No dia 29 de maio de 2004, eu disse nesta minha quinta postagem, deste blog, que eu estava escrevendo em frente a um velho computador trajando uma camiseta, uma bermuda, um relógio e um par de óculos, e que, assim tão despojado, eu lembrava, de certa forma, Gandhi. Eu disse assim:
"Uso uma camiseta velha verde escuro, bermuda preta, um relógio e um óculos na cara. Descrevendo as coisas assim, parece a descrição dos bens materiais deixados por Gandhi quando de sua morte, e que tanto admiraram o mundo pela sua frugalidade e desprendimento. Mas não é tão simples assim."
De fato, não é tão simples assim. Eu disse em minha última postagem que falaria sobre esse assunto, e agora é o momento.
O ano era 2004. Fiz essa comparação aparentemente disparatada porque naquela época eu havia estudado profundamente o livro de Og Mandino chamado "A universidade do sucesso". Neste livro, Mandino tomou emprestada uma série de textos de outros autores e seus respectivos livros, e montou um mosaico que segue em um crescendo de ensinamentos tipicamente de autoajuda, mas que muito me cativou e me fez pensar.
Há um texto de um autor chamado Howard Whitman, um escritor americano que publicou um livro chamado "Success is within you" no ano de 1956. Não sei se esse livro foi lançado no Brasil em algum momento. Se foi, seu título provavelmente seria "O sucesso está dentro de você".
O texto que Mandino extraiu do livro de Whitman trata do conceito de sucesso. Whitman diz que o sucesso é algo muito pessoal, e que pessoas podem ser bem sucedidas de diferentes maneiras, sob diferentes óticas ou pontos de vista.
Já falei um pouco sobre esse texto aqui, neste blog, mas foi apenas um breve resumo, sem maiores considerações.
Mas, não é sobre o sucesso em si que pretendo falar agora. Meu foco agora é Gandhi. O livro de Whitman, repito, foi lançado em 1956, e portanto, deve ter sido escrito em algum momento não muito antes desse ano. Assim, fazia pouco tempo que Gandhi havia morrido. Quer dizer, Gandhi foi assassinado em 1948, um ano depois da independência da Índia e do Paquistão, em 1947. Logo, sua morte e o impacto de seus feitos ainda estavam bastante presentes nas mentes de seus contemporâneos, creio eu, e na mente de Howard Whitman também, deduzo com base no que ele andou escrevendo.
Ele assim diz:
"Uma das coisas que mais impressionou o mundo acerca de Mahatma Gandhi foi a fotografia publicada de todos os seus bens materiais na época em que morreu: um par de óculos, um par de sandálias, alguns trajes simples, uma roda de fiar e um livro. Embora o mundo soubesse que por aqui havia passado um dos homens mais ricos. Talvez o mundo no fundo de sua consciência tivesse de alguma forma conhecimento daquilo que Henry David Thoreau expressou nesta frase simples: 'A riqueza de um homem se mede pelas coisas que é capaz de deixar para trás'. O próprio Gandhi não se cansava de fazer alusão à redução de necessidades. A vida para ele era como um processo de despojamento gradual de necessidades. Assim como um bebê que grita no berço e precisa de tudo, o ser humano, se vive uma vida bem-sucedida, amadurece pouco a pouco em direção a um adulto que não precisa virtualmente de nada. O próprio Gandhi foi um exemplo dessa espécie de desenvolvimento, um exemplo tão raro que sua vida exprimiu de maneira dramática para o resto de nós o quanto deixamos de corresponder ao potencial de desenvolvimento humano.
Isso não quer dizer que nosso objetivo deva ser a pobreza, ou que uma renúncia ascética de bens ou progresso material por si só torne alguém um 'mahatma', uma alma grandiosa. Muitas almas grandiosas tiveram uma vida cercada de bens materiais e fortuna considerável: Andrew Carnegie, Jacob Riis, Julius Rosenwald, Samuel Mather, os Guggenheims, para citar apenas alguns. Todos esses homens alcançaram um sucesso pessoal verdadeiro nesses casos, tanto exterior quanto interiormente.[...]"
Pois bem, esse pequeno trecho me fez pensar bastante ao longo dos anos.
Primeiro: que foto é essa? Não sei, mas vou buscar no Google, porque agora fiquei curioso.
Segundo: quando li sobre essa pequena lista de bens deixados por Gandhi, também fiquei impressionado. Eu não sou muito apegado a bens materiais, embora admita que seja um pouco ambicioso em certos aspectos e goste de dinheiro. Mas eu admiro também o ascetismo, a frugalidade, a sensatez contra o consumismo desenfreado. Mas Gandhi me impressionou.
Já falei sobre um texto chamado "Você já viu um clipe enferrujado?" neste blog. Frugalidade, moderação, sensação de desconforto diante do desperdício são temas que despertam minha curiosidade.
Quem foi Gandhi? Sabemos alguma coisa sobre ele, mas não muito. Não faz parte de nossa realidade. Por isso, hoje tratei de dar uma lida com calma em sua biografia na Wikipédia. Coisas interessantes vieram à luz depois desta leitura.
Claro, além do homem, do mito, há ainda as suas frases de efeito, seus bordões famosos. Sobre o judaísmo, o cristianismo, sobre o capitalismo. Sobre esse último, tenho lido uma frase que está sendo muitíssimo reproduzida nos últimos tempos. Falarei sobre ela em um momento mais adequado. Ela é importante.
Bem, mesmo um mito precisa se apoiar em ombros de gigantes, e Gandhi não foi exceção, descobri na Wikipédia. Há curiosamente uma ligação entre ele e Thoreau que vai além da mera citação de ambos no trecho de Whitman que transcrevi logo acima. Falarei mais sobre essa ligação também no futuro.
Por ora, ficamos com esse fato: em 2004, eu usava um par de óculos em uma noite fria, e se não estava de fato despojado de bens materiais como um Gandhi, devo admitir que me sentia pobre, limitado, isolado, deprimido e diminuto, mais para um mendigo que para um homem rico.
Eu definitivamente não estava bem em 2004. Eis a conclusão a que chego, e isso já é uma excelente conclusão.
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