão valioso que precisa ser defendido de agressões tais como a agressão física que uma pessoa impõe a si mesma quando abusa de seu organismo mediante o uso de substâncias que são nocivas à sua saúde, tal como o álcool e drogas proibidas. Daí, pode decidir-se por abandonar esse tipo de agressão ou pode continuar agredindo-se, apesar de saber que essa agressão vai contra uma verdade intelectualmente aceita, que ressalta o valor da vida. Ele viverá então suas contradições, e poderá resolvê-las ou não, dependendo do quão incômodas sejam essas contradições em seu íntimo, e do quão capaz ele seja de suportar esse incômodo.
A pergunta em si trata da questão da busca ativa de informações e da grande probabilidade de que o indivíduo que assim age tem de ter valores e crenças postos sob o crivo de argumentos firmes e convincentes.
Essa possibilidade não deveria representar risco a ninguém, já que a verdade é a base que sustenta a mudança, e a justifica.
A questão que emerge então não é se mais informação representa mais chance de questionamentos. Esses questionamentos agora parecem óbvios e mesmo desejados. Do contrário, porque a busca ativa? E sem busca ativa por conhecimento, como resolver nossos problemas sozinhos?
A questão passa a ser não a possibilidade de mudança, mas a mudança em si. Seremos capazes de mudar?
Mas, antes de se pensar sobre essa capacidade, paremos por aqui, porque já estaremos entrando na décima quarta pergunta, e então, já estaremos entrando em um tema para outro post.
Enfim, podemos mudar, e por vezes, devemos mudar.
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